sexta-feira, 5 de setembro de 2014

aceitação

A última vez que falei com o Sérgio (a quem dedico também o meu livro e que partiu também com cancro)estava em pânico por causa da minha timidez crónica e falta de jeito absoluta para defender aquilo que faço em voz alta. Tinha de ir falar sobre o livro a uns programas, tinha de falar no lançamento do livro e andava com uma séria congestão nervosa, a caminho de uma desinteria crónica.
Ele disse-me apenas que quando estamos seguros daquilo que fizemos o medo fica bem mais submerso.
E acho que é isso.
O truque é pormos sempre tudo de nós naquilo que fazemos e sentirmos orgulho no nosso trabalho, seja a escrever cenas lamechas de telenovela, cenas cómicas de série, livros onde abrimos a parte de dentro do coração.
Ele tinha razão e não foi apenas por já não estar aqui que lhe atribuo uma conveniente aura de sapiência súbita.
Há pessoas mais sensatas do que outras e por vezes precisamos apenas que sejam sensatos por nós.
É estranho isto da passagem do tempo. É como se fossemos várias caixas que vão sendo abertas ao longo dos anos, como se fossemos nós, mas sem sermos já nós. Não é mau ficarmos diferentes, é apenas humano e é isso que temos que aceitar.

Sem comentários: