quarta-feira, 27 de março de 2013

A verdade é esta

Pode um ex líder político, com uma licenciatura concluída a um domingo e envolvimentos menos próprios em negócios menos próprios, aquando das suas funções como governante, fazer comentário político num canal televisivo público, pago por nós?
Pode.
Pode um ex administrador do BPN integrar o governo?
Pode.
Pode um Primeiro Ministro vir dizer que um despedimento pode ser positivo?
Pode.
Pode um tipo qualquer, que não me aquece, nem arrefece, vir dizer que aguentamos, ai aguentamos mais austeridade?
Pode.
Pode outra tipa qualquer que está à frente de uma instituição que ajuda a meter comida na boca dos que passam fome, dizer que não há miséria em Portugal?
Pode.
Pode outro ministro qualquer, tirar cursos à base de equivalências e continuar a sorrir quando lhe fazem serenatas, agarrando-se com unhas e maxilares ao seu posto, por nós pago?
Pode.
Temos nós que, numa altura destas de maior fragilidade, de tantos sacrifícios exigidos a tantas famílias no limiar da pobreza, não nos melindrarmos, irritarmos, ou indignarmos com estas merdices, pois que fazem parte da democracia e todos podem dizer o que querem e quando querem, onde querem, em democracia?
Não, não temos. Podemos melindrar-nos, sim senhora. É legítimo e humano que nos melindremos com a gota de água num copo tão cheio, com os elefantes numa loja de porcelana que nos governam. Não falo aqui da mala da Pepa, nem do cachorro Zico, que tantos mobilizou por este país fora. Falo de sensibilidade política BÁSICA.
Eles estão sem cheta e aborrecidos connosco? Estão cansados, exaustos, angustiados, deprimidos, sem perspectivas, sem comida suficiente e sentem que se sacrificam para nada?
Vamos piar de fininho e respeitar o aborrecimento deles, não os melindrando desnecessariamente?
Não, isso é demasiado aborrecido, vamos trazer-lhes o Sócrates.
Oh yeah!

terça-feira, 26 de março de 2013

Notícias da Silvina

Quando tive os meus putos (o meu puto, porque quando a primeira nasceu ainda não tinha blogue), a última coisa que me passou pelo corpo e pela mente, foi vontade de vir comunicar com o mundo virtual, por muito que adorasse toda a gente por aqui.
Quando estive dois dias com um ataque da gripe mais forte do universo, a última coisa para onde a minha pouca força anímica me enviava, era para o mundo virtual, já que estava a tentar lidar com o meu próprio mundo real.
São comparações pequeninas, face à doença da Silvina, bem sei, mas eu tento guiar-me sempre pela minha própria sensibilidade e colocar-me nos sapatos pouco confortáveis daquela miúda brilhante.
Vai daí, penso sempre que a Silvina não tem força anímica para andar por aqui a postar, mas nada mais. Isso não significa o pior, significa apenas que ela está doente e sem cabeça para escrever, o que é mais do que natural...
E, a quem andar preocupado, é apenas isto.
Beijinhos a todos
Ana C.

segunda-feira, 25 de março de 2013

Mas o que é que se passa com o mulherio

Que insiste agora em andar com carteiras tamanho xxl, como se precisasse de transportar ali dentro a roupa para a lavandaria, mais uns tijolos para refazer uma divisão da moradia e as compras do supermercado?
Que raios levam ali dentro daqueles malões de porão?
Depois assumem todas uma posição braçal que não deixa ninguém indiferente: Bracinho dobrado, como se tivessem acabado de ir tirar sangue.
A sério, como aguentam carregar com tamanha sacada?
Como consegue o sangue continuar a pulsar nas veias daquele braço?

