segunda-feira, 30 de novembro de 2009

Em Busca de Um Grande Amor

Se para uns é tremendamente simples encontrar um companheiro de vida, para outros é uma tarefa desgastante, cheia de decepções, de vazios, de desistências e esperanças renovadas constantemente, até todo este saltar emocional se transformar num gigantesco cansaço e os levar a desistir.
Se para uns não há grandes exigências, pedem tão pouco para si que chega a ser doloroso para quem os vê, para outros todos os requisitos e alíneas devem ser preenchidos, nunca entendendo que a perfeição humana não passa de uma grande utopia.
Se para uns a busca foi simples e frutífera, para outros a busca parece interminável e infrutífera.
É também certo que para algumas pessoas o amor, talvez por ter sido tão rapidamente conseguido, talvez por imaturidade emocional, não se reveste daquele valor que damos às coisas raras e difíceis de alcançar. Esquecem-se de valorizá-lo a cada dia que passa. Como os montanhistas que chegam finalmente ao mais alto cume e dali contemplam a grandiosidade do que conseguiram alcançar, assim devíamos fazer de vez em quando em relação ao amor, uma espécie de fotografia panorâmica geral, um balanço, uma contemplação.
Mas andamos tão preenchidos com a estrada bem no meio dos olhos que nos esquecemos de parar na berma e simplesmente olhar a paisagem.
A busca por um amor é diferente para toda gente, não há formas convencionais, nem poções mágicas que nos façam tropeçar nos braços de alguém perfeito. Muitas vezes são necessárias várias pessoas erradas para encontrarmos a pessoa certa. Outras vezes não. O que é certo é que temos que estar disponíveis para recebê-lo e não termos medo de sair da estrada mais confortável da vida, pois é muitas vezes nos caminhos de terra batida, pequenos e bucólicos que encontramos as paisagens mais deslumbrantes...

*O mote para esta reflexão sem grandes conclusões saiu daqui.

domingo, 29 de novembro de 2009

Estou na Lua


Renault 5 em sétima mão estacionado à porta do liceu. Apenas uma coisa funcionava bem naquele meu primeiro carro, o rádio e meu Deus como esta música tocava, tocava e tocava e como me deixava bem disposta...
Acabei de sentir tudo de novo. É bom perceber que certas músicas ainda nos deixam assim.

Sugestão de Natal ou de Outro dia Qualquer


Um Dia de Alison Mcghee e Peter h. Reynolds


A Mãe e Eu de Maria Teresa Maia Gonzales

Porque só me apetece ficar enroscada debaixo de um cobertor polar com a minha família, porque bolos e chocolate quente são as variáveis no meu cérebro neste domingo frio e cinzento, porque os domingos nunca inspiraram ninguém, hoje não tenho nada de jeito para dizer, por isso decidi partilhar convosco um pouco do que os outros dizem em forma de livro, mais concretamente duas pérolas bem ternurentas da literatura infantil que repousam na prateleira da Alice. Dois livros que não me canso de lhe ler e que ela não se cansa de escutar.
São aquelas letras perfeitas para as mães e para os filhos, uma vez que comovem umas e enternecem outros com a mesma intensidade.
Aqui fica a minha sugestão a sério que não se vão arrepender.

sábado, 28 de novembro de 2009

A Parte Mágica Verde e Encarnada


Parece que sim, que hoje o dia foi passado a natalizar a casa.
Quanto às cores desta época sempre fui um bocadinho conservadora, árvores pretas ou roxas não são bem o meu filme. O Natal para mim sempre foi verde e encarnado, polvilhado de branco.
A Alice está neste momento às escuras na sala, só com as luzes da árvore a iluminarem o seu olhar perfeitamente maravilhado.
Esta sim é a parte mágica desta época.

sexta-feira, 27 de novembro de 2009

Un Italiano Vero, ou Spaghetti Pomodoro

Adoro ouvir falar italiano, a música que parece sair daquele idioma é qualquer coisa que me hipnotiza ao ponto de beber cada palavra. Ao ponto de um insulto soar a música, o nome de um prato gastronómico dito pelo empregado de mesa, ser certamente mais apelativo que o próprio prato. Podiam falar italiano comigo a noite inteira que mesmo não entendendo nada, escutaria sem qualquer sacrifício.
O francês bem falado, ou o inglês aristocrata também me adoçam os ouvidos sim senhora, mas nada, nada chega aos calcanhares de um chorrilho de insultos proferido por uma Mamma italiana, ou de uma música popular cantada com aquele timbre incomparável.
Qualquer dia perco a cabeça e enfio-me num curso de italiano, se bem que sou um bocadinho tímida para falá-lo como ele merece, de peito cheio, cantando bem alto cada palavra.

quinta-feira, 26 de novembro de 2009

Este é que é o Nível mais Baixo de Desleixo




Retiro tudo o que disse no post anterior sobre ter chegado ao ponto mais baixo de desleixo. Depois de ter recebido estas fotografias por mail, meus queridos e sensuais cornos de rena, eu sou uma Miss Universo.
Eu que não vou ao supermecado com calças de fato de treino, pois sei de antemão que vou encontrar alguém que não vejo há anos, alguém que certamente me irá achar na mó de baixo, quando o que mais queria era esfregar-lhe na cara o meu sucesso (ahahah). Eu, Anita, cujo único pecado foi ter sido apanhada a cozinhar de cornos na cabeça peço publicamente desculpas a mim mesma, pois sou uma deusa quando comparada a certas espécies de animais selvagens à solta nos supermecados.
Ver isto fez-me bem ao ego e deu-me um bocadinho de enjoos gestacionais.

