terça-feira, 31 de março de 2009

Meu Amor


Meu amor sei que nem sempre tenho toda a paciência do mundo. Sei que os afazeres diários me roubam disponibilidade mental para me sentar a ouvir as tuas conversas intermináveis, ou os teus pedidos de brincadeira.
Sei que me impaciento vezes demais quando conduzo e a tua voz enche o nosso carro de perguntas que se elevam sempre sobre a nossa música.
Sei que te levantas cedo porque o sono simplesmente te rouba o tempo que precisas para ser feliz.
Sei que a primeira pessoa em quem pensas quando acordas é na tua mãe, por isso os teus passinhos apressados correm para dentro do nosso quarto e me despertam todas as manhãs, juntamente com o sol que trazes sempre contigo.
Sei que nem sempre sorrio com as tuas graças, pois há alturas em que o cansaço me arranca o sorriso dos lábios.
Sei que para ti sou especial, mesmo quando me sinto a pessoa menos original do planeta. Sei que sou quem procuras quando te sentes perdida, por quem chamas quando te sentes aflita, quem abraças quando o teu pequeno mundo parece parar de girar.
Desculpa se não sei sempre retribuir esse amor da melhor forma, mas acredita que és o motivo pelo qual o meu coração bate todos os dias. É contigo que me imagino quando olho bem para o fundo da minha vida.
És e serás sempre aquela que me faz querer ser uma pessoa melhor. És o amor da minha vida filha.

segunda-feira, 30 de março de 2009

A Páginas Tantas Decidi Alterar o Desafio...



O desafio da Ana. Era abrir o livro que estava a ler numa certa página e transcrever a 5ª frase completa. Mas como era uma frase absolutamente fora do contexto e sem sentido nenhum, decidi agarrar num livro que já li há mais tempo e que me encheu as medidas e transcrever uma passagem das milhentas que me disseram tanto (faz mais sentido assim, não faz?). A Elizabeth Gilbert (autora do livro e personagem principal) tinha uma vida aparentemente perfeita, mas não era feliz. Decide deixar tudo para trás e ir em busca de 3 coisas que considera fundamentais: Comer, Orar, Amar. A parte do Comer, leva-a a Itália (para mim a parte mais gira do livro) de onde tirei este diálogo com o seu amigo de línguas Giovanni.

Uma noite destas estávamos a falar sobre as frases que se usam para consolar alguém que está a sofrer. Disse-lhe que em inglês dizemos “I’ve been there” (já lá estive). A princípio não percebeu – I’ve been where?. Mas expliquei-lhe que a dor profunda é por vezes como um local específico, uma coordenada num mapa do tempo. Quando nos encontramos naquela floresta de dor, não imaginamos que seja possível encontrar um dia o caminho para um lugar melhor. Mas se alguém nos disser que já ali esteve, naquele mesmo lugar e que conseguiu de lá sair, isso por vezes dá alguma esperança.
- Então a tristeza é um lugar? Perguntou Giovanni.
- Às vezes as pessoas vivem lá durante anos – Disse eu.
Em compensação o Giovanni contou-me que os italianos mais expressivos diziam “L´ho provato sulla mia pelle", o que significa que já o sofri na minha própria pele
.”

Hugh Grant


Este é daqueles actores que adoro incondicionalmente. Com ele sei que me vou rir sempre, mesmo quando não tem piada nenhuma. Adoro o ar inocente com que diz as maiores barbaridades, adoro a expressão de eterno puto, o cabelo um pouco em desalinho, as roupas descontraídas/chiques. Adoro o humor subtil que ele põe nas entrevistas que dá, sempre com aquela cara de quem não faz mal a uma mosca e de quem nem sequer sabe o que é isso de ser famoso. Numa entrevista que vi com ele já há muito tempo contava um episódio que reflecte muito a mentalidade britânica.
O nosso Hugh almoçava com os pais num evento de cerimónia e o casal em frente deles perguntou à mãe:
Casal: Então o que é que os seus filhos fazem?
Mãe: O X (irmão dele) é banqueiro e o Hugh faz filmes em Hollywood.
Expressão extasiada do casal: Ah não posso acreditar! E em que banco é que ele trabalha?
Ele resumiu isto como a mentalidade britânica no seu melhor. O desprezo total pelo vedetismo.
Ainda me lembro do escândalo com a Divine Brown, quando foi apanhado a ser, digamos, hmmmm, como é que vou dizer isto. Foi apanhado a ser consumido por essa prostituta, podia apostar que manteve aquele ar de quem estava apenas a comer algodão doce com aquela simpática rapariga.

domingo, 29 de março de 2009

Saudades

Tenho saudades de quando tudo era mais leve. As responsabilidades, as noites mal dormidas, os quilos a menos e não a mais, os risos a todo o instante, o achar graça às mais pequenas coisas.
Tenho saudades das amigas que agora cresceram e casaram, construindo as suas próprias vidas e que pouco tempo têm para passar horas numa esplanada a conversar sobre coisa nenhuma.
Tenho saudades dos almoços na Mexicana em que se conversava sobre amor e perspectivávamos o nosso futuro ao lado de alguém que ainda não existia. Almoços esses seguidos de uma sessão de cinema no King. Por falar nisso, tenho saudades dos cinemas de Lisboa, fora dos centros comerciais.
Tenho saudades das viagens programadas em cima da hora.
Tenho saudades do Miguel Esteves Cardoso e da Causa das Coisas. Dos GNR de antigamente, quando as letras sem sentido do Rui Reininho pareciam a melhor música do mundo.
Tenho saudades do Bananas e da música Hard Rock. Das matinés no Crazy Nights em que se dançavam slows ao som da Tracy Chapman, do Phil Collins, do Bryan Adams e tudo aquilo era emocionante demais.
Tenho saudades do Dartacão, do Verão Azul, do Duarte e Companhia, do Alf, do Quem Sai aos Seus, da Dinastia. Das séries de quando havia poucas séries, de quando a televisão não era o principal passatempo...
Tenho saudades de andar de bicicleta na rua com as minhas amigas, de ficar sentada nas escadas do meu prédio em Lisboa a ver as pessoas passarem e a falar sobre um mundo de coisas.
Tenho saudades de saltar no jogo do elástico, do jogo do mundo.
Tenho saudades do S.João de Brito e de voltar a pé para casa com as minhas colegas depois das aulas.
Tenho saudades de escrever no meu diário perfumado, de começar cada relato do meu dia por: "Meu Querido Diário, hoje..." E a coisa mais emocionante era descrever a minha ida à praia.
Tenho saudades das escapadelas à noite para namorar, dos beijos roubados à porta de casa, de andar de metro e de autocarro, do Bairro Alto, do Tacão Grande, das imperiais, dos pontapés na c*** do Arroz Doce. Do Perfil, de pedir ao DJ que pusesse aquela música dos Guns N Roses, ou dos Depeche Mode que me fazia querer dançar a noite inteira. Tenho saudades de não medir consequências, de agir por puro impulso só porque sim.
Tenho saudades de tudo o que já fui. Mas sei que aquilo que sou tem tudo isso cá dentro, sei que sou a soma de tudo o que aconteceu, por isso continuo a sorrir quando lembro...


