quinta-feira, 31 de dezembro de 2009

Sonho Para um Dia



Enrolada numa manta de xadrez com uma caneca de café a aquecer-me a palma da mão. O único ruído de fundo é o crepitar da lenha na lareira centenária, interrompido apenas pelas páginas de um livro antigo que releio e cuja história ainda me faz sorrir. Ninguém me interrompe, passo o entardecer ao meu próprio ritmo, sem me reger pelos ritmos alheios.
Inspiro o odor do café só para me lembrar como é bom ter café por perto, nem que seja apenas para lhe sentir o cheiro. Fecho os olhos e cedo ao calor envolvente, apesar de a janela me mostrar que lá fora tudo está branco e vergado ao frio e ao vento.
Volto a sorrir à medida que me reeencontro, a Ana esquecida lembra-se que existe além de uma vida de rotinas. Na manhã seguinte estarei pronta para tudo outra vez com redobrado ânimo.
Sempre achei que sabermos estar connosco próprios é tão importante como sabermos relacionar-nos com os outros.

quarta-feira, 30 de dezembro de 2009

A Mãe Natureza, Essa Grande Sacana

Sim a natureza está muito bem feita. O meu organismo produz hormonas suficientes para matar um cavalo, hormonas que ajudam a tornar os meus queridos órgãos internos mais maleáveis de forma a poderem ser comprimidos por um bebé de percentil elevado, compressão essa que origina as mais variadas sensações, garanto-vos, nem todas elas comoventes.
Mas tudo isto é boato, porque na realidade a mãe natureza, essa grande sacana lixa-nos bem lixadas de dentro para fora e de fora para dentro. Se ela nos amasse mesmo arranjava forma de a grávida hibernar no último mês de gestação, não a acordava durante a noite mais de 124 vezes sujeita às maiores provações enquanto o resto da família dorme tranquilamente. Se a mother nature fosse essa grande porreira punha-nos em modo Stand-By, preparando-nos para as noites sem dormir que ainda estão para chegar. Mas não, ela arranca-nos as poucas forças que nos restam só para depois nos lançar nos primeiros meses de maternidade sem preparação física, sem dó nem piedade, como a vilã que é.

Estou uma Fofinha


Eu que não gosto de autocolantes fofinhos em tudo o que mexe, que odeio encher o carro de triângulos a dizer Bebé a Bordo, ou Princesa a Bordo, ou Gaja Tarada com grave desequilíbrio a Bordo, com Hello Kittys, ursinhos Gummy e afins, agora deu-me para decorar o meu mini-computador recém-nascido.
Ceder a um súbito impulso de embelezar um aparelho informático e torná-lo fofinho quererá dizer o quê?
O que é que se seguirá? Fiquei com medo. Vou proteger o meu carro de mim mesma e trancá-lo na garagem enquanto esta fase não passar.

terça-feira, 29 de dezembro de 2009

Passagem Para Onde?

Nunca gostei de passagens de ano. Mesmo quando fervia nos vapores de adolescência e celebrava as doze badaladas com gritos de euforia, era ´tudo falso. Não sentia alegria nenhuma, tirando a alegria das imperiais.
O que é que eu celebrava? Doze meses que aí vinham e sobre os quais nada sabia ainda? Aquilo era deveras estúpido, mas como era jovem e sociável lá ia eu para um sítio qualquer festejar sabe-se lá o quê. A meia noite passava e eu não sentia nada, nem magia, nem expectativa, nem euforia. Era só mais um dia a seguir ao outro, sendo que o outro era passado com a má disposição pós-bebedeiras.
À medida que a maturidade, ou a chatice assumida, foi tomando conta de mim deixei de ter vergonha de dizer que não ia fazer nada na passagem de ano. Dormir era sempre uma excelente alternativa.
Hoje em dia como não posso simplesmente ir dormir, pois sou uma gaja casada e o meu marido aprecia a minha companhia, ponho dois palitos nos olhos e lá fico ansiosa à espera da meia noite. Ansiosa porque sendo aí meia noite e um quarto já posso tirar os palitos dos olhos.
Se com o Natal me reconciliei depois dos 30, com a passagem de ano a coisa tende a piorar a cada ano que passa...

segunda-feira, 28 de dezembro de 2009

Bazale Chinês

Provavelmente os adeptos do Bazar Chinês, da loja do Chino, ou da tai-chi-do loja-do-clepe, vão atirar ovos virtuais na minha direcção, mas não quero saber, tenho que tirar este peso do meu peito, principalmente depois de terem oferecido à minha filha um jogo manhoso, revestido de um pó branco suspeito, coberto de arestas cortantes e de som ronfanho e estridente, capaz de fazer um mouco ressuscitar o tímpano.
Aqui vai:
Eu odeio as lojas do chinês.
Sim, já sei que tudo o que compro fora da loja do chinês é feito na China, mas o que é que querem, eu não gosto daquilo e ainda gosto menos quando me oferecem coisas vindas de lá.
Ainda recordo um Natal não tão distante quanto isso e uma mesa coberta de velinhas idílicas encarnadas que explodiram uma a uma como fogo de artifício em miniatura. Ora adivinhem lá de que loja eram provenientes as lindas e artilhadas velas?
Já para não falar dos guarda costas que cada uma dessas lojas contrata para andarem a perseguir quem se aventura a lá entrar, com olhar de ferro na direcção de cada cliente que penetra nas pechinchas.
Não, sinceramente, já sei que tem tudo fantástico e praticamente dado, mas estas alergias não se explicam e depois sou uma medricas do caraças e convenci-me que as sabrinas que eles vendem lá a 4 euros são feitas de pele de pénis de cão, revestidas de plástico explosivo que detona com o calor e não arrisco...

domingo, 27 de dezembro de 2009

Ressaca Natalícia Não Há

Mas ninguém está cansado de compras? Como é que ainda há gente com capacidade financeira e emocional para se enfiar nos Shoppings, nas filas para estacionar, nas filas para pagar, nas filas para andar, nas filas para almoçar, para lanchar, para jantar?
Aquilo não esvaziou depois do Natal, triplicou. Não pode ser normal, por favor vão para outro sítio qualquer, isto faz-me impressão...

sexta-feira, 25 de dezembro de 2009

O Meu Presente Misterioso Era...



O pacote da Fnac que cheirei, espreitei, abanei.Cuja estatura, estrutura, peso e dimensões avaliei com minúcia revelou-me este mini-computador branquinho cheio de estilo e maravilhoso no qual escrevo já de patas para cima no meu leito nupcial.
O Hugo excedeu-se, percebeu a mulher espantosa que tem ao seu lado e fez-me esta surpresa em larga escala. Isso, ou então quer comprar o meu silêncio por um longo espaço de tempo, que é como quem diz, ter-me querida e derretida ao seu lado por mais de dois dias seguidos. Vou tentar ser tudo isso para ele, juro que vou. Pena ter passado a noite de ontem sem pregar olho. Comigo é tudo ao contrário, os enjoos e náuseas de princípio de gravidez deram-me no fim do tempo...

quinta-feira, 24 de dezembro de 2009

So This Is Christmas



Uma das minhas músicas preferidas de Natal, da autoria de John Lennon com um milhão de interpretações diferentes. Escolhi esta do Robbie Williams para vos oferecer.
Um feliz Natal.

quarta-feira, 23 de dezembro de 2009

E Porque Não Agradecer?

Seguindo uma boa ideia da Melissa que decidiu em jeito americano, dar graças em vez de pedir graças, decidi copiá-la e deixar o repto a quem passe por aqui.
Tal como quando faz frio lá fora fecho os olhos e agradeço o tecto sobre a minha cabeça, acho que o resto da minha vida também merece que feche os olhos e agradeça pelo menos uma vez por ano.
Por isso agradeço a saúde, os contratempos sempre regados de alguma alegria, agradeço os abraços, os beijos, os sorrisos, o amor.
Agradeço a sensação de vazio quase sempre resgatada pela plenitude que a preenche. Agradeço as quatro mãos sobre a minha barriga gigante e a vida lá dentro.
Agradeço ter conseguido ver quase sempre o lado bom em detrimento do mais escuro.
Agradeço a amizade, o conforto das palavras alheias.
Agradeço ter os pés quentes nos dias frios e o coração agasalhado pela família que construímos.
Agradeço ter-me reconciliado com o Natal graças à minha filha.
Nada de pedidos, nem preces por tudo e por nada, pois tudo o que vier depois de agora será lucro.

terça-feira, 22 de dezembro de 2009

Uma História de Partir o Coração

Há várias histórias que me partem o coração, outras há que o reacendem com muita intensidade.
Hoje o meu coração ficou pequeno, encolhido quando da boca da minha empregada ucraniana saiu um desabafo na minha direcção:
- A Ana acha que ninguém vai à festa de anos do meu filho porque nós somos estrangeiros?
Fiquei muda, sem entender muito bem. Ela tem um filho lindo de morrer, olhos azuis do tamanho do céu, cabelos loiros, muito bem educado. É o Miguel que tem 4 anos.
- Ninguém vai à festa dele, como assim?
- Alugámos um espaço muito grande com palhaços, convidámos 30 meninos e nenhum deles pode ir.
Fiquei muda, tentei pensar numa resposta que a aliviasse, mas as lágrimas da mulher de ferro que limpa como uma máquina e nunca falta ao trabalho, roubaram-me o consolo possível.
- Sempre que ele é convidado para uma festinha de anos leva uma prenda boa, não leva porcarias...Eu não sei o que dizer ao Miguel, só choro...
Meu Deus a quem ela foi pedir consolo, só me apetecia abraçar-me à mulher e chorar solidária com aquela dor de mãe que gostaria de poder evitar todo o sofrimento aos filhos.
Eu não consigo acreditar que 30 miúdos tenham uma boa desculpa para não irem a uma festa de aniversário, simplesmente não consigo. Mas disse-lhe precisamente o contrário, que provavelmente teriam um motivo forte para não irem...