tenho dias

Em que tudo me parece cretino. Os dramas alheios porque chove na primavera, porque o verniz não saiu bem no tom, porque estão com dois quilos a mais, porque pisam merda, porque a neurose se instalou.
Tenho dias em que me apetece parar o mundo e começar a distribuir chapadas para acordar as pessoas, eu incluída.
Dias em que tudo deveria ficar parado, ainda que por míseros segundos, em homenagem a quem tem problemas de verdade.
Tenho dias em que me apetece parar para agradecer o que tenho e não deixar que a sombra supere sempre o sol. Não deixar mesmo. Fincar os pés em terreno firme e gritar para quem quiser ouvir que tenho as coisas que importam.

sábado, 23 de março de 2013

Quando nos plagiam os sonhos no Chalet Saudade

Sempre que passava por aquela casa naquela rua cheia de casas de encantar, dizia em voz alta:
E se largássemos tudo e abríssemos um bed and breakfast aqui mesmo? Quanto é que achas que custa uma brincadeira dessas?
Recuperávamos a casa, plantávamos árvores de fruto, servíamos lanches e recebíamos pessoas de todas as partes do mundo. Teríamos uma selecção de chás e cafés e queijadas e roteiros e livros, numa pequena sala com lareira. Os quartos teriam nomes de escritores, ou de romances passados em Sintra e seríamos felizes assim.
Esta casa tem qualquer coisa que não conseguimos evitar. Como se tivéssemos que parar e olhá-la, imaginando-lhe enredos passados.
Pois, anteontem descobri que houve alguém que se lembrou de sonhar assim e ousar dar vida ao sonho e eis o resultado


Chalet Saudade, muito provavelmente relacionado com o maravilhoso Café Saudade. Se tiver metade do encanto do café, será de sonho, do meu sonho.

sexta-feira, 22 de março de 2013

...

Sempre que passo naquela pequena estrada, de manhã bem cedo, vejo-o.
Uma mão pendurada e sem vida, baloiçando ao som dos passos hesitantes. Inclinado para a frente, como se fosse cair a qualquer instante.
O rosto deformado por uma paralisia e uma das pernas mais frouxa do que a outra.
Óculos de massa preta, boné de feltro preto.
Com o esforço, o seu rosto adquire uma expressão aflitiva que não consigo definir, como se lutasse por cada lufada de ar conquistado, por cada centímetro de chão pisado com o pouco vigor que possui.
É um homem idoso que caminha todas as manhãs por aquela estrada sem passeios, sem abrigo dos carros que passam indiferentes, sem apoio de bengala, nem de braço alheio.
É um homem idoso que caminha só. Mas que continua a caminhar, como se parar significasse morrer, ou ter que pensar na morte.
Também ele foi um jovem bonito, também ele teve sonhos, também ele namorou, sorriu e julgou poder ficar assim eternamente.
Também ele foi o filho, o marido, amante, pai, avô de alguém.
Também ele sente.
Dizem que o que mais assusta nisso da idade que avança, é o envelhecer mal.
Eu digo que o que mais me assusta nisso da idade que avança, é o envelhecer mal e só.

Então parece que

é moda os homens depilarem-se?
Mas onde andam vocês com a cabeça, homens-que-se-depilam-por-livre-e-espontânea-vontade?
Um dos grandes privilégios de nascer sob o sexo oposto, não é não terem o período, nem filhos, pois compensarão mais à frente com problemas de próstata. O Grande P, de privilégio, era (sim, no passado) precisamente não terem que sujeitar-se à tortura da cera. Vai daí decidem que é essa parte da rotina feminina que querem copiar?
A sério?

quarta-feira, 20 de março de 2013

Dizer "ciganos"



Ando aqui às voltas com este título. Não por mim, mas pelos defensores da moral e dos bons costumes, que devem já andar a elaborar petições para que se termine de vez com o preconceito desprezível de dizer, ou escrever "cigano".
É isso e, esta descobri há pouco tempo, dizer "jeovás".
Diz que é desprezo e que ofende.
Chibatar-me-ei em penitência, enquanto repito mil vezes: A partir de hoje apenas dirás: Pessoas de etnia cigana, testemunhas de Jeová. Ou melhor do que isso, dirás apenas Pessoas, sem distinção de qualquer espécie.
Quando eu não souber de um amigo, direi apenas:
Viste o meu amigo?
Qual amigo, como é que ele é?
Olha aí o preconceito desprezível! É uma pessoa.

