domingo, 5 de julho de 2009

Na Saúde e na Doença


No mesmo dia em que morria Michael Jackson, alegadamente de overdose de um qualquer medicamento para o adormecer, deixava também o mundo dos vivos Farah Fawcett.
O primeiro com uma morte indolor e provocada, a segunda com uma morte sofrida e evitada.
Só ontem, quando tentei ver o documentário que ela gravou sobre os seus últimos anos, me apercebi mais uma vez de como a luta contra um cancro agressivo é das batalhas mais duras, mais atormentadas. Tão cheias de avanços seguidos de retrocessos, de dor física e espiritual, de esperança que se esfuma, que volta a nascer, para logo de seguida ser derrubada mais uma vez.
Chorei baba e ranho de cada vez que via a expressão de Ryan O'Neil, o seu companheiro de 30 anos, a tentar sorrir para ela, estar lá por ela, dizer o que ela precisava de ouvir. Quando bem no fundo do seu olhar se via que ele não tinha esperança nenhuma.
De cada vez que se apanhava sozinho quebrava e chorava, para logo de seguida rasgar um sorriso na presença da mulher que adorava.
Ele tinha a certeza de que ia perdê-la, ela estava segura que iria viver.
Penso que esta esperança que toma conta do coração de quem está terrivelmente doente é o motor que os faz sobreviver mais do que o esperado, mesmo que isso implique sofrimento, tratamentos agressivos, envenenamento do próprio corpo. Ninguém quer partir sem dar luta, sem ganhar mais um dia junto daqueles que ama, mesmo quando estes definham perante o sofrimento e se sentem o ser mais impotente do mundo...
Vi aqui o significado da frase: Na saúde e na doença e relativizei mais uma vez todos os meus problemas, pequenas queixas diárias, luxos que só quem tem saúde pode sentir.

15 comentários:

Miguel disse...

Lembro-me sempre do caso de uma senhora que vi morrer com cancro da mama, era ainda aluno de enfermagem. O positivismo daquela mulher até ao último momento e o apoio constante da família foi um exemplo de alegria de viver para todos. Não sou muito de chorar, mas se houve história que me tocou, foi aquela. Sim, e os nossos problemas parecem mesquinhos ao lado destas vidas.

DIABINHOSFORA disse...

É bem verdade que, perante casos assim, nós relativizamos os nossos problemas. Também é verdade que as pessoas positivas enfrentam estas lutas pela vida com muito maior probabilidade de serem bem sucedidas. São lições de vida para todos.

Only Words disse...

Viver com a incerteza de o dia de amanhã, ou seja, se ainda cá estaremos ou não, é algo sufocante, aterrador, mas é nestas alturas que muitas vezes conseguimos ir buscar o melhor de nós, na tentativa de viver e aproveitar o que nos resta!

Ana C. disse...

Miguel nós somos muito efémeros mesmo. Quando vejo doentes terminais apercebo-me disso.
E depois há pessoas que são um verdadeiro exemplo de como se vive, mesmo quando estão a sofrer...

Ana C. disse...

Diabinhos só é pena esquecermos rápidamente o sofrimento dos outros...

Ana C. disse...

OnlyWords penso que saber ir com dignidade não é para todos mesmo...

InêsN disse...

o meu pai lutou para além do imaginável...aquilo que descreves foi a nossa vida durante demasiado tempo. o cancro é das coisas mais horríveis que existem..

:(

(é um comentário sem nexo mas para mim nada disto tem nexo)

Naná disse...

A minha mãe sobreviveu dois anos a um cancro de mama apenas porque a vontade e a necessidade de viver era maior do que qualquer outra coisa... mas apesar da esperança nunca ter morrido nela, foi-se desvanecendo com a dor, que a morfina nunca atenuou.
A minha mãe quis viver por mim, para continuar a proteger-me, porque eu era uma menina...
Mas eu cheguei ao ponto em que não podia mais vê-la sofrer e preferi que ela baixasse os braços e deixasse de lutar, mas ela nunca o fez... até morrer! Porque a esperança de viver acabou no dia que ela morreu...
Esse foi o exemplo maior que ela me deixou: nunca deixar de lutar por aquilo que queremos!

Ana C. disse...

Inês sabes o que te digo? Que puta de doença que leva toda a gente sem dó, nem piedade.
Um grande beijinho para ti.

Ana C. disse...

Naná o que me contas foi exactamente o que vi neste documentário. O companheiro dela não aguentava vê-la sofrer mais, mas ela parecia investida de uma força que não a abandonava nunca.
Um grande beijinho para ti também. Fico sempre abalada com histórias de cancro. É uma doença maldita.

Precis Almana disse...

Os nossos problemas são mesquinhos, tens toda a razão, e esse é um dos meus lemas de vida. Só que somos nós que os sofremos. E a doença dos outros são os outros que as sentem. Só conseguimos relativizar os nossos problemas e doenças, achá-los pequeninos, quando nos colocamos no lugar dos outros e dizer o que dizes. E isso é coisa que não há muita gente que consiga fazer...
A minha irmã falou-me do documentário quando ele deu da primeira vez, no sábado passado. Falhei nessa altura e falhei agora, pelos vistos...

Anónimo disse...

é por estas e por outras que adoro ler o teu blog....deixas-me a pensar...
beijinhos

Ana C. disse...

Precis o Hugo tinha-me gravado o documentário, mas eu só arranjei coragem para o ver mais tarde... É muito pesado.

Ana C. disse...

Hannah muito obrigada.

Maria disse...

É me dificil perceber é onde é que as pessoas vão buscar tanta força para enfrentar situações assim.

beijinho.