Domésticas na Política


Por mais voltas que dê à cabeça não consigo, simplesmente não consigo entender como é que a Cimeira de Copenhaga falhou com uma mulher deste calibre presente.
Qual Obama qual quê! Então com a nossa Ministra com cabelo semelhante a uma nidificação natural sem camada de ozono, como, como é que as negociações falharam? Eu estava mais do que convencida que a mulher ia lá chegar e partir a loiça toda. Bater o pé com tamanha violência, utilizar o seu poder oratório com tal eloquência, o seu carisma com a vitalidade a que nos acostumou e resolver a questão em poucas horas. Mas enfim, se calhar faltou-lhe a ajuda de outra cara carismática do nosso panorama político. É que as duas fazem de facto um par imbatível. Não há empresa da Moly Maid que não as queira contratar.

segunda-feira, 21 de dezembro de 2009

Apelo

Homens da Blogosferolândia (não todos, mas grande parte) e algumas fêmeas também, por favor deixem de usar preto como pano de fundo dos vossos escritos.
Não sei se foi do laser na retina, de resquícios da antiga miopia, se defeito cerebral puro e simples, mas a realidade é que me custa horrores ler o que quer que seja no negrume.
Sim, faço alguns sacrifícios por alguns bloggers míticos, mas acabo sempre a lacrimejar no final...

domingo, 20 de dezembro de 2009

Papéis Trocados

Sei que alguma coisa está terrivelmente trocada aqui em casa quando a Alice me apanha a rondar o presente que o pai me comprou na Fnac, abanando-o, tomando-lhe o peso, tentando espreitar pela frincha do papel e com um olhar de repreensão me diz:
- Ó mãe só abrimos os presentes no Natal!
Eu faço um sorriso envergonhado e digo-lhe:
- Estava só a arrumar melhor fofinha.
Nota que reforça toda esta troca de papéis:
Não a apanhei nem uma vez a fazer o mesmo que eu. Aguarda serena a noite de 24.
Já eu que estava a contar com um embrulho de uma loja de roupa, deparei-me com um pacote pesado da Fnac. Nem dormi bem de noite...

sábado, 19 de dezembro de 2009

Dedo Preso

Já me aconteceu praticamente tudo quando vou com pressa para chegar a algum lugar, desde rabos de ciclistas à minha frente, a cavalos na estrada, mas esta foi de facto inédita, tão inédita que em vez de me enervar como de costume, me fez rir até as lágrimas me atrasarem ainda mais.
Outro dia apanhei um motão à minha frente, o que é raro, pois geralmente as motas de alta cilindrada costumam ultrapassar-me e eu nem vejo de onde é que elas chegam. O dito motão, conduzido por um homem de grande caparro, blusão de cabedal, cheio de estilo, ia a 40 à hora e meio aos zigue-zagues, contrariando todas as estatísticas dos motoqueiros.
Quando finalmente consegui ultrapassar aquela afronta para os aceleras, percebi o que o deixava assim naquele estado de pasteleira moribunda. O homem debatia-se com a limpeza das fossas nasais. Mas o que para um automobilista é cagada, para um motociclista é tarefa de circo acreditem. Vê-lo com o indicador dentro da viseira, desconfio que preso no aperto do capacete, fez-me acreditar que há pessoas realmente viciadas na limpeza dos salões. Acredito piamente que ele se tenha espatifado contra uma árvore a tentar tirar o dedo lá de dentro...

sexta-feira, 18 de dezembro de 2009

Árvore de Metal


A Árvore de Natal em Lisboa tem nome de empresa de telecomunicações, é toda em metal e tem uns desenhos que aparecem e desaparecem, juntamente com publicidade à Tv Cabo.
Que coisa mais idílica, mais cheia de ternura e bom gosto.
Para quê uma árvore verde assim a atirar para o natural com nome de Pinheiro de Natal?
Árvore da Zon é bem mais giro.
- Ó filho hoje vamos ver a árvore da Zon!
- O que é isso pai?
- Então é a árvore de Natal em Lisboa, mesmo ao pé do Corte Inglês, depois podemos ir dar uma voltinha a esse mega centro comercial, cujas escadas rolantes se desencontram e onde temos que andar quilómetros em busca da continuação das mesmas até atingirmos finalmente o andar desejado!
- Ãh?
- Sim, isso. Árvore da Zon e Corte Inglês! Ora aí está um programa e tanto.
- A árvore tem o canal panda?
- A árvore tem tudo!
- Buga então!
Chamem-me conservadora, mas eu prefiro uma árvore mais neste estilo. E até aposto que saía mais barata, apesar de não ter o patrocínio da TvCabo...

quinta-feira, 17 de dezembro de 2009

A Lei da Compensação Não Resulta com FIlhos

Quando vou a uma daquelas grandes superfícies dedicadas aos brinquedos e vejo pais com carrinhos cheios até ao tecto de tractores motorizados, bonecos de acção todos iguais uns aos outros, carros telecomandados, tralha, tralha, tralha, tralha e acidentalmente até oiço que as coisas são para o menino, fico arrepiada. O único pensamento que me ocorre é que só podem estar a tentar compensar alguma coisa.

quarta-feira, 16 de dezembro de 2009

O Mito do Cavalheiro

Estatisticamente falando ao longo destas quase 32 semanas de gestação, entre muitas outras coisas, tive o prazer, ou desprazer, de confirmar que:
- São sempre mulheres a cederem-me o seu lugar nas filas de qualquer estabelecimento.
- Os homens fingem sempre observar algo invisível na linha do horizonte, ou no telemóvel de cada vez que topam uma grávida a aproximar-se.
Digam o que disserem a solidariedade feminina, pelo menos na prenhice, adensa-se e a falta de cavalheirismo na mesma circunstância é gritante.
O pior é que estou desconfiada que o instinto masculino da cópula, mais comummente conhecido como síndrome do salta-lhe para a espinha que se faz tarde, é que rege o cavalheirismo sob todas as formas.
Eles só cedem lugares, passagem, carregam sacos se e quando a mulher for saltavel. Se não interessar, como é o caso de uma grávida de último trimestre, ignoram.
Bem sei que há excepções, mas como é sabido a excepção confirma mesmo a regra de que se eu fosse uma gaja boa e poderosa em apuros estava sempre a ser salva por um cavalheiro cheio de boas intenções.

terça-feira, 15 de dezembro de 2009

Tampax, OB, ou A Rolha da Tortura

Quando decidimos escrever sobre tampões sentimos que de facto não há barreiras que nos impeçam de pensar e dissertar sobre qualquer tema, ainda que seja o tema mais cretino do mundo, mas acima de tudo sentimos que a barreira que separa a sanidade mental, da estupidez é cada vez mais imperceptível na nossa vida.
Tal como as cuecas-fio-dental, por mais sexy que sejam, sempre me fizeram comichão, alergia, impressão naquele sítio onde o sol não espreita, também os tampões, por mais sofisticados que fossem, sempre me arrepiaram.
Tentei, juro que tentei aderir à moda do coiso invisível (sendo que coiso é o periódico), mas a mulher comichosa que há em mim, nunca me deixou prosseguir a relação com aquele apetrecho de tortura da inquisição. Aquela rolha de champanhe ali, pronta a saltar a qualquer instante, ou a perder-se nos meandros da minha pessoa, quem sabe até à garganta, sempre me aterrorizou mais do que consigo expressar.
Depois o aplicador que vem com o dito, a aplicação em si, humilhante, surreal. O andar todo o santo dia com aquele supositório entre as pernas dava cabo de mim. Sentada a ouvir uma conversa interessante e COM AQUILO ALI. No supermercado e COM AQUILO ALI. No cinema e COM AQUILO ALI, a falar com a minha avó e COM AQUILO ALI. E pior, mil vezes pior, na praia como tantas amigas faziam, passeando-se impunemente, banhando-se nas águas salgadas COM AQUILO ALI!!!! Pronto a saltar para as ondas do atlântico deixando um rasto em seu redor!!!!
Ainda se estivéssemos na era dos pensos Modess que mais pareciam um tronco colado nas cuecas, poderia reflectir sobre o assunto, mas com os extra-finos, invisíveis, folhas de papel que já existem, nem penso duas vezes.
Assumo-me a gaja mais comichosa, esquisitóide, esquizofrénica das redondezas, mas com AQUILO ali não ando!

segunda-feira, 14 de dezembro de 2009

Duas Míticas Idiotices

Ontem ao ver o mítico Ídolos dei-me conta de duas coisas neste tipo de programa que me fazem sempre uma certa comichão cerebral:
1 - Enquanto o júri arrasa o concorrente, dizendo que a prestação foi fraquinha, a exibição vergonhosa, a decepção enorme, vemos o concorrente a sorrir e a agradecer a cada facada, como se de um rasgado elogio se tratasse. Exemplo:
-" A tua exibição foi péssima, desafinaste do princípio ao fim sua grande vaca"
- "Muito obrigada"
- "Não tens vergonha de teres sido tão má? Tu não cantaste, arrotaste!"
- "Ah obrigadíssima"
2 (mas não menos irritante) - Quando perguntam aos concorrentes sobre os seus anseios e objectivos levamos invariavelmente com a resposta:
Eu quero continuar a ser quem sou.
Mas que ventinho passará pela cabeça desta gente que concorre a qualquer tipo de programa que não pára de repetir esta frase, como se fosse um mantra?
Ai eu quero continuar a ser quem sou, ah ela é uma moça íntegra espero que nunca deixe de ser quem é.
Sim, pode ser a frase mais bela do mundo, mas soa-me sempre a estupidez o que é que querem?

domingo, 13 de dezembro de 2009

Fugir para Sintra


Há qualquer coisa em Sintra que nos puxa bem para dentro das suas estreitas ruas uma e outra vez, sem que nunca nos cansemos de lá voltar.
Hoje de manhã, tentando fugir dos Shoppings e da fúria natalícia, fugimos para Sintra, passeámos os três de mão dada quando a largura do passeio o permitia e sentimos o frio despertar-nos bem cedo e acordar-nos da letargia que tantas vezes nos consome.
Entrámos num pequeno café para aquecermos a ponta do nariz gelado e comemos queijadas, descobrimos uma lojinha que não estava lá na nossa última visita, uma loja como deveriam ser todas as lojas em Sintra, cheia de objectos revivalistas, cópias de brinquedos antigos, globos terrestres, bússolas, máquinas de escrever de quando não havia computadores, gramofones e encontrei lá o último presente que faltava, sem stress, por puro acaso.
É incrível como alguns sítios exercem uma espécie de poder curativo sobre nós. Ficámos os três bem dispostos, com aquela moleza que nos impele a casa sem esforço, que nos faz querer regressar como se já tivesse passado um dia inteiro. O oposto do que sentimos quando penetramos num daqueles centros comerciais caóticos cheios de gente que se empurra, de luz que fere os olhos, de crianças que choram.
Definitivamente Sintra e frio de Inverno são uma boa mistura.

sábado, 12 de dezembro de 2009

O Suíço em Cascais ou a Que Sabem os Alpes

Hoje descobri que nem só de proibir minaretes vivem os suíços. Podem não ser fãs do minarete, mas que sabem arranjar um restaurante com charme, isso podem crer que sabem.
Quantos de vocês ouviram falar de um espaço decorado como um chalet de montanha, acolhedor, com badalos pendurados, lareira acesa, ambiente quentinho, acolhedor e, agora é que vem a parte importante, comida típica desse cantinho alpino?
Sabem o que é que se costuma comer depois de uma caminhada pela montanha? Ah, bem me parecia que não. Se quiserem descobrir este é o meu conselho gastronómico anual (ahaha fala a perita) sem que precisem de subir uma montanha para o descobrirem, pois o espaço está aqui mesmo em Cascais e confesso que a única parte decepcionante é não ter vista sobre um montinho verde qualquer, mas acaba por ser quase totalmente compensado pela decoração.
Hoje almoçámos lá e achei tão original que tive que falar sobre ele.



Deixo aqui o site.
http://www.saboresdosalpes.com/

sexta-feira, 11 de dezembro de 2009

O Gesto Mais Romântico Para Mim...

Nunca achei que a coisa mais romântica que um homem poderia fazer a uma mulher fosse oferecer-lhe flores. Também não seria programar uma viagem surpresa até Paris para poderem ver o pôr do sol junto ao Sena.
A coisa mais romântica que um homem poderia fazer a uma mulher nunca foi para mim abrir portas, pagar contas, carregá-la ao colo, encher a casa de velas para uma noite inesquecível.
Chamem-me louca, mas não há gesto mais romântico do que ver alguém a descascar uma laranja por mim. Há qualquer coisa nesse ritual tão cheio de ternura que me comove sempre.

quinta-feira, 10 de dezembro de 2009

Expliquem-me como se eu fosse muito burra

Por favor estou cheia de medo de ter tido uma greve geral convocada pelos meus 3 neurónios, por isso a quem me souber explicar peço ajuda.
Acabei de ver nas notícias que uma rapariga vítima de bulling e suas agressoras foram sujeitas a uma pena (escolar) de 6 dias de suspensão com pena suspensa.
Duas perguntas:
1 - Porque raio é que a agredida e as agressoras levam com a mesma pena?
2 - É só a mim que me soa estranho suspensão com pena suspensa?
E eu a pensar que estas pérolas de justiça só aconteciam nos tribunais. Parece que começa tudo na escola...

