sábado, 14 de julho de 2012

O Tempo, esse grande escultor

Vivemos numa época em que se exige demasiado aos nossos filhos. Padrões escritos em livros de desenvolvimento infantil dizem-nos o que devem fazer os putos aos 18 meses, o que é suposto dizerem aos 2 anos, como é suposto crescerem, desfraldarem, enunciarem, soletrarem.
Não me esqueço nunca da directora de uma escola que visitei, quando andava à procura de escolas para a Alice, que me mostrava os trabalhos das crianças de 3/4 anos e afirmava, plena de segurança:
Aqui eles são muito puxados, fazem fichas, exercícios e conseguimos logo distinguir os trapalhões, dos mais concentrados.
Achei aquela merda nazi e fugi dali a sete pés. Eu não queria a minha filha muito puxada. Eu queria a minha filha a ser criança.
O António tem-se desenvolvido mais em férias, com praia, ar livre e brincadeiras, do que em toda a sua longa vida académica (que ainda não iniciou) :)
Ver os putos a gritarem, correrem, tropeçarem, sacudirem o pó e voltarem a levantar-se, é vê-los crescer ao seu ritmo. Sem pressas de os transformar em pequenos adultos.
Estou farta da nova pedagogia da treta. Farta dos quilómetros de fichas e tpc's. Farta de escolas com a mania que sabem mais do que os pais. Farta de crianças tristes.
Vamos lá tratar as crianças como elas merecem ser tratadas. Como crianças, sim?

19 comentários:

Elsa Filipe disse...

Muito bem. Ainda bem que (também) pensa assim. O meu tem 22 meses e, sim, tantas vezes, aparece em casa arranhado, com nódoas negras nos joelhos. É trapalhão, não está a ser "puxado" - faz trabalhos quando os quer fazer e não porque tem de ser. Ou seja, uando os mais velhos fazem, ele que está numa ama e não na creche, também quer porque se sente como "crescido" ao tentar desenhar ou colar papéis numa folha como os outros meninos. O meu filho está assim como que numa escada a subir degrau a degrau, olhando para cima e vendo o exemplo dado pelos mais velhos e seguindo, ao seu ritmo, as suas passadas. E isso valorizo, e por isso confio na ama que o trata como se fosse avó dele. E não podia vir mais a calhar, porque era mesmo desses "trabalhos" que eu ia agora falar no meu blogue e venho aqui espreitar e encontro o seu post.

Melissa disse...

ODEIO TUDO. Tou a um passo do homeschooling.

Susana Canhola disse...

Somos cheios de exigências, nós. É mesmo verdade e não os deixamos ser crianças.

Maffa disse...

Näo podia concordar mais!!
e à minha volta tantos meninos "muito estiulados" "super inteligentes". E eu olho para eles e só me dá pena!!
Para quê?? alguém vai deixar de saber ler ou saber os números? para quê estar a marcar täo cedo o que é que é bom aprender e como agradar aos pais e professores, antes de eles desevolverem os seus gostos naturais?

gralha disse...

É por isto também que gosto tanto de ti :)

Office Judge disse...

A culpa, é em parte do novo sistema educativo: aumentam o programa escolar já a contar com o trabalho dos pais em casa. Sou absolutamente contra os TPC e faço uma seleção ao que a prof manda para casa. As crianças não podem, ao fim de 5 horas nas aulas (3.º ano) estar mais 3 agarradas aos trabalho. Tudo tem o seu tempo, e a infância tem de ser vivida enquanto somos crianças, caso contrário, seremos adultos desiquilibrados.

Bailarina disse...

posso roubar? está brutal!

Naná disse...

Ora bem!
Se se for puxar pelas crianças antes de tempo, quando chegam aos 20 estarão em burn-out!

Cláudia disse...

Adorei ler.
Se toda a gente pensasse assim, não havia crianças de 10 anos preocupadas com o facto de um dia não terem emprego (é verdade, tenho os meus dois ouvidos por testemunhas).
Eu não tive filhos mas acho que o essencial é fazê-los sentir que são amados pelo que são - na minha opinião é este o caminho para a verdadeira auto-estima e um amor próprio saudável -, estimular-lhes a imaginação de forma a que, em toda e qualquer circunstância, possam fazer do pouco muito e saber que o muito pode por vezes ser tão pouco, estar atento (muito) a tudo o que possa expressar a sua verdadeira vocação e ajudá-los a concretizá-la da melhor forma possível, ensiná-los que o dinheiro e todas as coisas boas que nos pode dar devem ser obtidas em troca do melhor que temos para dar de nós aos outros, fazê-los ver que mais importante do que termos o que gostamos é gostarmos do que temos e esperar alguns anos para lhes demonstrar que num mundo em que há doenças, catástrofes naturais e mudanças a cada milésimo de segundo, é inútil pensar que a segurança advém de um bom ordenadao ou de uma conta bancária recheada.
Para quem tenha filhos a partir dos 10/12 anos aconselho vivamente a ler e dar-lhes a ler "35 Quilos de Esperança" de uma escritora francesa que adoro, Anna Gavalda.

Anónimo disse...