*Já tinha publicado este texto muito no princípio, mas hoje voltei a sentir-me asim.

sábado, 28 de março de 2009

Homens Bonitos / Homens Feios

Esse mito dos homens bonitos e dos homens feios sempre me fez comichão. Nunca achei a coisa assim tão linear. Senão vejamos:
A quantas de nós já não aconteceu olharmos para um homem atraente com todos os requisitos que exigíamos ali bem presentes e após 5 minutos de conversa se transforma no tipo mais feio do mundo?
E a quantas de nós já não sucedeu conhecermos um homem não tão dotado de beleza e após 5 minutos de conversa já ficou mais interessante. E depois de 10 minutos aquele defeitozinho que lá estava quando batemos os olhos nele se eclipsou por completo. Passado meia hora de conversa já está um tipo bonito, perfeitamente comestível e até já nos imaginamos a ter mais do que uma conversa com ele.
A beleza é definitivamente uma coisa muito relativa. Serve apenas para o primeiro impacto, depois de ultrapassada a primeira impressão, vem o verdadeiro desafio: A segunda impressão, essa sim é que dita tudo...

sexta-feira, 27 de março de 2009

Ódios de Estimação ( desabafo número 1)

Odeio que me agarrem no braço quando falam comigo. Quando cada palavra proferida é acompanhada de um pequeno toque, como se quisessem ter a certeza de que estou acordada e a ouvir tudo na perfeição.
Esse aperto no braço acompanhado de uma conversa interminável. Daquelas que vão até à pré-história só para chegarem àquilo que fizeram para o jantar, tiram-me anos de vida. Quero fugir, mas aquela mão que me agarra não me solta e pior, muito pior, para não dizer horror, dos horrores, nos cantos da boca do interlocutor começam a formar-se pequenos pedaços de saliva em forma de espuma e eu ali, cativa, prisioneira a ver a espuma a crescer, os olhos fixos, vidrados naquilo. Nojo dos nojos, mas não consigo parar de olhar, sempre à espera que a pessoa se aperceba e lamba, engula, faça qualquer coisa para me salvar do vómito crescente.

Queixas do Mulherio

Conheço mais do que uma mulher independente, com a sua carreira bem definida que se casou com um suposto monstro. Digo suposto porque tudo o que de monstruoso o homem faz é dito apenas pela boca dela. Ora ela queixa-se aos pais, aos amigos, aos familiares, à cabeleireira, ao tipo da papelaria, a um desconhecido inocente que tenha o azar de se cruzar com a senhora na rua.
Ela queixa-se da frieza do homem, que não liga ao filho, que não lhe liga a ela, que não sai, que não faz um cu em casa, que deixa pelos na banheira (sim é verdade, já ouvi isto), que não pinoca, que não nada.
Fico sempre incomodada quando o chorrilho de queixas vem na minha direcção, sempre acompanhadas de um toque no meu braço com um ar de grande secretismo, pois não tenho intimidade suficiente para lhe responder aquilo que realmente me apetecia responder-lhe. Se estás mal, muda-te. Agora andares a dizer mal do marido a meio mundo e continuares agarrada a ele, quando não tens necessidade disso, é que não.
Eu detesto isto, a sério. Faz-me comichões. Se estamos ao lado de alguém não podemos andar a espetar com o nome dele na lama a meio mundo, a dar-mos conta da nossa vida privada a quem conhecemos e a quem não conhecemos. Se estamos mal com alguém a esse ponto de quase nojo o que raio continuamos a fazer com ele? Ou será que há certas pessoas que não sabem passar sem várias queixas diárias, quase como um vício.
Digam-me lá, os homens também são assim? É que à parte de uma, ou outra ironia sobre a sogra, sobre a mulher em ambiente descontraído (também não gosto, mas não é tão grave) acho que nunca ouvi queixas públicas deste calibre.

quinta-feira, 26 de março de 2009

Sob Todas as Formas Possíveis Aqui me Têm.


Querida Joaníssima, só tu para me pores a pensar numa lista interminável destas. Mas como não consigo dizer-te que não, aqui fica o registo de mim sob as mais variadas formas:
Se eu fosse 1 mês seria um ano inteiro pois cada mês tem um significado especial.
Se eu fosse 1 dia da semana seria um sábado, sem a neurose do domingo e sem a excitação de sexta-feira.
Se eu fosse 1 número seria o 25, pois foi aos 25 anos que vivi tudo mais intensamente.
Se eu fosse um planeta seria a Terra, pois tenho algum pânico do desconhecido e dos ET’s.
Se eu fosse uma cidade seria Roma, a única com a dose certa de alegria e de melancolia necessárias ao meu estado de espírito.
Se eu fosse um móvel seria uma escrivaninha bem antiga cheia de pequenas gavetas secretas, pois é assim que me sinto tantas vezes, uma mulher cheia de compartimentos.
Se eu fosse um líquido seria sumo de maçã, era capaz de viver só disso.
Se eu fosse um pecado seria a Preguiça. Palavras para quê? Deixa-me ir ali fechar os olhos um bocadinho e já volto.
Se eu fosse uma pedra seria a turquesa, pela tranquilidade que transmite.
Se eu fosse um metal, seria qualquer um que não oxidasse.
Se eu fosse uma árvore seria daquelas sequóias gigantes, do alto da qual pudesse abarcar o mundo inteiro.
Se eu fosse uma fruta seria um morango, pois foi ao sabor dos morangos que tive os momentos mais ternurentos da minha vida.
Se eu fosse uma flor seria uma margarida. Simples, despretensiosa, mas cheia de alegria.
Se eu fosse um clima seria temperado, no meio está a virtude.
Se eu fosse um instrumento musical seria um clarinete, pois faz-me sempre lembrar o vento a soprar lá fora.
Se eu fosse um elemento seria a terra (muito embora o meu seja a água), pois sou uma mulher que precisa dos pés bem assentes na terra para me impedirem de fugir presa numa nuvem de sonho.
Se eu fosse uma cor seria o azul, desde sempre a minha cor de eleição. O azul do mar e do céu.
Se eu fosse um animal seria uma coruja. Não me perguntem porquê.
Se eu fosse um som seria o som do mar, para me lembrar que a vida continuará mesmo sem mim.
Se eu fosse uma canção seria The Very Tought Of You pela voz de Billie Holiday. Faz-me regressar a um tempo e a uma história que vivi nos meus sonhos.
Se eu fosse um estilo de música seria Música Clássica, por ser intemporal e universal.
Se eu fosse um sentimento seria o sentimento protector. Adorava poder proteger o mundo de qualquer tipo de dor.
Se eu fosse um livro seria E Tudo o Vento Levou. A grande história de amor de todos os tempos e uma heroína terrena, com defeitos.
Se eu fosse uma comida sem dúvida seria a comida italiana, regada com um bom vinho e no contexto certo é um bálsamo para o coração.
Se eu fosse um defeito seria o orgulho. Já lhe tenho ganho muitas lutas, mas a batalha ainda não terminou.
Se eu fosse uma qualidade seria a sensibilidade, já me feriu muitas vezes, mas já me ajudou a perceber tanta gente.
Se eu fosse um sabor seria o sabor a canela. Tantas vezes a uso em vez do açúcar e não faz mal à saúde.
Se eu fosse um cheiro seria o cheiro a Alfazema, porque me lembra o limpo, o puro, o fresco, o recomeço.
Se eu fosse uma palavra seria a palavra Amor. Nada faz sentido sem este sentimento à flor da pele e debaixo da língua.
Se eu fosse um verbo seria o verbo ler. Pois lemos para sabermos que não estamos sós.
Se eu fosse um objecto seria uma caneta de tinta permanente para nunca me esquecer da palavra manuscrita.
Se eu fosse uma peça de roupa seria umas calças de ganga, porque vão bem com tudo e exigem quase nada.
Se eu fosse uma parte do corpo seria os olhos, o espelho da alma.
Se eu fosse uma expressão seria um olhar comovido, pois gosto de me deixar comover.
Se eu fosse um filme seria o Antes do Amanhecer, o filme que gostaria de ter escrito, uma história que gostaria de ter vivido.
Se eu fosse uma estação seria todas, pois todas são necessárias para se dar valor às outras.
Se eu fosse uma frase seria: “Numa época em que efectivamente tudo está dito, continuar a escrever só é possível para quem é humilde”. De Gonzalo Torrente Ballester.
E vou passar este desafio sim.
À Socas porque ela anda muito calada e assim dou-lhe material para se entreter.
À Precis Almana, pois estou curiosa com o que ela vai responder.
Ao Carlos, pois quero ver se ele é capaz de continuar a surpreender-me.
E Kitty porque mereces todos os desafios do mundo.
E não vou desafiar mais ninguém, porque esta lista é extensa como tudo.