Tour Pela Minha Casa Natalizada

Toda a gente anda a fazer isto, porque não eu? Até porque à falta de coisas tremendamente inteligentes para escrever, tiro fotografias.


A famosa rena que deve estar com dores entre as pernas.

Presépio Made In China + Botas feitas à medida + Coroa Made by Alice + Calendário de guloseimas.

Coroa de Natal feita pela verdadeira artista Anacê

O arvoredo feito pela família.

Made In China, ou Made In Austria?


Na nossa lua-de-mel enquanto percorríamos a mesma rua vezes sem conta, sem nunca nos cansarmos, havia duas lojas onde devo ter entrado mais de dez vezes. Esta que se chamava: Natal em Salzburgo e outra do mesmo género cujo nome era: Páscoa em Salzburgo e basicamente eram só ovos pintados à mão de todos os tamanhos e feitios.
Não vi um único pai natal de plástico a trepar por uma corda, nem decorações Made In China, todas iguais umas às outras. Era praticamente tudo feito, ou pintado à mão Made In Austria e não, não eram assim tão caras...
Fica a saudade desta cidade encantada onde só me apetecia abrir os braços e cantar The Sound Of Music :)
O meu desejo de Natal é poder lá voltar e sentir exactamente o mesmo que senti ao lado do Hugo. Bem sei que não devemos voltar aos lugares onde fomos mais felizes, mas não quero saber, nesta cidade só podemos ser felizes.

terça-feira, 8 de dezembro de 2009

Encher até Rebentar!!!!


Estou eu a fazer um dos meus zappings desenfreados quando me deparo com esta actriz a desempenhar um qualquer papel e meu Deus, o que é isto?! O que é que passará pela cabeça de alguém para insuflar a boca desta maneira?
De cada vez que abre a goela para falar parece estar a recuperar de um AVC, mas com muita terapia da fala pela frente.
Desconfio que só consiga beber líquidos por uma palhinha e beijar o namorado com a ponta da língua.
Picadela de abelha seguida de reacção alérgica? Um murro que lhe rebentou a boca toda? Uma infecção na cremalheira? Não, é apenas uma doença chamada: Os-meus-lábios- não-são-suficientemente-carnudos-Dr.-Encha-os-mais-até-me-cobrirem-a-cara-toda-ai-encha-os-mais!!!!!

Pés


Há qualquer coisa nos pés dos bebés pequeninos que adoro, ao ponto de me apetecer plantar beijinhos em cada um dos pequenos dedos.
De cada vez que vejo o tamanho dos pequenos sapatos, pantufas, meias que aquecerão os pés do meu filhote sinto-me ansiosa por poder agarrar num minúsculo par de pés entre as mãos e sentir cada movimento.
O estranho nesta parte do corpo é que, à medida que vão crescendo, perdem todo o seu fascínio, dando lugar à parte menos atractiva no corpo de alguém. É vê-los com joanetes, calos, dedos tortos, gordos, magros, unhacas de bradar aos céus, gretas, formato hobbit, barbatana. Enfim, contam-se pelos dedos de um pé os pés bonitos que já vi ao longo da vida.
Como é que uma foto das pantufas do António se desviou para uma dissertação sobre joanetes? Estou mesmo a perder o juízo...

segunda-feira, 7 de dezembro de 2009

Abre-te Sésamo ou Aqui Não Entra Nada

Hoje lá me levantei às 7 da manhã para me sujeitar a mais uma dose de análises. Sendo que a dose correspondia às quatro tiradas de sangue em três horas. Tendo que permanecer quietinha para não alterar resultados, aproveitei para ler e para dormitar. Sendo certo que raramente consigo adormecer em locais públicos, em grande parte devido ao cabecear, pois odeio sentir a cabeça para a esquerda e para a direita, esquerda, direita, decidi atirar com a cabeça para trás e fechar os olhos, esvaziando o cérebro. Mas desenganem-se os que acham que passei uma manhã bolorenta e cheia de tédio, pois para temperar as análises de sangue e a xaropada de açucar tive direito àquelas cotonetes gigantes a recolherem amostras dos recantos mais obscuros da minha pessoa e sempre que isto acontece há uma frase que me perturba muito quando a cotonete é inserida no canal esconso:
- Agora relaxe Ana.
- Sim, eu sei que há quem goste, mas quando vejo um objecto com um diâmetro superior a um supositório a vir na minha direcção a última coisa que consigo fazer é relaxar. Por isso queridas e queridos analistas esta frase não funciona comigo. Aquilo nunca vai relaxar, vai estar sempre em posição alerta vermelho, trancado, fechado, tímido, recatado. Bem podem gritar Abre-te Sésamo que esta preciosidade vai continuar encerrada a entradas.

domingo, 6 de dezembro de 2009

Uma História Parva Como Tudo, mas Real

Há alguns anos atrás chamei um restaurador de moveis antigos para pôr como nova a secretária onde estudei para o curso e onde passei horas e horas e horas da minha vida a bater com a testa nos Códigos. Ele fez um trabalho exemplar, mas quando veio entregar a sua obra-prima a minha casa o seguinte e surreal diálogo teve lugar:
- Ela gostou do trabalho?
Depois de olhar em volta a ver se estava mais alguém na sala, lá respondi:
- Se ela gostou?
- A secretária ficou ao gosto dela? É uma peça muito bonita.
- Hmmmmmmm...
- Agora nada de Pronto, nem de produtos abrasivos. Ela tem que ter cuidado quando limpar o pó.
- Ela, mas ela quem????
Olhar atónito do senhor, como se eu padecesse de alguma espécie de défice de compreensão.
E aí entendi tudo e o formigueiro do riso incontrolável começou a percorrer-me o corpo inteiro. Eu era ela.

sábado, 5 de dezembro de 2009

São Lágrimas, São Euros, São as Compras de Natal

Já entendi há muitos anos atrás que nesta época natalícia o verdadeiro espírito da coisa desaparece juntamente com o dinheiro na conta.
Também sei por experiência própria que há presentes que me dão gozo procurar, escolher com carinho e comprar e outros que são a verdadeira tortura chinesa, arrancados a ferros e com lágrimas no canto do olho, enquanto se sacam as notas da carteira.
Adoro passar numa rua desconhecida, olhar uma montra ao acaso e ver o presente ideal. Odeio entrar numa loja, olhar para tudo e achar que a pessoa não vai realmente gostar de nada.
Isto tudo porque há quem adore receber presentes com significado e outros que ficam chocados se o significado não envolver uma marca, ou muitos zeros à direita.
Isto do Natal tem muitas contradições...

sexta-feira, 4 de dezembro de 2009

Um Desabafo à Minha Filha Num Lugar que Fique



Ontem, ao reler um livro escrito à mão que oferecemos ao pai, repleto de fotografias, chamado "A Nossa História", percebi que não há forma mais incrível do que perpetuarmos o que quer que seja através da escrita. Podem ser emoções, sentimentos, perdas, ganhos, sensações, declarações de amor, sopros passageiros de inspiração.
Ler à distância de alguns anos aquilo que se sentiu bem lá atrás provoca-me sempre uma comoção bem funda e muita vontade de resgatar a pureza de alguns sentimentos cá para a frente.
A escrita tem esse dom, de nos transportar, de nos elevar, de nos fazer sentir tudo de novo.
Por isso decidi que vos vou escrever mais vezes a ti, ao teu irmão e ao teu pai. Talvez num blogue apenas nosso, talvez em documentos que vou imprimindo, talvez em qualquer lugar, pois o lugar não importa. Importa apenas que fique.
Quero que fiquem sempre em mim e eu em vocês da forma que melhor sei dizer as coisas. Desejo um dia poder transportar-vos no colo deste amor imenso que vos tenho e que nem sempre digo da melhor maneira do mundo, desejo que saibam sempre aquilo que muitas vezes não consigo pôr na voz e quem sabe conseguir que regressem a este lugar seguro guardado pelas palavras.
Hoje entrei no quarto que será do teu irmão e passei a mão sobre cada figura que me ajudaste a colar com tanto entusiasmo. Não consegui dizer-te o que senti, mas irei escrever-te certamente sobre este mistério de já amarmos alguém que nunca vimos.
Ontem, enquanto desenhavas ao meu lado sobre a mesa desarrumada amei-te por tudo o que serás um dia e ainda nem sei quem serás um dia.
Hoje ao dizer adeus ao teu pai de manhã senti um medo terrível de o perder e não sei bem porquê.
Tudo isto quero dizer-vos todos os dias, tudo isto vos escreverei algures, num lugar que fique.

quinta-feira, 3 de dezembro de 2009

Noves Fora Nada


- Estou cheia de olheiras hoje, já viste?
- Não vejo olheiras nenhumas, estás linda.
- Fico muito mal com esta roupa?
- Ficas bem com qualquer trapinho.
- Hoje sinto-me sem forças.
- Mas qual sem forças, estás fresca e maravilhosa.
Agora digam-me uma coisa isto é amor e admiração profundos, ou a velha táctica de dizer o que for preciso para não me ouvir mais?
Hoje mesmo vou comprar uma daquelas máscaras aterrorizadoras de carnaval e vou esperá-lo à porta com cara de frankenstein a escorrer sangue. Sempre estou para ver se ele diz que estou com óptima cara. Esta sim vai ser a prova dos nove.
Por falar em prova dos nove, sempre delirei com a expressão matemática Noves Fora Nada. Para mim aquilo era qualquer coisa muito próxima do delírio subjectivo, sem qualquer espécie de significado real. Atirávamos os noves todos fora e ficávamos com nada é claro. Muito provavelmente só me acontecia a mim e vou fazer figuras de ursa, mas não importa. É que esta frase persegue-me.
Noves fora nada ahahahahaha, hoje é que vamos ver!

terça-feira, 1 de dezembro de 2009

Naquele Tampo Sentei e Chorei

Com o bebé já em posição de mergulho o meu grande drama nos dias que correm é usar as casas de banho públicas. Pois a matéria úrica que despejava em cinco segundos em equilíbrio perfeito sem ter que me sentar, demora agora cerca de 1 minuto e meio a sair cá para fora.
Imaginem um conta gotas, daqueles bem lentos. Imaginem um doente de próstata que leva a noite inteira para largar dois pingos. Assim estou eu quando tento fazê-lo sem me sentar no tampo conspurcado do sanitame público. Mas hoje falhei. Hoje as pernas tremeram-me como uma varinha mágica mergulhada na sopa e vacilaram, hoje a minha frágil musculatura do pernil não resistiu, hoje, eu Ana C 34 anos, prenha de 29semanas, aterrei de rabo num tampo repugnantemente urinado.
Hoje sim desci ao nível mais baixo da condição feminina e senti nas minhas puras pernas os resíduos que alguém desprezível deixou antes de mim.
Hoje sentei e chorei naquele tampo e por pouco não vomitava também.

