quarta-feira, 10 de dezembro de 2008

A Partida

O comboio embalava cada um dos meus pensamentos com aquela cadência cheia do mesmo ritmo.
Os meus olhos estavam fixos nas costas da pessoa à minha frente, como se não conseguisse olhar para nenhum outro lugar. A paisagem que passava colorida ao meu lado não importava, pois apenas aqueles ombros à minha frente me prendiam todos os sentidos. Os ombros sacudiam-se ao de leve, como que albergando uma espécie de choro silencioso.
Depois veio uma voz, suave, quase doce que falava baixinho, como se rezasse a uma qualquer entidade. Como se pedisse por qualquer coisa que tinha perdido, como se sentisse que estava perdida na sua viagem. Apenas ouvi a palavra Saudade e também eu a senti bem cravada no fundo da pele.
Sabia o que havia deixado para trás e como tudo isso era difícil demais.
Decidi pousar uma mão sobre o seu ombro. Tocar-lhe apenas. Dizer-lhe que também estava ali com ela naquela viagem.
A sua mão pousou sobre a minha, como um sopro e apertou-a em agradecimento.
Tínhamos partido em simultâneo e tive então a certeza de que chegaríamos juntas.
E isso estranhamente consolou-me.

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