Os Cornos


Sabemos que chegámos ao nível mais baixo de desleixo quando o nosso marido chega a casa do trabalho e nos apanha a fazer o jantar com uns cornos de rena na cabeça, depois lança-nos um olhar de quem pergunta: Para onde é que foi a mulher esbelta e maravilhosa de outrora?
Em minha defesa:
A Alice cravou-me este belo artefacto natalício.
Eu odeio cozinhar com o cabelo a cair-me na cara e tinha os elásticos todos no andar de cima.
Subir as escadas, para uma paquiderme em hora de quebranto é tarefa utópica.
E podia continuar a minha argumentação inteligente até ao infinito, não fosse a contradição de neste preciso instante estar com os cornos a segurarem-me a franja.
Meu deus, será que isto quer dizer alguma coisa?????

quarta-feira, 25 de novembro de 2009

O Terror da Mama ou Ordenha Materna

À medida que o tempo para conhecer o meu filho encurta alguns medos vão surgindo, principalmente durante a noite, quando o sono se interrompe por tudo e por nada e a cabeça voa para bem longe da almofada.
Por mais surreal que vos possa parecer a minha angústia-mor é a mama.
Ao contrário do que publicitam em tudo o que é livro, curso de preparação para o parto, filme, cartaz de rua, revista da especialidade, corredores das maternidades. Dar de mamar à Alice não me aproximou mais dela. Não me fez sentir nenhuma das coisas com que me lavaram o cérebro durante os nove meses de gravidez. Aliás, todas essas coisas que escrevem, dizem e apregoam serviram apenas para me fazer sentir a pior das mães por não retirar qualquer prazer divino-maternal na ordenha.
A pingar leite, com uns sutiãs que se abriam, algodões tamanho XL ensopados, bombas que o Hugo usava como um verdadeiro camponês no estábulo, sendo que a vaca era eu, dores de trepar pelas paredes, acordar de meia em meia hora para sacar da mama dorida e cansada, retirou-me 90% da paz que precisava para me sentir mãe e deprimiu-me como nada ao longo destes quase quatro anos me deprimiu.
Odiei cada minuto daquela rotina, mas por causa de toda a campanha facciosa-pró-mama achei que não era normal uma mãe sentir-se assim. Onde é que estava o elo, a ligação transcendente, aquela mística mamária?
Depois os conselhos, os olhares, as mezinhas, as corridas para o hospital onde a enfermeira-chefe me sacava leite com uma seringa (sem agulha é claro) transportaram-me até à quinta dimensão e eu chorava. Chorava por não sentir aquele elo, aquele apelo e por achar que era menos mãe por pensar sequer em desistir daquela tortura.
O que é certo é que o elo nasceu, a intimidade surgiu finalmente e eu pude curtir a minha filha no dia em que decidi trocar a teta pelo biberão, no dia em que aceitei que não era uma má mãe por não gostar de sacar da mama de meia em meia hora e quando percebi que dar-lhe leite em pó não era a mesma coisa que lhe enfiar cianeto pela goela abaixo.
As mulheres são todas diferentes, mas dar, ou não dar de mamar não é o que as define como boas, ou más mães.
A Alice nunca tomou um antibiótico e tirando dois episódios de febre, o último dos quais, há pouco tempo, nunca teve nada de grave.
Sempre me preocupei com a alimentação dela, com os legumes, o peixe, a fruta e sinceramente facciosos-da-mama-que-não-admitem-outra-realidade se olhassem mais para o que os putos comem na fase pós lactente isso sim seria um bom investimento na saúde infantil.

terça-feira, 24 de novembro de 2009

O Gene que Me Falta

Às vezes adorava ser como aquelas mães nórdicas com os putos às costas, que dão a volta ao mundo com o bebé aos gritos pendurado no lombo e o alimentam com o que vão recolhendo pelo caminho, seja McDonalds com coca-cola no biberon, ou feijoada com couve lombarda em estômago lactente.
Adorava ter a descomplicação de deixar a fralda com cocó verter cá para fora até o rabo explodir e quando isso acontecesse, com um sorriso tranquilo, enfiar o bebé no capot do carro com 20 graus negativos e mudar tudo ali mesmo.
Adorava ficar indiferente ao choro, às birras, ao cansaço e passear-me com as crias pela 5ªAvenida com o mesmo à vontade com que as passeava no parque infantil.
Adorava descomplicar, desdramatizar, relativizar, dizer que "tudo se cria".
Mas não tenho, sou uma chata do caraças, uma preocupada, uma cocózinha, alguém que não tem paciência para birras e que gosta de zelar pelos sonos dos putos, sabendo que são esses sonos que nos dão tréguas.
É precisamente por isso que sei não ter dentro de mim o gene de parideira/mãe de prole infinita que assiste a tantas mulheres. É precisamente por isso que quando me perguntam para quando o terceiro, estando eu ainda à espera do segundo, a única coisa que me ocorre é um desferir um soco...

segunda-feira, 23 de novembro de 2009

Uma Médica Cool, ou Nem Por Isso?

O que pensar quando a médica que escolhemos para ajudar o nosso filho a nascer se vira para nós depois de nos mandar subir para cima da balança a fim de ver quanto é que aumentámos de peso desde o mês passado e diz:
"A Balança Quinou"
1 - Tem duas filhas adolescentes e apanhou-lhes a linguagem cool.
2 - Gosta de fumar brocas no intervalo das consultas e dá-lhe para usar calão a seguir. O que nos leva imediatamente à hipótese seguinte:
3 - Também gosta de fumar brocas antes das cesarianas e vai com certeza dizer-me com um grande sorriso e de bisturi na mão enquanto come uma sandocha pós-ganza: Já quinaste Ana?
4 - Engordámos tanto de um mês para o outro que ela simplesmente entrou em bloqueio linguístico e para não dizer "Ó minha granda vaca o que é que tens andado a comer?" sorri e diz que a balança quinou.
Prefiro acreditar que foi uma das primeiras três hipóteses. Até lá acho que tenho uma médica muito porreira.

Tradição ou Chatice?


Ontem saímos já tarde para comer castanhas na rua. Finalmente um bocadinho de frio para lembrar que já é mais Inverno que Verão e para nos saber bem o fumo quente com cheiro a brasa, projectado na nossa direcção.
Sentados os três nas escadas de um prédio a saborear aquela que considero a melhor das iguarias de rua, pensei no histerismo que se criou em redor dos novos pacotinhos de castanhas. Os cabelos que se puxaram com o fim do papel de jornal, ou das páginas amarelas. Ai que a tradição já não é o que era, ai que nos querem acabar com o papel enrolado do jornal, ai que desgraça para onde é que vai o país!
E ri-me, ri-me com a estupidez de tudo aquilo, pois a mim dá-me muito mais jeito comer castanhas naqueles pacotinhos bonitos, não me retira rigorosamente prazer nenhum o facto de ter aquilo na mão em vez de um amarfanhado de notícias ou números de telefone e que me perdoem os defensores da tradição castanheira, mas o sítio onde me dão as castanhas é-me perfeitamente indiferente, pois sou de tal modo apaixonada por elas que até as comia do chão se não estivesse ninguém a olhar (e, por quem me tomam, se ainda estivessem dentro da casca).
Não estamos a falar de café bebido num copo de plástico que fica quase sem sabor. Isso sim seria mais do que motivo para uma revolução em massa por parte do povo.
Quanto a coisas como o papel que envolve a castanha sou tradicionalista, mas nem tanto...

domingo, 22 de novembro de 2009

À Superfície

É incrível como ainda me espanto, me embasbaco, me choco de cada vez que vejo mais um pai destruir o património emocional de um filho com uma ligeireza estúpida, como se fosse a coisa mais natural do mundo.
Fazer filhos é fácil, fazer-lhes gracinhas e cuchi cuchi no queixo enquanto eles se babam é cagada, mudar fraldas e gabar-lhes o jeito para a muda é um peido, agora não os traumatizar, tentar mantê-los sempre à tona quando tudo o resto desmorona, puxá-los com todas as forças à superfície quando a vontade é deixar a própria vida afundar, isso sim é de gabar.

sábado, 21 de novembro de 2009

Reaprender o Natal

Hoje escrevo para ti, pois quando passeávamos à sombra das decorações de Natal e a tua mãozinha puxava a minha para que visse cada luz, cada coroa, cada árvore, com um entusiasmo comovente eu sorri, gritei, apontei seguindo sem esforço o teu entusiasmo, muito embora nunca tenha vibrado antes com esta época, sempre tenha desdenhado do Pai Natal e nunca tenha tido em casa nada além de suspiros por estar a chegar a quadra natalícia, como se de extermínio se tratasse.
Ontem decidi pela terceira vez na minha vida que gostava do Natal. Não pelos presentes, não pelo consumismo, não pelo bacalhau, pelos sonhos, pelas rabanadas, pelo Bolo Rei, mas por ti meu amor.
Tens-me ensinado tanto ao longo destes quase 4 anos que nem ouso começar a agradecer-te, pois perder-me-ia em tudo, em cada frase, em cada gesto, em cada abraço e eu não quero perder-me, não hoje, não agora que te tenho no lado mais quente de mim.
Sei que vou escrever uma lista para o Pai Natal contigo, que vou deixar-te decorar a árvore sem me preocupar com a estética, que vou abrir as portas para que a tua alegria inunde mais uma vez esta casa e que vou fazer sempre o possível e o impossível para que esse brilho de deleite no teu olhar nunca se perca como o meu se perdeu, pois é através desse olhar que a minha vida ganha todo o sentido do mundo.

sexta-feira, 20 de novembro de 2009

Estas Coisas Acontecem... Mas Tantas?


Sim eu sei, isto começa a parecer um muro das lamentações domésticas, mas eu tenho que expurgar a minha raiva algures e que melhor lugar do que este cantinho cheio de olhos prontos a lerem as minhas idiotices caseiras e ainda por cima simpáticos à brava?
Depois de quase dois meses à espera dos famosos puxadores de princesa (como a Alice lhes chamou desde o dia em que os viu) lá fomos buscá-los hoje de mão dada e um brilho enternecedor no olhar da minha filha que liga a estas coisas da decoração.
Chegadas a casa a bricoleira de serviço, que é como quem diz, eu, lá arregaça as mangas e de chave de cruzes em punho e com dores nas cruzes, começa a trocar os puxadores antigos por estas (caras como um raio) borboletas coloridas.
Suada, de joelhos no chão, a fazer o pino, com a língua de fora lá consegui espetar com o borboletame na cómoda. A Alice batia palmas, encantada com aquele novo elemento no seu quarto e eu corada, mas a cantar vitória.
A sensação de euforia durou até começar a meter a pata nas asas, puxar para abrir a gaveta e....... Yupi!!!!! Ficar com as borboletas na mão, partidinhas da silva. Mas que belo material sim senhora, olha que se partiu mais uma, olha e mais outra! É vê-las levantar voo das gavetas a uma velocidade estonteante.
Liguei para a loja e é claro que o velho, milenar, caquético comentário da gaja da loja surgiu:
- É a primeira vez que recebemos uma reclamação e já trabalhamos com essa fábrica há anos...
- Há sempre uma primeira vez para tudo minha querida, vá preparando a massa para me devolver, sim?
Depois lembrei-me da Alice, a um canto, olhos brilhantes mas de tristeza, a frustração estampada no rosto e tentei resolver a coisa com Super Cola 3. Escusado será dizer que estou com as mãos sem qualquer espécie de sensibilidade, nem sei como não fico com o teclado colado nos dedos. À beira de um ataque de nervos, cheia de super cola 3 nas manápulas e a praguejar contra meio mundo, a minha filha diz-me:
- Deixa estar mãe, essas coisas acontecem...
Esta miúda existe?

quinta-feira, 19 de novembro de 2009

Socorro!!!!!!