A Abstinência


Bem sei que já venho tarde, que as tuas declarações já foram há alguns dias, mas ao ver ontem um documentário sobre um país do Continente Africano, que relatava a pobreza extrema, condições sub-humanas, mortes prematuras de crianças, enfim, nada que eu já não soubesse, mas visto assim dói sempre mais um bocadinho. Depois de ver aquilo tinha que falar contigo Joseph Alois Ratzinger filho. O que é que é isto de ires para um país miserável, onde a única coisa boa que eles podem fazer para escapar ao sofrimento envolvente, é copular como se não houvesse amanhã, dizeres-lhes para se absterem da ÚNICA coisa que lhes dá prazer na vida?
Explica-me que eu preciso de saber que espécie de tortura inquisitória é esta de negares àquelas pessoas que nasceram já marcadas para sofrer, uma abstinência sexual? Não temos comida, não temos dinheiro, agora também não vamos ter sexo.
Ora lá porque tu não podes ter, não queiras obrigar toda a gente a abster-se como se todos nascessem com a vocação férrea para a castidade.
Andam uns voluntários malucos a fazerem campanhas pró-preservativo que além de prevenirem a SIDA, também evitam que mais crianças nasçam para morrer e vens tu deitar tudo a perder, só porque copular implica obrigatoriamente espalhar a semente pelo mundo?
Não achas que já há sementes demais espalhadas nos lugares errados? Sementes que não têm comida para viver? Porque é que não vais pregar a teoria da semente para a Suécia?
Ora tenho dito meu querido.

quarta-feira, 25 de março de 2009

Viajar Correr Países, Ser Outro Constantemente



Desde que me conheço que viajo. Algumas dessas viagens foram feitas bem dentro do meu pensamento, outras implicaram muitos quilómetros de distância.
A partir do momento em que a Alice nasceu a disponibilidade para partir limitou-se muito. Na primeira viagem que fiz depois dela ter chegado às nossas vidas, a Budapeste, fui o caminho todo convencida que o avião se ia despenhar e ela ia ficar órfã. Mas acabou por nos fazer muito bem esse tempo para nós como casal. A descoberta de uma cidade de mãos dadas, jantares a dois, palmilhar ruas e ruas e ruas sempre à procura de encher a vista com tudo o que um país tem de diferente do nosso enriquece-nos sempre mais do que posso dizer em palavras.
Acho que é das sensações que mais me preenchem, chegar e descobrir outras cores, outras línguas, outras pessoas, outra arquitectura, outra cultura.
Por isso este ano não podia ser diferente, tínhamos que ir para algum sítio. A nossa ideia inicial era Edimburgo e de lá alugaríamos um carro para visitarmos um bocadinho dos lagos e de todo aquele verde maravilhoso. Mas a Escócia revelou-se impossível, quer pelo pouco tempo que temos,quer pelo preço. Mudámos para Viena. Depois de muitas buscas, os aviões ou chegavam lá à noite, ou eram demasiado caros.
Então hoje tomei uma decisão radical: O nosso próximo destino em Maio é a Suécia!!!!! Por incrível que pareça era o destino mais em conta. É claro que depois o nível de vida lá nos deve levar à falência, mas pelo menos vamos bem para Norte.
Já estou com aquele frio no estômago e ainda falta mais de 1 mês.
Tenho muita sorte mesmo.

Obrigada Por me Terem Feito Sorrir

Quando decidi criar este blog foi para homenagear uma história que tinha escrito aos 25 anos. Uma história que em muitos sentidos abriu as portas para a minha profissão.
Foi através desta história, que foi parar às mãos de alguém que acreditou em mim, que consegui ganhar a vida a escrever.
Por isso doeu-me muito quando recebi um telefonema da editora a avisar-me que ia destruir não sei quantos exemplares por falta de venda.
Foi como comunicarem que os personagens que até hoje habitam dentro de mim iam desaparecer para sempre.
Numa espécie de grito de revolta decidi fazer alguma coisa para não deixar cair em esquecimento o "António" e a "Teresa". Só que esse grito de revolta cedo se transformou em muito mais. Acabei por esquecer o que fez com que este blog nascesse e embrenhei-me nas vossas vidas, nas vossas histórias, nos vossos pensamentos.
Por isso quando vi este post não contive a emoção.
Nem que tenha sido para levar a Vontade de Regresso a uma, ou duas pessoas, já valeu tudo a pena.
Obrigada Carlos e JS ! É por coisas assim que a blogosfera não se cansa de me surpreender.

terça-feira, 24 de março de 2009

Dois Dias em Paris...



Adoro descobrir pechinchas na Fnac. Principalmente na zona dos filmes. Passeio-me pelos corredores dos dvd's e tento encontrar um filme que não tenha visto a um preço quase de vídeo clube.
A semana passada encontrei este "2 Days In Paris" e como era com a Julie Delpy, escrito e realizado por ela a minha curiosidade levou a melhor sobre os 10 Euros que custava (acima do meu conceito de pechincha).
Enquanto segurava o filme na mão lembrava-me de um outro filme onde ela entrava e que em tantos aspectos foi um dos filmes da minha vida: "Before Sunrise".
Se algum dia tivesse tido a oportunidade de escrever um guião para cinema com baixo orçamento. Este era o filme que gostaria de ter escrito. Um filme que vive dos diálogos. Não há uma frase que eles troquem que não tenha um significado qualquer. Têm Viena como pano de fundo, mas poderia ser em qualquer lugar do mundo, pois o que importa ali são as conversas, a empatia, o descobrir mútuo um do outro, aquela sensação que tive tantas e tantas vezes naquele tempo de que uma boa conversa faz esquecer tudo o resto, principalmente a passagem do tempo.
Ontem vi o 2 Dias em Paris e aconselho vivamente. A julie Delpy é uma grande mulher/realizadora/actriz/argumentista sim senhora.

segunda-feira, 23 de março de 2009

A Bimbalhice do Costume


Bem sei que é já um tema recorrente neste espaço, mas de cada vez que vejo o ciganito a pavonear-se no que ele julga ser um banho de estilo e de moda, o meu cérebro envia sinais de alerta ao meu bom gosto e tremo de raiva.
Estou em crer que o critério com que o CR7 escolhe a sua roupa é bastante simples até:
- Prease, faxavor!
A lojista aproxima-se dele com um sorriso de orelha a orelha.
- O que é que tem de pochetes do Luís Vitorino?
A lojista sempre pronta e solícita aproxima-se com um infindável número de carteirinhas sob sovaco/Revisor da Carris para o nosso ídolo escolher.
Ele nem as olha, vai directamente ao talão do preço e agarra na mais dispendiosa, pensando para si. A mais cara deve ser a mais estilosa. Quem pode pode. E esta até que fica mesmo a matar com os meus óculos "Guce", com a minha t-shirt "Doce de Gambana", a minha calça coleante do "Mosquinha" e o meu téne estilo puma, mas "Guce" pra condizer com o óculo. Saio daqui mando fazer outro brinquinho de diamante, este a modos que já está um bocado pró gasto. CR7 respira fundo e sorri com a sua cremalheira restaurada:
- Podia pedir-lhe um favour? Ask favor?
Lojista sorridente anui.
- Dá para mandar gravar aqui na pochete, mesmo ao lado do LV, um CR7?

domingo, 22 de março de 2009

A Importância de Saber Dizer Não

Sempre entendi que saber dizer não à minha filha era tão importante como saber dizer sim.
Dizer-lhe que alguma coisa está errada, que não se deve fazer, que não pode ter tudo aquilo que pede, quando ela ainda está a aprender a conhecer a vida, é tão essencial como dar-lhe água para beber. É como se fosse a matéria prima que o espírito dela necessita para crescer saudável.
Defendo até que dizer não é uma das grandes provas de amor que lhe posso e quero dar enquanto ainda vou a tempo.
Amar um filho não é concretizar todas as suas vontades. É concretizar algumas vontades, saber ceder, saber quando não ceder, saber abraçar, saber repreender. Saber quando recuar, quando avançar. E gerir tudo isto é talvez das tarefas mais complicadas do mundo.
Claro que nada nos dá garantias, pois não mandamos no destino e nas circunstâncias da vida. Mas enquanto estiver nas minhas mãos irei fazer de tudo para a munir das armas que precisa para saber enfrentar os balanços que a vida lhe trará.