humidade

Quem aqui veio em busca de um post erótico, desengane-se. A humidade que dá nome a este desabafo é outra, bem menos escandalosa.
É a humidade que come lentamente esta casa, que lhe devora as entranhas, até sobrar apenas um rasto negro, ou verde, consoante a superfície.
Hoje, com o sol a ressuscitar e a primavera a oficializar-se no calendário, decidi limpar um dos armários e a vontade que se abateu sobre mim, quando comecei a tirar cenas lá de dentro, foi a de fechar de novo a porta e não lidar com a realidade húmida daquele armário.
Fechei, abri, fechei, abri, fechei. bebi café. abri. Luvas de borracha, lixívia. fechei. tirei luvas. abri. café. fechei. chorei. abri.
Limpei. Abri janela e comecei a atirar tudo borda fora.
Sei que o limpei para nada, pois a única solução para o problema é comprar um desumidificador gigantesco e enfiar a casa dentro dele.
ODEIO HUMIDADE. ODEIO.

terça-feira, 19 de março de 2013

Luísa Castel Branco

A entrevista da Luísa Castel Branco ao Daniel Oliveira foi, muito provavelmente, a melhor de sempre. Ela quase destronou a entrevista do Miguel Sousa Tavares. Mas como sou estupidamente parcial em relação ao Miguel Sousa Tavares, ele continua no número 1.
Mulherão forte, frágil, sensível, racional, Mãe.
Fez o favor de me dar a conhecer uma frase magnífica de Saint Exupéry:
"Eu sou da minha infância, como se é de um país", no sentido de que a infância, quer queiramos, quer não, nos define de forma inexorável. Tal como traremos sempre as nossas raízes, o nosso país nos nossos genes, também a forma como vivemos a nossa infância ditará a forma como seremos pais, quer copiando, quer fazendo o oposto, ditará as nossas inseguranças, ou firmezas, ditar-nos-á.
Sempre defendi isto, mas não sabia que existia algures por aí, uma frase que o definisse tão bem.
Depois falou no medo e nas contas e nas ponderações que todos fazemos em relação a termos mais um filho. São duas escolas, duas despesas, duas bocas, tudo a dobrar. Mas esquecemos muitas vezes que o filho único trocaria, sem pensar duas vezes, o computador xpto, o colégio privado, a roupa de marca, por um irmão.
Numa época em que os ovários se suicidam de cada vez que Passos Coelho, ou Vítor Gaspar abrem a boca, é difícil pensar assim, bem sei. Mas não deixa de ser uma grande fonte de reflexão...
E é isto. Com uma simples entrevista, espremi sumo para várias horas de produção de pensamento.

