quinta-feira, 20 de novembro de 2014

chuva

Chove. O céu escuro, o som da água no chão, nas paredes, no telhado, no mundo inteiro.
Chove e o negro do dia não passa por dentro. Queremos que a noite chegue depressa, para podermos fazer da chuva apenas um som acolhedor, sem termos realmente de lidar com ela, mas a noite demora a surgir, talvez porque pareça sempre de noite quando chove.
Quero tê-los todos por perto, debaixo do céu da nossa casa. Ele segurando a ponta da minha meia grossa, ela no piano, a treinar melodias pequenas que nos enchem de vida, o mais pequeno a querer interrompe-la para nos mostrar que também é digno de atenção.
Chove e eu digo que devo aproveitar a vida, o trabalho que, apesar de cada vez mais desgastante, tem coisas boas. Chove e eu tento encontrar o sol atrás das nuvens, o calor escondido sob o vento forte que nos derruba, as folhas ainda verdes que pingam, vergadas ao peso da chuva. Chove e eu tento encontrar a puta da magia por detrás de tudo, a beleza implícita, como mandam as frases de motivação que tanta gente partilha, mas há dias em que a chuva é apenas uma sucessão de tons de cinzento. Uma merda.

3 comentários:

gralha disse...

OBRIGADA por escreveres este post. Fazes tanta falta por aqui, mesmo.

Gigi Loop disse...

Poético. Espero que o sol apareça logo....

Ana. disse...

Para mim, o pior nem é a chuva cinzenta lá de fora, mas a chuva sem cor que às vezes cai cá dentro...
A sério, não há magia que nos valha, só o tempo.