Aqui a dona de casa inteligente decidiu começar a lavar a roupinha do bebé, mais precisamente, as lãs. E como o meu tempo disponível já não é certamente igual ao que tinha quando estava à espera da Alice, altura em que lavei tudo à mão. Decidi armar-me em boa e inteligente e lavar tudo na máquina. Até aqui tudo bem, a minha máquina tem um programa de lãs que deu conta do recado.
Ai que orgulho doméstico que senti ao tirar todas aquelas peças de lã fofinhas e cheirosas de dentro da máquina, ai como me ri de mim própria por ter lavado tudo à mão no antigamente. E para completar este ciclo de sorte e convencimento vai de enfiar tudo na máquina de secar que também tem um programa para lãs. Ai que lindo. Sim que idílico, se aqui a estúpida, otária, distraída, abécula da Ana não se tivesse enganado no símbolo e no lugar daquele novelozinho de lã vai de carregar num botão que tem um sol desenhado. Um sol de calor, de bafo, de inferno de labaredas!!!!!
Metade da roupa não serve agora a um feto de 5 meses...
Alguém sabe de um truque milagroso que devolva o tamanho original à roupa encolhida até ao tamanho de uma bactéria por uma mãe-parva-que-devia-era-estar-quietinha?

Ando Farta

Ando farta da minha caixa de correio electrónico cheia de alertas de sabonetes que fazem cair a pele, de casos de queimaduras graves depois de se temperar carne com limão e tomar banho na piscina a seguir.
Ando farta dos relatos de assaltos no Cascais-Shopping durante a noite, farta dos novos métodos de burla telefónica. Farta do perigo que certas substâncias presentes em tudo quanto é gel de banho representam para o risco de cancro.
Ando farta da Dona Ermingarda que está muito mal por causa de uns comprimidos que tomou, ou da vacina que levou.
Ando farta das teorias da conspiração de laboratórios farmacêuticos e do Tamiflu, farta das teorias contra a vacina da Gripe A.
Ando farta dos e-mails com correntes de oração, de pedidos, de abaixo assinados que temos que enviar a um milhão de pessoas.
Ando farta dos Power Point Shows com músicas do Senhor e paisagens sublimes.
Ando farta de toda esta informação paralela nunca sujeita a confirmação, mas na qual todos acreditam piamente, como se saíssem directamente da boca de um prémio Nobel da ciência, ou da química.
Ando farta dos dramas e alertas que todos os dias decidem enviar-me. Aliás, ando tão, mas tão farta que já nem sequer os leio. Abro a tampa do caixote do lixo e decido viver apenas com os meus próprios dramas.

quarta-feira, 18 de novembro de 2009

Eu Pergunto Apenas: QUE BOSTA É ESTA??????



Hoje fiquei a saber que um conceituado arquitecto, tão conceituado que nem me lembro do nome, a pedido da igreja e ao que parece com os donativos dos crentes, defecou este projecto para a nova igreja de S. Francisco Xavier no Restelo. Chama-se "igreja-Caravela".
Já está em andamento a construção desta Notre Dame portuguesa, desta obra prima de arte sacra, desta ideia de génio de um criador não menos genial.
Os padres calaram e comeram, quem sabe pensando estar perante um milagre da criação, profundo demais para o seu entendimento, os crentes que deram os donativos eram entrevistados atrás das árvores, não querendo dar a cara ao proferirem uma opinião menos bonita, ou quem sabe com vergonha de terem contribuído para tamanho embelezamento da paisagem do Restelo.
Agora eu pergunto:
Para conseguirmos um alvará para fazer uma obra em casa temos que recorrer ao suborno, mas é possível parir um excremento arquitectónico destes impunemente?
Mas que merda é esta no meu horizonte visual? Ainda se fosse a Arca de Noé, pronta a navegar quando o tsunami atingisse Lisboa...

Em Sobrancede das Ratas Nasceu o Menino

Se há coisa que adoro ao ponto de pôr o volume no máximo e os olhos ficarem vidrados no ecrã da televisão, é a ida dos jornalistas ao local onde o suposto criminoso nasceu, sondando vizinhança, comerciantes locais, cães, gatos e tudo o que mexa.
Por isso é claro que não perdi a ida à santa terrinha do Armando Vara, de onde parece que saiu aos 7 anos de idade.
- "Ai era um santo menino, amigo do seu amigo, educadinho, bom filho, nunca se lhe conheceu um inimigo"
Nesta altura já estou a suspirar e a implorar por uma alminha criativa que responda:
- O quê o Armandinho? Desde os 3 anos que engrupia as pessoas. Aos 4 montou um esquema em que limpou as contas bancárias da Dona Ermegilda e do Senhor Emílio dos Caracóis e nunca mais ninguém o viu. Torturava animais, apanhava cães vadios e espetava-lhes palitos nos olhos. Um sem vergonha de um puto. Eu sempre disse que ele ia dar no que deu!
No dia em que um jornalista brilhante for de abalada à Vila de Sobrancede das Ratas, terra natal de um político manhoso e conseguir um testemunho do género, posso seguramente afirmar que o profissional teve o furo de uma vida e eu vejo finalmente realizada uma fantasia :)

terça-feira, 17 de novembro de 2009

Morte ao Bicho!!!!!!!!!!!

Desde tenra idade, mais precisamente, desde o dia em que ouvi a história da Cigarra e da Formiga que me convenci que esses bichinhos armazenadores compulsivos, trabalhavam no Verão para se recolherem no Inverno cheios de mantimentos.
Mas ao que parece isso só se aplica às pêgas das formigas dos contos de fadas. Porque pela minha zona elas não recolhem, não ibernam, não se resguardam, estou até convencida que não têm casas, aliás, têm sim, a minha cozinha.
Então não é que acordo, olheiruda, rezingona, preguiçosa, penetro na cozinha para fazer a única coisa que me comove pelas manhãs, o café e apercebo-me que a minha bancada está negra e mexe????
E que a caixa dos pastéis de Tentugal que o Hugo trouxe de Coimbra ganhou pés????
O que fazer? Fechar a porta da cozinha, voltar para a cama e repetir até à exaustão que foi um sonho? Ligar o aspirador e sugar as sacanas até não restar nenhuma? Pegar na caixa dos pastéis de Tentugal e tentar salvar pelo menos um? Ou varrê-las com CIF Spray cozinhas seguido de pano molhado?
Pois é, aqui a otária optou pela última e higiénica solução.
A Alice olhou-me de forma estranha quando entrou na cozinha atraída pelo meu praguejar e me observou a exterminar formigas enquanto dizia:
Morram sacanas! Sacanas! Sacanas!
E é assim que uma mãe deita por terra as tentativas de educar o rebento no respeito por todos os animais, já que ela se juntou a mim no extermínio...

