quarta-feira, 22 de setembro de 2010

Tu ou Você?

Decidi escrever sobre isto, porque me faz comichão e porque hoje a Alice deixou escorregar um "você" numa conversa casual com o pai. Reparei que a educadora dela trata as crianças (de 3 e 4 anos) por você, mas não assimilei a possibilidade de isso vir a afectar a forma como a minha filha aborda as pessoas cá fora, os pais inclusive.
Sou uma pessoa educada, respeitadora, instruída, com valores e princípios, tal como tanta gente e nunca acreditei que tratar os filhos por você fosse sinónimo de maior respeito.
Sim, usava-se antigamente, mas no meu humilde parecer, não era sinónimo de respeito, antes de distância, medo, afastamento. Os pais tinham relações cordiais com os filhos, polvilhadas de vez em quando com alguns gestos de amizade. Passavam valores sob a forma de frases geniais, de máximas filosóficas e criavam com os filhos laços de ferro, sem espaço para abraços, carinhos, mimo.
Tratar os filhos por você era apenas uma extensão desta relação cordial e precisamente por estes motivos, não gostaria que os meus filhos se dirigissem a mim, como se dirigem à senhora da tabacaria.
Depois temos toda a geração de tias e tios que juram a pés juntos que é por uma questão de respeito e tradição que querem que os seus ricos filhos os tratem por você, mas na realidade é por puro snobismo. Na sequência dos tios de Cascais, oiço coisas como: Vá à merda em pleno café. Mandar à merda alguém usando você é respeitoso. Já dizer: Vai à merda, é do mais brega que há.
Vai daí fiquei a coçar-me com a escapadela da Alice, fiquei a pensar até que ponto isso é relevante para mim e concluí que é importante sim. Não justifica tirá-la da escola de forma nenhuma, pois ela está muito feliz lá, mas justifica uma conversa a sério com a Alice, antes que ela se transforme numa Cinha. Fazê-la ver que cá em casa e com meninos da idade dela não há vocês.
O que é que querem, não gosto, não explico, não curto, não acredito.

20 comentários:

lena ruivo disse...

e vão duas. Acho que em vez de ser sinal de respeito é uma piroso plano para se ser fino

Rita disse...

Tenho várias amigas que fazem questão de tratar os filhos por você e vice versa.

Para mim não faz qualquer sentido. Tenho a certeza que os meus filhos não me respeitam menos por me tratarem por tu. No entanto, também não sinto que trato os meus filhos de forma mais carinhosa do que as mães que os tratam por você.

Parece-me que é mesmo uma questão cultural, mais do que outra coisa qualquer. Isso e o novo riquismo que anda por aí aos pontapés ;)

Blog da Maggie disse...

lá em casa é tu cá tu lá....

Beijinho
Maggie

Lebasiana disse...

eu detesto o você em qualquer situação! soa-me a muito "abrasileirado"... e fujo sempre dele!

oriento-me pelo "tu", "o senhor", " a senhora", ... já não me lembro da última vez que usei o "você"! ;)

entre pais e filhos... isso é que não gosto mesmo! não reflecte respeito...

beijocas

Melissa disse...

É UMA PRAGA DE NOVO-RIQUISMO.

gralha disse...

Olhe lá, mas a Alice trata toda a gente por tu? Inclusive desconhecidos mais velhos? Acho sempre positivo que aprendam as duas formas de tratamento - e podes sempre explicar-lhe que deve tratar os pais por tu. É o que nós fazemos.
(provavelmente eles fazem isso na escola para pecar por excesso e não por defeito, porque podia haver paizinhos que não gostassem das "tuzadas")

Mãe das Marias disse...

E eu assino em baixo!

beijo*

Lídia Borges disse...

De como de um pequeno nada se pode criar um motivo de reflexão.

Gostei!

I. disse...

É uma praga, a cena do você. E depois saem-lhes as maiores alarvidades, mas sempre precedidas do vocêêêê...
Os meus sobrinhos tratam-me por tu, na maior.

sofia disse...

E vai mais uma que concorda plenamente!há situações própria para o você - eu não me consigo imaginar a tratar por tu o sr do talho ou mesmo a avó do P, por exemplo
Mas daí a aceitar que a minha filha me venha a tratar por você, não.
Isso é coisa para me fazer demasiada "comichão"!

Anónimo disse...

A educadora só a trata por você, a ela e aos outros meninos, para os ensinar a tratá-la dessa forma. De certeza que é isso. Eu e colegas minhas fazemos isso com os alunos do ensino básico, pois ao tratá-los por tu faz com que eles também nos tratem por tu. Cabe-te a ti ensiná-la a distinguir as pessoas que se devem tratar por tu e as que deve tratar por você ou sr. / sra. Beijo

Crenteoptimista disse...

Concordo em tudo contigo. E uma conversa com a pequena vai funcionar de certeza. Num dos meus estágios aconteceu-me o contrário: o miúdo tratava toda a gente por você por insistência a mãe. Eu e ele tratavamo-nos por tu, sem problema, depois de ter falado com a mãe dele e com ele. Eles percebem e assimilam tudo.
Beijos

Marcia P. disse...

Ana,
Estando a viver neste país há 12 anos, é que pude compreender como uma pequena palavra venha acompanhada de outro significado.
Para nós brasileiros, chamar uma pessoa de você é o mesmo que chamá-lo de tú ou então, quando alguém sugere que não quer ser tratado de senhor.
Não tem nada haver como impor respeito, medo ou distanciamento.

Para muitos, o "você" significa jovialidade, porém, somos educados para distuingir uma pessoa que ocupa um cargo superior, o dono da empresa onde trabalhamos, o padre(sempre), etc... aí não pode ser você nunca.
É tudo uma questão cultural e eu entendo os seus questionamento.
Uma conversa com a Alice, tudo resolverá.

Precis Almana disse...

Percebo a Gralha e a Marina, há-de ser por isso. Mas penso que ainda é muito cedo para. Os meus sobrinhos têm 6 anos e ainda tratam todos por tu, penso que mais cedo podem aprender as distinções e aprendem-nas depressa.

Precis Almana disse...

E eu queria dizer "mais tarde", claro ;-)

Sara L. disse...

Uiiiii que comichão!

Se já me soa estranho os filhos tratarem os pais por vocês, o contrário então... é tão despropositado como escrever "farmácia" com "ph"! Não é deste tempo, de facto.

E o mais irritante é que na maior parte dos casos nem sequer é uma coisa espontânea ou genuína, não passa de snobismo bacoco.

E quando são as próprias crianças, irmãos ou primos (muitas vezes quase de fraldas), que se tratam entre si por você? Aí é que me sinto mesmo um ser de outro planeta!

Inact disse...

Não gosto e muito menos porque hoje é usado não como sinal de respeito mas por afectação para querer parecer qualquer coisa que nem sei bem o que é mas que se prende com ideias de estatuto (ou falta dele).

Cat disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Maria_S disse...

100% de acordo com o que aqui foi escrito. :)

Maria_S disse...

100% de acordo com o que aqui foi escrito. :)