*Este post fez-me reflectir.

Filhos e Feitios

A minha filha desenvolveu nos últimos meses uma timidez acima da média. Assim que alguém que ela não conhece lhe dirige a palavra, tapa os olhos com as mãos. Na maior parte dos locais onde vamos dou por mim a torcer para que não se metam com ela e não lhe digam: Olha que linda menina, como é que te chamas? Ó tão envergonhada que ela é!
É verem-me a fazer sorrisos amarelos: Ah desculpe e tal, ela é um bocado antipática, mais vale não fazer conversa com ela.
Mas o incrível é que quase ninguém me dá ouvidos, tirando raras execepções, continuam a tentar a sua sorte: Ah mas ela comigo fala, como é que te chamas minha linda?
E agora é sinceramente a parte que mais me constrange. A Alice desiste da táctica das mãos à frente dos olhos e enfia a cara no meu rabo. Sim, cola-se a mim exactamente naquele sítio e em modo automático lanço mais sorrisos forçados: Isto é uma fase, se a ignorar, daqui a uns minutos já se está a meter consigo.
Ninguém ouve a mãe desesperada e ainda dizem: Ai a minha é tão desinibida, não tem nada a ver.
Porque é que as pessoas não respeitam os ritmos das crianças? Os diferentes feitios? Pensarão elas que os putos vêm de uma fábrica onde são feitos em série e têm os mesmos gostos, feitios, personalidades? Não entendem que cada criança, apesar de ser criança, é diferente? Não basta dizer-lhe meia dúzia de lugares comuns com vozes execessivamente idiotas e esperar que ela reaja de forma eufórica.
Ontem ao jantar era vê-la na galhofa para quem não lhe ligava peva e absolutamente bicho do mato para quem lhe dizia: Vem-me dar um abraço, ó minha linda tão envergonhada que ela é. Ó mãe, porque é que ela é assim?
Pois a culpa deve ser minha de certeza. Eu também não vos digo que os vossos são mal educados para c..., que gritam, pulam destroem como se não ouvesse amanhã. Também não ando atrás dos vossos com voz distorcida até ao nível do ridículo a perguntar indirectamente o que é que a mãezinha dele fez para que ele ficasse tão selvagem.
Por favor, menos ditadura mamãs e se querem simpatia da minha filha venham visitá-la mais vezes.

sábado, 21 de março de 2009

A minha Bolha

Há dias em que acordo numa espécie de bolha invisível. É como se estivesse a pairar algures entre o estado acordado e o estado vegetativo.
Apetecia-me tanto passar o dia com os olhos num livro, num filme fácil, responder por monossílabos, não ter que decidir absolutamente nada, nem sequer a roupa que tenho que vestir. Ter quem pensasse por mim, quem planeasse por mim, quem falasse por mim. Dias em que a simples tarefa de decidir se viro à esquerda, ou à direita parece penosa demais.
E é sempre nestes dias que tenho um qualquer jantar que me exige mais do que consigo dar. Sorrisos forçados, conversas de ocasião.
Sentir-me absolutamente só, apesar de rodeada de gente é das coisas mais cansativas que me podem acontecer...

As Blogonovelas

Só para vos dizer que criei um novo blog, onde, juntamente com o Miguel C. tenciono dar asas à imaginação em termos noveleiros.
É um espaço onde vamos criar histórias, agarrar sem dó nem piedade numa história iniciada e tentar terminá-la, completá-la. Não há regras, é um salve-se quem puder.
Quem gostar de ler coisas com, ou sem muito sentido, românticas, surreais, cómicas, sigam-nos por aqui:
AS BLOGONOVELAS

sexta-feira, 20 de março de 2009

O Meu Lar


Podia dizer que o meu lar é onde sinto o nosso cheiro quando chego, onde escuto as vossas vozes mesmo depois de ter adormecido.
Podia dizer que o meu lar é onde cada ruído me é tão familiar.
Podia dizer que o meu lar é onde vive o meu coração, para onde tenho pressa de voltar quando as coisas correm mal, para onde retorno para celebrar uma vitória.
Podia dizer que o meu lar é onde me sento para jantar na nossa mesa de madeira rústica e vos oiço a criticarem, ou elogiarem os meus cozinhados.
Podia dizer que um dos meus mais firmes desejos é que a minha filha sinta que pode sempre voltar para aqui e encontrar abrigo do resto do mundo.
Podia dizer tantas coisas sobre a importância de uma casa a que possamos chamar lar. Mas vou apenas dizer que para mim o meu lar é onde posso entrar e ser simplesmente eu, deixando tudo o que não importa lá fora, incluindo os sapatos...

Tarot Informativo/ ou Conversa da Treta


A TVI lançou uma rubrica deliciosa no seu telejornal matinal. Decidiram contratar uma astróloga que deita as cartas do tarot aos signos todos os dias.
Como é maravilhoso despertar ao som daquela enchente de sabedoria.
Fico imediatamente animada ao descobrir que a carta do meu signo para este dia é o Papa e que devo parar e decidir a sério sobre o rumo a tomar, pois é nas pequenas coisas que por vezes encontramos a sabedoria (se não for assim é parecido).
Descubro depois que a carta do meu marido dita que ele seja mais cauteloso com o dinheiro, pois é na previdência que está a raiz da sapiência. Mais à frente descubro que um qualquer signo deve ponderar mais, pois decisões precipitadas podem deitar tudo a perder. Quando penso que pior é impossível, surge a indicação para o Carneiro que nos confidencia que nunca é tarde para encontrar o amor. BAHHHHHHH!!!!!!!
Mas quanto lhe pagarão para debitar tamanha lista de lugares comuns que se encaixam numa em cada duas pessoas? Ou terá comprado um daqueles dicionários de citações baratas para poder encher os ouvidos dos mais crédulos?
Haja paciência. É isto informação jornalística? Ou pura debilidade mental?
Para mim é simplesmente o momento humorístico matinal.

quinta-feira, 19 de março de 2009

Dia do Pai é Todos os Dias, ou dia Nenhum

Estes dias alusivos ao pai e à mãe não deviam existir. Sinto que fazem sofrer quem já não tem aqueles que ama perto de si, fazem chorar os que foram rejeitados pelas pessoas que os deviam proteger e amar para sempre. Na escola quando se fazem trabalhos para brindar estes dias, aqueles que por um motivo, ou outro, não têm a quem dar o presente, ficam com o coração apertado. E tudo isto para quê?
Quem não tem pai não precisa de ser recordado disso.
Quem tem um filho e o enche de amor todos os dias não precisa de celebrar nenhum dia em especial, pois cada minuto perto dele é uma celebração de amor.

A Banda Sonora do Silêncio do Amor



Foi ao som desta música que escrevi a minha parte do Silêncio do Amor.
Todos nós procuramos um sítio suave onde cair. Alice e Artur encontraram isso um no outro.