segunda-feira, 16 de novembro de 2009

A Clausura e a Loucura

Doente à vez com a Alice, ora dormi mal de noite porque estava mal disposta, ora dormi mal de noite porque ela estava mal disposta.
Ora punha eu o termómetro, ora punha nela o termómetro.
Ora era eu que tomava ben-u-ron, ora era ela que tomava anti piréticos.
No meio de tudo isto e feitas as contas, estamos há quase duas semanas de molho, que é como quem diz piréticas, pirulas, à beira da loucura caseira.
Por isso hoje decidi que era dia de sair. Quis lá saber da chuva, das três lâmpadas que se fundiram quase em simultâneo cá em casa, da camisa branca que saiu azul da máquina, da noite de ontem em que só preguei olho às 3 da matina.
Eu quis lá saber da loiça empilhada no lava loiças, ou das mil e uma coisas que se podem sempre fazer numa casa, porque hoje a tarde seria nossa, das convalescentes.
A seguir ao almoço damos um giro. E pronto sentámo-nos para almoçar, vestidinhas, maravilhosas, quando a meio do almoço a Alice começa a queixar-se de má disposição e depois de passar algum tempo a ignorar os lamentos dela, costumeiros quando não quer comer mais, ela estende-me os braços enfia-se no meu colo e vomita-me toda.
Até chegar ao lava-loiças da cozinha conseguiu vomitar-me o cabelo, o pescoço, a camisa e a cozinha inteira.
Parece que afinal a clausura não se rompeu hoje.
Quem diz que os filhos não são a maior e a mais inexorável mudança da nossa vida, não sabe o que diz. Quem diz que os filhos não viram a nossa vida ao contrário, a abanam bem abanada e nos deixam tantas vezes sem fôlego à procura daqueles dias em que podíamos simplesmente descansar, também não sabe o que diz.
Eu entretanto já não sei o que faço, só sei que estou cansada ah e amo muito a minha filha.

Farta Até à Ponta dos Cabelos

Esta história da vacina da Gripe A anda a irritar-me de uma forma que não consigo pôr em palavras.
A princípio desdenhei de quem tinha medo dela. Pois então ai que Deus olha a Gripe Porca! E depois quando vem a salvação: Ai que Deus olha a Vácine que nos mata!
Ri-me do pânico gerado em torno de uma simples vacina e foi de peito cheio que entrei no consultório da minha médica e lhe perguntei:
Então como é que é mulher, vacino-me e tiro esta nuvem negra da gripe de cima da minha cabeça? (Esta parte bastante ficcionada como calculam)
- Vamos ter calma Ana, ainda não recebi nenhuma directiva nesse sentido, blá, blá.
Tudo bem, a Ana teve calma e aguardou a próxima consulta, na qual me foi pedida paciência novamente, que para já não e que tal e coisa.
E a Ana teve paciência, até porque a filha não foi para a escola e a nossa vida recatada não dava aso a grandes contágios.
Depois adoecemos as duas (não foi gripe) e chamámos uma médica a casa. Na lata o Hugo perguntou-lhe: Doutora vai-se vacinar contra a porca?
E com um tom misterioso, quase de secretismo a mulher murmura:
Nós médicos não nos vacinamos. Tememos os efeitos do preparado da vacina a longo prazo no sistema neurológico.
Ora bem, sistema neurológico tenho eu em frangalhos e não foi preciso vacinar-me para ficar nesse estado.
Depois descubro que há toda uma estirpe de médicos e funcionários na área da saúde que não se querem vacinar, que temem a coisa, mas que nada dizem publicamente, é tudo pelos corredores, pela porta do cavalo, em sussurros.
E o povo que fique neste limbo, nesta indecisão, neste marasmo de vacina, não vacina.
É claro que na dúvida, principalmente uma grávida, se conduz um pouco pelo conselho médico, mas quando eles não se definem o que é que uma mulher faz?
Dá um murro na mesa, dá um murro em qualquer coisa que se parta, ou dá um murro noutro sítio qualquer?

domingo, 15 de novembro de 2009

1 Ano e 3 Dias de Vontade

Parece que dia 12 de Novembro este blogue fez um ano. Lembro-me que começou como um desabafo escrito para a minha filha e hoje é qualquer coisa que não consigo definir bem, se é que tem algum interesse definir um blogue.
Venho aqui quase todos os dias despejar um bocadinho de mim e confesso que se tornou um hábito, daqueles bem saudáveis do qual já não abro mão.
Continuo a falar para a Alice, pois em muitos sentidos é a pessoa com quem mais me apetece falar para o futuro, é aquela que não me julga, que se limita a beber cada palavra que digo com um interesse comovente. Mas falo também para mim e para quem quer que tenha pachorra para ler estas baboseiras que vou acumulando por estas bandas.
Aqui ficam os dois primeiros posts que escrevi quando decidi entrar neste estranho mas acolhedor mundo dos blogues.

Hoje olhaste para mim com aquele olhar que me diz tudo e não precisámos de falar. Limitaste-te a sorrir. Soube que nos tinhamos entendido na perfeição, que tinhamos alcançado aquele ponto perfeito em que as palavras são mera perda de tempo.
Por algum motivo me sinto tão bem perto de ti Alice.


