sexta-feira, 27 de maio de 2011

O mundo podre em que vivemos

Ontem, ouvi da boca de um sociólogo (a propósito do tal filme da miúda a ser espancada) aquilo que temo há já algum tempo:
"Hoje em dia, as coisas não existem antes de serem partilhadas on-line."
Ando a remoer nisto e a pensar nisto e a odiar isto, pura e simplesmente, porque é cada vez mais verdade.
Se não partilharmos a nossa vida on-line, fica tudo em suspenso. Não vivemos de facto aquele momento. Passamos o momento em si a fotografar, a filmar, a documentar. Só quando o vemos publicado, é que a coisa faz sentido, através das reacções dos outros.
Recuso-me a entregar-me a esta merda, recuso-me a achar saudável páginas do facebook de crianças de 5 e 6 anos.
Recuso-me a ser moderna a este ponto.
Já sei que o mais provável é vir a engolir as minhas recusas todas num futuro próximo, mas deixem-me lá ter as minhas teorias por mais uns tempos.

11 comentários:

Naná disse...

Ana C., eu também me recuso a aceitar isso... Quando era miúda também havia cenas destas de pancadaria nas escolas(pronto, não havia tanto pontapé na cabeça...) e as coisas tratavam-se na mesma, mas não eram debatidas com o mesmo fervor de agora... o que acho que aquele filme demonstra é que este tipo de situações estão a tornar cada vez a norma, em vez de serem casos excepcionais...
Mas sim, tenho receio do que a "vida online" faz a cada um de nós e aos nossos filhos. Estaremos a criar uma "geração online"????

Unknown disse...

Eu também penso assim. Outro dia fiquei chocada (até pareço o Sócrates...) quando o meu filho de 6 anos me disse que todos (ou quase todos, admito) os colegas da turma dele tinha páginas no facebook. Mas isto é normal? Sinceramente começo a achar-me um bicho raro no meio desta selva.

Nuno Andrade Ferreira disse...

Não podia estar mais de acordo.

angela disse...

Também concordo. Sem página de facebook e sem blog.

gralha disse...

Que parvoíce! Isso é se só nos considerarmos pessoas enquanto parte de grupos alargados. E aquilo que vivemos a sós, com o nosso parceiro, com a familia e os amigos offline, não conta? Haja paciência para os sociólogos :P

Ana disse...

Com todo o respeito, mas não concordo nada! As redes sociais tem coisas boas. Aproximam-nos dos nossos amigos, no meio da correria dos nossos dias, e permitem-nos viver um bocadinho das coisas mais significativas que estão a acontecer nas suas vidas. Claro que tem de ser bem geridas, com bastante privacidade e cautela.
Mas esta perspectiva deste sociólogo é extremamente redutora e acredito que só é válida para uma pequena parte da população.

Melissa disse...

Tens razão, pá. É assustador.

Melissa disse...

(Mas têm o seu lado bom).

_ba_ disse...

Pode pôr-me na lista daquelas pessoas que também se recusa a deixar as crianças à solta pela internet.
A vida não existe se não for partilhada numa rede social?????
Wtf e no meu tempo que nem telefone fixo tinha na casa dos meus Pais? Lá querem ver que não vivia, não era feliz, não tinha amigos? E sim que tenha joelhos esfolados, nodoas negras nas pernas, arranhões, etc agora usar óculos ou ter tendinites nos dedos por tanto andar agarrado ao audivisual é que não...desculpem lá qualquer coisinha ...(e enquanto aqui estou está ele no quarto, com um alguidar meu, a jogar bey blade)

Ana C. disse...

É claro que não falo de toda a gente. Há pessoas que sabem gerir a coisa com equilibrio, mas há imensa gente completamente agarrada à vida on-line sim. Agarrados ao iphone, a descreverem a vida minuto a minuto.
Eu estou a tirar as palavras do homem do contexto, porque foi na sequência dos putos que estavam a filmar a cena de espancamento.

Melissa disse...

Eh pá, sim. O FB vai-nos capturando de fininho. Vamos precisando das suas validações. Aos poucos, mas sim.
(Não preciso dizer que há excepções, obviamente. Isso vem com tudo).

Comecei a perceber isso com aquela pavorosa aplicação de check-in nos sítios do aifone. Acho tão inútil quanto doente.

Por outro lado, acho que estamos a entrar numa nova era em que o conceito de registo da vida muda, bem como o de privacidade. Numa altura em que já não há rolos de 36 poses + revelação a limitar-nos os registos e não precisamos de marcar um jantar lá em casa para mostrar as fotos do Verão, tudo se torna mais... banal, visível, menos privado. Não tem de ser mau, só é novo.

Agora uma frase que odeio com my guts: é tudo uma questão de equilíbrio, hehe.