segunda-feira, 18 de março de 2013

A vida virtual

Estamos a ler um livro, participamos os progressos no Goodreads, depois damos estrelinhas.
Estamos a passar por um passarinho pendurado num galho, o nosso puto olha o passarinho e nós partilhamos no instagram.
Jantamos com amigos, fotografamos a comida e os copos e partilhamos no facebook.
Sentimo-nos ansiosos, partilhamos no twitter.
Sentamo-nos num cinema a ver um filme, fazemos o check-in numa aplicação cujo nome não me recordo.
Começamos a seguir uma série, partilhamos com outra aplicação qualquer.
Nasce um filho, o pai coloca o pipi da mãe no facebook, no momento de expulsão. Depois faz dessa fotografia, a sua foto de perfil.
Um filho dá os primeiros passos e sentimos que ele não deu os passos, se não o partilharmos com os 1000 amigos no facebook.
Estamos num concerto e a preocupação maior é fazer chegar aos 1000 amigos aquele momento, partilhando com smart-phones o concerto todo. Preocupando-nos mais em apanhar o cantor com o telefone, do que em ouvir a música e dançar.
Estamos a viver um desgosto de amor e enchemos o nosso mural com dizeres maravilhosamente profundos, retirados de um site com dizeres sobre todas as disposições emocionais existentes e aguardamos as reacções dos 1000 amigos.
Estamos felizes e colocamos dizeres maravilhosos sobre a felicidade e sobre o que mentes geniais pensaram sobre o assunto e aguardamos as reacções dos 1000 amigos.
Deixamos de estar num relacionamento e colocamos "solteiro" na informação de perfil. Aguardamos as reacções dos 1000 amigos.
Pedem-nos amizade no facebook. Não conhecemos essa pessoa, nunca a vimos, nunca ouvimos falar dela. Não envia uma mensagem a dizer o que a motiva a pedir amizade, mas é suposto aceitarmos para engrossar a lista de amigos.
No parque infantil, olhamos em volta e 97% das mães e dos pais escrevinha qualquer merda no smart phone.

A sério. Eu sinto que precisamos de rever as nossas vidas com urgência. Os nossos cérebros e o nosso espírito caminham para um local sombrio que me assusta à brava.
É como se o equilíbrio e a sensatez tivessem já desaparecido. Só vejo compulsão pura e dura.
Existem duas vidas. A real e a virtual. E a realidade, é que as pessoas já não se sentem bem nas suas vidas, se não as partilharem a todo o instante.

domingo, 17 de março de 2013

momento de vaidade boa

Parece que o meu livro não tem sido alvo de interesse "crítico literário", seja lá o que isso for. Mas, em compensação, tenho lido opiniões que me deixam cheia desse sentimento ambivalente chamado vaidade.
Esta opinião tocou-me de forma muito especial, pois veio de um padre :)

Entre mãos tenho um livro IMENSO e intenso, cheio de palavras, emoções, sentimentos, vida, e vidas entrelaçadas, sofrimento, paixão, estórias de pessoas e de famílias, de perdão, de conformismo, de vidas novas, com desafios à novidade, e ao compromisso, mesmo e depois de vidas falhadas. O primeiro pressuposto poderá ser mais ou menos polémico, dependendo dos olhos que o filtram. Correspondência entre uma mulher, que se separou do marido, e viajando pelo mundo encontra, em Londres aquele que pensava ser o homem da sua vida. Escreve-lhe cartas para um sítio da Covilhã, com um nome e uma morada, que não corresponde a esse amor de ilusão, mas a um padre, que lhe responde, surpreendido pela inquietação provocada.
É um texto envolvente. Do princípio ao fim. De fácil leitura. Numa escrita agradável. Faz lembrar livros do Virgílio Ferreira como "Para sempre" ou "Cartas a Sandra". Também aqui o formato mais usado são cartas, de encontros e desencontros, de esperanças e ilusões. Uma linha muito visível, a meu ver, é a defesa da família, baseada em laços de amor, desgastada pelo tempo, mas cuja aposta há de ser permanente. Um amor que se perde em busca de outro e que volta ao amor primeiro, um casal adormecido mas que decide descobrir-se de novo. Vidas marcadas pelo sofrimento, em relação aos pais, ou às circunstâncias do tempo, mas que encontram novos desafios.
Outra linha que perpassa neste belo romance, é a solidariedade. A vida vale também quando e se somos úteis a alguém.

sexta-feira, 15 de março de 2013

mas quanto tempo

leva uma mulher adulta a recuperar de uma gripe?
Estou prestes a andar por aí de crocs de pelo fofo, calças de fato de treino forradas com pelo fofo, camisola polar fofa, rabo de cavalo desgrenhado, abraçada a um dos peluches da minha filha e com um tampão em cada narina, para absorver a quantidade inimaginável de muco que continua a sair do meu organismo.
Não aguento mais sentir-me a mulher do muco e das dores musculares.
E a ferida, meu Deus, a ferida que está plantada debaixo do nariz? Uma mancha vermelha inflamada, que dá todo aquele look sensual de quem andou a dar na coca.