segunda-feira, 30 de novembro de 2009

Em Busca de Um Grande Amor

Se para uns é tremendamente simples encontrar um companheiro de vida, para outros é uma tarefa desgastante, cheia de decepções, de vazios, de desistências e esperanças renovadas constantemente, até todo este saltar emocional se transformar num gigantesco cansaço e os levar a desistir.
Se para uns não há grandes exigências, pedem tão pouco para si que chega a ser doloroso para quem os vê, para outros todos os requisitos e alíneas devem ser preenchidos, nunca entendendo que a perfeição humana não passa de uma grande utopia.
Se para uns a busca foi simples e frutífera, para outros a busca parece interminável e infrutífera.
É também certo que para algumas pessoas o amor, talvez por ter sido tão rapidamente conseguido, talvez por imaturidade emocional, não se reveste daquele valor que damos às coisas raras e difíceis de alcançar. Esquecem-se de valorizá-lo a cada dia que passa. Como os montanhistas que chegam finalmente ao mais alto cume e dali contemplam a grandiosidade do que conseguiram alcançar, assim devíamos fazer de vez em quando em relação ao amor, uma espécie de fotografia panorâmica geral, um balanço, uma contemplação.
Mas andamos tão preenchidos com a estrada bem no meio dos olhos que nos esquecemos de parar na berma e simplesmente olhar a paisagem.
A busca por um amor é diferente para toda gente, não há formas convencionais, nem poções mágicas que nos façam tropeçar nos braços de alguém perfeito. Muitas vezes são necessárias várias pessoas erradas para encontrarmos a pessoa certa. Outras vezes não. O que é certo é que temos que estar disponíveis para recebê-lo e não termos medo de sair da estrada mais confortável da vida, pois é muitas vezes nos caminhos de terra batida, pequenos e bucólicos que encontramos as paisagens mais deslumbrantes...

*O mote para esta reflexão sem grandes conclusões saiu daqui.

domingo, 29 de novembro de 2009

Estou na Lua


Renault 5 em sétima mão estacionado à porta do liceu. Apenas uma coisa funcionava bem naquele meu primeiro carro, o rádio e meu Deus como esta música tocava, tocava e tocava e como me deixava bem disposta...
Acabei de sentir tudo de novo. É bom perceber que certas músicas ainda nos deixam assim.

Sugestão de Natal ou de Outro dia Qualquer


Um Dia de Alison Mcghee e Peter h. Reynolds


A Mãe e Eu de Maria Teresa Maia Gonzales

Porque só me apetece ficar enroscada debaixo de um cobertor polar com a minha família, porque bolos e chocolate quente são as variáveis no meu cérebro neste domingo frio e cinzento, porque os domingos nunca inspiraram ninguém, hoje não tenho nada de jeito para dizer, por isso decidi partilhar convosco um pouco do que os outros dizem em forma de livro, mais concretamente duas pérolas bem ternurentas da literatura infantil que repousam na prateleira da Alice. Dois livros que não me canso de lhe ler e que ela não se cansa de escutar.
São aquelas letras perfeitas para as mães e para os filhos, uma vez que comovem umas e enternecem outros com a mesma intensidade.
Aqui fica a minha sugestão a sério que não se vão arrepender.

sábado, 28 de novembro de 2009

A Parte Mágica Verde e Encarnada


Parece que sim, que hoje o dia foi passado a natalizar a casa.
Quanto às cores desta época sempre fui um bocadinho conservadora, árvores pretas ou roxas não são bem o meu filme. O Natal para mim sempre foi verde e encarnado, polvilhado de branco.
A Alice está neste momento às escuras na sala, só com as luzes da árvore a iluminarem o seu olhar perfeitamente maravilhado.
Esta sim é a parte mágica desta época.

sexta-feira, 27 de novembro de 2009

Un Italiano Vero, ou Spaghetti Pomodoro

Adoro ouvir falar italiano, a música que parece sair daquele idioma é qualquer coisa que me hipnotiza ao ponto de beber cada palavra. Ao ponto de um insulto soar a música, o nome de um prato gastronómico dito pelo empregado de mesa, ser certamente mais apelativo que o próprio prato. Podiam falar italiano comigo a noite inteira que mesmo não entendendo nada, escutaria sem qualquer sacrifício.
O francês bem falado, ou o inglês aristocrata também me adoçam os ouvidos sim senhora, mas nada, nada chega aos calcanhares de um chorrilho de insultos proferido por uma Mamma italiana, ou de uma música popular cantada com aquele timbre incomparável.
Qualquer dia perco a cabeça e enfio-me num curso de italiano, se bem que sou um bocadinho tímida para falá-lo como ele merece, de peito cheio, cantando bem alto cada palavra.

quinta-feira, 26 de novembro de 2009

Este é que é o Nível mais Baixo de Desleixo




Retiro tudo o que disse no post anterior sobre ter chegado ao ponto mais baixo de desleixo. Depois de ter recebido estas fotografias por mail, meus queridos e sensuais cornos de rena, eu sou uma Miss Universo.
Eu que não vou ao supermecado com calças de fato de treino, pois sei de antemão que vou encontrar alguém que não vejo há anos, alguém que certamente me irá achar na mó de baixo, quando o que mais queria era esfregar-lhe na cara o meu sucesso (ahahah). Eu, Anita, cujo único pecado foi ter sido apanhada a cozinhar de cornos na cabeça peço publicamente desculpas a mim mesma, pois sou uma deusa quando comparada a certas espécies de animais selvagens à solta nos supermecados.
Ver isto fez-me bem ao ego e deu-me um bocadinho de enjoos gestacionais.

Os Cornos


Sabemos que chegámos ao nível mais baixo de desleixo quando o nosso marido chega a casa do trabalho e nos apanha a fazer o jantar com uns cornos de rena na cabeça, depois lança-nos um olhar de quem pergunta: Para onde é que foi a mulher esbelta e maravilhosa de outrora?
Em minha defesa:
A Alice cravou-me este belo artefacto natalício.
Eu odeio cozinhar com o cabelo a cair-me na cara e tinha os elásticos todos no andar de cima.
Subir as escadas, para uma paquiderme em hora de quebranto é tarefa utópica.
E podia continuar a minha argumentação inteligente até ao infinito, não fosse a contradição de neste preciso instante estar com os cornos a segurarem-me a franja.
Meu deus, será que isto quer dizer alguma coisa?????

quarta-feira, 25 de novembro de 2009

O Terror da Mama ou Ordenha Materna

À medida que o tempo para conhecer o meu filho encurta alguns medos vão surgindo, principalmente durante a noite, quando o sono se interrompe por tudo e por nada e a cabeça voa para bem longe da almofada.
Por mais surreal que vos possa parecer a minha angústia-mor é a mama.
Ao contrário do que publicitam em tudo o que é livro, curso de preparação para o parto, filme, cartaz de rua, revista da especialidade, corredores das maternidades. Dar de mamar à Alice não me aproximou mais dela. Não me fez sentir nenhuma das coisas com que me lavaram o cérebro durante os nove meses de gravidez. Aliás, todas essas coisas que escrevem, dizem e apregoam serviram apenas para me fazer sentir a pior das mães por não retirar qualquer prazer divino-maternal na ordenha.
A pingar leite, com uns sutiãs que se abriam, algodões tamanho XL ensopados, bombas que o Hugo usava como um verdadeiro camponês no estábulo, sendo que a vaca era eu, dores de trepar pelas paredes, acordar de meia em meia hora para sacar da mama dorida e cansada, retirou-me 90% da paz que precisava para me sentir mãe e deprimiu-me como nada ao longo destes quase quatro anos me deprimiu.
Odiei cada minuto daquela rotina, mas por causa de toda a campanha facciosa-pró-mama achei que não era normal uma mãe sentir-se assim. Onde é que estava o elo, a ligação transcendente, aquela mística mamária?
Depois os conselhos, os olhares, as mezinhas, as corridas para o hospital onde a enfermeira-chefe me sacava leite com uma seringa (sem agulha é claro) transportaram-me até à quinta dimensão e eu chorava. Chorava por não sentir aquele elo, aquele apelo e por achar que era menos mãe por pensar sequer em desistir daquela tortura.
O que é certo é que o elo nasceu, a intimidade surgiu finalmente e eu pude curtir a minha filha no dia em que decidi trocar a teta pelo biberão, no dia em que aceitei que não era uma má mãe por não gostar de sacar da mama de meia em meia hora e quando percebi que dar-lhe leite em pó não era a mesma coisa que lhe enfiar cianeto pela goela abaixo.
As mulheres são todas diferentes, mas dar, ou não dar de mamar não é o que as define como boas, ou más mães.
A Alice nunca tomou um antibiótico e tirando dois episódios de febre, o último dos quais, há pouco tempo, nunca teve nada de grave.
Sempre me preocupei com a alimentação dela, com os legumes, o peixe, a fruta e sinceramente facciosos-da-mama-que-não-admitem-outra-realidade se olhassem mais para o que os putos comem na fase pós lactente isso sim seria um bom investimento na saúde infantil.

terça-feira, 24 de novembro de 2009

O Gene que Me Falta

Às vezes adorava ser como aquelas mães nórdicas com os putos às costas, que dão a volta ao mundo com o bebé aos gritos pendurado no lombo e o alimentam com o que vão recolhendo pelo caminho, seja McDonalds com coca-cola no biberon, ou feijoada com couve lombarda em estômago lactente.
Adorava ter a descomplicação de deixar a fralda com cocó verter cá para fora até o rabo explodir e quando isso acontecesse, com um sorriso tranquilo, enfiar o bebé no capot do carro com 20 graus negativos e mudar tudo ali mesmo.
Adorava ficar indiferente ao choro, às birras, ao cansaço e passear-me com as crias pela 5ªAvenida com o mesmo à vontade com que as passeava no parque infantil.
Adorava descomplicar, desdramatizar, relativizar, dizer que "tudo se cria".
Mas não tenho, sou uma chata do caraças, uma preocupada, uma cocózinha, alguém que não tem paciência para birras e que gosta de zelar pelos sonos dos putos, sabendo que são esses sonos que nos dão tréguas.
É precisamente por isso que sei não ter dentro de mim o gene de parideira/mãe de prole infinita que assiste a tantas mulheres. É precisamente por isso que quando me perguntam para quando o terceiro, estando eu ainda à espera do segundo, a única coisa que me ocorre é um desferir um soco...

segunda-feira, 23 de novembro de 2009

Uma Médica Cool, ou Nem Por Isso?

O que pensar quando a médica que escolhemos para ajudar o nosso filho a nascer se vira para nós depois de nos mandar subir para cima da balança a fim de ver quanto é que aumentámos de peso desde o mês passado e diz:
"A Balança Quinou"
1 - Tem duas filhas adolescentes e apanhou-lhes a linguagem cool.
2 - Gosta de fumar brocas no intervalo das consultas e dá-lhe para usar calão a seguir. O que nos leva imediatamente à hipótese seguinte:
3 - Também gosta de fumar brocas antes das cesarianas e vai com certeza dizer-me com um grande sorriso e de bisturi na mão enquanto come uma sandocha pós-ganza: Já quinaste Ana?
4 - Engordámos tanto de um mês para o outro que ela simplesmente entrou em bloqueio linguístico e para não dizer "Ó minha granda vaca o que é que tens andado a comer?" sorri e diz que a balança quinou.
Prefiro acreditar que foi uma das primeiras três hipóteses. Até lá acho que tenho uma médica muito porreira.

Tradição ou Chatice?


Ontem saímos já tarde para comer castanhas na rua. Finalmente um bocadinho de frio para lembrar que já é mais Inverno que Verão e para nos saber bem o fumo quente com cheiro a brasa, projectado na nossa direcção.
Sentados os três nas escadas de um prédio a saborear aquela que considero a melhor das iguarias de rua, pensei no histerismo que se criou em redor dos novos pacotinhos de castanhas. Os cabelos que se puxaram com o fim do papel de jornal, ou das páginas amarelas. Ai que a tradição já não é o que era, ai que nos querem acabar com o papel enrolado do jornal, ai que desgraça para onde é que vai o país!
E ri-me, ri-me com a estupidez de tudo aquilo, pois a mim dá-me muito mais jeito comer castanhas naqueles pacotinhos bonitos, não me retira rigorosamente prazer nenhum o facto de ter aquilo na mão em vez de um amarfanhado de notícias ou números de telefone e que me perdoem os defensores da tradição castanheira, mas o sítio onde me dão as castanhas é-me perfeitamente indiferente, pois sou de tal modo apaixonada por elas que até as comia do chão se não estivesse ninguém a olhar (e, por quem me tomam, se ainda estivessem dentro da casca).
Não estamos a falar de café bebido num copo de plástico que fica quase sem sabor. Isso sim seria mais do que motivo para uma revolução em massa por parte do povo.
Quanto a coisas como o papel que envolve a castanha sou tradicionalista, mas nem tanto...

domingo, 22 de novembro de 2009

À Superfície

É incrível como ainda me espanto, me embasbaco, me choco de cada vez que vejo mais um pai destruir o património emocional de um filho com uma ligeireza estúpida, como se fosse a coisa mais natural do mundo.
Fazer filhos é fácil, fazer-lhes gracinhas e cuchi cuchi no queixo enquanto eles se babam é cagada, mudar fraldas e gabar-lhes o jeito para a muda é um peido, agora não os traumatizar, tentar mantê-los sempre à tona quando tudo o resto desmorona, puxá-los com todas as forças à superfície quando a vontade é deixar a própria vida afundar, isso sim é de gabar.

sábado, 21 de novembro de 2009

Reaprender o Natal

Hoje escrevo para ti, pois quando passeávamos à sombra das decorações de Natal e a tua mãozinha puxava a minha para que visse cada luz, cada coroa, cada árvore, com um entusiasmo comovente eu sorri, gritei, apontei seguindo sem esforço o teu entusiasmo, muito embora nunca tenha vibrado antes com esta época, sempre tenha desdenhado do Pai Natal e nunca tenha tido em casa nada além de suspiros por estar a chegar a quadra natalícia, como se de extermínio se tratasse.
Ontem decidi pela terceira vez na minha vida que gostava do Natal. Não pelos presentes, não pelo consumismo, não pelo bacalhau, pelos sonhos, pelas rabanadas, pelo Bolo Rei, mas por ti meu amor.
Tens-me ensinado tanto ao longo destes quase 4 anos que nem ouso começar a agradecer-te, pois perder-me-ia em tudo, em cada frase, em cada gesto, em cada abraço e eu não quero perder-me, não hoje, não agora que te tenho no lado mais quente de mim.
Sei que vou escrever uma lista para o Pai Natal contigo, que vou deixar-te decorar a árvore sem me preocupar com a estética, que vou abrir as portas para que a tua alegria inunde mais uma vez esta casa e que vou fazer sempre o possível e o impossível para que esse brilho de deleite no teu olhar nunca se perca como o meu se perdeu, pois é através desse olhar que a minha vida ganha todo o sentido do mundo.

sexta-feira, 20 de novembro de 2009

Estas Coisas Acontecem... Mas Tantas?


Sim eu sei, isto começa a parecer um muro das lamentações domésticas, mas eu tenho que expurgar a minha raiva algures e que melhor lugar do que este cantinho cheio de olhos prontos a lerem as minhas idiotices caseiras e ainda por cima simpáticos à brava?
Depois de quase dois meses à espera dos famosos puxadores de princesa (como a Alice lhes chamou desde o dia em que os viu) lá fomos buscá-los hoje de mão dada e um brilho enternecedor no olhar da minha filha que liga a estas coisas da decoração.
Chegadas a casa a bricoleira de serviço, que é como quem diz, eu, lá arregaça as mangas e de chave de cruzes em punho e com dores nas cruzes, começa a trocar os puxadores antigos por estas (caras como um raio) borboletas coloridas.
Suada, de joelhos no chão, a fazer o pino, com a língua de fora lá consegui espetar com o borboletame na cómoda. A Alice batia palmas, encantada com aquele novo elemento no seu quarto e eu corada, mas a cantar vitória.
A sensação de euforia durou até começar a meter a pata nas asas, puxar para abrir a gaveta e....... Yupi!!!!! Ficar com as borboletas na mão, partidinhas da silva. Mas que belo material sim senhora, olha que se partiu mais uma, olha e mais outra! É vê-las levantar voo das gavetas a uma velocidade estonteante.
Liguei para a loja e é claro que o velho, milenar, caquético comentário da gaja da loja surgiu:
- É a primeira vez que recebemos uma reclamação e já trabalhamos com essa fábrica há anos...
- Há sempre uma primeira vez para tudo minha querida, vá preparando a massa para me devolver, sim?
Depois lembrei-me da Alice, a um canto, olhos brilhantes mas de tristeza, a frustração estampada no rosto e tentei resolver a coisa com Super Cola 3. Escusado será dizer que estou com as mãos sem qualquer espécie de sensibilidade, nem sei como não fico com o teclado colado nos dedos. À beira de um ataque de nervos, cheia de super cola 3 nas manápulas e a praguejar contra meio mundo, a minha filha diz-me:
- Deixa estar mãe, essas coisas acontecem...
Esta miúda existe?

quinta-feira, 19 de novembro de 2009

Socorro!!!!!!

Aqui a dona de casa inteligente decidiu começar a lavar a roupinha do bebé, mais precisamente, as lãs. E como o meu tempo disponível já não é certamente igual ao que tinha quando estava à espera da Alice, altura em que lavei tudo à mão. Decidi armar-me em boa e inteligente e lavar tudo na máquina. Até aqui tudo bem, a minha máquina tem um programa de lãs que deu conta do recado.
Ai que orgulho doméstico que senti ao tirar todas aquelas peças de lã fofinhas e cheirosas de dentro da máquina, ai como me ri de mim própria por ter lavado tudo à mão no antigamente. E para completar este ciclo de sorte e convencimento vai de enfiar tudo na máquina de secar que também tem um programa para lãs. Ai que lindo. Sim que idílico, se aqui a estúpida, otária, distraída, abécula da Ana não se tivesse enganado no símbolo e no lugar daquele novelozinho de lã vai de carregar num botão que tem um sol desenhado. Um sol de calor, de bafo, de inferno de labaredas!!!!!
Metade da roupa não serve agora a um feto de 5 meses...
Alguém sabe de um truque milagroso que devolva o tamanho original à roupa encolhida até ao tamanho de uma bactéria por uma mãe-parva-que-devia-era-estar-quietinha?

Ando Farta

Ando farta da minha caixa de correio electrónico cheia de alertas de sabonetes que fazem cair a pele, de casos de queimaduras graves depois de se temperar carne com limão e tomar banho na piscina a seguir.
Ando farta dos relatos de assaltos no Cascais-Shopping durante a noite, farta dos novos métodos de burla telefónica. Farta do perigo que certas substâncias presentes em tudo quanto é gel de banho representam para o risco de cancro.
Ando farta da Dona Ermingarda que está muito mal por causa de uns comprimidos que tomou, ou da vacina que levou.
Ando farta das teorias da conspiração de laboratórios farmacêuticos e do Tamiflu, farta das teorias contra a vacina da Gripe A.
Ando farta dos e-mails com correntes de oração, de pedidos, de abaixo assinados que temos que enviar a um milhão de pessoas.
Ando farta dos Power Point Shows com músicas do Senhor e paisagens sublimes.
Ando farta de toda esta informação paralela nunca sujeita a confirmação, mas na qual todos acreditam piamente, como se saíssem directamente da boca de um prémio Nobel da ciência, ou da química.
Ando farta dos dramas e alertas que todos os dias decidem enviar-me. Aliás, ando tão, mas tão farta que já nem sequer os leio. Abro a tampa do caixote do lixo e decido viver apenas com os meus próprios dramas.

quarta-feira, 18 de novembro de 2009

Eu Pergunto Apenas: QUE BOSTA É ESTA??????



Hoje fiquei a saber que um conceituado arquitecto, tão conceituado que nem me lembro do nome, a pedido da igreja e ao que parece com os donativos dos crentes, defecou este projecto para a nova igreja de S. Francisco Xavier no Restelo. Chama-se "igreja-Caravela".
Já está em andamento a construção desta Notre Dame portuguesa, desta obra prima de arte sacra, desta ideia de génio de um criador não menos genial.
Os padres calaram e comeram, quem sabe pensando estar perante um milagre da criação, profundo demais para o seu entendimento, os crentes que deram os donativos eram entrevistados atrás das árvores, não querendo dar a cara ao proferirem uma opinião menos bonita, ou quem sabe com vergonha de terem contribuído para tamanho embelezamento da paisagem do Restelo.
Agora eu pergunto:
Para conseguirmos um alvará para fazer uma obra em casa temos que recorrer ao suborno, mas é possível parir um excremento arquitectónico destes impunemente?
Mas que merda é esta no meu horizonte visual? Ainda se fosse a Arca de Noé, pronta a navegar quando o tsunami atingisse Lisboa...

Em Sobrancede das Ratas Nasceu o Menino

Se há coisa que adoro ao ponto de pôr o volume no máximo e os olhos ficarem vidrados no ecrã da televisão, é a ida dos jornalistas ao local onde o suposto criminoso nasceu, sondando vizinhança, comerciantes locais, cães, gatos e tudo o que mexa.
Por isso é claro que não perdi a ida à santa terrinha do Armando Vara, de onde parece que saiu aos 7 anos de idade.
- "Ai era um santo menino, amigo do seu amigo, educadinho, bom filho, nunca se lhe conheceu um inimigo"
Nesta altura já estou a suspirar e a implorar por uma alminha criativa que responda:
- O quê o Armandinho? Desde os 3 anos que engrupia as pessoas. Aos 4 montou um esquema em que limpou as contas bancárias da Dona Ermegilda e do Senhor Emílio dos Caracóis e nunca mais ninguém o viu. Torturava animais, apanhava cães vadios e espetava-lhes palitos nos olhos. Um sem vergonha de um puto. Eu sempre disse que ele ia dar no que deu!
No dia em que um jornalista brilhante for de abalada à Vila de Sobrancede das Ratas, terra natal de um político manhoso e conseguir um testemunho do género, posso seguramente afirmar que o profissional teve o furo de uma vida e eu vejo finalmente realizada uma fantasia :)

terça-feira, 17 de novembro de 2009

Morte ao Bicho!!!!!!!!!!!

