domingo, 14 de junho de 2009

Eu não Tenho Terra

Gostava de ter uma Terra. De poder dizer que ia à Terra, como tanta gente diz quando ruma ao destino que os viu nascer e crescer.
Há quem tenha deixado o coração em África, quem recorde para sempre o cheiro do capim ou da chuva entranhada na terra. Acho tremendamente romântica esta nostalgia pelo Continente africano que tantos portugueses têm.
Há quem tenha deixado um bocadinho de si no interior, bem no fundo do mapa, onde tudo é verde e a civilização parece não ter tocado nada, nem ninguém. Deve ser maravilhoso poder levar os filhos a revisitar os locais onde fomos felizes. Debaixo daquela árvore dei o meu primeiro beijo, à beira deste rio fiz deslizar seixos sobre a superfície da água com os meus amigos. Aqui é onde o teu avô plantava tudo o que precisava para sobreviver. Poder mostrar aos filhos que se pode viver da terra, da nossa terra.
Há depois aqueles que emigram e que levam dentro do corpo a saudade física do que ficou. Há medida que o tempo passa Portugal vai perdendo defeitos e vão guardando dele apenas o que importa, o que os comove. O sol, a luz, a comida, o fado e entendem o que quer dizer saudade...
Mas eu não tenho Terra. Sou de uma grande cidade. Não digo que vou à Terra. Digo que vou a Lisboa. Não há uma árvore onde tenha gravado o meu nome, uma casa de família onde cheire sempre a pão acabado de fazer. Não me recordo da minha mãe à volta de um fogão atarefada, nem de refeições barulhentas à volta de uma mesa sem fim.
Eu sou de Lisboa e muito embora saiba que hão de haver sempre lugares nessa cidade muito meus, não tenho uma Terra para onde possa fugir de cada vez que me queira encontrar. De cada vez que sinta vontade de regressar ao essencial.
Há alturas em que sinto falta de raízes.

56 comentários:

Tasha disse...

Olha, já somos duas... Foi preciso emigrar para poder dizer de boca cheia: "Vou á Terra". Agora sabe bem...

Melissa disse...

Tu tens terra. Tu não tens é distância da tua terra para que ela ganhe contornos românticos.
Mas se pensares bem, vais ver que não é bem assim.

Quando passas em frente à tal gelataria na Av. de Roma não te bate o cheiro do Hugo no começo do namoro?

Ou quando passas em frente à tua faculdade, não te lembras daquela canção X que adoravas e o sumo que bebias na altura?

Anónimo disse...

É preciso distanciarmo-nos às vezes, para nos aproximarmos das coisas.

Blue C disse...

Eu até sou de Moçambique, mas vim de lá com 2,5 anos... por isso não tenho memória consciente. Mas sim quero lá voltar. Mas para mim Portugal é a minha terra tbm. Sou uma nórdica de olhos azuis com sangue latino e africano (grande mix!). E quando viajava mto em trabalho costumava dizer que o melhor das viagens não era ir a Barcelona ou Londres ou Brasil... o melhor era o regresso a casa, à comida portuguesa(em especial o pão), às ruas conhecidas e ao cheiro da minha casa.
Por isso tal como uma casa não faz um lar (como dizem os U2), também a tua terra é onde e o que quiseres.

Irina A. disse...

Eu sou uma sortuda, todos os dias vou à minha terra, passo ali em frente à Maternidade Alfredo da Costa e fico toda feliz ahahahah

Como diz um grande amigo meu: "O Dono da terra morreu, agora quem tem terra sou eu" ahahahaha

Olha mais um ataque de parvalheira. ahahahah

Ana C. disse...

Tasha tu dizes vou à terra? Ah Ah Ah, estás a verdadeira emigrante ;)

Ana C. disse...

Melissa por isso é que eu digo que é preciso emigrar para sentir a terra à distância. Ora como eu vivo tão perto...
E não compares a Av. De Roma com uma paisagem africana por exemplo. Esta é bem mais romântica :)

Ana C. disse...

Hyndra aí está uma frase que adorei...

Ana C. disse...