Olha, os mais velhos não andaram na creche, ficaram com as avós e o mais novo andou ano e meio porque a minha sogra teve um problema de saúde e teve que ser. Já o tirei da creche há 5 meses e acredita que o Lourenço nunca esteve tão feliz, além de que bem mais desenvolvido. Além do que paguei tenho mesmo pena por ter que o ter tido na creche.
Eles ganham tanto estando com as avós...
Às vezes até questiono se é mesmo necessário o jardim-de-infância... juro. Este ano o mais velho entra na primária e eu só espero que tudo flua, sem exageros de lá e cá, embora eu ache que, sem dramatismos e grandes exigências se conseguirmos que tudo aconteça de forma natural, tudo acaba por correr bem. Mas estou nervosa!

Melissa disse...

Moimême, pretendo, quando chegar a minha hora, declarar grandes guerras aos TPC também. São autênticos ladrões de infância, essa coisa que, passada, não se retoma nunca mais.

Não é só os TPC. Acho que tudo tem de ser repensado. Manter coisinhas de sete, oito anos concentradas durante tanto tempo em vez de estarem a dar uso à energia que têm e a selecionar naturalmente os seus interesses é uma ideia de jerico. Velha. Oitocentista. Detesto, mesmo.

Me disse...

Felizmente acabei por ter alternativa e a minha filha continua em casa com as avós. Mas, ainda durante a licença de maternidade, andei a ver algumas creches e colégios e aquilo que mais me desgraçava as entranhas era ouvir falar em "regras" e "horários" para bebés. Sim, bebés.

Melancia disse...

TPCs aos 3/4 anos? Só se for brincar duas vezes ás casinhas e fazer um puzzle do mickey, e 5minutos de risos por cócegas! Se for isto, até acho bem! O trablho dessa gente pequena é BRINCAR, com letra grande e tudo

Anónimo disse...

Question:
Entrou o tema TPC e volto eu, para perguntar uma coisa: não concordam que se criem regras - sim, regras - de estudo desde pequenos?
Não são REGRAS, vá, são hábitos. O mais velho, como referi em cima, vai para a primária e a educadora aconselhou os pais a criar, desde a 1.ª hora, um espaço de estudo, mesmo que seja ler um livro. Para lhes incutir essa responsabilidade mas, mais, o hábito. A ideia é de que muito insucesso escolar se deve a falta de bons hábitos...
Concordei na medido em que tenho consciência que tirei excelentes notas no secundário, quando tive que mudar de terra e fui para uma residencia de estudantes, com horas de estudo obrigatórias e eu estudava mais...
O TPC... também não odeio pois vejo-os não como sobrecarregar os miudos mas, mais como a oportunidade de nós, pais, os ajudarmos a colmatar algo que falhou numa sala de 30 miudos...
Não concordam?
Depois há outra questão sobre os TPC:
Escola - espaço para brincar - tempo para estudo/TPC
ou
Escola - estudo/TPC - brincadeira até ir dormir
Quem já tem experiência, o que funciona melhor?
Eu avisei no outro comentário que não sou de stresses mas ando nervosa com a entrada do mais velho na primária... :)

gralha disse...

ouvirdizer: acho que rotinas e TPC às pazadas não são sinónimos. E há crianças que precisam de mais ou menos direcção - a mim nunca me mandaram estudar, não era preciso.
Quanto à ordem das coisas, nas alturas em que me parecer que os TPC fazem sentido, é claro que estes virão antes da brincadeira :)

Ana C. disse...

Na escola da Alice o esquema será: Tpc's às quartas e sextas feiras, para o fim de semana.
Hoje em dia, com as crianças a chegarem a casa às 7 da noite, devido ao trabalho dos pais, e ainda terem que levar com toneladas de tpc's, nos quais os pais também terão que participar (em maior, ou menor grau, consoante o puto), é pura tortura.
Há tempo para tudo.

Ana C. disse...

E cada vez acho mais que escolas, até aos 3/4 anos, não são sinónimo de desenvolvimento nenhum.
São uma necessidade para os pais que têm que trabalhar, claro. São uma ajuda fundamental nos dias de hoje. Mas as balelas que tentam impingir-nos acerca do desenvolvimento numa creche são isso mesmo, balelas. Nenhum puto se desenvolve mais por andar numa creche.

Anónimo disse...

Ana,
Também acho que são principalmente uma ajuda. A primeira socialização é feita em família (certo, gralha?!).
Uma vez disse isso num comentário a um blog e uma educadora que leu ia-me esbofeteando...
Tenho amigas que preferiram por os miudos na creche para não se sentirem deslocados quando fossem para o jardim... e me diziam que os meus, que ficam com as avós, coitadinhos, iam sentir-se desenquadrados mais tarde... realmente cada cabeça, sua sentença...

Melissa disse...

Eu não concordo com TPCs na primária. Aliás, acho que não concordo com TPCs nunca. O não ter TPC também não é sinónimo de caos. Para mim, é dar espaço à criança de ser ela própria e dedicar-se ao que ela própria e a família, e não a escola, decidem que é importante. Acho que o ócio não devia ter menos importância do que os estudos, e como é algo que inevitavelmente acontecerá com o tempo, que a transição seja o mais lenta possível.