quarta-feira, 11 de novembro de 2009

A Segunda Maternidade

A minha mão fria na tua testa, a tua mão a ferver dentro da minha. O teu corpo quente sobre a minha barriga inchada, enquanto caminho de um lado ao outro do quarto tentando cantar-te coisas sem nexo que não ganham vida através da voz.
Um banho tépido para que arrefeças pela madrugada, enquanto os teus pais, quais companheiros de batalha, se revezam de joelhos para te molharem a febre embora.
Copos com água que sorves com a palhinha que te fui buscar à cozinha, a cozinha onde o único som é o dos ponteiros do relógio que me dizem que é tarde.
A minha própria tosse é abafada para não te despertar do ligeiro sono em que caíste e eu relego-me para segundo plano. O teu pai adormece finalmente e eu olho-te, dando tudo para trocar de lugar contigo. Depois um pequeno movimento dentro de mim, como se tivesse estado à espera que parasse para se revelar. E lembro-me.
Lembro-me que além da vida toda que prossegue ele também continua aqui dentro e com menos de metade da atenção que prestava à sua irmã.
Digo-lhe: Vá, companheiro, agora a mãe vai fechar um bocadinho os olhos. E é tudo.
A segunda gravidez é vivida de uma forma assustadoramente diferente da primeira, sem sombra de dúvida. Ultimamente os meus momentos a dois são uma espécie de dois minutos por dia. O suficiente para lhe dizer que estou aqui apesar de tudo.

28 comentários:

Miguel disse...

E, apesar de tudo isso, ser Mãe será sempre a maior aventura de tua vida...

Lebasiana disse...

pois... imagino que seja bem diferente...

jinhos

Lídia Borges disse...

Um texto muito realista e, no entanto é de sonhos que fala. Os filhos são sonhos lindos!


Um beijo

Lia disse...

Mas o amor é o mesmo, não? E tu mostra-lo de uma forma tão bonita!

Ginguba disse...

Ele está lá protegido, quentinho,com todo o teu ser só para ele! A Alice está já exposta ao mundo e se está doente, acredito que preferias estar tu em vez dela! É isso que eu sinto ainda hoje qdo a minha filhota fica doente. É a parte mais difícil de ser mãe!

Daniel Monferrato disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Daniel Monferrato disse...
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Daniel Monferrato disse...

Aproveito apenas para dizer que continuo a ler diáriamente, mas mal tenho tido tempo para postar, quanto mais para comentar (com muita pena minha).
Continuo a gostar muito do que leio aqui.

gralha disse...

É bem verdade. Espero que não dêem pela diferença, pelo menos enquanto estão dentro da barriga...

continuando assim... disse...

é um amor... que faz mesmo mover montanhas ... ser mãe é a elhor coisa do mundo , e é nosso previlégio :)

bj
teresa

PiXie disse...

Adoro a forma como vês as coisas e transmites o que sentes... mesmo não sendo mãe, consegues fazer-me entender o que dizes e sentir empatia. Adorei este texto!
Bjs e as melhoras da Alice :)
(não penses que nos últimos tempos os momentos a 2 são só 2 minutos por dia...! já pensaste bem que ele e tu, estão 24 horas por dia unidos de uma forma que mais ninguém consegue?...)
:)
xx

Madame Pirulitos disse...

Vai ser impossível dar exactamente a mesma atenção aos dois. Estar grávida do terceiro, com dois cá em casa para cuidar, faz-me perceber que o tempo para o pirulitinho dentro da barriga não é muito, não senhora. Compensa pensar no que vai ganhar por ter dois irmãos mais velhos,cúmplices, que o vão ajudar a crescer, a conhecer as rivalidades, os ciúmes, as partilhas, o companheirismo. Não fazem o papel de pais, de todo, mas ajudam imenso no desenvolvimento da relação de pares.

beijos

Melissa disse...

Estava a pensar nisso outro dia, logo eu, que sou dada a culpas. O meu próximo filho vai ter metade da atenção do Gabriel. Nó na garganta!

Agora a ler o teu post, lembrei-me de que, para compensar, terá o amor de uma pessoínha extra. Suspirei de alívio. O meu próximo filho terá seis mãos a fazerem-lhe cócegas cá de fora, em vez de quatro. Mais um amor.
Só pode ser muito bom!

Precis Almana disse...

Eu sou irmã mais velha de quatro, fui filha única durante dois anos (a Alice mais, mas pouco mais). Hoje em dia não me lembro te o ter sido - portanto aquela ideia de que a Alice terá tido mais atenção acaba por, na prática, não ser sentida futuramente (não sei se fui clara).
Essencialmente o que quis dizer é que não te preocupes que a atenção e o amor vão chegar para os dois.
E que, de facto, a ligação entre ti e o António é permanente neste momento...

Ana C. disse...

Miguel disso não tenhas dúvidas. Cada vez percebo mais que os filhos são o que muda realmente a vida de alguém...

Ana C. disse...

Lebasiana eu nunca pensei que fosse TÃO diferente ;)

Ana C. disse...

Lídia podemos encontrar sempre material de sonho na própria realidade sim, é só não fecharmos os olhos ;)

Ana C. disse...

Lia eu penso que o amor por um filho só começa a sentir-se mesmo na sua plenitude a partir do momento em que o vês de carne e osso, em que ele entra de pleno direito na tua vida. É um crescendo. Mas não tenho dúvidas de que o amor será o mesmo sim senhora.

Ana C. disse...

Ginguba nem mais. Enquanto ele estiver aqui dentro não tenho que me preocupar com nada :)

Ana C. disse...

Daniel obrigada pelas tuas palavras e não stresses, tenho fases exactamente assim.

Ana C. disse...

gralha é claro que não dão ;) I hope so...
Cá fora é outra história.

Ana C. disse...

continuando assim é bem verdade, mas penso que o amor se materializa de verdade quando os temos cá fora...

Ana C. disse...

Raquel e eu adoro os teus comentários :)
Tens razão ele está comigo 24 horas por dia, mas acreditas que nem tenho tempo para pensar nisso?

Ana C. disse...

Madame Pirulitos é natural que o bebé que está dentro da barriga, protegido e cuidado nos dê espaço para cuidarmos dos que estão cá fora. Temos que gerir e distribuir prioridades, não é?

Ana C. disse...

Melissa mas o estranho é que não me sinto culpada, sinto que é assim mesmo que tem que ser. A ordem natural das coisas, entendes? Sinto muito amor na mesma, simplesmente tenho que cuidar de um milhão de coisas cá fora que não tinha quando foi da Alice.

Ana C. disse...

Precis eu só falo do tempo em que ele está dentro da barriga. É claro que quando estiver cá fora o amor se desdobra nas vezes que forem necessárias sim. Tens toda a razão :)

Eva disse...

É maravilhoso...quando se trata da família, a tua escrita transpira amor!!!
Espero que a Alice esteja melhor; caso não esteja e quando voltar a acontecer, experimenta fazer baixar a temperatura com sumo de maçã reineta morno...nunca precisei mas acho que é super eficaz sobretudo com as crianças.

Eva disse...

É maravilhoso...quando se trata da família, a tua escrita transpira amor!!!
Espero que a Alice esteja melhor; caso não esteja e quando voltar a acontecer, experimenta fazer baixar a temperatura com sumo de maçã reineta morno...nunca precisei mas acho que é super eficaz sobretudo com as crianças.