quarta-feira, 17 de abril de 2013

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Vãs as palavras de conforto que te dirigem.
Vãs as penas dos que choram contigo.
Vãos os pensamentos de suposta paz que te transmitem.
Vãs as mãos que te apertam o braço, lembrando o que não consegues sentir.
Vã a medida que julgam saber do que sentes, pois que nada entendem de ti neste momento, nem do que sentes agora.
Vão o mundo que continua a girar apesar de ti.
Vil o sol que te ofende por persistir no seu brilho e o céu por não estar cinzento e chuvoso, refletindo-te.
Penosa a primavera que te afronta, os sorrisos das crianças indiferentes, as vidas que prosseguem com a cadência necessária, para que tudo continue apesar de ti.
Um dia hás de agradecer por tudo isto que continuou, que persistiu, que te mostrou que nada fica imóvel em homenagem a ninguém.
A vida é a maior dádiva e a maior afronta, a maior fonte de respostas e abismos sem solução. A vida é isto de ficares aqui, sem tudo entendido, nem resolvido, mas teres que ficar, completando o ciclo do mundo que se movimenta apesar de ti.

7 comentários:

Melissa disse...

Escrevi vários parágrafos enormes a comentar isto, Casaca, e apaguei-os um a um, porque é isso mesmo. Não há nada a dizer, só o vazio e o levar com a afronta de a vida continuar, inexorável, a puta.

Ana. disse...

Deixo apenas um suspiro e a determinação de dar boas gargalhadas daqui para a frente. Se pensarmos bem, as nossas gargalhadas haviam de deixar mais feliz que as nossas lágrimas.
;)

Naná disse...

Ainda ontem pensava nisso... o mundo continua a girar, à mesma cadência de sempre, mesmo que queiramos que ele simplesmente se imobilize...

Ana C. disse...

Fernando Pessoa dizia:
"Sem ti, continuará tudo sem ti"

Aninhas, há tempo para tudo e a dor também tem o seu lugar na equação das coisas. É normal que assim seja.

gralha disse...

O sol e os passarinhos podem parecer uma afronta, sim. Mas não deixo de pensar que todos os últimos dias em que já não sorria agora se convertem em serenidade. Já não é duro para ela, ainda que seja duro para quem cá fica.

Ana. disse...

Eu sei que sim, Cê, longe de mim querer retirar ou excomungar o direito que temos de sentir dor pela perda de alguém. Muito pelo contrário. E também não confundo a profundidade e o impacto da dor de e em cada um... Só falo por mim, porque preciso de me forçar a reagir.

Ginguba disse...

É por tudo isso que nestas alturas eu emudeço...

(Acho que este teu post e o comentário da Melissa dizem tudo o que há a dizer sobre quem perde alguém que ama.)