O Silêncio do Amor. Fim

A urgência daquele amor adiado era quase dolorosa. Duas pessoas tão diferentes nos seus percursos de vida, pareciam encaixar na perfeição em tudo o que importava. Alice afastou-se ligeiramente de Artur e olhou-o. O seu olhar molhado pela emoção.
- Quem diria que dentro daquele homem tímido, silencioso, atento, estavas tu. Como é que pude não te ver durante tanto tempo Artur?
Artur sorri, sabe que têm tanta coisa para dizer um ao outro e no entanto, sente que a única maneira que tem de lhe dizer aquilo que sente é apertando-a contra si.
Volta a beijá-la, um beijo terno, sem pressas, que contém tudo aquilo que lhe quer dizer, depois olha-a comovido.
- Mudaste a minha vida Alice. Sinto que todos os passos que dei até hoje foram no sentido de me cruzar contigo. Quando entrei naquele café, quando te vi pela primeira vez, queria desistir, entregar-me ao sentimento de perda em que mergulhava todos os dias. Entrei, sentei-me naquela mesa escondida e vi-te. Sorriste-me, perguntaste-me se estava tudo bem e qualquer coisa dentro de mim quebrou.
Alice sorri, beijando-o com suavidade, volta a abraçá-lo, como se não quisesse perdê-lo nunca mais. Mas Artur já não consegue parar de falar:
- Sentia-me impelido para perto de ti todos os dias, foste entrando na minha vida até te tornares parte dela e, no entanto, nem sabia o teu nome.
- Porque é que nunca me disseste nada? Porque é que perdemos tanto tempo Artur?
- Sei-te de cor Alice, cada pequeno sorriso, cada suspiro de cansaço, cada gesto. Há tanto tempo que te conheço… Mas por algum motivo sentia que assim que te dissesse te perdia.
- Tens consciência que me resgataste de mim própria? Eu devo-te tanto. Sei que tivemos apenas um dia, mas foi esse dia que mudou tudo, que me fez acreditar que era possível. Como é que alguém como tu podia sequer ver-me? Como é que alguém podia interessar-se por uma mulher como eu.
Artur sorri. A realidade é que a Alice que tem à sua frente é realmente uma outra mulher. Passa uma mão sobre o seu rosto. Depois aperta a mão quente dela na sua.
- Ninguém aparece na nossa vida por acaso. Só quero que me prometas que não vais voltar a sair do meu caminho nunca mais. Tudo o que surgir, bom e mau, vamos enfrentar juntos.
- Agora que te encontrei não tenciono deixar-te ir Artur. Mesmo sem te conhecer, foi a ti que sempre procurei…
Alice encosta o rosto a Artur, sentindo o seu cheiro, sentindo-se regressar a casa após uma longa viagem.
Artur envolve-a num abraço e segreda-lhe:
- Quando percebemos que queremos passar o resto da nossa vida ao lado de alguém, só queremos que o resto da vida comece o mais depressa possível.
Os dois beijam-se, desta vez sem pressas, pois sabem bem dentro deles que tudo tem o seu tempo para acontecer. E é como dois náufragos que finalmente chegaram a um porto seguro que se entregam um ao outro.

Suif Shuif, é com saudades que me despeço destes dois e com um grande obrigada ao Miguel por me ter ajudado a trilhar os seus caminhos.
Até à próxima blogonovela!
* Lamento não vos ter dado uma cena de sexo tórrido, mas estes dois mereciam fazer amor na privacidade da história :)

quarta-feira, 18 de março de 2009

That´s Amore



Não me posso queixar de ter crescido longe da música, pois não havia um membro da minha família que não tivesse as suas marcadas preferências por este, ou aquele cantor. Por isso cresci envolvida por ritmos que até hoje me dizem tanto de cada vez que os escuto.
Com o meu pai aprendi a gostar de Birds, Chicago, America, Genesis, Cat Stevens, Rolling Stones, Mammas and Pappas e tantos, tantos outros.
Com a minha mãe acho que desde o ventre me lembro de ouvir a toda a hora Maria Bethânia, Gal Costa, Chico Buarque, Simone.
Mas foi o meu avô que me apresentou pela primeira vez a Dean Martin. Para ele não havia no mundo melhor voz, superava o Frank Sinatra em larga escala e era muito mais bonito.
Quanto ao superar o Frank Sinatra, tenho as minhas dúvidas. Mas esta é para mim a música mais feliz que conheço. E se não tivesse previsto tantos narizes torcidos e expressões de choque, era ao som dela que queria ter entrado na igreja quando me casei.
Digam-me da vossa justiça, há melhor coisa no mundo do que ouvir cantar sobre amor em inglês com sotaque italiano? Só mesmo ouvir cantar sobre o amor em italiano.
Esta música há de sempre fazer-me sorrir seja em que circunstância for, porque algumas músicas simplesmente foram feitas para isso.

terça-feira, 17 de março de 2009

Prender-nos Aqui Neste Momento



Adoro os nossos almoços na mesa apertada da cozinha. Tu ajudas-me a preparar as coisas sempre com um entusiasmo enternecedor. Como se ajudares-me a atirar os legumes para dentro da panela, ou ires-me roubando pedacinhos de cenoura crua para trincares entre risos, fosse a coisa mais entusiasmante do mundo.
Adoro ter a tua atenção por aquele espaço de tempo em que partilhamos a nossa refeição, ouvir a tua voz, sentir o toque da tua mão no meu braço quando me perguntas se temos morangos, tocar nos teus cabelos quando te digo que sim e ver o teu sorriso de pura felicidade, só porque comprei a tua fruta favorita.
Faço-te os meus pratos mais saudáveis que o teu pai não aprecia tanto, explico-te como certos alimentos fazem bem à saúde e outros nem por isso. Tu escutas-me como se conseguisses entender tudo aquilo que te digo e sei bem dentro de mim que ninguém nos pode roubar isto que já temos juntas.
Ao mesmo tempo sinto uma urgência quase cega de nos prender naquele momento para sempre, pois sei que um dia muito em breve, a tua satisfação passará por muito mais do que a fruta que vais partilhar comigo depois do nosso almoço...

A Praia


Nunca fui de ficar a torrar ao sol. Sou daquelas que mesmo debaixo de um toldo com protecção 50 apanho escaldões. Não sei se por isso, ou por um qualquer outro motivo genético, odeio praia. Mais uma faceta minha que tantas vezes me valeu a alcunha de bicho raro(isso e não gostar de marisco).
Odeio o calor em excesso, o barulho das bolas atiradas perto de mim e que me obrigam a estar sempre em posição defensiva, odeio o ritual de meter cremes protectores, odeio o desconforto de não ter posição na toalha, odeio marchar para a praia por obrigação, como se fosse a coisa mais espectacular do mundo. Odeio andar feita louca à procura de um espaço para estacionar o carro, odeio entrar no carro com um calor abrasador depois da caminhada de volta.
Dêem-me um bom toldo, uma boa espreguiçadeira, um bom livro. Dêem-me uma praia no final da tarde já sem muito calor, com o som das gaivotas a ecoar nos meus ouvidos e eu fico bem. Dêem-me um hotel à beira mar, onde não tenha que andar mais do que alguns metros até ao extenso areal (o tamanho da praia importa sim)e eu deixo de resmungar.
Com a Alice os meus desejos tiveram que ser postos em segundo plano. Tenho que lhe dar ar da praia, por isso todos os anos rumamos até ao Algarve para um sítio com uma distância a pé do extenso areal e lá vamos nós às horas boas do sol. Com ela não consigo ler um parágrafo de um livro, nem sequer fechar um olho de cada vez, pois tem que brincar, correr para o mar, escavar buracos na areia, apanhar conchas, búzios e tudo o que encontrar pelo caminho. Enchemos baldes atrás de baldes de água, quando voltamos, ela está tão mole que tem que ser carregada ao colo e chego ao fim do dia completamente exausta.
Não que me importe de fazer todas estas coisas com a minha filha, mas nas férias dedicadas à praia, para além de sair da rotina, não posso de todo dizer que descansei...

segunda-feira, 16 de março de 2009

Sair de Mim

Às vezes gostava de poder mandar mais naquilo que sinto. Sofrer menos variações, ser mais a direito, deixar de olhar tanto para o caminho mais adiante e concentrar-me apenas no chão debaixo dos meus pés.
Gostava de ser mais plana, menos sinuosa, mais simples, mais concreta.
Porque é que o meu humor oscila com as fases da lua, com a cor do dia, com uma palavra menos boa?
Porque é que insisto em ver sempre o avesso de tudo, quando o que está por dentro tantas vezes se quer escondido.
Hoje apetecia-me tirar férias de mim. Desligar o invisível botão que consome toda a minha energia e limitar-me a ficar quieta, sem oscilações de maior.
Porque às vezes é importante sairmos de nós e olharmo-nos com a distância necessária para nos acalmarmos.