Blue C viajar quando se tem para onde regressar torna as viagens muito mais ricas sim...

Ana C. disse...

Kitty tu não páras nem com a garganta inchada!!!!!!
Eu sei que tens terra e que até trazes cebolas de lá, por isso não me venhas com a Alfredo da Costa :)

Melissa disse...

Ora bolas, se "deixaste o coração em Av. de Roma", Av. de Roma é a tua África.
MAKE DO!
Eu tenho terra mas adoro voltar é para casa, mesmo.

R disse...

Olá Ana C.
Se não tens hipótese de ter terra de pais ou avós e o teu marido também não, devias ir pensando em arranjar uma terra "de adopção". Uma que gostem, escolhida por vocês, para quando quiserem sair de Lisboa para descansar, para viver a vida sem correrias. Olha que também é muito giro. Conheço várias pessoas que o fizeram, até casais bem novos. Procurar a nossa "aldeia". Podes escolher até X quilómetros de Lisboa, pode ser para o Alentejo, para o Centro ou mais para o Norte. Pensa nisso. Acho que tu és a mulher certa para fazer este tipo de coisas.Já pensaste o sossego que vais ter para escrever os livros que nós queremos ler? Beijokas

Senhor das Chaves disse...

Já Sócrates (não o nosso primeiro, mas sim o original), escrevia: Não sou grego, nem ateniense. Sou cidadão do mundo" :o)

Podes fazer o mesmo. Só quem não tem terra consegue abraçar um mundo inteiro :o)

Ritinha disse...

A minha "terra" tambem e uma grande cidade, o Porto. Mas para mim ir ao Porto nao e ir a grande cidade. E ir a Foz, onde nasci e cresci e onde quase todos os sitios por onde passo tem "uma arvore gravada", um significado especial. Sou filha unica e a minha mae nao sabe cozinhar, mas tenho a minha empregada que esta conosco ha 33 anos e o cheiro a pao da padaria da rua de tras que e trazido pelo vento.
E viva o ligeiro sotaque do Porto!!!!! (genero Abrunhosa, mais nao porque e feio... :)

The New Black disse...

Mas as tuas raízes estão em lisboa e isso n tem nada de mal. A terra é o que tu quiseres. O local de férias de infancia, o siyio de brincadeiras, tudo. Basta quereres. Um beijo grande

Izzie disse...

Gostei mesmo muito deste post Ana.
Porque, de certa forma, é bem verdade o que dizes. E isto é aquela característica que desde sempre se associa às cidades... a falta de algo mais pessoal, mais recatado...
agora que estudo numa cidade, dou muito mais valor a ter um cantinho, para onde voltar ao fim de uma semana de trabalho. Voltar aos tantos lugares que são como a minha casa...
é realmente muito bom.

Um beijinho

Pp_FANTASMA disse...

Eu tenho terra. Lisboa é a minha terra:)É, é!

Marshmallow disse...

Gosto mais da expressão Inglesa "I'm going home", pois a nossa casa é onde ficou o nosso coração. Embora aos poucos já me esteja a habituar a considerar England a minha casa...

Ceres disse...

Lembro-me que quando era miúda os verões em Lx eram uma seca pois todos os meus amiguinhos iam para a terra dos pais e avós e eu ficava sozinha :( desterrada, lol
Mas a minha terra é definitivamente a soalheira Lisboa! E é engrançado como outros portugueses me dizem sempre o quão lisboeta sou... Eu aceito-o sempre como o elogio ;-)

Only Words disse...

Como diz a Hyndra, e muito bem, por vezes a distância aproxima-nos das coisas. Faz crescer em nós o sabor da saudade, dos momentos passados e vividos em determinado local, como por exemplo, a nossa terra, seja ela uma aldeia ou uma cidade ;)

Ana C. disse...

Mariinha sabes que a tua magnifica ideia já me passou tantas vezes pela cabeça.
Para além da praia que tenho que dar à Alice, vamos ter que arranjar um poiso no campo algures no país. Para termos sempre férias inesquecíveis ;)

Ana C. disse...

