Isto de passarmos uns dias no interior de um hospital, ainda que apenas de visita como foi o meu caso, traz-nos sempre uma perspectiva espantosa de dentro das coisas. Uma visão que só quem passou por ali guarda.
Hoje gostava de falar dos enfermeiros. Não sobre aquilo que eles pensam da sua profissão, dura, mal paga, tantas vezes deprimente, cheia de líquidos orgânicos, catéteres, sangue, fezes, urina, maus cheiros, gemidos, gritos. Tão cheia de decadência humana que muitas vezes os desumaniza, transformando-os em autómatos que cumprem funções atrás de funções já sem o entusiasmo do princípio de tudo. Enfim, não sob este ângulo, mas sob o ângulo de quem precisa deles, de quem os vê chegar como uma lufada de ar fresco, como uma ponte entre o doente e o médico.
Será que os enfermeiros sabem como importam na equação de tudo? Como o som dos seus passos no chão de linóleo significa o quebrar da solidão tantas vezes sentida por quem está na cama de um hospital?
Será que eles sabem mesmo que uma expressão sorridente, ou mal encarada faz toda a diferença do mundo para quem está do lado de cá?
Será que eles sabem que fazem parte da gigantesca corrente que salva vidas, que ameniza dores, que trata as feridas? Ou com o passar dos anos vão esquecendo que são importantes na equação final?
Acreditem que não são meros acumuladores de tarefas ingratas. Esta simples visita gostou de se sentir apoiada, de ver que além de se preocuparem com o marido enfermo, também arranjavam tempo para se preocuparem com a minha gigantesca barriga e fazerem-me sentir um bocadinho menos cansada...