À medida que o tempo para conhecer o meu filho encurta alguns medos vão surgindo, principalmente durante a noite, quando o sono se interrompe por tudo e por nada e a cabeça voa para bem longe da almofada.
Por mais surreal que vos possa parecer a minha angústia-mor é a mama.
Ao contrário do que publicitam em tudo o que é livro, curso de preparação para o parto, filme, cartaz de rua, revista da especialidade, corredores das maternidades. Dar de mamar à Alice não me aproximou mais dela. Não me fez sentir nenhuma das coisas com que me lavaram o cérebro durante os nove meses de gravidez. Aliás, todas essas coisas que escrevem, dizem e apregoam serviram apenas para me fazer sentir a pior das mães por não retirar qualquer prazer divino-maternal na ordenha.
A pingar leite, com uns sutiãs que se abriam, algodões tamanho XL ensopados, bombas que o Hugo usava como um verdadeiro camponês no estábulo, sendo que a vaca era eu, dores de trepar pelas paredes, acordar de meia em meia hora para sacar da mama dorida e cansada, retirou-me 90% da paz que precisava para me sentir mãe e deprimiu-me como nada ao longo destes quase quatro anos me deprimiu.
Odiei cada minuto daquela rotina, mas por causa de toda a campanha facciosa-pró-mama achei que não era normal uma mãe sentir-se assim. Onde é que estava o elo, a ligação transcendente, aquela mística mamária?
Depois os conselhos, os olhares, as mezinhas, as corridas para o hospital onde a enfermeira-chefe me sacava leite com uma seringa (sem agulha é claro) transportaram-me até à quinta dimensão e eu chorava. Chorava por não sentir aquele elo, aquele apelo e por achar que era menos mãe por pensar sequer em desistir daquela tortura.
O que é certo é que o elo nasceu, a intimidade surgiu finalmente e eu pude curtir a minha filha no dia em que decidi trocar a teta pelo biberão, no dia em que aceitei que não era uma má mãe por não gostar de sacar da mama de meia em meia hora e quando percebi que dar-lhe leite em pó não era a mesma coisa que lhe enfiar cianeto pela goela abaixo.
As mulheres são todas diferentes, mas dar, ou não dar de mamar não é o que as define como boas, ou más mães.
A Alice nunca tomou um antibiótico e tirando dois episódios de febre, o último dos quais, há pouco tempo, nunca teve nada de grave.
Sempre me preocupei com a alimentação dela, com os legumes, o peixe, a fruta e sinceramente facciosos-da-mama-que-não-admitem-outra-realidade se olhassem mais para o que os putos comem na fase pós lactente isso sim seria um bom investimento na saúde infantil.