Sr. Das Chaves obrigada pelo teu conselho filosófico, mas eu não aspiro à sapiência do Sócrates nem quero ser apátrida para poder pertencer ao mundo, isso é demasiado poético ;) Queria mesmo era plantar uma árvore e dizer que a minha terra era ali :)

Ana C. disse...

Ritinha o pessoal do Porto é um caso à parte. São tripeiros até à alma e levam o Porto sempre atrás.
Gostei muito das tuas palavras ;)

Ana C. disse...

Sunrise vou ter que arranjar um lugar de férias fantástico ;) Mas a sério que não sinto que tenha terra o que é que se há de fazer...

Ana C. disse...

Izzie e não é que foste a única a perceber exactamente o que sinto?

Ana C. disse...

PP Fantasma eu adorava conseguir dizer isso, mas não posso fugir para a Terra e ir sentar-me debaixo de um chaparro a ganhar raízes ;)

Ana C. disse...

Marshmallow nessa perspectiva o meu lar é o meu lar sim e tenho sempre vontade de regressar onde deixei o meu coração ;)

Ana C. disse...

Ceres quer dizer que és a verdadeira Alfacinha de gema. Eu sou Alfacinha, mas um bocadinho desterrada...

Ana C. disse...

Only Words também adorei a frase da Hyndra, mas uma cidade não tem o mesmo encanto do que a província, pelo menos para mim ;)

Senhor das Chaves disse...

Se o problema é de jardinagem (plantar uma árvore), já consideraste a possibilidade de arranjar um bonsai? Não ocupa muita terra e dá para entreter :o))

JS disse...

Que bonito...

Precis Almana disse...

Ainda estás a tempo. Eu também não tinha terra há uns anos atrás, ou não teria.
Então, o meu pai é de Lisboa, com pais de Lisboa.
A minha mãe, de Moçambique, onde não voltou mais depois de 74. E onde não quer voltar.
Pois que fizeram eles? Éramos nós miúdos, começaram a ir passar férias a Sesimbra, em casas alugadas todos os anos. Depois alugaram uma ao ano. E muito muito mais tarde, mais concretamente há uns 6 anos, compraram lá uma, perto do Meco. E lá vivem hoje. Eu vou "à terra" visitá-los. E é a terra deles por afinidade.

Precis Almana disse...

Ah, e é a "minha terra", claro :-)

Miguel disse...

Tenho um amigo que, lisboeta como tu, "adoptou" uma pequena aldeia bem no norte interior de portugal para onde vai passar as suas férias mais recatadas! Apesar de não ser de lá conhece as pessoas e sente-se acarinhado por elas! Genial, não?

(Tu lembras-te de cada tema...)
;)

InêsN disse...

eu também sou alfacinha mas, felizmente, tenho raízes alentejanas :) não digo "vou à terra" mas digo "vou à família" :D

Ana C. disse...

Senhor das Chaves já matei bonsais demais para tentar arranjar outro. Aquela porcaria é frágil como tudo...

Ana C. disse...

JS bonitos são os teus posts em que arranjas maneira de ligar as palavras às imagens de forma mágica ;)

Ana C. disse...

Precis que engraçado, estive num aniversário no fim de semana passado em Lagoa perto do Meco, numa casa antiga de férias.
Acho que tens toda a razão tenho que começar uma rotina de férias. Nós vamos sempre para o Algarve, mas não é a mesma coisa...

Ana C. disse...

Miguel sabes que isso já me passou pela cabeça? Não digo comprar casa, pois para isso não há grandes recursos, mas alugar uma casinha sempre no mesmo sítio e fazer desse sítio a minha terra, onde a Alice tivesse os seus amiguinhos. Só me falta encontrar o local ideal, aceito sugestões.

Ana C. disse...

InêsN raizes, é isso mesmo que preciso, raízes...

Precis Almana disse...

Acerca das raízes, encontrei o que queria mostrar-te e que tem que se lhe diga:

"As raízes enfiam-se na terra, contorcem-se na lama, crescem nas trevas; mantêm a árvore cativa desde o seu nascimento e alimentam-na graças a uma chantagem: «Se te libertas morres!». As árvores têm de se resignar, precisam das suas raízes; os homens não", de Amin Maalouf, Origens

Daniel Monferrato disse...

