quarta-feira, 31 de março de 2010

Penso Logo Existo

No carro.
- Mãe?
- Yes filha.
- Quando tu te casaste com o pai eu já estava na tua barriga?
- Não.
- Então onde é que eu estava?
- Hmmmm, ainda não existias.
Um momento de silêncio. Sinto os neurónios dela a fervilharem.
- Que disparate mãe.
- Disparate porquê?
- Eu tinha que estar em algum lado, não é?
O meu cérebro sonolento não dá para tanto e emudeço.
- Devia estar onde estão os bebés que ainda não existem claro.
- Claro Alice, é isso mesmo. Há um sítio onde estão todos os bebés em fila à espera para existirem.
Chiça que uma mulher não pode adormecer em serviço no carro.

terça-feira, 30 de março de 2010

Divagações do caneco


Se há coisa que torna uma cidade feia que se farta é a roupa a secar nas janelas. Odeio passar na rua e ver as cuecas gigantescas, as cintas de velhota até aos sovacos, as meias, os lençóis com flores laranjas dos anos 70.
Porque é que tenho eu que ver aquilo? Deprime-me.
E já agora outra pergunta completamente sem nexo, mas que me tem vindo à cabeça vezes e vezes sem conta, sim porque eu também tenho um lado fashion.
Depois de tantos anos a tentar esquecer o horror que foi a moda nos anos 80 porque raio tinham que a ressuscitar? Caramba.

segunda-feira, 29 de março de 2010

Pelo Olhar Dela

Fui dar contigo sozinha, sentada de pernas a baloiçar muito concentrada em qualquer coisa que tinhas posto sobre a tua mesinha redonda. Aproximei-me em silêncio não querendo estragar o teu momento, mas morta de curiosidade para ver o que te prendia a atenção daquela forma.
Quando vi o que seguravas nas mãos pensei como todos os dias consegues surpreender-me e como a tua doçura compensa todas as rabujices do mundo.
Olhavas uma fotografia minha e do teu pai de há 8 anos atrás com uma imensa praia por trás e o ar mais jovem deste mundo.
- Gostas de nos ver aí?
- Posso ficar com esta fotografia mãe?
- Claro que sim.
- Gostava de a ter aqui no quarto.
A minha cabeça fez mil e um filmes. Primeiro que andavas triste por causa do nascimento do teu irmão e com saudades de quando éramos só os três, depois pensei que tinhas medo de nos perder.
- Gosto de vos ver juntos, sabes.
Os filmes pararam imediatamente. A Alice é assim mesmo, sensível até à ponta dos cabelos, comove-se com a mesma facilidade que eu e sim, parece que gosta mesmo de ver os pais juntos, só isso.
É tão fácil apaixonarmo-nos pelo olhar dos nossos filhos, mas tão fácil...

domingo, 28 de março de 2010

Mães Culpadas

Sei que sou melhor mãe quando decido ir ao cinema sozinha e deixo o Hugo com as crias por umas horas. Mas não foi fácil chegar a este estado de espírito, acreditem que não foi mesmo nada fácil.
Gostava de saber quantos anos, ou gerações serão necessárias para que as mães se libertem daquele estranho sentimento de culpa que as consome só por estarem longe dos filhos por umas horas, só porque não conseguem dar de mamar, só porque se sentem abaixo de cão mil e uma vezes por dia e acham que deveriam sentir-se sempre nas nuvens.
Gostava de saber de onde veio este estranho complexo que mexe no interior de uma mãe porque não faz as coisas da forma que uma minoria com ares de coisa divina decidiu inventar e dizer que era lei.
Gostava de saber o que é que leva uma mãe a sentir-se na lama porque pede ajuda, quando ao longo de toda a História as famílias viviam juntas, inter-ajudando-se, valendo-se, revezando-se.
Enquanto penso em tudo isto dou uma trinca na minha chamuça vegetariana do Celeiro e olho o relógio. Ainda faltam 10 minutos para o filme começar. Penso na Alice e no António e dá-me uma tremenda dor de amor pelos meus filhos. Deixo aquilo tudo invadir-me, bebo o meu sumo natural e sei que quando chegar a casa vou levar mais paciência, mais dedicação, mais carinho, pois livrei-me do sentimento de culpa e consegui ganhar espaço para a saudade.

