quinta-feira, 25 de fevereiro de 2010

Perder-me Um Bocadinho Todos os Dias

A máquina da roupa gira sem parar. Sobre ela acumula-se uma pequena pilha à espera de ser dobrada, enquanto ele se agita nos meus braços.
Consigo fazer coisas que nunca imaginei possíveis com ele ao colo e a arte de me desdobrar em duas, ou três é aperfeiçoada a cada dia que passa.
Sinto-me cada vez mais longe de mim, como se me perdesse entre a música de embalar mal entoada e as fraldas de pano que dobro em quatro como um autómato.
Estou certa que o primeiro mês de vida de um bebé é o mais complicado. Aquele em que sentimos que nunca nada voltará a ser igual, que nós jamais retomaremos hábitos antigos. Vem-nos tudo à cabeça e choramos por nós. Pela Ana solteira antes de tudo, pela Ana que marcava uma viagem em cima da hora por puro impulso, pela Ana antes da mãe, antes da mulher, antes de todas as camadas que se seguiram.
Depois respiro fundo e escuto a respiração dele, frágil, indefeso, dependente do que lhe dou. Limpo as lágrimas com a mão que está livre e vejo a Alice com os seus desenhos coloridos a cantarolar a cada tarefa que se propõe. Fungo e olho as fotografias do nosso casamento.
Sim, tudo vale a pena. Cada camada que me acrescentaram fez de mim mais Ana e sei que tudo voltará um dia mais cheio ainda, cheio de tudo o que realmente importa...

Adenda de extrema importância a propósito da pergunta da Joaníssima: Eu não uso fraldas de pano no rabo do António, mas para milhentos outros fins :)

12 comentários:

Pekala disse...

:)

Melissa disse...

É mais um post clássico dos primeiros tempos de bebé! :)

Tu respondeste-me, a esse mesmo post, quando foi a minha vez, algo como: tu não voltas a encontrar-te com o que eras, mas com uma redefinição.
Às vezes acho a redefinição para melhor, outras - menos - para pior, mas é isso mesmo. Outra pessoa.

mãe disse...

Adorei o seu post.Revi-me nas suas palavras. Parabéns pelos filhotes e por sentir que vale a pena!
Catarina

Lebasiana disse...

Ana, PARECE QUE ME RELEIO no meu blogue antigo, quando o Pedro nasceu! Tem calma e acima de tudo, acredita que a Ana vai voltar e MELHOR AINDA! olha para mim! estou na melhor fase do meu eu"!

Força!

jinhos

gralha disse...

Ainda não parei para pensar nisso...
Temos de acreditar que, de alguma forma, daqui a algum tempo, nos recuperamos a nós próprias (ainda que diferentes). Beijinhos

Joanissima disse...

Penso muitas vezes nisto que acabas de escrever. Lembro-me daquela Joana de antigamente, a Joana que não tinha (tanta) responsabilidade concreta na vida de alguém, a Joana de quem ninguém dependia de uma forma tão concreta.
Mas, sabes, essa Joana (e essa Ana) será sempre muito importante. Porque a minha filha pode não (querer) ser Mãe mas será, de certeza, Pessoa. E a minha vivência ser-lhe-à sempre valiosa.

Às vezes, confesso, também tenho saudades daquela Joana de outrora mas, caramba, a vida sem a miuda era tão estupidamente vazia, que prefiro-a assim, desgastante e louca com ela, do que despreocupada e livre, sem ela.

(este teu texto emocionou-me muito... Mas isto agora é este forrobodó todos os dias??? Mau!!)

Joanissima disse...

(e tu usas fraldas de pano porquê?

Lina disse...

Tudo vale a pena para ter os nossos filhotes!!
cada noite mal dormida, cada tarefa que fica por fazer...tudo vale a pena.
Passe no meu cantinho. tenho la um posto que se chama "chegou o bebe" que tem alguns conselhos que acredito te estao a fazer falta!!

Beijinhos

Precis Almana disse...

Pensa nisso tudo como uma sementeira que fazes, com a diferença de que não tens a recompensa em forma de colheita daí a uns meses, tens todos uns dias um bocadinho de colheita e, com alguma regularidade, colheitas grandes. Estou a dizer-te para pensares e apercebo-me que o fizeste com o post, pois :-)

c disse...

... e quando tiveres tempo de ir outra vez à procura da Ana (mais cedo do que agora te parece possível!) vais encontrá-la tão mais rica e poder sentir a plenitude de tudo o que conquistaste. Aguenta firme!

Lia disse...

e eu que até gostava de perder esta Lia, para encontrar a Lia-mãe...

Petra disse...

Tenho a certeza, que logo que seja possível, essa Ana voltará nem que seja em breves visitas. Em doces brisas que farão a diferènça...
Agora és mais completa e até olharás essa Ana com outra doçura!
Saberás aproveitar cada minuto que ela possa estar presente!
beijo bom fim-de-semana