
Em Portugal enraba-se muito e várias vezes ao dia.
Enraba-se porque se tem uma vida medíocre e é preciso não deixar os outros alcançarem objectivos.
Enraba-se, porque se tem frustrações e é urgente descarregá-las em quem se atravessa no caminho.
Enraba-se, porque sim, porque nim, porque não? Enraba-se.
Em Portugal quem não avança, não deixa avançar, quem não progride adora lançar areia na engrenagem dos que querem progredir.
Em Portugal se falta um carimbo para se salvar a vida a alguém, não se salva a vida, pois que falta um carimbo.
Em Portugal dificulta-se, puxa-se para trás, diz-se que não só porque sim.
Em Portugal o enrabanço mútuo e do Estado para com o seu Povo atinge níveis de verdadeira sodomia.
Por isso é tão bom, quando se cruza alguém no nosso caminho que nos desencrava, que nos empurra para a frente, que nos descomplica a vida.
Por isso, quando outro dia o rapaz da Emel, que se preparava para me passar um papelinho, decidiu perdoar-me a "grave infracção" com um sorriso (e não, não foi pela minhas pernas boas), aquilo me soube a milagre.