Cresci embalada pelas crendices das avós que a tudo rezavam e a todos os santos intercediam por todas as causas.
Elas tinham (e têm) uma relação privilegiada com Deus, com Santo António, com Santa Ana (minha madrinha de baptismo, sim é verdade), são íntimas dos santos de cada dia e de cada hora.
Se alguma coisa se perdia era o responso a Sto António rezado com divino fervor, se circunstâncias menos boas decidiam descer sobre a vida de alguém milagres eram exigidos, se a conversa era proteger as netas de males maiores vinham as medalhas de Nossa Senhora das Graças, os escapulários, os amuletos carinhosos.
Sempre achei ternurento e jamais questionei o poder de tudo aquilo, ia guardando o que me davam, distribuindo pelos mais diversos locais de perigo. No carro, dentro da minha carteira, na mesinha de cabeceira. Eu estava e estou escudada para as mais diversas ameaças.
Mas de todas as crenças e superstições houve uma que sempre me fascinou. A bênção das medalhas e de objectos afins. É que nada parecia resultar se não estivesse devidamente benzido. Aquilo maravilhava-me, era como um toque de varinha mágica que conferia poderes especiais às minhas medalhas. As minhas eram benzidas, toma lá. E as tuas? Não, então não valem!
Benzidas eram mais divinas, mais milagrosas, mais protectoras, mais santas. Só que à medida que o tempo foi passando a magia foi desaparecendo, dando lugar a uma visão um bocadinho mais chata do mundo, por isso de cada vez que ofereço uma medalha por um qualquer motivo religioso e me perguntam:
- Está benzida, está? - Só me apetece é ganir.
Grandes diálogos: O Apartamento
Há 3 semanas
6 comentários:
Olha que eu estou benzido ouvistes!!! Quer dizer... mais ou menos! Houve uma altura da minha infância em que andava menos saudável e a minha vizinha da altura achou que se ela me benzesse eu ficaria curado. Não fiquei mas ganhei uma bela história que posso agora contar! Não aqui mas... no sítio do costume! Ainda bem que me lembraste disso!
Fez-me reviver o passado, este texto tão agradável.
L.B.
Aí levo-te vantagem de sobra porque, tendo um tio padre, as bençãos são imedaitas. E sim, lá em casa, há coisas que são obriagtoriamente benzidas. Como as casas, os carros, os objectos religiosas que se oferecem, e outras coisas que tais... : )
(mas eu acho que essas tradições são deliciosas... e que a inocencia que se tinha nessa altura, deveria poder ser para sempre...)
E, a propósito de avós e de tradições lembrei-me do post sobre as coisas tipo "Está tão feliz, coitadinha"... Ahahahah
Eu também fui benzida, porque estive para ir desta para melhor!
Portanto nada me quebra a benção!! - Amigdalites não contam!
;)
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