Apercebi-me com alguma calma e muita nostalgia que nós mães veremos sempre os nossos filhos da mesma forma. Eles são quem segurámos no colo, quem acalmámos nas noites de choro, a quem demos a mão para transmitir segurança num certo momento, a quem cantámos para que adormecessem, com quem conversámos sobre o que os apoquentava, quem beijámos durante o sono noites e noites sem fim. Os nossos filhos serão sempre bebés, crianças, jovens, adultos condensados numa única pessoa. Muitas vezes vamos querer pegar-lhes de novo ao colo e já não poderemos fazê-lo. Outras tantas desejaremos que nos perguntem sobre tudo e sobre nada e eles já não recorrerão a nós para as questões importantes. Mas nós mães permaneceremos aqui de braços prontos para dar colo durante uma vida inteira.
Em oposição a este sentimento imutável, os filhos mudarão sempre os sentimentos em relação a nós. Passaremos de heroínas a chatas. De companheiras que tudo entendem, a adultas que nada percebem. Muitos filhos verão mais tarde os pais como um fardo, pesado demais para carregarem sozinhos, depositando-os numa daquelas antecâmaras da morte mesmo quando teriam condições para não o fazer e nunca lembrarão que aquela pessoa agora tão pesada nas suas vidas, foi quem lhes acalmou as dores nas noites de pranto, quem lhes levou o medo embora com a sua mera presença.
Por tudo isto estou cada vez mais certa que este amor é de facto o mais puro de todos, aquele que nada pede em troca além de um sorriso nos lábios dos filhos e que se conforma mesmo quando é preterido por tantas outras coisas menos importantes.
Grandes diálogos: O Apartamento
Há 1 mês