Desde tenra idade, mais precisamente, desde o dia em que ouvi a história da Cigarra e da Formiga que me convenci que esses bichinhos armazenadores compulsivos, trabalhavam no Verão para se recolherem no Inverno cheios de mantimentos.
Mas ao que parece isso só se aplica às pêgas das formigas dos contos de fadas. Porque pela minha zona elas não recolhem, não ibernam, não se resguardam, estou até convencida que não têm casas, aliás, têm sim, a minha cozinha.
Então não é que acordo, olheiruda, rezingona, preguiçosa, penetro na cozinha para fazer a única coisa que me comove pelas manhãs, o café e apercebo-me que a minha bancada está negra e mexe????
E que a caixa dos pastéis de Tentugal que o Hugo trouxe de Coimbra ganhou pés????
O que fazer? Fechar a porta da cozinha, voltar para a cama e repetir até à exaustão que foi um sonho? Ligar o aspirador e sugar as sacanas até não restar nenhuma? Pegar na caixa dos pastéis de Tentugal e tentar salvar pelo menos um? Ou varrê-las com CIF Spray cozinhas seguido de pano molhado?
Pois é, aqui a otária optou pela última e higiénica solução.
A Alice olhou-me de forma estranha quando entrou na cozinha atraída pelo meu praguejar e me observou a exterminar formigas enquanto dizia:
Morram sacanas! Sacanas! Sacanas!
E é assim que uma mãe deita por terra as tentativas de educar o rebento no respeito por todos os animais, já que ela se juntou a mim no extermínio...

segunda-feira, 16 de novembro de 2009

A Clausura e a Loucura

Doente à vez com a Alice, ora dormi mal de noite porque estava mal disposta, ora dormi mal de noite porque ela estava mal disposta.
Ora punha eu o termómetro, ora punha nela o termómetro.
Ora era eu que tomava ben-u-ron, ora era ela que tomava anti piréticos.
No meio de tudo isto e feitas as contas, estamos há quase duas semanas de molho, que é como quem diz piréticas, pirulas, à beira da loucura caseira.
Por isso hoje decidi que era dia de sair. Quis lá saber da chuva, das três lâmpadas que se fundiram quase em simultâneo cá em casa, da camisa branca que saiu azul da máquina, da noite de ontem em que só preguei olho às 3 da matina.
Eu quis lá saber da loiça empilhada no lava loiças, ou das mil e uma coisas que se podem sempre fazer numa casa, porque hoje a tarde seria nossa, das convalescentes.
A seguir ao almoço damos um giro. E pronto sentámo-nos para almoçar, vestidinhas, maravilhosas, quando a meio do almoço a Alice começa a queixar-se de má disposição e depois de passar algum tempo a ignorar os lamentos dela, costumeiros quando não quer comer mais, ela estende-me os braços enfia-se no meu colo e vomita-me toda.
Até chegar ao lava-loiças da cozinha conseguiu vomitar-me o cabelo, o pescoço, a camisa e a cozinha inteira.
Parece que afinal a clausura não se rompeu hoje.
Quem diz que os filhos não são a maior e a mais inexorável mudança da nossa vida, não sabe o que diz. Quem diz que os filhos não viram a nossa vida ao contrário, a abanam bem abanada e nos deixam tantas vezes sem fôlego à procura daqueles dias em que podíamos simplesmente descansar, também não sabe o que diz.
Eu entretanto já não sei o que faço, só sei que estou cansada ah e amo muito a minha filha.

Farta Até à Ponta dos Cabelos

Esta história da vacina da Gripe A anda a irritar-me de uma forma que não consigo pôr em palavras.
A princípio desdenhei de quem tinha medo dela. Pois então ai que Deus olha a Gripe Porca! E depois quando vem a salvação: Ai que Deus olha a Vácine que nos mata!
Ri-me do pânico gerado em torno de uma simples vacina e foi de peito cheio que entrei no consultório da minha médica e lhe perguntei:
Então como é que é mulher, vacino-me e tiro esta nuvem negra da gripe de cima da minha cabeça? (Esta parte bastante ficcionada como calculam)
- Vamos ter calma Ana, ainda não recebi nenhuma directiva nesse sentido, blá, blá.
Tudo bem, a Ana teve calma e aguardou a próxima consulta, na qual me foi pedida paciência novamente, que para já não e que tal e coisa.
E a Ana teve paciência, até porque a filha não foi para a escola e a nossa vida recatada não dava aso a grandes contágios.
Depois adoecemos as duas (não foi gripe) e chamámos uma médica a casa. Na lata o Hugo perguntou-lhe: Doutora vai-se vacinar contra a porca?
E com um tom misterioso, quase de secretismo a mulher murmura:
Nós médicos não nos vacinamos. Tememos os efeitos do preparado da vacina a longo prazo no sistema neurológico.
Ora bem, sistema neurológico tenho eu em frangalhos e não foi preciso vacinar-me para ficar nesse estado.
Depois descubro que há toda uma estirpe de médicos e funcionários na área da saúde que não se querem vacinar, que temem a coisa, mas que nada dizem publicamente, é tudo pelos corredores, pela porta do cavalo, em sussurros.
E o povo que fique neste limbo, nesta indecisão, neste marasmo de vacina, não vacina.
É claro que na dúvida, principalmente uma grávida, se conduz um pouco pelo conselho médico, mas quando eles não se definem o que é que uma mulher faz?
Dá um murro na mesa, dá um murro em qualquer coisa que se parta, ou dá um murro noutro sítio qualquer?

domingo, 15 de novembro de 2009

1 Ano e 3 Dias de Vontade

Parece que dia 12 de Novembro este blogue fez um ano. Lembro-me que começou como um desabafo escrito para a minha filha e hoje é qualquer coisa que não consigo definir bem, se é que tem algum interesse definir um blogue.
Venho aqui quase todos os dias despejar um bocadinho de mim e confesso que se tornou um hábito, daqueles bem saudáveis do qual já não abro mão.
Continuo a falar para a Alice, pois em muitos sentidos é a pessoa com quem mais me apetece falar para o futuro, é aquela que não me julga, que se limita a beber cada palavra que digo com um interesse comovente. Mas falo também para mim e para quem quer que tenha pachorra para ler estas baboseiras que vou acumulando por estas bandas.
Aqui ficam os dois primeiros posts que escrevi quando decidi entrar neste estranho mas acolhedor mundo dos blogues.

Hoje olhaste para mim com aquele olhar que me diz tudo e não precisámos de falar. Limitaste-te a sorrir. Soube que nos tinhamos entendido na perfeição, que tinhamos alcançado aquele ponto perfeito em que as palavras são mera perda de tempo.
Por algum motivo me sinto tão bem perto de ti Alice.


Porque é que assim que nos libertamos de algo, fica sempre o vazio, a saudade daquilo que não vai voltar. Quando te tinha aqui dentro desejava ter-te cá fora, agora que estás aqui comigo, sinto muitas vezes vontade que regresses para dentro de mim.
O que será que nos leva a desejar sempre o que está no avesso de tudo?

sábado, 14 de novembro de 2009

Ódios Pessoais Mortais e Intransmissíveis


Tenho uma relação Amor / Ódio com as panelas, as colheres de pau, os recipientes de cozinha, enfim com quase tudo o que implique cozinhar.
Digo amor/ódio pois se tenho dias em que não me importo de enfiar a mão na massa, outros tenho em que dispensava perfeitamente essa tarefa e em que dava tudo para ter uma cozinheira que me mimasse e me trouxesse a comida à mesa.
Confesso que não há nenhum objecto em particular que odeie com todas as minhas forças, tirando esta praga, esta coisa que alguém tem que reinventar urgentemente:
O PAPEL ADERENTE.
Sempre que recorro a esta película de tortura acabo eu própria embrulhada nele. Nunca consigo cortá-lo a direito, a serrilha que vem com o pacote nunca me serve de nada, se tenho as mãos um bocadinho molhadas aquilo já não adere a ponta de um corno, tirando a aderência à minha própria pele e acabo sempre por gastar um quilómetro daquilo quando só precisava de um metro. Odeio papel aderente!!!!!!!!!
Como devem calcular fiz uma quiche e quis guardar o resto no frigorífico. Acabei por ter uma discussão violenta comigo própria e a tarte foi coberta por um prato.

sexta-feira, 13 de novembro de 2009

As Anas

Anas há muitas sim senhora, mas geralmente Ana nunca é um nome solitário.
Temos Ana Filipa, Ana Luísa, Ana Paula, Ana Rita, Ana Carla, Ana Sofia, Ana Tancreda, Ana Panceta, Ana Vainessa, Ana Carina, Ana Catarina, Ana Cristina, Ana Carolina, Ana Passarinha.
Pois bem contra todas as expectativas possíveis eu sou Ana. Ana só, Ana apenas, Ana e mais nada. No meu nome só há um nome próprio e acho que chega. Nunca quis ter mais nenhum a seguir, nem antes. Até porque acabamos sempre por deixar morrer um deles.
Toda a vida ouvi a pergunta:
Ana, mas Ana quê?
Ana só.
AnaSó?
Sou só Ana!
Ahhh que estranho.
Estranho porquê?

Dou-te a Minha Palavra de Honra

Se me perguntarem qual a qualidade que mais sinto falta numa pessoa eu teria que dizer que sinto saudades da palavra.
Não me refiro ao poder da oratória, nem aos adjectivos pomposos, mas à palavra de honra.
Como uma árvore sólida e centenária que assistiu a guerras, em cujo tronco se gravaram mensagens, à sombra da qual se abrigaram dezenas de corpos fatigados. É exactamente assim que gosto de sentir alguém.
Antigamente a chamada palavra de honra era o bastante para se firmarem acordos, para se erigirem votos de confiança. Hoje em dia esfumou-se em pó, banalizou-se ao ponto de não passar de uma ladainha. É preciso colocar por escrito, assinar, reconhecer em notário, jurar um milhão de vezes e ainda assim não é suficiente para que nos creiam, para que confiem no que nos limitamos a dizer.
O nosso nome deixou de valer o que valia, talvez porque não nos empenhemos em construir uma boa imagem em seu redor, talvez porque o esforço de dizer e cumprir seja demasiado numa época em que o mais fácil é dizer e fugir ao que se disse. Fingir que se esqueceu o prometido é a regra em praticamente toda a gente. Errar e não assumir o erro é também uma faceta que me leva à loucura, mas é assim mesmo que estamos. Nesta espécie de limbo de valores em que já nada se exige além do mínimo.
Não sei. Sei apenas que gostaria de passar aos meus filhos esta coisa estúpida e um pouco alucinada de fazerem de tudo para que a sua palavra seja sempre de honra.

quinta-feira, 12 de novembro de 2009

Somos Tão Merdosos

Nós somos tão, mas tão merdosos que até nas formas de gamar dinheiro somos foleiros. Para se enriquecer em Portugal não é preciso um grande esforço intelectual, não é preciso planear o roubo do século, não é preciso pensar na burla mais inteligente do universo, não é preciso puxar por mais do que um neurónio ao mesmo tempo. É apenas necessário ser político.
É verdade, somos merdosos até a gamar. Usamos sempre o mesmo e infalível método do ladrão dos favorezinhos, sem estilo, sem grandiosidade, sem carisma, sem graça, que é como quem diz, o método chunga-que-se-farta.
É que já começa a ser aborrecido ver as notícias. Para quando um Ronald Biggs da política que enfie um capuz na carola e de armas em punho roube logo tudo o que houver a roubar em 14 minutos? Sempre animava um bocadinho o panorama nacional.
Que seca. Ah e já agora podiamos ter uns linchamentos públicos, ou umas condenações só para eu parar de bocejar, sim?

Onde Esfregam Vocês o Vosso Couro?