sexta-feira, 26 de março de 2010

À mesa do jantar

Tento ouvir o que o Hugo me conta acerca de um congresso no Estoril, ao mesmo tempo a Alice grita qualquer coisa para o telemóvel desligado e refila com a amiga imaginária ( Tony Blekens não me perguntem porquê) acerca da insistência dela em ligar-lhe à hora do jantar, o António vai chorando na espreguiçadeira que é como quem nos diz, balancem isto até os meus miolos chocalharem e lá vou eu balançando com um pé e o Hugo com o outro inconscientemente até já andarmos a dar ao pé, mesmo quando não temos a espreguiçadeira nas imediações.
Eu tento, juro que tento prestar atenção ao que o Hugo me conta, mostro o meu olhar mais concentrado, apesar de cerrado pelo ruído intenso à nossa volta, mas a realidade é que não consigo ouvir uma palavra, ou melhor, os meus ouvidos escutam e eu não apreendo. Ele acaba por perceber e diz deixa estar. A Alice desliga furiosa o telemóvel e termina a conversa imaginária, o António continua a miar. Eu, bem eu apenas quero comer a minha refeição em silêncio sem ter que usar mais do que o meio neurónio que me resta.

quinta-feira, 25 de março de 2010

Soren Filho ainda te lembro

Talvez devido ao facto de ser a tal adolescente cheia de profundidade neurótica e com tendência para a melancolia voluntária, sempre adorei Filosofia. Ouvir falar dos grandes pensadores, desde o chato Kant ao reaccionário Marx sempre me pôs a cabeça em fogo e o coração aos pulos. Como é que existiam pessoas que dedicavam a sua vida a pensar sobre o devir e questões tão essenciais como "uma pessoa nunca entra duas vezes no mesmo rio", ou "Deus está morto"? Como é que esta malta se lembrava de ser filósofa, de criar pensamento atrás de pensamento como modo de vida?
Vivia assombrada por aquilo tudo e escrevia tiradas desses homens que me ficavam a martelar na tola dias a fio, consumida na genialidade, no devir, na existência de Deus provada por equações de neurónios. Chiça que divino pontapé na cabeça era aquela malta pensante e como eu desejava também lembrar-me de coisas interessantes para provar.
De todos eles o que mais mexia comigo era um tal de Soren Kierkegaard, dinamarquês depressivo e soturno.
Dizia ele que as decisões importantes, aquelas de vida ou morte, do todo, ou do nada eram tomadas no escuro, na mais completa solidão, no abismo da dúvida e que só podiam ser suportadas por uma coisinha chamada fé.
Anos mais tarde, quando já não queria saber de filosofia para nada, nem dos grandes pensadores, haveria de me lembrar disto recorrentemente, vezes e vezes sem conta e ainda hoje acho que esta é uma grande verdade. Que quando temos que decidir sobre alguma coisa importante, por muitas opiniões que busquemos a decisão vem apenas e só de dentro de nós, alicerçada em quase nada...

quarta-feira, 24 de março de 2010

Este País não é Para Crianças

Quanto mais países civilizados conheço, mas merdoso acho este nosso país para quem tem crianças. Sim a luz é inconfundível, o clima não é mau de todo, ainda somos razoavelmente pacatos, mas estamos a quilómetros de distância de entender o que é uma cidade amiga das crianças, que convide ao passeio, que crie espaços de lazer com qualidade em cada quarteirão e espaços verdes que não sejam vandalizados por cães, poias dos mesmos, lixo, grafittis e tudo o que transforma a potencial serenidade que se quer quando se passeia um bebé, em local agressivo.
Hoje, amarela de sono, saí para apanhar um bocado de sol com as minhas crias. Como não vivo nos Estados Unidos, onde regra geral existe um parque com P maíusculo a uma distância a pé da nossa casa e passear nas imediações sem ficar com os bofes de fora é para esquecer, tive que me enfiar no carro com tudo o que isso implica e conduzir até um local que me pareceu agradável. Estacionei e percebi que não havia passeio por onde empurrar o carrinho e dar a mão à Alice. Além dos carros mal estacionados, da pedra da calçada solta a cada metro, das passadeiras que começam e acabam num gigantesco degrau, o próprio passeio era um cagalhoto de tamanho, sem largura para dar um espirro.
O que deveria ser um passeio para descontrair, serviu para me deixar ainda mais exausta e eu pensei caramba, que artistas habilidosos estes que planeiam as nossas cidades. Os tipos excedem-se nesta arte sádica de fechar tudo aos deficientes e pessoas que querem simplesmente descontrair.
Senhores vão viajar sim? Ponham os olhos em países tão distantes como Espanha por exemplo. Por isso é que os shoppings estão sempre à pinha.