o Silêncio do Amor, Começar de Novo

Maria ficava acordada durante a noite a olhar Artur durante o sono, talvez tentando resgatar de dentro de si todas as memórias que não possuía. O seu dedo percorria-lhe o rosto adormecido, detinha-se na boca, nos cabelos, no olhar cerrado, mas não surgia nada, nem uma recordação, por mais suave que fosse. E, pouco a pouco uma certeza inabalável foi ganhando forma no seu coração. A certeza de que se amasse Artur de verdade se teria lembrado dele, tal como se lembrara do filho.
Ela não sabia viver sem amor, por isso foi de consciência tranquila que decidiu pôr fim a uma coisa que já não existia mais. Cada um tomaria o seu rumo, sem ressentimentos, sem mágoas, ficando apenas a uni-los Daniel.
Artur tentou dissuadi-la desse ponto final, não haviam passado por tanto para terminarem assim sem dar um pouco mais de luta. Mas Maria foi irredutível, já tinha lutado pela vida durante tempo demais, para começar uma batalha que julgava perdida à partida. E a realidade é que o casamento deles terminara muito antes do acidente. Havia uma grande cumplicidade entre os dois, mas pouco mais partilhavam para além do amor pelo filho. Algures no meio de tantos anos de casamento, haviam-se perdido irremediavelmente um do outro. Alice sentia-o, Artur sabia-o.
Artur acabou por sair da casa que os vira crescer como casal apenas com uma mala e uma certeza do tamanho do mundo, a que tinha acabado de recomeçar.
Arrendou o apartamento do prédio cuja fachada conhecida de cor. O apartamento que pertencera a Alice e à sua pequena filha e foi lá que decidiu mudar o rumo dos seus passos.
Desistiu de enfermagem e com algum dinheiro que tinha conseguido poupar, decidiu abrir uma pequena livraria de bairro que em pouco mais de 2 anos ficou conhecida pelos círculos de estudantes, pais de crianças pequenas, coleccionadores de livros antigos que sabiam encontrar o conselho certo e o espaço ideal naquela pequena livraria.
Artur era um homem diferente, fazia o seu trabalho com amor e isso era o suficiente para o despertar todas as manhãs com um sorriso nos lábios.
Apenas uma coisa se mantinha inalterada dentro de si: Alice. Aquele dia que haviam passado juntos em tantos sentidos tinha sido o seu ponto de viragem e ele apenas queria poder dizer-lhe isso. Todas as noites se perguntava o que seria feito dela, se estaria bem, se pensaria nele, ou se já não passaria de uma recordação distante para aquela mulher agora tão efémera como um sonho.
Por isso foi como num sonho que naquele sábado de manhã viu entrar na sua pequena livraria uma mulher que conhecia tão bem, mas que parecia tão mudada. Trazia um pequeno papel na mão e dirigiu-se às prateleiras dedicadas aos livros de medicina. Artur fitou-a por longos momentos até conseguir perceber que era mesmo ela que tinha acabado de entrar ali, pois parecia mais nova, mais bonita ainda do que se lembrava e trazia consigo uma tremenda luz. Artur lembrava-se de uma mulher triste, envelhecida antes do tempo e curvada por uma enorme desilusão. E a mulher que via agora à sua frente era alguém completamente diferente.
Artur aclarou a voz presa por um tremendo nó de comoção, mas mesmo antes de formular o nome que queria dizer, ela virou-se e encarou-o como se o tivesse sentido...

O que é que foi feito de Alice este tempo todo, o que é que faz naquela livraria, como é que está a vida dela. Será que Artur foi assim tão importante para ela?
Aqui os tens Miguel, são todos teus. O episódio que vais escrever será o penúltimo, por isso dá-lhes toda a tua dedicação :)

domingo, 15 de março de 2009

A Fé dos Outros


Hoje na viagem de volta parámos em Fátima. O meu sogro descobriu que tem uma doença grave há um ano atrás e o Hugo assim que soube desta notícia, meteu-se no carro sem dizer nada a ninguém e rumou sozinho a esse local onde vão tantas vezes os aflitos. Achei bonito na altura o gesto de amor puro e de fé que ele teve e hoje quando voltávamos parámos para ele renovar os seus pedidos pelo pai.
Eu adorava ter as certezas universais de quem se diz pessoa de ciência, ou pessoa de Deus. Porque para cada uma delas é preciso acreditar com uma força desmesurada. Uns na ciência, outros em Deus.
Eu gostava de ter dentro de mim a força invisível da fé, ou o crer incontornável da ciência, mas não tenho.
Se vejo uma paisagem que me comove sinto-me perto de Deus. Se vejo alguém que através do estudo salvou uma vida, sinto-me perto do homem. Acho bonitos alguns aspectos da filosofia budista, acho correctos tantos aspectos da filosofia cristã, acho hipócritas tantos gestos dos representantes de Deus e seus seguidores, acho fanáticas tantas palavras dos que não acreditam nele.
Esta sou eu, a eterna expectadora de mim própria, dos outros, tentando manter o meu espírito à superfície de tudo.
Mas hoje em Fátima, ao ver as pessoas a percorrerem quilómetros de joelhos, ou a atirarem velas para um gigantesco crematório de promessas, ao percorrer as ruas cheias de lojas com acessórios alusivos aos pastorinhos, Nossa Senhora em forma de lápis, porta chaves, canecas, t-shirts e tudo o que seja passível de comércio,senti mais do que nunca que o homem estraga quase sempre aquilo em que acredita. Essa é a minha certeza universal.

De Volta à Vida Como ela É...







Porque é que quando vamos para algum lado fora da nossa casa, da nossa rotina, do nosso dia-a-dia tão igual ao anterior, o nosso olhar brilha, os sorrisos são constantes, a descontracção quase permanente, as implicâncias nulas e o bem estar surge como um bálsamo quase instantâneo?
O pequeno-almoço buffet, as refeições escolhidas de um menú e não de dentro da minha cabeça, o quarto de hotel deliciosamente desarrumado, os passeios ao ar livre de mão dada, os risos dela sempre tão sonoros, fazem com que os ponteiros do relógio andem depressa demais, pois só queriamos poder ficar assim para sempre.
Toda a gente devia sair da rotina de vez em quando. Só assim conseguimos ordenar-nos por dentro e por fora e regressarmos ao essencial...

quinta-feira, 12 de março de 2009

Até Domingo!


Apesar de amanhã ser Sexta-Feira 13 e segundo o conselho de alguém muito próximo devíamos ficar todos em casa, dentro da cama com capacetes na cabeça e coletes salva vidas. Vamos passar o fim de semana fora.
Depois de tanto tempo a trabalhar sem direito a fins-de-semana acho que merecíamos esta fuga, só nós os três. Passar algum tempo juntos sem pensar em mais nada a não ser carregar baterias, com muito amor e cumplicidade.
Vou ter saudades vossas, mas também já tinha saudades minhas...
A Alice está tão contente que já preparou as coisas dela. Tudo o que ela tem de mais importante cabe dentro desta malinha e tudo o que eu tenho de mais importante cabe dentro do meu coração.

