Enquanto zelava pelo sono da sua filha, Alice revia mentalmente tudo o que acontecera nessa noite e como fora bom experimentar uma sensação que havia esquecido há muito. O sentir-se protegida, sentir que tomavam conta de si.
Mãe solteira há já tanto tempo, habituara-se a ter que resolver, decidir, lutar por cada pedaço da sua existência e da sua filha sozinha e isso cansara-a tanto. Formara já pequenas rugas de preocupação no rosto prematuramente envelhecido. Os seus cabelos acastanhados escondiam já alguns reflexos grisalhos e o seu olhar esverdeado e outrora fundo, era agora um olhar pura e simplesmente cansado, vazio. Apesar de ser dona de uma figura invejável a sua postura era a de alguém que se vergara já ao peso do mundo.
Mas hoje sentira que alguém a vira para além de si, para além da sua aparência gasta e banal e esse alguém era Artur. Agora que pensava nele sem ser como mais um cliente do café, conseguia descrevê-lo de cor, como se o conhecesse desde sempre. Os olhos negros rasgados, sensíveis e tímidos, como se comportassem uma imensidão de segredos, as mãos um pouco pálidas, mas firmes, a postura magra e esguia, o cabelo escuro e forte. Podia rever a imagem dele vezes sem conta dentro de si sem se cansar de o fazer.
Enquanto acariciava o cabelo da filha, deu por si a fazer uma coisa que não fazia há muito. Alice sorriu sem motivo aparente...
Artur adormeceu profundamente. Um sono reparador que não tinha há demasiado tempo. Pela primeira vez desde que o acidente se dera, não sonhou com Maria, nem com o acidente de automóvel que os vitimara há já 3 anos, a ela quase mortalmente, não pensou na culpa diária que o consumia por ter roubado a vida da sua companheira, da mãe do seu filho, uma vez que era ele que conduzia o carro naquela noite.
Este sono trouxe-lhe uma paz que julgava impossível e chorou enquanto dormia. Apesar de não se aperceber chorou de saudades da sua mulher, chorou por não ter coragem para dar a ordem de desligarem o suporte de vida, por não ter coragem de a deixar partir. Chorou por si, pelo seu filho, pela sua vida, presa naquele quarto de hospital, pois ele todas as noites, no meio das tarefas hospitalares que tinha que cumprir, fugia até ao quarto de Maria e conversava com ela. Contava-lhe do filho, contava-lhe dele, contava-lhe como corria o mundo lá fora, sem ela. Chorou por não ser o pai que o seu filho precisava, por ter falhado em tanta coisa. E de alguma forma, esse choro lavou-o por dentro.
Quando despertou, estranhamente não se sentia tão sozinho. Pois uma lembrança acariciava-lhe a pele arrepiada. A lembrança de Alice...
Agora Miguel, aguenta-te à bronca, porque a bola já passou para o teu blog!
Grandes diálogos: O Apartamento
Há 3 semanas
8 comentários:
Bem, essa comparação com a Sandra Celas, para mim, foi um grande elogio. Porque acho a mulher gira que se farta:)! mas não... mais ninguém me falou de tal semelhança
:(!! se calhar foi esta minha foto que ficou num bom plano:). mas já valeu a pena!
(estou ansiosa que esta semana passe, tenho exame, para poder ler essa tua vossa blogonovela... do inicio ao fim!)
Pois, há planos de fotografias que enganam, mas assim tanto?
Boa sorte para o teu exame ;)
E agora vou ler a parte 7 ao blog do Miguel C.
Adorei a blognovela! Está muito gira!
banita redol, nossa fiel seguidora, ainda bem que reapareceste. Tive medo que entre os nachos e os burritos te tivesses esquecido da novela ;)
Ai pá, que máximo, esta desgarrada está linda. Tu mais transmissora das das emoções, o Miguel das acções...
E olha, acabei de ler esta parte e fiquei arrepiada!
Precis obrigada, tens razão emoções/acções. Mas o Miguel no seu diálogo com a mulher também soube transmitir emoção...
Ana, em duas palavras:
Muito bom.
Ou em três:
Muito, muito bom!
Isto está cada vez melhor, mais íntimo e eu gosto!
Bjs!
;)
Ana não percas os próximos episódios....
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