Às vezes olho para mim como se saísse aqui de dentro por uns minutos e vejo-me adulta. Sinto que sou mesmo uma mulher crescida e isso assusta-me à brava. Sob tantos sentidos ainda não me apercebi que sou mãe, que hão de olhar para o meu exemplo, para a minha história, que sou casada, que tenho uma casa onde faço o jantar quase todos os dias, onde nos sentamos à mesa e onde se respira já um certo cheiro de família.
Eu já sou isto tudo? Não, não é possível que tenha crescido tanto, ainda sou uma miúda de head phones da Sony amarelos nos ouvidos e olhar perdido no outro lado da janela do 17B.
Depois acordo e olho a roupa que tenho que dobrar e que parece crescer em proporção directa com os meus anos de vida. Acordo e sinto que já sei a resposta a montes de coisas que me perguntava durante as viagens no 17 B e que tenho outras tantas perguntas dentro da cabeça à espera de serem encerradas.
Olho o espelho e a mulher que me olha do outro lado tem já alguns cabelos brancos e dois sulcos que não estavam lá na altura dos head phones da Sony. Em contrapartida já não usa óculos. Tento fazer um balanço e não consigo, nem sei se me importa fazê-lo.
Sei que estou aqui e isso hoje é a única coisa que me importa.
Grandes diálogos: O Apartamento
Há 1 mês
5 comentários:
Compreendo tão bem. Não tenho filhos nem cozinho para uma família nem nada, mas quem olhar para mim com menos 5 anos imagina uma pessoa responsável e adulta. Se a primeira corresponde (como sempre) a segunda não encaixa.
De repente uma pessoa vê-se aqui, não sabe como cá chegou e não é parecido com nada do que imaginou. (Ainda assim, é bom).
A vida passa por nós e nem nos damos conta! Na rotina cíclica que nos engole, vemos o peso da responsabilidade que assumimos com a família e fazê-mo-la crescer com alegria e apenas isso interessa.
Os balanços, ficam para os dias ingratos em que nos assola a tristeza e pensamos que não era nada disto que desejávamos, mas é concerteza o melhor que podemos fazer por nós...
Gosto tanto de te ler...
Ás vezes tb faço esses balanços e assusto-me com a tamanha responsabilidade que tenho agora na minha vida. Nessas alturas só me apetece ser aquela rapariguinha...
bjs
Eu também vejo-me a pensar tanta coisa e agora já nos meus cinquenta, fico atónita! Onde anda aquela rapariguinha alegre e despreocupada! sinto-a tão perto de mim, por vezes ainda me sinto essa menina, mas,no entanto, tanto já se passou por mim.E tanta responsabilidade nos meus ombros, agora já sou mãe de jovens adultos, já sou a figura materna e madura e no entanto, por vezes , sinto-me aquela adolescente da década de 70. E penso...qualquer o meu prazo de validade termina e...tudo me parece tão pouco..que tudo se passou a velocidade de cruzeiro..e que a vida é incomensuravelmente curta...
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