Porque é que assim que nos libertamos de algo, fica sempre o vazio, a saudade daquilo que não vai voltar. Quando te tinha aqui dentro desejava ter-te cá fora, agora que estás aqui comigo, sinto muitas vezes vontade que regresses para dentro de mim.
O que será que nos leva a desejar sempre o que está no avesso de tudo?

sábado, 14 de novembro de 2009

Ódios Pessoais Mortais e Intransmissíveis


Tenho uma relação Amor / Ódio com as panelas, as colheres de pau, os recipientes de cozinha, enfim com quase tudo o que implique cozinhar.
Digo amor/ódio pois se tenho dias em que não me importo de enfiar a mão na massa, outros tenho em que dispensava perfeitamente essa tarefa e em que dava tudo para ter uma cozinheira que me mimasse e me trouxesse a comida à mesa.
Confesso que não há nenhum objecto em particular que odeie com todas as minhas forças, tirando esta praga, esta coisa que alguém tem que reinventar urgentemente:
O PAPEL ADERENTE.
Sempre que recorro a esta película de tortura acabo eu própria embrulhada nele. Nunca consigo cortá-lo a direito, a serrilha que vem com o pacote nunca me serve de nada, se tenho as mãos um bocadinho molhadas aquilo já não adere a ponta de um corno, tirando a aderência à minha própria pele e acabo sempre por gastar um quilómetro daquilo quando só precisava de um metro. Odeio papel aderente!!!!!!!!!
Como devem calcular fiz uma quiche e quis guardar o resto no frigorífico. Acabei por ter uma discussão violenta comigo própria e a tarte foi coberta por um prato.

sexta-feira, 13 de novembro de 2009

As Anas

Anas há muitas sim senhora, mas geralmente Ana nunca é um nome solitário.
Temos Ana Filipa, Ana Luísa, Ana Paula, Ana Rita, Ana Carla, Ana Sofia, Ana Tancreda, Ana Panceta, Ana Vainessa, Ana Carina, Ana Catarina, Ana Cristina, Ana Carolina, Ana Passarinha.
Pois bem contra todas as expectativas possíveis eu sou Ana. Ana só, Ana apenas, Ana e mais nada. No meu nome só há um nome próprio e acho que chega. Nunca quis ter mais nenhum a seguir, nem antes. Até porque acabamos sempre por deixar morrer um deles.
Toda a vida ouvi a pergunta:
Ana, mas Ana quê?
Ana só.
AnaSó?
Sou só Ana!
Ahhh que estranho.
Estranho porquê?

Dou-te a Minha Palavra de Honra

Se me perguntarem qual a qualidade que mais sinto falta numa pessoa eu teria que dizer que sinto saudades da palavra.
Não me refiro ao poder da oratória, nem aos adjectivos pomposos, mas à palavra de honra.
Como uma árvore sólida e centenária que assistiu a guerras, em cujo tronco se gravaram mensagens, à sombra da qual se abrigaram dezenas de corpos fatigados. É exactamente assim que gosto de sentir alguém.
Antigamente a chamada palavra de honra era o bastante para se firmarem acordos, para se erigirem votos de confiança. Hoje em dia esfumou-se em pó, banalizou-se ao ponto de não passar de uma ladainha. É preciso colocar por escrito, assinar, reconhecer em notário, jurar um milhão de vezes e ainda assim não é suficiente para que nos creiam, para que confiem no que nos limitamos a dizer.
O nosso nome deixou de valer o que valia, talvez porque não nos empenhemos em construir uma boa imagem em seu redor, talvez porque o esforço de dizer e cumprir seja demasiado numa época em que o mais fácil é dizer e fugir ao que se disse. Fingir que se esqueceu o prometido é a regra em praticamente toda a gente. Errar e não assumir o erro é também uma faceta que me leva à loucura, mas é assim mesmo que estamos. Nesta espécie de limbo de valores em que já nada se exige além do mínimo.
Não sei. Sei apenas que gostaria de passar aos meus filhos esta coisa estúpida e um pouco alucinada de fazerem de tudo para que a sua palavra seja sempre de honra.

quinta-feira, 12 de novembro de 2009

Somos Tão Merdosos

Nós somos tão, mas tão merdosos que até nas formas de gamar dinheiro somos foleiros. Para se enriquecer em Portugal não é preciso um grande esforço intelectual, não é preciso planear o roubo do século, não é preciso pensar na burla mais inteligente do universo, não é preciso puxar por mais do que um neurónio ao mesmo tempo. É apenas necessário ser político.
É verdade, somos merdosos até a gamar. Usamos sempre o mesmo e infalível método do ladrão dos favorezinhos, sem estilo, sem grandiosidade, sem carisma, sem graça, que é como quem diz, o método chunga-que-se-farta.
É que já começa a ser aborrecido ver as notícias. Para quando um Ronald Biggs da política que enfie um capuz na carola e de armas em punho roube logo tudo o que houver a roubar em 14 minutos? Sempre animava um bocadinho o panorama nacional.
Que seca. Ah e já agora podiamos ter uns linchamentos públicos, ou umas condenações só para eu parar de bocejar, sim?

Onde Esfregam Vocês o Vosso Couro?

Eu sempre quis fazer esta pergunta a quem me soubesse responder. Mais concretamente às mulheres cabeleireiro-dependentes. Aquelas que não lavam cabelos em casa. Aquelas que preferem ficar 15 dias sem mostrar o poder do champô ao couro cabeludo a lavar o cabelo com as próprias mãos. Aquelas que com medo de parecerem ratazanas saídas do esgoto, optam por deixar crescer aranhas e ácaros livremente no interior dos fios capilares enquanto o salão fechou para obras.
É que outro dia estava uma senhora dessas à minha frente num self-service qualquer. Sim, a senhora já tinha uma certa idade e a laca estava num estado de decomposição tal que mais parecia super cola 3 a L'Oreal. Sim, a senhora devia mostrar água ao cabelo uma vez por mês e devia ser daquelas que quando faz a marcação no seu cabeleireiro, as funcionárias até se benzem, mas como ela haverá certamente mulheres mais jovens a fazerem da ida ao cabeleireiro um ritual obsessivo, sem o qual não vivem, sem o qual não lavam, não purificam, não tiram o pó e o óleo ao escalpe.
Por favor senhoras porquê? Porquê lavar o cabelo só e apenas nos salões da especialidade? Juro que me faz uma confusão, ou melhor, uma comichão piolhosa do caraças.