Eu sempre quis fazer esta pergunta a quem me soubesse responder. Mais concretamente às mulheres cabeleireiro-dependentes. Aquelas que não lavam cabelos em casa. Aquelas que preferem ficar 15 dias sem mostrar o poder do champô ao couro cabeludo a lavar o cabelo com as próprias mãos. Aquelas que com medo de parecerem ratazanas saídas do esgoto, optam por deixar crescer aranhas e ácaros livremente no interior dos fios capilares enquanto o salão fechou para obras.
É que outro dia estava uma senhora dessas à minha frente num self-service qualquer. Sim, a senhora já tinha uma certa idade e a laca estava num estado de decomposição tal que mais parecia super cola 3 a L'Oreal. Sim, a senhora devia mostrar água ao cabelo uma vez por mês e devia ser daquelas que quando faz a marcação no seu cabeleireiro, as funcionárias até se benzem, mas como ela haverá certamente mulheres mais jovens a fazerem da ida ao cabeleireiro um ritual obsessivo, sem o qual não vivem, sem o qual não lavam, não purificam, não tiram o pó e o óleo ao escalpe.
Por favor senhoras porquê? Porquê lavar o cabelo só e apenas nos salões da especialidade? Juro que me faz uma confusão, ou melhor, uma comichão piolhosa do caraças.

quarta-feira, 11 de novembro de 2009

A Segunda Maternidade

A minha mão fria na tua testa, a tua mão a ferver dentro da minha. O teu corpo quente sobre a minha barriga inchada, enquanto caminho de um lado ao outro do quarto tentando cantar-te coisas sem nexo que não ganham vida através da voz.
Um banho tépido para que arrefeças pela madrugada, enquanto os teus pais, quais companheiros de batalha, se revezam de joelhos para te molharem a febre embora.
Copos com água que sorves com a palhinha que te fui buscar à cozinha, a cozinha onde o único som é o dos ponteiros do relógio que me dizem que é tarde.
A minha própria tosse é abafada para não te despertar do ligeiro sono em que caíste e eu relego-me para segundo plano. O teu pai adormece finalmente e eu olho-te, dando tudo para trocar de lugar contigo. Depois um pequeno movimento dentro de mim, como se tivesse estado à espera que parasse para se revelar. E lembro-me.
Lembro-me que além da vida toda que prossegue ele também continua aqui dentro e com menos de metade da atenção que prestava à sua irmã.
Digo-lhe: Vá, companheiro, agora a mãe vai fechar um bocadinho os olhos. E é tudo.
A segunda gravidez é vivida de uma forma assustadoramente diferente da primeira, sem sombra de dúvida. Ultimamente os meus momentos a dois são uma espécie de dois minutos por dia. O suficiente para lhe dizer que estou aqui apesar de tudo.

terça-feira, 10 de novembro de 2009

O Purézinho no Pratinho é Baratinho e Fofinho

Não vos mexe um bocadinho com os nervos aquelas pessoas que falam temperando cada palavra com o seu diminutivo?
- Vai ter que usar a caixinha multibanco lá fora, o nosso sistemazinho está fora de serviço.
- Ó como é que se chama esta pequenina? E quantos aninhos tem esta carinha lindinha? - Sendo que a resposta da Alice é sempre a fuga.
- Temos bifinho com batatinha ah e também temos um menuzinho infantil.
Ora bem para quê dizer-me que é um bifinho? A mim, logo a mim que nunca me apetece bifinhos, mas sim a vaca inteira. Logo aí perdem uma potencial cliente e das boas.
Porquê falar por diminutivos? Suponho que seja um vício como outro qualquer... Mas um vício chato, muito chato.

segunda-feira, 9 de novembro de 2009

Para o Meu Marido

Estive o fim de semana de cama e destes dois dias de tosse, má disposição, suores frios, dores de garganta consegui filtrar uma coisa fundamental:
O meu marido está lá quando é preciso.
Bem sei que ele pensa que nunca é preciso, que eu me aguento sempre a qualquer bronca. Mesmo quando lhe ligo em gemidos moribundos, o Hugo acha sempre que eu dou conta do recado com a Alice pequena em casa e eu sem conseguir levantar a cabeça. Bem sei que quando veio a correr na sexta feira à tarde ao perceber que era sério, entrou no quarto e me viu deitada, deitou-se perto de mim para me abraçar e... Adormeceu.
Bem sei que por muito que eu tussa de noite ele só acorda com um valente encontrão e um grito de socorro, mas assim que acorda levanta-se com um salto e coloca-se em posição de Kung-Fu pronto a atender qualquer pedido meu.
Bem sei que ele não me lê os pensamentos, mas quando lhe peço com todas as sílabas, ele atende-me sempre.
Bem sei que muitas vezes peço demais e acho sempre que ele faz de menos, mas este fim de semana não, o Hugo fez exactamente o que eu precisava, nem demais, nem de menos e eu lembrei-me daquela manhã na maternidade, depois da nossa filha ter nascido. Eu sem conseguir mexer-me muito bem depois da cesariana, a tomar banho, tentando chegar a todo o lado e ele de joelhos no chão da casa de banho a ajudar-me a lavar os pés.
Sei que por muitos anos que passem nunca esquecerei esse gesto, tal como sei que por muita erosão do tempo que o nosso casamento possa sofrer, o Hugo vai estar sempre aqui quando for preciso.

sexta-feira, 6 de novembro de 2009

Mamas Para Que Te Quero

Alguém que me atire um lenço para limpar as lágrimas por favor. Realmente as manhãs em casa dão um novo sabor à vida.
Então não é que no programa matinal da Sic está a passar em rodapé a seguinte mensagem:
ESTAMOS A OFERECER UM IMPLANTE MAMÁRIO!!!
E entrevistado pela Rita Ferro Rodrigues e por um incomodado não-me-lembro-do-nome, mas-fazia-o-levanta-te-e-ri, um cirurgião plástico de camisa desapertada até ao umbigo, corrente de prata grossura máxima e cruz à escala real fala de mamas.
Isto é muito bom, como é que tenho andado a perder pérola atrás de pérola matinal?
Agora vou ver o do Manuel Luís Troucha para comparar e verificar se supera o da Sic, mas duvido. O da RTP é que é puxar demais pelo meu frágil organismo, ranchos folclóricos a esta hora da matina é estar a pedir uma indigestão auditiva.
Eu pasmo com a coragem/inconsciência das pessoas que se sujeitam a estas merdas. A rapariga que vai ganhar o implante deve estar mesmo desesperada, provavelmente vai deixar gravar a coisa em directo e tudo para publicitar o cirurgião com look pimba.

quinta-feira, 5 de novembro de 2009

Comichão Em Andamento

O que é que vocês costumam fazer quando vão em plena auto-estrada a mais ou menos 150quilómetros por hora e são acometidos por uma comichão na palma do pé direito?
Começa por ser perfeitamente suportável, até nos rimos da suportabilidade da coisa e depois adensa-se e imaginamos que temos uma aranha dentro do sapato que nos dá ferroadas venenosas até à gangrena.
A comichão é tanta, mas tanta que tentam em vão dar pontapés rápidos no chão do carro, regressando logo com o pé ao acelerador para não levarem com um pesado em cima, mas de nada adianta, pois a única coisa que acalmaria o prurido seriam garras afiadas a coçar até fazer sangue. Começamos a entrar em pânico e a comichão piora. Finalmente avistamos a bomba de gasolina no horizonte e gritamos Aleluia! Guinamos o volante na direcção daquele oásis protector e assim que penetramos no recinto de abastecimento, quase fazendo um peão na travagem, lançamos mão ao téne (ahahahah) e... Ficamos presas no processo. A barriga coloca-se no caminho da elasticidade perdida. Abrimos a porta da viatura, deitamos o chulé de fora e coçamos, coçamos, coçamos, coçamos até pequenos gemidos de prazer brotarem dos nossos lábios aliviados.
E pronto, como se já não bastasse tudo o que me acontece quando estou no trânsito (mais concretamente no trânsito intestinal) agora também tenho comichão na sola do pé. Haja paciência para mim!

Tão Perto Tão Longe



Foi inaugurado às pressas (antes das autárquicas) um novo parque bem pertinho da minha casa. Só não parece que estou na Escócia, pois para me debruçar sobre a paisagem esverdeada tenho que passar por um milhão e meio de degraus.
Seria certamente um local onde gostaria de levar o baby António a passear para respirar ar puro, mas nada posso fazer contra tantos degraus, superfícies de cascalho e mais escadas.
Agora digam-me senhores que inventam estas coisas, é sadismo?
É que imaginemos que chega ali, pronto para respirar a paisagem avassaladora, um deficiente motor. Fica a vê-la por um binóculo? Se é essa a ideia porque é que não vi nenhum instrumento de longo alcance visual?

quarta-feira, 4 de novembro de 2009

Aos Vencedores da Vida

Porque tenho dias em que me apetece falar a sério para variar, em que olho algumas pessoas bem cá debaixo onde me encontro e as admiro em silêncio, porque vejo vidas tão mais complicadas que a minha e não me apetece queixar-me mais das azias, ou da casa desarrumada.
Porque tenho dias em que me levo menos a sério do que levo os outros e em que a minha vida se ilumina de gratidão.
Porque tenho dias em que só me apetece dizer a quem merece que merece tudo.
Porque tenho dias em que as minhas pequenas lutas são poeira quando comparadas a outras grandes batalhas envoltas no mais denso nevoeiro.
Porque tenho dias em que simplesmente me reduzo àquilo que sou e percebo que a felicidade me visita quase diariamente.
Porque tenho dias em que a minha vida me basta.
Hoje apetece-me falar dos outros para variar, de toda a gente que deu a volta por cima quando tudo parecia enterrado no mais fundo de si, de toda a gente que encara as contrariedades com um sorriso nos lábios e o peito erguido de coragem, de toda a gente que não se queixa quando tinha todos os motivos para o fazer de minuto a minuto, de toda a gente que esteve lá, naquele lugar escuro e sombrio, cheio dos fantasmas sem resposta, cheio de tudo o que nos faz temer e saiu.
Queria dizer que vos admiro e que um dia, se também eu estiver nesse lugar, me lembrarei sempre que vocês estiveram lá e venceram.

terça-feira, 3 de novembro de 2009

Por Favor Não me Mordas o Pescoço

Depois da saga Dan Brown à qual sucederam milhentos livros dentro do estilo "olha a pista misteriosa, quem quer símbolos por decifrar fresquinhos, olha o Codex Stravinsky!!!!!" até ao infinito da paciência de qualquer comprador de livros, seguiu-se a saga Marley e Eu com triliões de livros acerca de cãezinhos, gatinhos, papagaios, doninhas fedorentas de estimação, hamsters fofinhos e o que fosse preciso para tentar copiar o êxito desse primeiro livro.
E quando nada fazia prever outra dose de vomitado literário compulsivo, surgem os vampiros.
O Crepúsculo e o seu herói lindo, bonzinho e charmoso que só trinca animais selvagens originou uma epidemia de vampiragem livresca. De modos que agora quando vou passear para a Fnac, já sei que nos escaparates vou encontrar títulos como Sangue Fresco, Morde Aqui que Já Vens Tarde, Fazer Amor com Vampiros não Dói, Um amor Sanguinário (como poderão verificar só um título não é produto da minha imaginação). Já sei que a vaga de falta de originalidade tomou conta dos editores mais uma vez e só me resta esperar até à próxima grande ideia...
Eu pecadora me confesso, li o Crepúsculo e todos os livros seguintes e em momento algum consegui tirar do meu coração palpitações adolescentes por aquele vampirinho deslavado e sem mácula. Eu gosto deles mais à séria, maus como as casas e descontrolados. Ou então é preciso muito mais do que um vampiro para me fazer suspirar de paixão...

