Eu sou uma pessoa pensante e, como tal, emito juízos de valor a todo o instante, ou se não os emito, projecto-os no meu interior. Tenho valores, não sou amoral, é humano que o faça. Portanto, é apenas humano ter uma opinião quanto a determinado assunto, sendo que o aborto é um assunto sobre o qual temos que emitir juízos, é impossível não o fazer, é estranho não o fazer.
Há duas situações muito claras e que, quanto a mim, nada têm que ver:
Partindo do pressuposto que temos duas mulheres com o mesmo grau de escolaridade e informação.
- Uma mulher grávida de 3 meses que planeou, projectou e desejou a gravidez, perdeu o bebé.
- Uma mulher grávida de 3 meses que:
Não ficou grávida porque se rompeu o preservativo, porque a pílula falhou, porque a pílula do dia seguinte não resultou, porque o namorado não se revelou um filho da puta que fugiu para a pqp. Enfim, engravidou porque se esqueceu que podia engravidar quando copulava e decidiu correr o risco e até se esquece uma e outra e outra vez, repetidamente.
Nenhuma das duas deve ser criminalmente penalizada é ponto assente na minha óptica.
Mas que uma delas tenha direito a um subsídio e a outra não, é a minha opinião também, porque (e não me venham com merdas) não é a mesma coisa.
Tal como não é a mesma coisa eu atropelar alguém intencionalmente, ou atropelar alguém que se atirou para a estrada. Não é a mesma coisa eu dar um soco em alguém por legítima defesa, ou dar um soco em alguém porque estava de mal com a vida.
Enfim, a nossa legislação está pejada de valorações que fazem variar a pena a aplicar, ou o grau de culpa, ou incúria com que se praticou um acto.
Porque é que eu não hei de valorar e achar diferente uma mulher que aborta 15 vezes só porque sim (todos os abortos pagos pelo contribuinte, se entender recorrer ao SNS) e uma mulher que aborta espontâneamente?
Há realmente alguém que ache a situação idêntica?
Ah e como nota de rodapé, eu votei Sim à despenalização, mas voto NÃO a que a situação seja premiada com um subsídio.
Porque ninguém é a favor do Aborto (nem mesmo os que votaram sim, como eu). Mas há de facto pessoas que o encaram com uma ligeireza que me angústia.
E, apesar de não ser subsídio-dependente, pode chocar-me terem cortado os abonos de família aos milionários com mais de 600 euros por mês e não terem abortado o TGV, ou atribuírem subsídios de maternidade a quem aborta por livre e espontânea vontade, equiparando-os aos abortos espontâneos, ou a quem tenha tido efectivamente um puto com todas as despesas inerentes.
Se olharmos para a Suécia (país com uma elevada taxa de Natalidade), onde o apoio do estado a quem tenha putos é total, vemos que o desenvolvimento de um país, se mede também pela forma como se encara e se incentiva a maternidade.
E é este o meu juízo e o meu valor sim e nem percebo do que tenho que me envergonhar.