quinta-feira, 14 de março de 2013

Os perfeccionistas

que andam à cata do erro, do deslize na ortografia, da distração alheia, da merdice e merdite, para depois exibirem a descoberta, com pedantismo intelectual, dando lições aos incultos, são a viva prova de que ainda existem muitas pessoas que deviam passar mais tempo a lavar o cérebro no bidé.
Chlape, chlape, chlape, é um som que deviam ouvir com mais frequência.

e eu, estupidamente, pergunto:

Como é que é possível ficarem indiferentes a toda a cena do conclave?
A sério. Não há coisa mais fascinante, no mundo das coisas catolicamente fascinantes, para mim. Adoro tudo.
Pudesse eu infiltrar-me e fazer um buraquinho num dos olhos de Adão, na Capela Sistina e ficaria ali a espreitar tudo o que sempre foi negado ao comum dos mortais em geral e às mulheres em particular.
Adoro a especulação em torno do futuro papa e adoro que nunca acertem.
Adoro o mistério de não se saber até ao ultimo minuto quem será o novo papa e de não haver rigorosamente nenhuma fuga de informação.
Adoro quando o novo papa se aproxima do balcão e põe os olhos na multidão da praça de S. Pedro (onde já estive por duas apaixonadas vezes e desejo ir por mais não sei quantas).
Adoro a multidão comovida e as bandeiras e as cantorias e a espécie de paz construída em torno dos olhares que contemplam uma simples chaminé. Adoro tudo.
Não há motivos racionais, nem de fé para adorar, mas a realidade é que me sinto sempre compelida a visitar locais de culto.
Agora vamos esperar para ver a reacção deste papa, quando receber os documentos bombásticos que o emérito lhe vai entregar. Vejamos se não resignará ele também, quando se inteirar de toda a podridão que corre na cúria. Vejamos.

quarta-feira, 13 de março de 2013

likelikelikelikelikelkielikelikelikelike

Sem querer ofender ninguém, mas provavelmente ofendendo, alguém que me explique pelo amor do conclave, pois não consigo encontrar motivo lógico racional que me aplaque os anseios nesta questão:
Para que raio se pedincham likes em páginas-não-comerciais do facebook?
Amigos, juntos chegaremos aos 200 likes. Amigos, foi um longo e doloroso percurso até aqui, mas com dedicação, força de vontade e paixão, aqui estamos nos 200. Acreditem, emocionei-me e sei que vocês também. Dormirei com a certeza de que conseguimos este feito histórico inédito. Dormirei finalmente em paz.
Amanhã começará a dura batalha pelos 300 likes. Talvez ofereça uma vela de cheiro, ou um pauzinho de incenso ao 3ooº likeiro. Não será fácil, mas sei que posso contar com o vosso apoio e isso, de alguma forma, conforta-me.
Foda-se, acordem! Aquilo é só uma página virtual, não são as eleições da Venezuela e, o choque, o horror, a maior parte dos likes são de pessoas que se estão virtualmente a cagar para vós e que, logo de seguida, accionam a opção: Ocultar publicações desta página.
Eles não são mesmo, mesmo amigos, naquela acepção antiquada de amizade.
A menos que exista um intuito de guito por detrás da página, ou alguma coisa para vender, para salvar, ou uma causa nobre, para que vos servem os gostos, uns atrás dos outros, como coelhinhos copulando desenfreados? É a propagação da palavra do Senhor? São os jeovás?
Não? Bem me parecia. Então, concluo tristemente que existe quem meça o seu sucesso pessoal pelo número de likes alcançados nas suas páginas e isso é triste. Triste, solitário e um bocadinho assustador...

terça-feira, 12 de março de 2013

Quem é que quer juntar-se a mim?