O Meu Curso

Sempre gostei de escrever, por isso, quando chegou a hora de decidir o que fazer, não tinha grandes alternativas. Ou enveredava por jornalismo, ou por um curso de letras que me daria apenas para ensinar, o que jamais em tempo algum conseguiria fazer.
Por isso optei por Direito.
Perguntam vocês, porquê? Pois, nem eu própria consigo responder. Pensei que com um curso de Direito teria bases para qualquer coisa na minha vida e assim foi.
Num país de afectados fui parar ao curso campeão de afectados.
Na minha turma do 1º ano tinha colegas que no primeiro dia de aulas foram com as suas pastinhas de pele, convencidos que já advogavam. À medida que o ano foi avançando era vê-los a aparecer de fato e gravata, pastas topo de gama, cheias de códigos lá dentro. E aqui a Ana com as suas eternas calças de ganga e caderno espiral na mão.
Sempre me senti terrivelmente deslocada, por isso, assim que consegui, mudei-me para a turma da noite. Aí sim, tinha colegas esforçados, sem peneiras. Que estavam ali para aprender e não para se exibirem. Ainda me lembro do Abner, que tinha vindo de Cabo Verde já com quase 60 anos tirar o curso. Muitas mães de família cheias de garra. Era um desfile de pessoas cheias de mérito.
Nunca tive um miligrama de espírito académico. Os bailaricos, as tunas, as praxes, o traje, a queima das fitas. Fugi disso tudo como o diabo da cruz. Só queria ir à Universidade para assistir às aulas e já era um tremendo sacrifício. Voltar lá para o convívio académico era pedir demais à minha pessoa.
Na faculdade onde andei não dispensávamos nunca das Orais. Eles entendiam que em Direito não podia haver abébias e assim perdi 10 anos de vida à conta dos nervos. Ficava doente e o esforço que implicava fazer orais a tudo era esgotante.
Quando fiz a última oral, Processo Civil II, saí da sala, sentei-me no primeiro banco que encontrei e chorei como se não houvesse amanhã. Foi o maior alívio da minha vida. Só fui buscar o diploma quase dois anos depois, tal era a minha vontade de voltar à faculdade.
Até aos dias de hoje, ainda acordo de noite com a sensação que afinal ainda me falta mais uma oral, que ainda não acabei o curso. Foi assim que fiquei, toda queimadinha da cabeça. E para quê? Para acabar a escrever novelas...
Mas sem sombra de dúvida que fiquei com uma ginástica mental que nenhum outro curso me poderia oferecer. Acho que posso até afirmar que o meu cérebro cresceu. Deve ser por isso que já nennhum chapéu me entra na cabeça.

quarta-feira, 11 de março de 2009

O Silêncio do Amor Parte 12 porque não consigo pensar num sub-título

Artur consumido por um misto de euforia e entorpecimento olha o seu filho Daniel, com a mesma t-shirt gasta e desbotada de todos os dias. Daniel está à porta, parado, como se tivesse medo de acreditar que é mesmo verdade. Os seus olhos enormes castanhos fitam a mãe, como se tentassem perceber se aquela mulher ali sentada é mesmo a mãe que ele recorda no seu coração.
- Entra filho, vem falar com a mãe. A voz de Artur está embargada.
Maria olha a janela, completamente abstraída.
Daniel movimenta-se devagar, como se não tivesse pressa de lá chegar. Finalmente consegue falar:
- Mãe?
Artur dá a mão a Daniel a aperta-a com força, transmitindo-lhe toda a energia que consegue pôr num aperto de mão.
Maria volta-se devagarinho e encara Daniel. Ele baixa-se ao nível da mãe e a única coisa que consegue fazer é abraçá-la, voltar a sentir o calor daquele corpo tão familiar. Que saudades que tinha de sentir os braços da mãe, o cheiro, ouvir a voz, sentir a presença dela pela casa.
- Mãe tive tantas saudades tuas, tantas...
Artur sente um nó na garganta impossível de desfazer e chora de pura comoção, de alívio, gratidão por ver o filho reunido com o seu porto seguro, a sua mãe. Porque ao longo deste tempo todo em que esteve sozinho com o filho, sabia no seu íntimo que não conseguira ampará-lo, protegê-lo, animá-lo como Maria faria se estivesse bem.
- Meu amor, meu filho. Daniel como é que tu estás? Tão crescido, a voz diferente... - Maria chora como se deitasse cá para fora tudo o que guardara nestes anos.
- Tu lembras-te de mim? O pai disse que não te lembravas de nada e eu pensei que...
- Como é que podia esquecer-me de ti.
Maria e Daniel não conseguem soltar-se, os dois choram, cheiram-se, olham-se. Como num reconhecimento mútuo.
Os médicos falam em amnésia parcial, que é um excelente sinal ela ter-se lembrado do filho. Que a pouco e pouco irá começar a recordar-se de tudo. Mas Artur ouve tudo muito ao longe, como um eco distante.
Daniel adormeceu perto de Maria e Artur está sentado numa cadeira perto deles, velando pelo seu sono. Ao vê-los assim, adormecidos e indefesos sabe que acabou de perder Alice para sempre. Pois jamais será capaz de os fazer sofrer de novo, seja porque motivo for.
Passaram 6 meses...
E agora o que é que aconteceu aos nossos fofinhos durante este tempo todo? Como está Alice? Como está o mundo, como está o planeta? Ah pois é Miguel fazes o favor de nos dizer?

Esta é que é uma história de Bosta...

E porque podia passar um dia inteiro a divagar sobre a bosta e suas variantes e porque o Miguel C disse que este blog era muito arrumadinho, eu tenho que partilhar convosco uma história que nunca esqueci e já lá vão quase 20 anos...
Na minha adolescência conturbada, quando ainda morava em Lisboa, vinha sair para Cascais, porque tinha um grupo de amigos duvidosos por aqui, eu até era uma rapariga certinha, mas divertia-me mais com amigos de má fama, do que com os meus colegas de colégio. O mais inesquecível de todos era o Fred, menino de boas famílias de Cascais, era o gajo mais toxicodependente e bêbado que Deus na terra pôs.
Enganava os pais com promessas de cura e todos os meses frequentava um qualquer centro de reabilitação, para quando saísse, estar reabilitado aos olhos dos pais (coitados daqueles senhores) e conseguir mais uma semana de confiança paterna, logo, mais dinheiro.
Mas um dia os pais fartaram-se e decidiram pô-lo num daqueles centros com trabalhos forçados. Ele tinha que se levantar às 6 da manhã e cuidar da Quinta, dos animais, da natureza. Meu Deus e quem conhecesse o Fred, um gajo poluído e conspurcado pelos mais diversos tipos de produtos tóxicos, sabia que não podia haver pior castigo para ele do que estar em contacto com a natureza.
Um dia o monitor do campo foi acordá-lo pela fresca e disse-lhe: Fred, hoje vais limpar a fossa céptica. O Fred pensou que podia negar-se, fugir, quem sabe tentar o suicídio, mas já o campo em peso o rodeava com sorrisinhos cínicos e praticamente empurraram-no para dentro da fossa.
Bons companheiros, os outros agarrados, decidiram ir cagar de alto à vez. E de cada vez que um acabava de largar a sua poia, puxava o autoclismo e gritava pela janela: Ó Fred apanha lá esta!
Depois de ele me contar esta história, nunca, mas nunca mais me pôs a vista em cima, só a imagem de o ver a limpar a fossa e a ser soterrado em merda, foi capaz de me manter afastada dele para o resto da vida e a minha mãe agradeceu de certeza.

terça-feira, 10 de março de 2009

Conversa de Bosta

E porque aquilo que se aproxima mais do pecado para a Alice é falar de cócó, dizer que sabe a cócó, que cheira a cócó e que se chama cócó quando uma visita de cerimónia lhe pergunta o nome. Também em homenagem ao Gabriel da Melissa que só faz cócó em fraldas limpas (és cá dos meus). Impunha-se um post sobre este assunto mítico, ou sobre a mítica cagada.
Quanto a isso e, ao contrário de muita gente (inclusivamente da blogosfera) que faz onde quer que a vontade aperte, eu não consigo fazer em praticamente lado nenhum, tirando o meu próprio poleiro caseiro, limpo, brilhante, maravilhoso, cheiroso, o meu intestino simplesmente bloqueia perante a visão de uma sanita menos limpa, pingada, mijada, cagada.
O mesmo acontece quando ando a viajar, o meu organismo percebe que estou noutro país e dá ordens expressas ao intestino que bloqueie quaisquer transmissões para o exterior. Só após 3 dias de adaptação ao país é que ele decide começar a dar sinais de vida.
Também acho de mau tom chegar a casa de alguém e largar o que de mais íntimo tenho na canalização alheia. Não sou capaz, acho indecente.
Quando a Alice nasceu tivémos a visita de um amigo em nossa casa, que pediu licença para ir à casa de banho e ficou horas enfiado lá dentro. Nós não queriamos acreditar, mas sim, confirmou-se, ele estava definitivamente a cagar em nossa casa. Com direito a selo postal e tudo. É o chamado cagar sem remorso, sem olhar para trás e tentar ao menos limpar o vestígio da sua passagem por ali.
O meu querido marido nisso é ímpar, quando começámos a viver juntos eu reparava que ele nunca se demorava na casa de banho mais do que o tempo de uma mijinha. Um dia perguntei-lhe: Mas Hugo, tu nunca tens vontade de ficar mais tempo? Resposta dele: A fazer o quê? Ao que respondo: Dahhh, Cocó por exemplo. Hugo no seu melhor: Mas meu amor, por quem me tomas, eu não cago.
Ora querem melhor marido do que este?
Lamento a falta de chá deste post, mas tinha que falar nisto, pelo menos uma vez. Há coisa mais divertida do que falar de cócó? A Alice acha que não...