quarta-feira, 11 de novembro de 2009

A Segunda Maternidade

A minha mão fria na tua testa, a tua mão a ferver dentro da minha. O teu corpo quente sobre a minha barriga inchada, enquanto caminho de um lado ao outro do quarto tentando cantar-te coisas sem nexo que não ganham vida através da voz.
Um banho tépido para que arrefeças pela madrugada, enquanto os teus pais, quais companheiros de batalha, se revezam de joelhos para te molharem a febre embora.
Copos com água que sorves com a palhinha que te fui buscar à cozinha, a cozinha onde o único som é o dos ponteiros do relógio que me dizem que é tarde.
A minha própria tosse é abafada para não te despertar do ligeiro sono em que caíste e eu relego-me para segundo plano. O teu pai adormece finalmente e eu olho-te, dando tudo para trocar de lugar contigo. Depois um pequeno movimento dentro de mim, como se tivesse estado à espera que parasse para se revelar. E lembro-me.
Lembro-me que além da vida toda que prossegue ele também continua aqui dentro e com menos de metade da atenção que prestava à sua irmã.
Digo-lhe: Vá, companheiro, agora a mãe vai fechar um bocadinho os olhos. E é tudo.
A segunda gravidez é vivida de uma forma assustadoramente diferente da primeira, sem sombra de dúvida. Ultimamente os meus momentos a dois são uma espécie de dois minutos por dia. O suficiente para lhe dizer que estou aqui apesar de tudo.

terça-feira, 10 de novembro de 2009

O Purézinho no Pratinho é Baratinho e Fofinho

Não vos mexe um bocadinho com os nervos aquelas pessoas que falam temperando cada palavra com o seu diminutivo?
- Vai ter que usar a caixinha multibanco lá fora, o nosso sistemazinho está fora de serviço.
- Ó como é que se chama esta pequenina? E quantos aninhos tem esta carinha lindinha? - Sendo que a resposta da Alice é sempre a fuga.
- Temos bifinho com batatinha ah e também temos um menuzinho infantil.
Ora bem para quê dizer-me que é um bifinho? A mim, logo a mim que nunca me apetece bifinhos, mas sim a vaca inteira. Logo aí perdem uma potencial cliente e das boas.
Porquê falar por diminutivos? Suponho que seja um vício como outro qualquer... Mas um vício chato, muito chato.

segunda-feira, 9 de novembro de 2009

Para o Meu Marido

Estive o fim de semana de cama e destes dois dias de tosse, má disposição, suores frios, dores de garganta consegui filtrar uma coisa fundamental:
O meu marido está lá quando é preciso.
Bem sei que ele pensa que nunca é preciso, que eu me aguento sempre a qualquer bronca. Mesmo quando lhe ligo em gemidos moribundos, o Hugo acha sempre que eu dou conta do recado com a Alice pequena em casa e eu sem conseguir levantar a cabeça. Bem sei que quando veio a correr na sexta feira à tarde ao perceber que era sério, entrou no quarto e me viu deitada, deitou-se perto de mim para me abraçar e... Adormeceu.
Bem sei que por muito que eu tussa de noite ele só acorda com um valente encontrão e um grito de socorro, mas assim que acorda levanta-se com um salto e coloca-se em posição de Kung-Fu pronto a atender qualquer pedido meu.
Bem sei que ele não me lê os pensamentos, mas quando lhe peço com todas as sílabas, ele atende-me sempre.
Bem sei que muitas vezes peço demais e acho sempre que ele faz de menos, mas este fim de semana não, o Hugo fez exactamente o que eu precisava, nem demais, nem de menos e eu lembrei-me daquela manhã na maternidade, depois da nossa filha ter nascido. Eu sem conseguir mexer-me muito bem depois da cesariana, a tomar banho, tentando chegar a todo o lado e ele de joelhos no chão da casa de banho a ajudar-me a lavar os pés.
Sei que por muitos anos que passem nunca esquecerei esse gesto, tal como sei que por muita erosão do tempo que o nosso casamento possa sofrer, o Hugo vai estar sempre aqui quando for preciso.

sexta-feira, 6 de novembro de 2009

Mamas Para Que Te Quero

Alguém que me atire um lenço para limpar as lágrimas por favor. Realmente as manhãs em casa dão um novo sabor à vida.
Então não é que no programa matinal da Sic está a passar em rodapé a seguinte mensagem:
ESTAMOS A OFERECER UM IMPLANTE MAMÁRIO!!!
E entrevistado pela Rita Ferro Rodrigues e por um incomodado não-me-lembro-do-nome, mas-fazia-o-levanta-te-e-ri, um cirurgião plástico de camisa desapertada até ao umbigo, corrente de prata grossura máxima e cruz à escala real fala de mamas.
Isto é muito bom, como é que tenho andado a perder pérola atrás de pérola matinal?
Agora vou ver o do Manuel Luís Troucha para comparar e verificar se supera o da Sic, mas duvido. O da RTP é que é puxar demais pelo meu frágil organismo, ranchos folclóricos a esta hora da matina é estar a pedir uma indigestão auditiva.
Eu pasmo com a coragem/inconsciência das pessoas que se sujeitam a estas merdas. A rapariga que vai ganhar o implante deve estar mesmo desesperada, provavelmente vai deixar gravar a coisa em directo e tudo para publicitar o cirurgião com look pimba.