Garrafa de 3 litros de coca-cola - Confere
3 baldes de pipocas doces e salgadas - Confere
Terços e bíblia de bolso - Confere
Moleskine para apontamentos sobre a tonalidade dos fumos - Confere
Olho de lince para os paramentos que estão In e os que estão Out - Confere

Prontinha para a maratona do Conclave. Venham eles, que eu aqui estarei para lançar opiniões em directo.

fenómeno clone



Um dos fenómenos que mais me diverte, quando enfio os pés e os olhos numa livraria, é assistir ao fenómeno da propagação das capas e dos temas.
Se Marley e Eu originou toda uma enchente de livros sobre animais de estimação e suas aventuras no mundo dos donos, com capinhas fofíssimas de gatinhos e cachorrinhos. Se o Código Da Vinci foi o fermento para centenas de livros com mistérios intricados no Vaticano e no Pelicano, eis que assistimos ao fenómeno erotismo sensualíssimo para mulherio com pipi carente.
A propagação deste novo género não necessita de muito além de uma capa parecida com a trilogia do momento. Reparem nos tons da capa, no tema fantasia sensual:
Um tem uma gravata em tons cinza mistério. Instigando assim o neurónio sensual à possibilidade de atar mãos e pés com gravatas de seda. Outro aposta no salto agulha, deixando transparecer as infinitas possibilidades que um salto alto pode proporcionar no imaginário erótico. Desde o salto no gasganete masculino, ao salto associado à meia com ligas:
Talvez se fizermos capas parecidas, o mulherio mais distraído se engane e leve este do salto alto, pensando estar a levar o da gravata. No próximo vamos pôr um laço de fraque para lançar o pânico na memória visual.
E, depois de ter celebrado, comigo mesma, o compromisso de não deixar aqui opiniões negativas sobre autores portugueses, até porque a minha opinião não é assim tão relevante, agora limitar-me-ei àqueles que não têm alertas do Google em português :)
Aproveito para dizer, que o livro da Dulce Maria Cardoso, "O Retorno", do qual já me tinham falado tanto e eu insistia em deixar para depois, é uma pérola.

segunda-feira, 11 de março de 2013

É nas cenas simples e baratas

Que se me reside todo o conforto alimentar e espiritual.
Exemplos práticos:
Ervilhas com ovos escalfados.
Ovos mexidos, com arroz de manteiga.
Carcaça (digo carcaça e não papo seco, pois para papo, já basta o meu) estaladiça com manteiga.

sábado, 9 de março de 2013

carta à filha

Fecha os olhos. A mãe agora não importa. Imagina que estás de novo dentro de mim e respira com a cadência serena do meu coração.
Aquilo que a mãe sente é apenas o que desejares que sinta. O que precisares de retirar, retira. Sem mágoas, sem nada que não desejes de mim.
Fecha os olhos amor meu. Fecha-os e sossega no meu colo. Sossega de todas as tuas dores. Farei meus os teus anseios, ainda que nada te diga deles. Ainda que nada imagines de mim, eu possuo todas as certezas sobre ti.
Não apregoarei o que me dói ver-te assim, pois nada de mim importa agora. Agora importas tu.
Apagar-me-ei em ti, enquanto afago o teu rosto febril.
Apagar-me-ei até ao ponto que te conforte.
Limparei o suor das minhas mãos, para que sintas apenas fresco na tua testa quente.
Calarei as lamúrias que desejo proferir, para que me escutes apenas o sorriso doce que precisas.
Falarei o estritamente necessário ao teu sorriso e chorarei apenas quando não conseguir evitá-lo.
Fecha os olhos, meu amor. Fecha os olhos que eu manterei os meus abertos para te velar. Não deixarei que nada te suceda, enquanto te guardar aqui, dentro do que te deu vida. Dentro de mim.
Sei que não possuo já o rumo dos teus passos. Que és agora tão pouco minha e tão diferente do que te imaginei um dia, mas conforto-te ainda, só por estar aqui. Tem que ser assim. Será sempre assim. É esse o destino de uma mãe. Apagar-se quando deseja brilhar, brilhar quando deseja apagar-se. É esse o meu destino.
Fecha os olhos, meu amor. Fecha os olhos. A mãe está aqui por ti.