segunda-feira, 2 de novembro de 2009

O Miguel, a Melissa e a Ana C



Pois é, sob o pretexto de falarmos da história do nosso outro blogue os autores combinaram um encontro no Magnólia em Lisboa.
Domingo de manhã sem filhos, sem grandes compromissos além de desbobinarem palavras três pessoas juntaram-se finalmente na vida real.
Sempre tive um certo pé atrás com esta coisa de conhecermos o rosto por detrás das letras que admiramos, sempre achei que um estranho silêncio seria a nota dominante, dando lugar a uma grande decepção entre o virtual e o real, mas nada disso aconteceu. Gostei muito de conhecer o Miguel e tenho a certeza que a Melissa sentiu a mesma empatia que eu.
Dizem que muitas vezes aquilo que se escreve é apenas a parte boa que queremos mostrar aos outros, mas eu quero acreditar que muito daquilo que escrevemos comporta uma percentagem do que somos.
Aproveitámos cada migalha do Brunch por 8 Euros, demos certamente prejuízo ao café, mas quem nos ouvisse falar de histórias sobrenaturais, reais, imaginárias, cemitérios, viagens, família, deve ter seguramente pensado que naquela mesa redonda estavam três velhos amigos...

sábado, 31 de outubro de 2009

As Mulheres e a Bola

Penso que não há coisa mais ridícula do que assistir a um daqueles programas eruditos sobre futebol em que se sentam todos à volta de uma mesa, doutores, engenheiros, jornalistas a discutirem o cerne da bola, as contratações, os jogadores em campo, a estratégia de jogo, com a importância dada a comentadores políticos que argumentam sobre o estado da nação.
Mas quando pensei que nada me dava mais nos nervos do que estas dissertações infindáveis sobre o esférico, dou-me conta que há apenas uma coisita que me irrita ainda mais: As mulheres que falam de futebol.
Logo a mim é que isto tinha que suceder, eu que odeio mulheres machistas neste aspecto em particular transformei-me numa.
No último jogo da selecção enquanto ouvia uma senhora a fazer o relato do jogo e a gritar:
"Este foi de calcanhar" "E vai ser Canto" "Fora de jogo" a coisa bateu-me com força. Mas que raio é que esta gaja está aqui a fazer?! Os relatos da bola são com voz grossa! Isto é estranho demais, vai-te embora mulher, sai daí que não gosto de te ouvir! Xô daqui que me desconcentras!
E pronto para grande vergonha minha descobri que sou machista. As mulheres não deviam fazer relatos em directo a gritar: Gooooooooooooooooooooooooooooolo!

A Inocência é o Melhor do Mundo

Desde cedo que tento explicar à Alice que não se fica embasbacado a olhar de cada vez que alguém um bocadinho diferente passa por nós. É claro que não posso pedir que ela se transforme numa espécie de Nova Iorquina capaz de passar com uma indiferença desconcertante por uma mulher nua a cantar o fado em plena avenida, mas dentro das nossas limitações de gente comum, ela já aprendeu que não fica de queixo caído embasbacada de cada vez que alguém com uma deficiência passa.
No entanto com apenas 3 anos é natural que de vez em quando se esqueça. Por isso outro dia quando estavamos numa loja e uma senhora de cadeira de rodas motorizada passou por nós, os olhinhos dela ficaram como se diz em bico. Completamente vidrada naquela viajante de motor, seguiu-a com o olhar durante minutos a fio.
Finalmente caiu em si e olhando-me como se tivesse cometido uma grande asneira sorri e disfarça falando muito alto para que a senhora a escutasse:
- Ó mãe que carrinho tão giro, gostava tanto de ter um, compras-me?
Emendou a mão da melhor maneira que conseguiu, eu não faria melhor, mas que pode ter passado por humor negro infantil, lá isso pode...

sexta-feira, 30 de outubro de 2009

Mais uma Pérola da Minha Condição

Porque é que eu não consigo espirrar só uma vez, discreta e suavemente, como quem suspira?
Porque é que nesta época de pandemia em que tudo se alarma quando o tipo atrás de si na fila do supermercado desata a tossir e a espirrar sem se dar ao trabalho de enfiar a cara no sovaco, eu tinha que ter ataques de 16 espirros seguidos?
Mesmo que o faça para a dobra do braço, ou para a sovaqueira perfumada, não há como impedir os olhares esgazeados na minha direcção.
Às vezes basta o cheiro do perfume Patcholi de alguém a passar por mim para desencadear a avalanche incontrolável de espirros.
E o pior, o mais grave, o mais humilhante, não, não vou dizer, não posso dizer...
Está bem eu digo, perdida por 100, perdida por 1000 e quem já esteve, ou está de esperanças (ai que belo) vai entender.
O pior é que neste estado de graça gestacional, se estiver bem aflitinha para ir à casa de banho, o que acontece mais ou menos de meia em meia hora, corro o sério risco de por cada espirro que dou, libertar um pingo da minha vontade natural. Ou seja, se der 20 espirros, já não vou precisar de ir a correr para a casa de banho...

* Acho que me estou a tornar especialista em auto-humilhação pública, mas quando tudo o resto falha, não há como nos rirmos de nós próprios para animar o dia :)

quinta-feira, 29 de outubro de 2009

Ataque de Fome de Azeitonas

Depois de consumir um frasco inteiro de azeitonas Oliveira da Serra sem caroço dou graças a Deus por amanhã não ser dia de fazer análises, pois certamente, em vez de me detectar uma infecção urinária, ou coisa que o valha, apareceria nos resultados do laboratório:
Azeite biológico de baixa acidez Gourmet (que eu só urino Gourmet).
Com que cara é que eu mostrava isto à minha médica?

Quiseste agora Aguenta!

Quando estava longe de pensar em ser mãe defendia com unhas e dentes a ideia de que o pai não tinha nada que assistir ao parto se não o desejasse.
Nos tempos em que era uma grandessíssima liberal e jamais me passaria pela cabeça forçar o homem a nada, muito menos a ver-me de perna aberta e a fazer força até rebentar as entranhas.
Também não me passava pela cabeça deixar de ir ao cinema com um namorado ver um filme de acção e pontapés no traseiro, pois no amor cabia tudo. Desde a tolerância sem limites, ao verdadeiro faz e deixa fazer.
Acontece que as coisas mudaram um bocadinho (ahahaha) e desde que fomos pais, o que um faz pelo e para o filho o outro também deve fazer. Acho que se chama democracia familiar. Esse conceito vago e abstracto ainda para tantos seres do sexo masculino, mas tão nítido para mim.
Faz-lhe impressão? Que pena então e a mim não fará?
Tem pânico de sangue! Ah e se eu tiver, como é que me desenrasco?
Não gosta de me ver sofrer! Então não tivesse insistido para termos mais filhos.
E pronto, estou assim, tanto quero a democracia que lentamente me transformo numa ditadora :)

* O Hugo não disse nenhuma destas frases feitas que mencionei acima, mas ando a sentir que se quer esquivar do acontecimento. Só que eu já preparei a epidural para lhe dar e tenho uma maca reservada ao lado da minha. Riso maquievélico.

Ser Mãe é... Abrir as Pernas?

Sei que vou usar frases feitas, lugares comuns e tudo o que já se ouviu mil vezes a propósito do caso da menina russa Alexandra que foi entregue a uma tipa abusadora e alcoólica com a única justificação de ter sido ela quem abriu as pernas para a fazer e para a parir.
Nada como fundamentar uma decisão judicial nestes critérios imutáveis e do princípio do mundo, tão antigos como os calhaus com milhões de anos:
Pariu, logo, é mãe.
Seria realmente maravilhoso que todas as parideiras biológicas defendessem, criassem, educassem, dessem amor às crianças que puseram no mundo, mas tristemente, muitas vezes cabe ao estado defendê-las dos próprios progenitores, quem as deveria guardar e proteger em primeira instância.
A palavra mãe pode sem dúvida definir o melhor e o pior que existe num ser humano. Uma mãe pode ser responsável por uma pessoa feliz e realizada, ou por uma pessoa triste a traumatizada para o resto da vida.
Por essa razão, quando cabe aos tribunais decidir na encruzilhada, nas situações limite, não pode ser esta palavra a definir tudo, como se dizer que é mãe, que deu à luz, fosse atestado bastante para entregar uma vida inocente nas suas mãos.

quarta-feira, 28 de outubro de 2009

A Primeira Roupa


Não há nada como mexermos na roupa do bebé que ainda não conhecemos, para nos sentirmos mais próximos desse pequenino ser que aí vem.
Imaginamos como em breve aquele pedacinho de tecido minúsculo vai estar cheio de um corpinho quente e cheiroso. Esquecemos até a parte do chorão, pensando apenas como é bom ter aquele bocadinho de nós enroscado nos nossos braços.
Andava a precisar de me sentir assim, por isso hoje fui em busca da primeira roupa do António (às vezes este nome soa-me tão adulto).
A Alice teve direito a cueiro e golinhas de princesa. Uma primeira roupa digna de capa de revista. Afinal de contas não é todos os dias que se vê o mundo pela primeira vez. Há que estar vestido à altura do acontecimento.
Mas desta vez e certamente por ser um rapaz, não sinto vontade de nada disso.
Fiquei-me numa solução de compromisso.
E pronto hoje sinto-me com vontade de encher isto tudo de roupinhas de bebé e ceder ao melaço que sinto no meu coração, mas não quero deixar ninguém diabético, por isso fica apenas uma fotografia e agora reparo que este é o 500º post deste blogue, nem de propósito :)

terça-feira, 27 de outubro de 2009

Tudo a Nu

Eu já sabia que nos dias que correm não podemos passear calmamente pelo Shopping, seja ele qual for, sem sermos abordados por agressivos vendedores de crédito, pedintes para todo e qualquer tipo de instituição de apoio a uma vítima qualquer (que me perdoem as sérias), mulheres que nos ordenam que lhes mostremos as mãos para verem as nossas cutículas.
Eu já estava habituada a estes filmes, já tinha inclusivamente as minhas armas secretas anti-abordagem. Mas o que fazer quando uma inesperada realidade surge? Daquelas ideias de génio que nos entram pelos olhos esbugalhados adentro sem pedirem permissão?
Quando eu pensei que nada ultrapassaria a moda de arranjar as unhacas dentro de quiosques em pleno shopping, atirando com as peles mortas e restos de unha na rebarbadora para cima dos passeantes incautos, eis que surge uma ainda mais brilhante invenção:
Arranjar a sobrancelha em público!!! Não é com pinça, é com uma espécie de linha que se vai enrolando no pêlo e arrancando o mal pela raiz. E elas ali ficam, impávidas face aos olhares alheios que as exploram curiosos, como macacos no circo.
Para quando a depilação à brasileira (não confundir com a feijoada à brasileira, que essa até nem me importava) em público, bem no meio do recinto comercial para qualquer um poder assistir ao vivo a a cores ao arrancar forçado e de pernil aberto do pêlo púbico? De que é que estão à espera mentes brilhantes do negócio?