Recordações de Mim

Durante toda a minha juventude repousei um pé no melodrama e outro no bom humor.
Se sabia de algum filme que pusesse a plateia a chorar, ou de algum livro cuja história de amor terminasse de forma trágica lá estava eu no dia da estreia, ou devorando as páginas do romance até as lágrimas inspiradoras saltarem dos meus olhos comovidos. A neura sempre me inspirou de uma forma quase divina e quanto mais fundo descia nesse estado de espírito adolescente, mais me dava para escrever coisas profundas à brava.
Se não me fizesse chorar não prestava. Se a história retratada não envolvesse alguma dose de sofrimento amoroso não me soava real, pois para mim, as histórias inesquecíveis eram as que me faziam suspirar durante dias a fio. Não tinha rigorosamente medo nenhum da sensação de tristeza, muitas vezes abraçava-a até como alguém que abraça uma bebida inebriante.
Mas por mais esquizofrénica que possa parecer era também a adolescente mais bem humorada da turma. Não havia nada que não fosse sujeito ao meu escárnio bastante irritante. Tudo era possível de converter em riso e até tinha o costume de me reunir com uma amiga à noite só para podermos assistir ao mítico "Perdoa-me" com a Fátima Lopes e gozar do primeiro ao último segundo. Mas era um gozar com ciência, com detalhe e não um gozo rasco qualquer.
Hoje em dia olho para mim e vejo que não mudei tanto assim. A única diferença é que já pouca coisa me faz chorar e tanta, mas tanta coisa me dá vontade de rir...

terça-feira, 23 de março de 2010

Cuchi Cuchi Cuchi, olha a mãe aqui!

Acho que ainda não falei aqui do primeiro sorriso consciente do António, aliás de todos os sorrisos dele que fazem as insónias forçadas de uma mãe valerem a pena.
Pensariam vocês que depois de cuidar dele com afinco, carinho e amor, alimentando-o, embalando-o, proferindo-lhe palavras poéticas o seu sorriso se dirigiria a mim, este ser superior e cheio de sabedoria. Mas desenganem-se.
Depois vem o pai, esse homem paciente e brincalhão capaz de arrancar sorrisos às pedras da calçada. Mas também não foi ele o alvo de tão doces manifestações de alegria.
Estarão vocês a pensar que a Alice teve o privilégio de ser sorrida pelo mano, mas até ela viu as suas expectativas quebradas.
Pois é, o meu filho não só sorriu pela primeira vez como "fala" que se farta com as "japonesas" do meu quarto e não, não são meninas de nacionalidade japónica que habitam nos meus aposentos, mas aquele misto de cortina com estore que decora com elegância as minhas janelas.
O meu filho prefere tecidos elegantes à cara de parva da mãe, sem dúvida que tem bom gosto.

domingo, 21 de março de 2010

O Arroto das 3 da Manhã é Lixado

Alguém sabe quando é que os nossos filhos começam a fazer extravagâncias do género: Dormirem 5 horas seguidas?
É nestas alturas que lamento não ter feito um registo detalhado de como foi o primeiro pum, o segundo arroto, o terceiro bolsado da Alice, assim sempre ia comparando e quem sabe suspirando de alívio com os resultados da análise comparativa.
Conheci uma mãe que metia o filho a arrotar depois dele comer o bife com batatas fritas. Já eu pondero seriamente a hipótese de desistir deste feito no primeiro mês. Não há pancadinhas, posições sentadas, ou esticadas que lhe projectem o ar pela boca fora em tempo útil. Até já tentei arrotar a ver se ele me imitava e nada, sinto-me a mãe mais incompetente do mundo e dou por mim a pensar nas flatulências do meu filho demasiadas vezes por dia para ser considerada uma mulher sã.

sábado, 20 de março de 2010

Amores Perfeitos

Porque é que tudo o que acaba se endeusa? Talvez porque a distância atenua os defeitos e faz crescer a saudade, talvez porque a história não foi escrita até ao fim com todos os parágrafos inerentes, talvez por não terem os dois caído naquela rotina que mói, talvez por tanta coisa que ficou por dizer se lembre apenas o bom.
O tempo e a distância são filtros que deixam à tona apenas o que desejamos lembrar.
Por isso os amores terminados antes de tempo são perfeitos e inesquecíveis, precisamente por não terem sofrido toda a erosão que desgasta os outros, os que vivem os amores até ao fim.

