Distraída a olhar as montras, sinto a mão da Alice no bolso de trás das minhas calças de ganga, puxando-o até me deixar praticamente com as cuecas à mostra, dou uma rápida olhadela ao António e ele não está a dormir, está a olhar para mim.
Distraída a ver os dvd's da Disney na Fnac com a mão da Alice nas caixas coloridas dos filmes e finalmente fora do meu bolso, ajeito as calças para cima e dou uma rápida olhadela ao António. Ele não está a dormir, está a olhar para mim.
Sigo para a secção dos meus livros, quero comprar o último do Ken Follet, não me posso dar ao luxo de ficar por ali a ler as contra-capas, a folhear, pois tenho uma mão no bolso traseiro das calças e um chorrilho de perguntas que não me deixa descansar. Dou uma rápida olhadela ao António e ele ainda não está a dormir. Está a olhar para mim.
Sigo para a caixa, pago o dvd e o livro e a senhora da caixa diz-me com um sorriso de orelha a orelha:
- O que ele olha para si, já viu?
E só então eu caio em mim e desligo o turbo. Detenho-me a olhar para ele também e a pensar como não há rigorosamente ninguém que olhe para nós tanto tempo sem se fartar como um filho pequeno. Com um olhar brilhante e carinhoso que não desiste da nossa imagem, que a foca sem lhe perder o rumo, como se fossemos uma espécie de farol no meio de uma noite de tempestade. A única coisa do mundo deles. Caramba, nós somos o mundo deles. Há coisa melhor para nos encher de amor até ao fundo bem fundo? Não me parece...
Isto dura pouco, muito pouco acreditem e eu tenho andado a deixar escapar demasiados olhares, demasiadas expressões, demasiadas emoções. Por vezes a rotina e as tarefas diárias engolem-nos sem dó nem piedade arrancando-nos o melhor da vida e a vida avança inexoravelmente, não espera por nós.
Grandes diálogos: O Apartamento
Há 1 mês
11 comentários:
São uma ternura. Já viste o que tu representas para ele? És tudo!
Aceitas um conselho de amiga?
Põe o carro da vida, a rolar mais lentamente, saboreia este tempo Ana. Não andes muito acelerada, recusa-te a viver a 200 à hora. Cansas-te mais, e tal como numa viajem, se não páras para observar,não disfrutas o passeio.
Beijinhos para os 3 AAA.
Sniff Sniff, n estou em condições de ler posts destes. Antigamente precisava de uma cebola, hoje em dia sou a própria da cebola!
Adoro, adoro, adoro, adoro, quando falas dos teus "piquenos" :)
vou ali lamber o meu.
Pois é... Agora até me deste vontade de chorar!
que bonito Ana.
não percas nada disso...
como te dizem em cima, anda mais lentamente.
Passa num instante... Eu tenho tantas saudades dos meus sobrinhos assim. E eu não era a mãe! Mas eles também olhavam muito para mim. E eu gostava.
Não há nada que se compare a este olhar, penetrante até à alma, que nos envolve em amor...
Aproveite-o bem!
:)
E quando aparece de repente na cozinha, onde parece que já estamos há horas, numa pausa das brincadeiras que estava a fazer com o pai, e me agarra as pernas num abraço forte?...
Nem há mãos sujas de peixe que me prendam e fico sem outra hipótese, se não baixar-me e retribuir...
:)
Deve ser uma sensação maravilhosa sentirmos que somos o mundo para alguém... bjs
Amei ler este teu texto!
Focaste algo tão importante que possivelmente muitas das pessoas não tempo de parar para refelctir sobre isso.
Realmente somos o mundo dos nossos filhos e eles são o nosso!
Haverá algo mais importante na vida que isso?
Deixo-te um beijo grande no teu coração
eu, que ainda nao sou mae, adorei ler este texto! Lindo
Enviar um comentário