sábado, 16 de janeiro de 2010

PARA OS ENFERMEIROS

Isto de passarmos uns dias no interior de um hospital, ainda que apenas de visita como foi o meu caso, traz-nos sempre uma perspectiva espantosa de dentro das coisas. Uma visão que só quem passou por ali guarda.
Hoje gostava de falar dos enfermeiros. Não sobre aquilo que eles pensam da sua profissão, dura, mal paga, tantas vezes deprimente, cheia de líquidos orgânicos, catéteres, sangue, fezes, urina, maus cheiros, gemidos, gritos. Tão cheia de decadência humana que muitas vezes os desumaniza, transformando-os em autómatos que cumprem funções atrás de funções já sem o entusiasmo do princípio de tudo. Enfim, não sob este ângulo, mas sob o ângulo de quem precisa deles, de quem os vê chegar como uma lufada de ar fresco, como uma ponte entre o doente e o médico.
Será que os enfermeiros sabem como importam na equação de tudo? Como o som dos seus passos no chão de linóleo significa o quebrar da solidão tantas vezes sentida por quem está na cama de um hospital?
Será que eles sabem mesmo que uma expressão sorridente, ou mal encarada faz toda a diferença do mundo para quem está do lado de cá?
Será que eles sabem que fazem parte da gigantesca corrente que salva vidas, que ameniza dores, que trata as feridas? Ou com o passar dos anos vão esquecendo que são importantes na equação final?
Acreditem que não são meros acumuladores de tarefas ingratas. Esta simples visita gostou de se sentir apoiada, de ver que além de se preocuparem com o marido enfermo, também arranjavam tempo para se preocuparem com a minha gigantesca barriga e fazerem-me sentir um bocadinho menos cansada...

17 comentários:

Márcia disse...

Que bela homenagem a quem realmente trata dos doentes e não os sintomas!

Força e as melhoras!!!

Lebasiana disse...

como sabes, os enfermeiros que mais tenho visto ultimamente são do IPO e são realmente EXCEPCIONAIS e INCANSÁVEIS, sobretudo, do ponto de vista dos afectos!

espero que esteja tudo a melhorar!

jinhos, cheios de força!

Melissa disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Melissa disse...

Ó pá parabéns por teres escrito isto, a sério.
O Miguel que não me oiça, para não ficar convencido, mas eu adoro enfermeiros. Adoro a tal ponte humana que fazem entre os suprassumos médicos e o enervado paciente e família.
Adorava quando, à beira da cama do meu irmão todo estropiado, chegava o enfermeiro todo sorridente lá com a arrastadeira e o que mais fosse, sempre com uma piadola seca, como se o puto não estivesse desfigurado, como se fosse um entorse ou qualquer coisa, e passava-me também um pouco daquela relativização e eu ficava algumas horas a sentir-me melhor.
Na maternidade, então, foram os meus anjos bons. Adoro cada uma delas e lembro-me delas pelos nomes.
São uns anjos bons, mesmo, ou sempre tive muita sorte.

InêsN disse...

"Será que eles sabem mesmo que uma expressão sorridente, ou mal encarada faz toda a diferença do mundo para quem está do lado de cá?"

tive dos dois tipos durante os longos 5 meses de internamento do meu pai. infelizmente, na hora da sua morte estava de turno a enfermeira mais mal formada que já conheci (e custa-me horrores pensar nisso...se estivesse de turno uma outra enfermeira, excepcional e hiper profissional, o meu pai não tinha morrido sozinho porque ela ia todas as noites para junto da sua cama ler um bocadinho) :(

Precis Almana disse...

Eu até me comovi quando me despedi dos "meus" enfermeiros a última vez que estive internada... No piso em que estive, e no Egas Moniz, são todos novos, super simpáticos e competentes, encorajadores - quando fiz o levante e me viam a andar - pacientes, etc. Guardo recordações de muita humanidade.
Penso todos os dias em ti.
As melhoras, diz coisas quando tudo acalmar.

Filipa disse...

é verdade...

ainda bem que ha sempre coisas boas a dizer sobre determinadas profissoes...
acho que so quando as vemos de perto e as sentimos na pele damos valor aquilo que passam e nos vemos...

beijinho e felicidades

as melhoras

Miss. Chocolate com Pimenta disse...

Obrigada. Somos mais do que aqueles que por vezes não conseguem ter forças para sorrir, mas que tentam, de todas as forças, fazer daquele momento, um momento menos triste.

Sou enfermeira e tenho muito orgulho nos bons enfermeiros deste mundo.

Um beijinho grande e um abraço apertado com votos de melhoras para o teu marido.

gralha disse...

Acho que todos eles o sabem quando escolhem a profissão. Infeizmente, alguns vão perdendo essa consciência com o passar dos anos e as dificuldades que enfrentam - como em tantas outras profissões.

Miguel disse...

Devo avisar-te que tamanha atenção dirigida a tão distinta barriga deve-se apenas a um certo telefonema de um determinado enfermeiro...
De resto, é uma espécie de tradição profissional sermos umas bestas para doentes e famílias!

Melissa disse...

Ó miguel tás a insinuar que a anacê não tem encantos próprios???

Pekala disse...

3 vezes na minha vida fui parar às urgências de S.José,em anos diferentes,por causas diferentes e numa das vezes tive que ficar internada.Não sei se foi sorte ou ironia do destino calhou-me sempre o mesmo enfermeiro.É o MEU enfermeiro,o meu anjo da guarda,que me tratou,que cuidou de mim,que teve pachorra pra tudo e mais alguma coisa e que ainda gozava comigo e me abria os olhos.estou eternamente agradecida.subscrevo este post por inteiro:)

PiXie disse...

Que bom estar de volta! :) Tenho estado a ler-te e adoro sempre as tuas palavras!
Bjs grandes e força :)
xx

Joanissima disse...

Não posso concordar mais. Quando estive internada (com morfina nas veias... uuuuuuuuu) as enfermeiras eram o ponto alto dos meus dias. carinhosas, atenciosas e até, com as velhinhas que lá estavam, verdadeiramente doces (penteavam-nas e tudo...)
Não basta a pessoa estar fragilizada e assustada e ainda tinha que levar com gente trombuda?? Devia ser proibido!! : )

(glad to have u back)

sónia, mulher e mãe disse...

è bem verdade o que dizes. Também já conheci os dois tipos de profissionais, ou melhor, as duas maneiras de encarar o que se faz e como se faz.
Se tiver de pesar as experiências (comigo, com os babies, com familiares próximos), penso que os que realmente humanizam os momentos que ali estamos felizmente são em maior número. Sim, um bom enfermeiro pode fazer toda a diferença em momentos de angústia (seja por dores sofridas, seja pela impotância de estar a ver sofrer).
Ah. e, como tenho andado um pouco afastada destas lides bloguísticas, quero mandar-te um beijinho cheio de força para o momento que estão a viver como família, com votos que tudo se recompenha rapidamente.
mãe sónia

Maria disse...

Acho que todos os serviços so tem a ganhar com enfermeiros humanistas. Nao vale de nada, criarem distancia do doente.. muito antes pelo contrario.

bjnho.

mamacris disse...

Ja acompanhei uma formacao com um grupo de enfermeiros sobre cuidados paliativos e fiquei de facto com uma impressao completamante diferente desta profissao.
Compreendi o quanto eles sofrem com a realidade dos seus pacientes e o kto dao de si as pessoas k estao ao cuidado deles.
Td de bom!