sexta-feira, 19 de março de 2010

Pais Merdosos

Hoje vou remar contra a maré e falar de pais merdosos. Precisamente por estar muito bem servida de pai em todos os sentidos e mais algum custa-me muito saber que nem todos os filhos têm a minha sorte.
Eu tinha a quem entregar os trabalhos que fazia na escola neste dia, mas sabia que nem todos os meninos tinham destinatário para as redacções, molduras feitas de molas da roupa, copinhos para canetas e tudo o que se fazia na sala de aula com tanto entusiasmo. Sabia e estranhava. Hoje sei e fico triste.
Hoje penso como é que se pode ter um filho e não querer saber dele uma vida inteira, ou ter um filho e abusar dele física e psicologicamente, infligindo feridas emocionais para uma vida inteira.
Hoje penso como a parte mais fácil de todas é gerar e pôr no mundo um filho e como o lado mais importante é tantas vezes esquecido por dar mais trabalho.
Hoje penso que, tal como se chumba no exame de condução e não se pode conduzir, também certas pessoas deveriam ser chumbadas no teste de ser pai e não poderem ter filhos.

quinta-feira, 18 de março de 2010

Com a Cenoura na Boca


Hoje enquanto via na televisão esta orquestra vienense que dá concertos com produtos frescos, soprando nos nabos, batucando nas abóboras, tocando violino com alhos-franceses percebi que entre muitas verdades universais há uma que é mais universal que as outras:
Há malucos para tudo.
Um dos "músicos" dizia com o ar mais intelectual deste mundo:
" O fascinante nesta arte é que podemos estar a tocar e os instrumentos a desfazerem-se ao mesmo tempo, pois são matéria viva".
Pois está claro, é belo, artístico, profundo ver um pepino desfazer-se com a saliva de quem o sopra, ou quiçá um tomate esguichando sob pressão de tão bela melodia. Envolver os ouvintes na música leguminosa até o seu ser vibrar de emoção, fazê-los chorar com a cebola, ou bater palmas acompanhando o baterista-abobreiro não é de facto tarefa fácil, acredito que devam ter um orgulho infinito naquilo que fazem.
E não deixa de ser fascinante imaginá-los de peito cheio respondendo à pergunta:
-O que é que faz?
- Sou músico.
-A sério?! Ai que interessante. E o que é que toca?
-Um nabo.

quarta-feira, 17 de março de 2010

Diálogos Recorrentes Em Qualquer Loja Perto de Si

- E o nosso cartãozinho (o Zinho é muito importante) já tem?
- Não.
- E vai querer fazer?
- Não obrigada.
- Mas conhece as vantagens?
-Ora então delicie-me com as vantagens por favor.
-Depois de gastar 1 milhão de euros em compras tem direito a um vale de 5 euros.
- Mas isso é absolutamente irresistível, prendam-me para não fazer já vinte cartões, ai que não me aguento e em qualquer produto?
-Nos produtos que estiverem sujeitos a esta brilhante oferta e que geralmente estão expostos naquela pequena prateleira de esquina.
- Qual?
- Aquela ali escondida atrás da porta.
- E o que é que tenho que preencher?
- Quase nada, só este impressozinho (zinho mais uma vez) com nome, morada, profissão, e-mail, telefone, data de nascimento.
- Vão-me enviar sms por dá cá aquela palha?
- Como assim minha senhora?
- Quando penso que o meu telemóvel apita com uma mensagem romântica, é apenas a Prenatal a dizer-me que já chegou a colecção da Hello Kity por exemplo, acordando-me o bebé com o sinal de mensagem a entrar.
Sorriso amarelo.
- Vão inundar o meu mail com publicidade da treta?
- Só quando fizermos alguma promoção exclusiva para os nossos clientes.
- Exclusiva?
- Sim, apenas para quem tem cartão, não para qualquer gato pingado.
Agora digam-me sinceramente, alguém resiste a encher a carteira de cartões de tudo quanto é loja? Até da Loja do Chinês?