sexta-feira, 8 de março de 2013

Quando leio por aí

Coisas como: O dia da mulher devia ser todos os dias.
Flores deviam ser todos os dias.
Cartões deviam ser todos os dias.
Que dia tão parvo.
Também devia haver dia do homem.
Que dia sexista.
Só me ocorre deixar aqui duas imagens que falam por si.
Para as mulheres que acham, do topo da sua vidinha suburbana e segura, com os seus direitos fundamentais adquiridos, que não devem ser lembradas as mulheres.


Imagens retiradas da net.
Uma delas representa uma mutilação genital feminina, feita a uma menina.
Mulheres que são castigadas pelo simples facto de terem nascido mulheres.

É verdade, temos que lidar com idas ao supermercado e jantares para fazer e putos para criar e condições desiguais no mundo laboral, mas não me fodam, estamos já a léguas de distância da barbárie que tantas mulheres ainda sofrem em tantas partes do mundo. Agradeçamos por isso, nem que seja uma vez por ano, sim?
Lembrem-se. Se menosprezam este dia, é porque fazem parte do grupo de sortudas que podem dar-se ao luxo de fazê-lo.

Josés



Aqui estão duas caras que adoro.
Porquê?
Não faço a mais pálida ideia. É puro instinto. Não sei como se racionaliza e se verbaliza isto de se ir com a cara de alguém. Mas sinto uma boa onda, uma simplicidade, uma honestidade. Qualquer coisa assim de muito pouco explicável.
Fico contente que eles nos representem, lá fora, em coisas que importam. Fico feliz que sejam caras embaixadoras do nosso país, pois são caras boas.

quarta-feira, 6 de março de 2013

mãe doente é do caraças

Depois de uma semana de miúdos doentes, em que um pegou ao outro, eis que começo a sentir-me mal. Mal não, péssima, toda rota, como não tenho memória desde que fui mãe.
O meu sistema imunitário sempre debelou todas as pequenas merdas, pois que não podia dar-me ao luxo, nem ao lixo, de adoecer.
Mas ontem, a má disposição era tão nojenta, que me arrastei até uma urgência e fiquei a saber o que os meus filhos tiveram e fizeram o favor de me transmitir: Gripe.
E pronto, soube que estava com gripe e trouxe umas drogas da farmácia (menos mau).
Hoje de manhã, com a garganta e a cabeça em modo de dor latejante, disse para mim própria:
Estás com gripe, sua otária. Vá, agora levanta-te e faz tudo como de costume.

