domingo, 24 de junho de 2012

Mães Kodak

Todas as mães têm um lado kodak (a sua alma descanse em paz), que insistem em mostrar a toda a gente, como se fosse apenas esse o lado da maternidade. E como se assim, se convencessem que é tudo idílico. Quando olham as fotos daqueles abraços e sorrisos, logo desfeitos numa birra, ou num grito, depois de o botão disparar, sentem que é perfeito, como ouviram dizer a todas as mães kodak, como tem que ser, como deve ser, como alguém escreveu em algum livro de regras sagrado. E escondem a mágoa, a frustração de não ser bem como todas dizem que é. Devem ser et's, vai daí não partilham o menos bom, não desmistificam, não normalizam a coisa. Acham-se más mães por se sentirem fartas de vez em quando, acham-se umas grandes vacas por darem tudo em troca de um fim de semana a dormir, sem tarefas, sem birras, sem obrigações, sem rotinas (confesso que esta faceta se torna mais evidente a partir do segundo filho) e não ousam partilhar aquilo que sentem. No entanto, vemos as veias a pulsarem nas suas testas e nas suas expressões aparentemente tranquilas e bem resolvidas.
Eu queria dizer às mães que atiram as queixas para dentro de um buraco solitário, que amo imensamente os meus filhos, mas que esse amor é tanto mais saudável, quanto eu puder partilhar as frustrações e cansaços com outras da minha espécie e sentir que não sou única, que não sou vaca, que não sou besta, nem uma mãe dos infernos, por gostar de desabafar.
É claro que nem todas as mães têm assim tantas queixas quanto isso, principalmente quando têm ajudas para descansar de vez em quando e é claro que há putos mais chatos do que outros (constato isso sempre que vou a um parque e fico a achar os meus babys uns santos na terra), mas menos perfeição é bom. A sério. É saudável e não é caro.
Outro dia apanhei uma fotografia tirada aos meus filhos, em que ele se desfazia em gritos e lágrimas, porque a irmã o esmigalhava num abraço para a fotografia e pensei nisto.



Aqui fica de novo este vídeo perfeito (este sim, perfeito:))

13 comentários:

Melissa disse...

Aproveito o espaço para pedir a avós, irmãos e irmãs, primos ou quem estiver mais por perto de uma mãe cansada que POR FAVOR, CHEGUEM-SE À FRENTE de vez em quando e ofereçam-lhe ajuda. Podem achar que será trabalhoso, mas, muito mais do que isso, estarão a criar laços com os pequeninos da vossa família, tornando-se vocês próprios imprescindíveis para (mais) alguém. E, como se não bastassem, ganham a felicidade de uma pessoa que vocês também amam (a mãe), e felicidade é contagiosa. Todo mundo ganha. Pensem nisso, caso não seja uma prática comum. Tornem-no numa prática comum.

PS - e não tem de ser perfeito. Imperfect is the new perfect.

Sabores e Emoções disse...

Perfeito, perfeito!!!

Eu não sou de todo uma mão kodak e não podia estar mais em acordo contigo.

Parabéns pelo post.

Sabores e Emoções disse...

Vou publicar no meu facebook

Naná disse...

Ana Cê, adorei que tivesses "ressuscitado" este vídeo e este tema!
Lembro-me de quando o fizeste há uns dois anos atrás e eu principiava nas lides da maternidade. O bem que me fez! A culpa engarrafada que eu tinha em mim e que de algum modo se aliviou!
Eu sou uma mãe kodak ou nikon, para ser mais correcta, mas não no sentido em que falas aqui. Sou mãe kodak no sentido em que ando sempre de máquina em riste, porque quero registar tudo o que puder, não vá a memória começar a falhar-me um dia...

Eu não tenho pais que me possam ajudar e no que toca ao meu filho, sempre fui eu e o pai a revezar-nos (tanto mais ainda que ele trabalha por turnos, quase sempre à noite), por isso sei a importância de umas horas de sono, sem birras e sem choros!

Sabes quais as fotos e os vídeos que mais piada acho do meu filho? Aqueles em que está a fazer um beicinho enorme, de quem acabou de "amarrar o machinho"!

gralha disse...

Exige a tua escapadinha, exige! Mesmo as mães über-equilibradas como tu merecem um quebra na perfeição dos dias assumidamente imperfeitos.

Melancia disse...

Assumidamente Mãe Kodak, no sentido fotográfico e no outro também! era menina para elogiar o meu rebento em part-time, mas percebo perfeitamente o teu post! Sou optimista por natureza e, com facilidade esqueço as noites em que dormi mal, mas por outro lado tenho um filho que é um santo. Acredito piamente que o próximo vai ser tudo que este não é, irá dormir mal, comer mal, fazer birras, exigir atenção até ao osso, ter aquelas crises de choro em que ficamos a olhar para eles a perguntar, mas o que tens tu?!!
No entanto, comigo, o que me faltou ouvir outras mães dizer, não foi sobre o sono e a falta dele, não foi sobre a culpa, ou afins. Gostava que alguém me tivesse dito que, alguma smulheres se estão nas tintas para os maridos quando a criança nasce, que tanto faz se chegarama casa, felizes ou furiosos da vida, que tanto faz se já demos um beijo ou não hoje. Gostava que me tivessem dito que isso poderia acontecer para que, quando eu dei por mim assim, não achasse que era uma anormaloide de primeira e não pusesse a pensar que talvez já nem gostasse dele!
Enfim, temos a tendencia para romantizar tudo, falar aos outros só aquilo em que somso perfeitos e esquecemos que partilhar o mau é bom, faz de nós pessoas a sério e não retiradas dum catálogo qualquer!

Ana C. disse...

Melancia, toda a história do casamento-pós-chegada-de-filhos dá outro post :)
Acho que já escrevi sobre isso, mas não posso jurar.
Eu confesso que a minha mais dura batalha foi com a chegada do segundo rebento.

Melissa disse...

Melancia, adorei.

Melissa disse...

E também ando a fotografar os puns ao meu filho, pá, ele é lindo e dá puns lindos :D queixei-me tanto durante os primeiros 18 meses (em que não dormiu uma única noite completa) e o primeiro inverno (em que nunca esteve saudável) que agora me deixo relaxar e curtir a kodaquice um bocado, antes de chegar as birras dos quatro/cinco anos.

Ana disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Ana C. disse...

A verdade é que tudo vai ficando mais fácil, à medida que eles crescem.

triss disse...

Tão bom, obrigada:-)

triss disse...

Melancia, nem mais, mais um assunto super tabu que dava jeito que se falasse:-)