terça-feira, 16 de março de 2010

De Contradição em Contradição

Chegados da maternidade:
- Deixa estar o som da televisão alto. Podem falar à vontade, eu quero habituá-lo a dormir com barulho, afinal de contas sou uma mãe descontraída e nada tensa. É o segundo, não é?
Após 1 mês sem dormirmos bem de noite:
- Estás louco? Baixa isso! Ele só agora é que adormeceu, se o acordas vais-te arrepender para o resto da tua vida, que é como quem diz levas com um tijolo na cabeça! Shiuuuuuuu o bebé finalmente adormeceu e se ele acorda????!!!! Nãããããããão!!!!!

segunda-feira, 15 de março de 2010

Amigas

Hoje lembrei-me de quando as amigas eram o melhor do mundo. Lembrei-me da importância que revestia aquele encontro no café para podermos falar sobre o que nos assolava o coração e divagar horas e horas seguidas sobre um certo olhar, o que significava, o que deixava de significar. Se tinha olhado de lado era uma coisa, se tinha dito uma palavra era outra, se tinha sorrido era a luz ao fundo do túnel, amava-me, ou amava-a perdidamente e não havia lugar para o que quer que fosse além da mais pura das esperanças.
Depois os telefonemas (não havia sms) a toda a hora apenas e só para a pormos a par daquele novo estado de espírito, daquela ideia genial sobre coisa nenhuma, daquela frase tirada de um livro e que tudo nos dizia e ela ali, pronta para nos ouvir e nós prontas para a ouvirmos também com uma paciência ilimitada.
Quero continuar a acreditar que não há como a amizade no feminino e custa-me brutalidades sentir concorrência em vez de cumplicidade, empurrões pelas costas no lugar da mão dada, pois bem aqui dentro recuso-me a largar a adolescência no que toca à pureza de sentimentos.

domingo, 14 de março de 2010

Porquê?

Já me perguntei isto vezes e vezes sem conta, mas é quando acabo de dar banho aos miúdos no final do dia (tarefa dividida com o Hugo) que sinto mais na pele e no cerebelo esta questão:
PORQUE RAIO O TRABALHO MATERNO/DOMÉSTICO não é remunerado?
É das tarefas mais duras da história laboral, sem horário para começar, nem para terminar, a abarrotar de horas extraordinárias, sem direito a baixa por doença, nem por insanidade mental, sem direito a férias, nem feriados, sem reconhecimento social nem fiscal.
Na minha modesta opinião é um dos pilares sociais que sustenta as futuras gerações e não tem nem um mísero código de actividade?
Está na hora de mudar.

sábado, 13 de março de 2010

António Feio

Não sei o que é estar gravemente doente, nunca senti na pele a minha própria mortalidade através de uma doença, apesar de sentir muitas vezes profundamente os confrontos dos outros com o fim, a luta, a esperança morta e ressuscitada uma e outra vez, até vencerem, ou não a batalha.
Também sei que toda a gente lida de forma diferente com as suas próprias dificuldades. Uns com constante tristeza, outros de sorriso nos lábios, uns insistindo em dividir o fardo com os mais próximos, outros não querendo incomodar e todos eles estão no seu direito de caminharem ao seu próprio ritmo, de sofrerem na exacta medida do que conseguem.
Por nada disto me ser indiferente sorri por dentro ao ver o António Feio num programa da Sic (não me lembro do nome) e fiquei presa do princípio ao fim única e exclusivamente pela forma como soube fazer-se alvo do seu próprio humor com uma inteligência e suavidade de fazer inveja a muitos Jay Lenos da vida e afins.
Barbara Guimarães:
- Verdade ou mentira que rir dá saúde?
António Feio:
- Está claro que é mentira, olhem para mim, ganho a vida a rir e não tenho puto de saúde.
E com isto eu só posso concluir que há pessoas que encaram as doenças da mesma forma como sempre viveram a sua própria vida. São absurdamente coerentes e comovem, comovem muito enquanto nos fazem rir.

