Tirando alguns finais de tarde mornos, em que me perco em brincadeiras absurdas com os miúdos, a praia cansa-me e vou apenas por obrigação familiar.
Não entendo o fascínio que move milhares em direcção aos areais escaldantes, férteis em fungos e beatas de cigarro enterradas.
Tudo isto se amplia, quando me chegam à memória imagens de armação de pêra, em dia de calor sufocante, com cada centímetro de areal ocupado por rabos peludos, mamas besuntadas de creme, marmitas, gritos, bolas a serem chutadas sobre corpos deitados. Enfim, um areal inabitável, mas cheio de pessoas cuja ideia de descanso era aquilo.
Nada me dizem as filas, a procura de lugar para estacionar, o sol fervente, os 34 graus, o estar de papo para o ar, enquanto se trabalha para o melanoma, só para depois ir refrescar ao mar, zerando assim todo o processo e criando nova vontade de torrar.
Se tivesse que usar o meu direito à greve, conseguiria imaginar, pelo menos, 10 coisas mais interessantes para fazer do que ir torrar para o areal, mas o que é que se pode fazer, a praia exerce um fascínio quase afrodisíaco sobre a maior parte dos portugueses e imagino que seja por isso que os países mais desenvolvidos sejam aqueles onde há menos dias de sol.
Lembro-me, quando visitei Estocolmo, do brilhante dia de sol que nos recebeu e de ter visto, em plena hora de trabalho, a malta toda de calças e mangas arregaçadas em cada pedaço de relvado da cidade.
Um sueco em Portugal faria greve todos os dias.
É o que somos
Há 3 dias