Porque existem gostos para tudo, num mundo ideal haveria espaço para todo o tipo de escritores, sem tabus.
Num mundo ideal conviveriam românticos, pategos, profundos, exotéricos, filantropos, Prémios Nobel e prémios pimba, sem complexos, nem críticas e com mente aberta.
Não há que ter vergonha de ler Margarida, tal como não há que ter vergonha de ler Saramago,as previsões astrológicas da Maya, ou o último romance de Fátima Lopes. Ler é sempre bom. Quanto mais não seja, para estimular neurónios, aniquilar outros tantos, quando for necessário, abstrair, pensar, fazer cocó ao som de uma história, quando o intestino é preguiçoso, relaxar, aprofundar.
Por tudo isto, sempre achei que havia lugar, sim senhora, para a Margarida e tentei sempre controlar a vontade de entrar na onda de snobismo contra os seus livros e morder a minha própria frustração por não conseguir vingar no mundo editorial, convertendo-a em energia zen.
Agora, ponham-me esta senhora a falar e tudo muda.
Será que ela também escreve como fala? Será que o seu mundo é mesmo assim como ela o diz. Um limbo algures entre a adolescência e a vida de liceu?
Homens gostam de gansters e tiros e não organizam bem a loiça na máquina e mulheres passam horas ao telefone (Deus me livre e guarde) a falar de sentimentos?
Gordas podem falar de tudo e serem javardas à vontade, que ninguém lhes leva mal, porque ninguém lhes quer saltar para a cueca. Já as magras têm que ter cuidado com o que dizem?
Tenho uma novidade para ti, Magali. No teu caso, duvido que haja muita gente, com mais de 15 anos, a querer saltar-te para a cueca, depois de te ouvir falar durante dois minutos. Desconfio mesmo que, para que uma relação dure contigo, terá sempre que envolver fita adesiva, mordaças, ou deficiências auditivas.