quinta-feira, 11 de março de 2010

Benzá Deus

Cresci embalada pelas crendices das avós que a tudo rezavam e a todos os santos intercediam por todas as causas.
Elas tinham (e têm) uma relação privilegiada com Deus, com Santo António, com Santa Ana (minha madrinha de baptismo, sim é verdade), são íntimas dos santos de cada dia e de cada hora.
Se alguma coisa se perdia era o responso a Sto António rezado com divino fervor, se circunstâncias menos boas decidiam descer sobre a vida de alguém milagres eram exigidos, se a conversa era proteger as netas de males maiores vinham as medalhas de Nossa Senhora das Graças, os escapulários, os amuletos carinhosos.
Sempre achei ternurento e jamais questionei o poder de tudo aquilo, ia guardando o que me davam, distribuindo pelos mais diversos locais de perigo. No carro, dentro da minha carteira, na mesinha de cabeceira. Eu estava e estou escudada para as mais diversas ameaças.
Mas de todas as crenças e superstições houve uma que sempre me fascinou. A bênção das medalhas e de objectos afins. É que nada parecia resultar se não estivesse devidamente benzido. Aquilo maravilhava-me, era como um toque de varinha mágica que conferia poderes especiais às minhas medalhas. As minhas eram benzidas, toma lá. E as tuas? Não, então não valem!
Benzidas eram mais divinas, mais milagrosas, mais protectoras, mais santas. Só que à medida que o tempo foi passando a magia foi desaparecendo, dando lugar a uma visão um bocadinho mais chata do mundo, por isso de cada vez que ofereço uma medalha por um qualquer motivo religioso e me perguntam:
- Está benzida, está? - Só me apetece é ganir.

Ando Movida a...

Se me perguntarem de que material sou feita ultimamente, o que é que me corre nas veias, que seiva pulsa dentro de mim (ahahah), o que é que me faz colocar um pé à frente do outro sem acidentes, o que é que me motiva além das palavras, o que é que me faz abrir os olhos todos os dias, para ser absoluta e estupidamente sincera, teria que responder:
Café.

quarta-feira, 10 de março de 2010

De Luz

As minhas mãos empurram o carrinho, a mão dela mergulha no meu bolso para atravessarmos a estrada, as mãos dele agitam-se sobre a pequena manta polar e caminhamos.
Apesar do frio que nos envolve, o sol ajuda a não pensar em nada de triste e aquece-nos a ponta do nariz.
Só hoje percebi como o sol nos andava a fazer falta, só hoje percebi como não há nada melhor do que um dia de Inverno coberto de luz.
Hoje senti também que uma família de quatro é bom.

terça-feira, 9 de março de 2010

A - És Sexy B - És Frigída C - És um Mono

Sempre adorei ver a dedicação com que algumas mulheres (e homens também que eu sei) preenchem aqueles intermináveis testes que saem nas revistas femininas e mais modernamente no livre dans la face (Facebook).
Gastam horas a percorrer as 234 perguntas com 3 alíneas cada sobre os mais diversos temas:
Que animal és tu?
Que filme és tu?
Que comida és tu?
Quão sexy és tu?
És bem resolvida?
Estás preparada para amar?
Sabes partilhar?
És egoísta?
Eu já tentei por mais de uma vez responder à séria, mas dou por mim a deturpar sempre as respostas, porque raio lhes hei-de dizer a verdade? É muito mais divertido obter os resultados que acho melhores, não é?
Tal como naqueles testes psicológicos que nos iam fazer à escola, em que nos mostravam borrões de tinta. Chiça sinceramente alguém via alguma coisa naquilo além de tinta desbotada?
Mas para não me acharem psicologicamente débil dizia sempre que via as coisas mais incríveis do mundo.
E pronto aqui me confesso. Não sei dizer a verdade em testes, é que a verdade consegue ser tremendamente aborrecida.

segunda-feira, 8 de março de 2010

Em Caso de Acidente Não Ligar

O meu cunhado teve um pequeno acidente de carro e decidiu ligar à GNR para que se deslocassem ao local a fim de (adoro esta frase) tomarem conta da ocorrência. O puto é novo e tem a carta há pouco tempo, não aprendeu ainda que muitas vezes chamar as forças nacionais republicanas em vez de ajudar complica. Pelo menos a mim já me aconteceu sofrer dois acidentes nos quais a minha inocência bradava aos céus, pois num deles levámos com um carro que se despistou em cima e outro bateram-me na peida do meu saudoso Peugeot 205 e das duas vezes conseguiram sacar uma multa aqui à vítima, uma por inspecção atrasada e outra por não ter posto o triângulo a assinalar o acidente, quando tinha ficado sem a mala do carro no embate.
Enfim, avançando na narrativa, o rapaz liga a fim de pedir que se desloquem lá e aqui vos deixo o diálogo surreal:
- Boa tarde, eu gostava de participar um acidente, será que podiam vir aqui?
- Ora bem e hmmmm, o acidente já se deu?
Era caso para responder:
- Deixe cá ver, penso que vou bater daqui a mais ou menos cinco minutos e dez segundos.