quinta-feira, 5 de novembro de 2009

Comichão Em Andamento

O que é que vocês costumam fazer quando vão em plena auto-estrada a mais ou menos 150quilómetros por hora e são acometidos por uma comichão na palma do pé direito?
Começa por ser perfeitamente suportável, até nos rimos da suportabilidade da coisa e depois adensa-se e imaginamos que temos uma aranha dentro do sapato que nos dá ferroadas venenosas até à gangrena.
A comichão é tanta, mas tanta que tentam em vão dar pontapés rápidos no chão do carro, regressando logo com o pé ao acelerador para não levarem com um pesado em cima, mas de nada adianta, pois a única coisa que acalmaria o prurido seriam garras afiadas a coçar até fazer sangue. Começamos a entrar em pânico e a comichão piora. Finalmente avistamos a bomba de gasolina no horizonte e gritamos Aleluia! Guinamos o volante na direcção daquele oásis protector e assim que penetramos no recinto de abastecimento, quase fazendo um peão na travagem, lançamos mão ao téne (ahahahah) e... Ficamos presas no processo. A barriga coloca-se no caminho da elasticidade perdida. Abrimos a porta da viatura, deitamos o chulé de fora e coçamos, coçamos, coçamos, coçamos até pequenos gemidos de prazer brotarem dos nossos lábios aliviados.
E pronto, como se já não bastasse tudo o que me acontece quando estou no trânsito (mais concretamente no trânsito intestinal) agora também tenho comichão na sola do pé. Haja paciência para mim!

Tão Perto Tão Longe



Foi inaugurado às pressas (antes das autárquicas) um novo parque bem pertinho da minha casa. Só não parece que estou na Escócia, pois para me debruçar sobre a paisagem esverdeada tenho que passar por um milhão e meio de degraus.
Seria certamente um local onde gostaria de levar o baby António a passear para respirar ar puro, mas nada posso fazer contra tantos degraus, superfícies de cascalho e mais escadas.
Agora digam-me senhores que inventam estas coisas, é sadismo?
É que imaginemos que chega ali, pronto para respirar a paisagem avassaladora, um deficiente motor. Fica a vê-la por um binóculo? Se é essa a ideia porque é que não vi nenhum instrumento de longo alcance visual?

quarta-feira, 4 de novembro de 2009

Aos Vencedores da Vida

Porque tenho dias em que me apetece falar a sério para variar, em que olho algumas pessoas bem cá debaixo onde me encontro e as admiro em silêncio, porque vejo vidas tão mais complicadas que a minha e não me apetece queixar-me mais das azias, ou da casa desarrumada.
Porque tenho dias em que me levo menos a sério do que levo os outros e em que a minha vida se ilumina de gratidão.
Porque tenho dias em que só me apetece dizer a quem merece que merece tudo.
Porque tenho dias em que as minhas pequenas lutas são poeira quando comparadas a outras grandes batalhas envoltas no mais denso nevoeiro.
Porque tenho dias em que simplesmente me reduzo àquilo que sou e percebo que a felicidade me visita quase diariamente.
Porque tenho dias em que a minha vida me basta.
Hoje apetece-me falar dos outros para variar, de toda a gente que deu a volta por cima quando tudo parecia enterrado no mais fundo de si, de toda a gente que encara as contrariedades com um sorriso nos lábios e o peito erguido de coragem, de toda a gente que não se queixa quando tinha todos os motivos para o fazer de minuto a minuto, de toda a gente que esteve lá, naquele lugar escuro e sombrio, cheio dos fantasmas sem resposta, cheio de tudo o que nos faz temer e saiu.
Queria dizer que vos admiro e que um dia, se também eu estiver nesse lugar, me lembrarei sempre que vocês estiveram lá e venceram.

terça-feira, 3 de novembro de 2009

Por Favor Não me Mordas o Pescoço

Depois da saga Dan Brown à qual sucederam milhentos livros dentro do estilo "olha a pista misteriosa, quem quer símbolos por decifrar fresquinhos, olha o Codex Stravinsky!!!!!" até ao infinito da paciência de qualquer comprador de livros, seguiu-se a saga Marley e Eu com triliões de livros acerca de cãezinhos, gatinhos, papagaios, doninhas fedorentas de estimação, hamsters fofinhos e o que fosse preciso para tentar copiar o êxito desse primeiro livro.
E quando nada fazia prever outra dose de vomitado literário compulsivo, surgem os vampiros.
O Crepúsculo e o seu herói lindo, bonzinho e charmoso que só trinca animais selvagens originou uma epidemia de vampiragem livresca. De modos que agora quando vou passear para a Fnac, já sei que nos escaparates vou encontrar títulos como Sangue Fresco, Morde Aqui que Já Vens Tarde, Fazer Amor com Vampiros não Dói, Um amor Sanguinário (como poderão verificar só um título não é produto da minha imaginação). Já sei que a vaga de falta de originalidade tomou conta dos editores mais uma vez e só me resta esperar até à próxima grande ideia...
Eu pecadora me confesso, li o Crepúsculo e todos os livros seguintes e em momento algum consegui tirar do meu coração palpitações adolescentes por aquele vampirinho deslavado e sem mácula. Eu gosto deles mais à séria, maus como as casas e descontrolados. Ou então é preciso muito mais do que um vampiro para me fazer suspirar de paixão...

segunda-feira, 2 de novembro de 2009

O Miguel, a Melissa e a Ana C



Pois é, sob o pretexto de falarmos da história do nosso outro blogue os autores combinaram um encontro no Magnólia em Lisboa.
Domingo de manhã sem filhos, sem grandes compromissos além de desbobinarem palavras três pessoas juntaram-se finalmente na vida real.
Sempre tive um certo pé atrás com esta coisa de conhecermos o rosto por detrás das letras que admiramos, sempre achei que um estranho silêncio seria a nota dominante, dando lugar a uma grande decepção entre o virtual e o real, mas nada disso aconteceu. Gostei muito de conhecer o Miguel e tenho a certeza que a Melissa sentiu a mesma empatia que eu.
Dizem que muitas vezes aquilo que se escreve é apenas a parte boa que queremos mostrar aos outros, mas eu quero acreditar que muito daquilo que escrevemos comporta uma percentagem do que somos.
Aproveitámos cada migalha do Brunch por 8 Euros, demos certamente prejuízo ao café, mas quem nos ouvisse falar de histórias sobrenaturais, reais, imaginárias, cemitérios, viagens, família, deve ter seguramente pensado que naquela mesa redonda estavam três velhos amigos...