segunda-feira, 4 de março de 2013

Paixão

Que lufada de ar fresco ler este artigo.
Lembrei-me das minhas aulas de português, repletas de baba e bocejos. Aulas em que nada do que era dito prendia a minha atenção por mais do que dois, ou três minutos.
Presa na métrica dos Lusíadas, no intricado trovador das cantigas de amigo, no simbolismo dos Maias e na voz monocórdica e desinteressante de quem nos falava daquele universo paralelo, apenas um pensamento me aflorava a mente:
Onde é que se vendem os resumos desta merda? E onde é que se vendem os resumos dos resumos?
Pois, eu sempre me safei a português, mas nunca adorei a disciplina, nunca me senti impelida a ler nada do que se falava nas aulas, pois que tudo me soava estupidamente desinteressante.
E foi alguns anos mais tarde, já livre dos professores que sempre me calharam na sina (nunca tive sorte com o português), que peguei nos Maias e, livre de simbolismos e contextos históricos e características psicológicas dos personagens, me rendi a Eça de Queiroz e me apaixonei profundamente por ele. Lendo quase tudo o que havia para ler, de seguida.
É preciso darmos espaço à nossa própria leitura, sem interpretações alheias sobre o que o autor significou, ou quis significar.
Às vezes e, por mais estranho que isto soe, é preciso fecharmos os olhos e olharmos para dentro, para nos apaixonarmos.
Sentirmos apenas, sem traços de personalidade, nem contextos, nem linhas temporais. Fechar os olhos e rendermo-nos ao que aquilo tudo suscita em nós. Rendermo-nos ao que nunca nos foi apresentado nas aulas. Rendermo-nos à paixão.
Tive apenas um professor em toda a minha longa carreira de estudante que me fez sentir apaixonada pela disciplina:
O meu professor de filosofia no 12º ano.
Ele obrigava-nos a pensar, a reflectir sobre as grandes questões. Ele chegava à sala e rasgava no quadro de ardósia, em letras garrafais:
DEUS ESTÁ MORTO!!!!! E ficava a olhar para nós, esperando que falássemos a partir dali.
Ele tinha uma arte espantosa de fazer com que nos apaixonássemos, pensássemos por nós e entrássemos nos sapatos de Kierkegaard, de Nietzsche, até de Kant, por mais difíceis que fossem os sapatos deste homem.
Durante uns largos meses, ponderei seriamente seguir filosofia.
E é isto. As métricas, os simbolismos, as vírgulas aqui e não ali, o formalismo em detrimento do verdadeiro conteúdo. É isto que tem potencial para arruinar os nossos futuros leitores/escritores. É isto. Tira-lhes o âmago,

sexta-feira, 1 de março de 2013

Cinema Paradiso, versão Lisboa

O Nuno Markl , com as suas crónicas diárias dos cromos, "roubou-me" praticamente todas as minhas memórias originais dos velhos tempos.
Quase tudo aquilo que me lembro de recordar, o Nuno Markl já recordou.
Mas ainda assim e sem ter pesquisado previamente se existe já um cromo sobre isto, eu tenho duas memórias fundamentais da minha juventude.
Duas recordações que estão mais para tatuagens do que para cromos:
Os cinemas de Lisboa.
O Miguel Esteves Cardoso.
Lembro-me de cada um dos cinemas que existiam em Lisboa e que já desapareceram. E juro-vos, que não consigo proferir os seus nomes, sem me sentir pateticamente comovida.
Vi o Indiana Jones e os salteadores da arca perdida e o Nome da Rosa no cinema Berna.
Never Ending Story no Caleidoscópio.
Rain Man no Apolo 70
The Doors, no Sétima Arte
Dirty Dancing no cinema Alvalade
Jean de Florette no cinema Star
No Quarteto, o Jardim da Alegria com o, então aspirante a namorado, Hugo.
No Ávila, o Império do Sol.
No Nimas, Conto de Verão e o Conto de Outono.
E no Londres, caraças, no Londres vi tudo aquilo que havia para ver. Desde os 3 homens e um berço (versão francesa), ao Braveheart, ao Carros 2, com a minha filha.
O Londres e as suas cadeiras cada vez mais velhinhas, que desciam com estrilho, quando alguém se sentava. A senhora que nos indicava as cadeiras (o que fará ela agora da sua vida?).
O Londres era o meu cantinho de recordações. Um sobrevivente no meio de tantas zons e shoppings e luzes falsas.
O Londres era a minha derradeira recordação e ontem, quando vi nas notícias, uma grade castanha, corrida sobre a sua entrada, chorei por todos os cinemas da minha infância que morreram e me deixaram órfã da magia dessas salas.
Bem sei que vivo em Cascais desde os 17 anos e que aqui também há salas de cinema para chorar (não me venham dizer que o Atlântida Cine também fechou, porque me dá um fanico), mas metade do meu coração estará sempre em Lisboa e assistir à quantidade impressionante de pequenas salas que desapareceram, dá-me na nostalgia de uma forma assustadora.
Quanto ao Miguel Esteves Cardoso. Bem, terá que ficar para outra altura...