O Blogue da Laurinda

Se algum dia me passasse pela cabeça gostar de ser outra mulher, a Laurinda Alves seria certamente a mulher que almejaria.
Tem uma casa com soalho em madeira e vista sobre Lisboa, anda sempre de máquina fotográfica no bolso para imortalizar as coisas mais inesperadas com que se cruza, fazendo-o sempre com uma sensibilidade ternurenta, faz voluntariado nos cuidados paliativos e conta-nos como vê a dor, o próximo, a família com palavras doces sem abandonar a noção da realidade. Tem amigos de todo o mundo, de todas as cores, de todas as inclinações e dá jantares descontraídos onde conversam pela noite dentro. Tem um filho que toca piano e ensaia em casa, enchendo as paredes de notas de música. Frequenta cursos onde se preenche do que acha importante, sorri com simplicidade, escreve bem como tudo e é humilde.
Às vezes parece-me uma vida demasiado boa para ser real, mas era exactamente assim que queria ser se algum dia quisesse ser alguém além de mim.

sábado, 6 de março de 2010

É Complicado? Nem por isso, mas sim.


Passado um mês não posso dizer que tudo tenha entrado nos eixos, não posso dizer que já conheço todo e qualquer som do meu filho, que ele se acalma assim que vem para os meus braços, que não me vou deitar de noite ainda a tremer de medo e angústia sem saber o que esperar. Passado um mês não posso dizer que sou uma super mãe com super poderes e super paciência. Passado um mês ainda me estou a adaptar a carregar de novo com o "ovo" até ao carro e a destilar 100 litros de água corporal de cada vez que preparo tudo para sairmos de casa. A propósito, passado um mês ainda demoro cerca de uma hora e meia até conseguir efectivamente sair de casa.
Passado um mês soube-me pela vida ter ido ver o último filme da Meryl Streep de mão dada com o Hugo e ter pensado como é que é possível esta mulher interpretar qualquer papel na perfeição.
O que faz uma história bem escrita é que ficamos com vontade de escrever a nossa própria história assim. Adorava ter um negócio como o daquela mãe, juntar os filhos em redor de uma mesa gigante para o pequeno almoço e saber fazer croissants de chocolate :)

sexta-feira, 5 de março de 2010

Brinquedos que Resultam


Eu que acho brinquedos para recém-nascidos o verdadeiro desperdício monetário rendi-me a esta Lua Musical da Chicco. Ao mesmo tempo que emite uma luz suave de presença vai intercalando Mozart e Bach no tom certo, nem alto, nem baixo e sem deturpações infantis de músicas que não precisam de ser adocicadas para serem perfeitas e apaziguadoras.
O único contra é adormecer-me a mim, dando-me uma vontade quase incontrolável de me enroscar em posição fetal e chuchar no dedo, quando quem precisa de ser adormecido é o António...
Este post é de verdadeiro valor e interesse nacional.

Bullying

Pergunto-me em que estado de desespero estaria aquela criança de 12 anos para tomar a decisão de terminar com a própria vida atirando-se a um rio.
Como é que se sentiria todos os dias nas idas para a escola, todas as noites antecipando o que o esperava, perguntando-se porque é que o teriam escolhido como alvo das mais cobardes agressões, angustiando-se, temendo, tremendo, calando?
Eu sempre disse que ninguém bate as crianças em ternura e em sadismo, pois quando decidem aplicar maldade a outras crianças dificilmente são igualadas.
Onde é que estava a Escola, onde é que estavam os professores, os contínuos? Onde é que estava todo um grupo de pessoas que supostamente estão lá para proteger?
As próprias escolas e os pais em casa deveriam educar as crianças no sentido de protegerem vítimas deste tipo de agressão, a não ficarem indiferentes. Vi há tempos um programa sobre este tema em que algumas escolas pioneiras no combate ao Bulling ensinavam colegas a defender colegas sempre que assistissem a agressões. Juntavam-se, formando um círculo em redor da criança, um círculo protector e muitas já tinham conseguido "salvar" outras crianças de situações de perigo.
Este fechar de olhos, fingir que não é connosco, que nada percebemos, começa nas escolas e segue pela vida fora como um tumor silencioso que mina tudo à sua volta, terminando em sociedades individualistas de merda.