A nossa Terra, o sítio que sentimos como nosso. Um local que nos traz boas recordações e memórias, mas também aquele que nos continua a permitir boas vivências.

http://danielandgabriella.blogspot.com/

Ana C. disse...

Precis mas as raízes também têm o seu lado bom...
Agora até fiquei assustada com o lado negro das raízes, mas gostei dessa perspectiva :)

Ana C. disse...

Daniel é mesmo isso que tenho que encontrar para lá voltar :)

Marquês de Sade disse...

Podes sempre vir cá... Tens a porta aberta!

Bjinho

Anónimo disse...

tens pátio ou jardim??

se nao, um vaso, grande, serve. compras um saco de terra, e umas sementes de aluma arvore que gostes do supermercado, chegas a casa, poes a terra no vaso, plantas as sementes, regas todos os dias, e vais ver daqui a uns tempos já tens raízes; algum tempo depois terás a árvore para escrever o teu nome;)

e quando uma amiga te ligar e estiveres a ir regar a tua arvore, podes sempre dizer que vais à terra:P

eheh

desculpa, o meu humor hoje está ao contrario do tempo...esse está bastante humido!

Rainha disse...

A minha "terra" é a minha casa. É a aldeia onde cresci, onde nasceram os meus pais e os meus avós, bisavós e por aí adiante. É onde me sinto bem e onde gosto de regressar, apesar de nem tudo ser perfeito. Se algum dia quiseres conhecer tens a porta aberta. Talvez sirva de "terra" de adopção....

JBrito disse...

Eu tenho terra, EU sou da Damaia (Amadora), nasci sim na grande cidade, mas sou da Damaia esta é a minha terra!
Ali tenho as minhas memorias, o cheirinho da madeira da serração queimada de vez em quando por motivos de regularização de dívidas e seguros, do lixo não vazado, do óleo das oficinas nas traseiras, das arvores que davam camarinhas para acertar nos olhos dos meninos azuis, do lume das barracas do ciganos, da mercearia do Sinhor Pinto, dos assaltos, dos acidentes, das zaragatas, das cuscas, das queixas só porque andava nos telhados, ali cresci, ali aconteceu tudo e mais alguma coisa e nenhuma, eu tenho uma terra, ela é ali na Damaia.
Isto vai dar um post aqui http://jorgebrunabrito.blogspot.com/, obrigado Ana C.

Ana C. disse...

Marquês e tu és de onde mesmo? Para seres Marquês deves ter uma Propriedade centenária cheia de histórias :) Olha aceito o convite!

Ana C. disse...

Hannah sua granda maluca!!! Eu até tenho um pequeno jradim com algumas árvores, mas dizer que vou ali à terra quando me aproximo do jardinzeco é humor negro :)

Ana C. disse...

Rainha Mãe estás a ver como é bom ter um cantinho para onde possamos regressar de vez em quando? É onde a tua terra?

Ana C. disse...

JBrito AH AH AH AH AH AH AH AH AH AH AH AH AH AH AH AH AH AH AH AH AH
Aguardo o post sobre a tua infância idílica por terras da Damaia. Mas só o teu comentário já me fez ir às lágrimas.

Anónimo disse...

eheheheh...denoto algum preconceito quanto à cor do meu humor??? eheheheheheheheh, brincadeirinha;)

JBrito disse...

Pois já está; http://jorgebrunabrito.blogspot.com/2009/06/minha-terra-damaia.html

Rainha disse...

Ana C. moro numa aldeia juntinho a Viseu. Existem por perto muitos sítios bonitos. Vale a pena visitar.

Banita disse...

A minha terra, herdada do meu avô e bisavô é Esmolfe. É a terra de onde são originárias as Maçãs Bravo de Esmolfe! É uma aldeia pequena da qual tenho imensas memórias, juntinho a Penalva do Castelo, concelho de Magualde, distrito de Viseu. Daqui a uns anos, compras uma casinha perto da praia (Comporta, Melides) e dás à tua Alice férias com sabor a água salgada e relax para ti e para o teu jeitoso!