quinta-feira, 4 de março de 2010

António



Às vezes sinto que só a distância nos traz o verdadeiro conhecimento de tudo.
No momento em que nasceste sentia-me a flutuar, a uma distância considerável da realidade, era como se não estivesse realmente ali, como se tudo não passasse de um sonho regado com sons de instrumentos metálicos, o toque da mão do teu pai no meu rosto, as vozes dos médicos.
Passado um mês começo finalmente a acordar da letargia emocional de ter sido mãe novamente e a sentir que estás mesmo aqui na minha vida, que já me olhas, que já me escutas, que já sentes a minha mão no teu rosto com uma satisfação diferente.
Passado um mês volto a sentir que tudo passa demasiado depressa para conseguirmos andar a par e passo com o mundo à nossa volta. Por isso vou tentar parar um bocadinho de vez em quando e perceber que já entraste mesmo nas nossas vidas meu amor. Parabéns pelo teu primeiro mês de vida.

quarta-feira, 3 de março de 2010

Deprimi

Ai eu saí do hospital com o meu peso original.
Ai eu larguei tudo na sala de partos.
Olha para mim, recuperei a silhueta numa semana, sou assim mesmo é genético.
Parece que estive grávida de uma ervilha, nem se nota que fui mãe há um mês!
Dieta eu? Achas? Bastou-me dar de mamar e em poucas semanas fiquei esguia como esparguete.
Já uso os meus jeans de antigamente.
Não usas cinta pós parto, assim nunca mais vais ao sítio.
Aiiiiiiiiiii!!!!!!!!!!!!!!!!
Mas serei a única gaja a ter saído da maternidade com barriga de 4 meses?
Serei a única a abominar a cinta pós parto e a não conseguir sentar-me com ela enfiada nas costelas e a sair-me das camisolas?
Serei a única gaja que chora porque a falta de horas bem dormidas lhe dá fome?
Deprimi.

terça-feira, 2 de março de 2010

Be Thankful


Gosto de decorar a porta da rua. Bem sei que a maioria das pessoas só o faz no Natal, mas não sei porque raio não hei de ter todo o ano a porta cá de casa enfeitada.
Vi esta frase e não resisti, pois geralmente esqueço-me de me sentir agradecida por tudo de bom que vai surgindo na minha vida. Como pessoa banal que sou, mais são as vezes que suspiro pelas pequenas merdas, do que aquelas que agradeço pelas grandes coisas.
Assim antes de entrar em casa limpo os pés ao tapete e leio a frase para dentro, interiorizando-a para que não descole com facilidade:
BE THANKFUL

segunda-feira, 1 de março de 2010

Morde Aqui no Pescoço

Pela ciclovia fora até ao meu querido Parque Condes Castro Guimarães de mão dada com a Alice e com a outra mão livre tentando empurrar o carrinho do António, praticamente sonâmbula pelas noites em claro, penetro no interior do Parque e qual não é o meu espanto quando um cartaz brutal preso na fachada do Palácio dos Condes me diz que aquilo agora é um Colégio. Paro a tentar absorver a informação. Mas que bosta é esta? Um colégio? Mas desde quando?
- São os vampiros.
Uma voz feminina desperta-me do estado catatónico. A segurança do parque aborda-me cheia de mistérios.
- As gravações. Todas as semanas é uma histeria aqui no Parque, por isso gostam mais de vir às segundas, quando o museu está fechado. Vá lá ver, estão ali em cima, vá ver, vá.
- Ver os vampiros?
- Da Lua Vermelha, não me diga que não sabe o que é?
Tiro os meus óculos escuros e exbibo todo o meu olheirame no seu mais pleno explendor. Ela pára de sorrir, provavelmente pensa que faço parte do elenco. Eu e os meus rebentos vampíricos.
- Ninguém sabe, mas eu digo a toda a gente que eles gravam aqui. É uma balbúrdia, depois estão sempre a dizer corta por causa da assistência.
- Então vá lá, diga-me onde é que estão os meninos vampiros, faça-me ganhar o dia.
- Ali mesmo em cima, está a ver.
E lá seguimos os três... Pelo caminho oposto.
Mas fiquei contente por a senhora achar que aqui a cara pálida ainda atravessa a adolescência, a sério que fiquei.