Parte 10 O Silêncio do Amor


Caminharam de mão dada até ao velho prédio onde morava Alice. O silêncio entre os dois era tão reconfortante quanto as palavras que haviam trocado.
- Tens a certeza que queres que suba Alice? Não quero que te sintas obrigada a nada, só porque te ajudei ontem...
Alice pousa uma mão sobre a boca de Artur, como se assim pudesse impedi-lo de falar mais.
- Sabes há quanto tempo ninguém olhava para mim como tu olhas?
Artur sorri.
- Sabes há quanto tempo eu me sentia invisível aos olhos dos outros, aos meus próprios olhos? - Alice tem o olhar molhado por tudo aquilo que sente.
Artur faz-lhe uma festinha no rosto, cheio de doçura.
- Saber que alguém passava tardes inteiras naquele café, só para poder ver-me, quando eu própria não me via. Nunca pensei que estas coisas pudessem acontecer comigo. De alguma forma sempre achei que estava destinada a menos do que os outros.
- Não fales assim, tu estás destinada a grandes coisas. És uma mulher, uma mãe especial Alice. Percebi isso assim que te vi. - A voz de Artur era de uma total transparência e Alice sentiu bem dentro de si que ele era sincero.
- Olha para mim, a sorrir, a chorar. Obrigada por me teres dado esta manhã contigo. nunca vou esquecer.
- Eu quero ter muitas mais manhãs contigo Alice.
Os dois olham-se. Um olhar tão intenso que dispensa palavras. Alice encosta o seu rosto sobre o coração de Artur e deixa que ele a envolva num abraço.
- Porque é que as coisas boas terminam sempre? - A voz de Alice sai enrouquecida.
- Nós não temos que terminar. - Artur afasta-a daquele abraço e beija-a suavemente, quase com medo de partir qualquer coisa dentro dela. Alice corresponde e entrega-se àquela sensação que já havia esquecido. A sensação de se sentir amada.
Quando finalmente conseguem separar-se um do outro, surge Maria na entrada do prédio, de braços abertos para a mãe. Alice rasga um sorriso e pega na filha ao colo sob o olhar comovido de Artur.
- Maria, este é o Artur, Artur esta é a minha luz, a minha filhota.
Artur sorri para aquela pequena cópia de Alice, mas antes de conseguir dizer o que quer que seja, o seu telemóvel toca. Artur, um pouco atrapalhado atende. Alice vai olhando a sua expressão que se altera, vai ficando pálida. A voz de Artur sai num fio, como se já não tivesse dentro de si força para se projectar:
- A minha mulher acordou?!!
Alice, como que para se proteger da dor que acabou de a rasgar ao meio, aperta a sua filha contra si com todas as forças...

Ah Ah Miguel, por esta não esperavas... Ora aqui os tens mais uma vez do teu lado. Desta vez a batata não está quente, está a escaldar.

segunda-feira, 9 de março de 2009

Quem São Vocês Para Mim?

Vocês já fazem parte da minha vida, da minha rotina diária, até dos meus pensamentos.
Enquanto trabalhava em casa nestes últimos meses, fizeram-me companhia, ajudaram-me a descomprimir, em alguns sentidos a sentir-me menos só. Porque isto de trabalhar em casa e escrever sobre a vida de outras pessoas, pode transformar-nos em verdadeiros bichos-do-mato. Vocês ajudaram-me a manter a minha sanidade mental. E agradeço-vos por isso. Escrever para nós é muito bom, escrever quando sabemos que vamos partilhar com alguém é maravilhoso. Se me dissessem há uns tempos atrás que me preocuparia com um bando de desconhecidos da blogosfera, acho que soltaria uma sonora gargalhada. Mas o que é certo é que dou por mim a imaginar as vossas vidas, os vossos anseios, preocupações, expectativas, como se fossem meus amigos de verdade.
O Miguel C, um dos meus primeiros seguidores, será que está no hospital a ser sovado por um bando de ciganos? Será que acabou de ver alguém morrer? O Miguel C que imagino teimoso, obstinado, com sentido de humor, certeiro, com a sua sensibilidade guardada para ocasiões especiais, é sem dúvida alguém que poderia muito bem ser meu amigo.
A Sílvia, que imagino como uma irmã mais nova, a quem me apetece dar colo quando as suas angústias a invadem e dizer-lhe que vai ficar tudo bem... Que tudo aquilo que sente há-de fazer sentido um dia mais tarde.
Eumesma, minha querida, com os teus filmes, na tua casa que gostavas tanto de partilhar com alguém. Torço todos os dias pelo teu príncipe encantado e sei que ele vai chegar. Mas esquece a parte do cavalo que complica sempre tudo.
JS, uma mãe que gostava de ter mais tempo para si e para aqueles que ama. Que adorava ter mais espaço para as suas magnólias e quem sabe, um atelier onde pudesse dar asas à sua criatividade. Imagino-te aqui em casa a conversares sobre tudo e sobre nada comigo e a encheres a minha filha de histórias que a tua avó te contava.
Socas a viver na Holanda. Também senti logo uma grande empatia contigo, daquelas que não se explicam. Somos muito da mesma geração.
Mariinha, uma mulher com filhos já fora das suas asas que decidiu tirar o curso que eu tirei. Direito. Na faculdade sempre estudei no horário pós-laboral, porque adorava os meus colegas maduros que com a vida feita, decidiam que queriam tirar Direito. Eu pensava sempre, caramba, que coragem! E tu és uma delas. Na tua mansarda, já me imaginei a tomar o chá das 5 contigo.
Precis Almana adorava poder arranjar formas de te distrair, pois não quero imaginar o que seja estar doente e sentir-me diminuída. Acho que te tens safado muito bem e o teu blog é uma das formas que encontraste de manter a tua sanidade.
banita sobrinha neta do Alves Redol. A viver no México. Porque é que te imagino uma Granda Maluca? Porque é que me imagino a rir à gargalhada contigo, ao sabor de umas Margueritas? Não sei, fica a pergunta.
Ana minha recente companheira de Blogosfera, partilhamos algumas coisas e contigo foi uma relação de flash. Soube logo que tinha empatia contigo...
Joaníssima minha querida desbocada, sentimental, confusa, bem humorada, mal humorada mulher. Por favor, continua sempre assim, sem medo que a tua vida ande em sentido contrário das restantes, porque todos nós precisamos de uma bússola para nos guiarmos de vez em quando.

Parte 8 O Silêncio do Amor


Artur estacou à porta do quarto e alguma coisa o voltou a impelir para junto da sua companheira. Voltou-se. A expressão serena dela não deixava transparecer qualquer emoção, apenas o monitor lhe dizia o que se passava dentro do seu peito. Aproximou-se de novo da cama e beijou-a suavemente na boca:
- Amo-te muito Maria. Vais ser sempre a minha mulher... Passou uma mão pelo seu rosto e despediu-se daquela forma terna.
Virou-se para sair e ali, encostada à soleira da porta, estava Alice. O seu olhar mais verde e profundo do que nunca absorvia aquela imagem que acabara de ver. Artur olhou Maria e fez o seu olhar regressar para Alice, desta vez não o desviou.
- Perguntei por si lá em baixo e disseram-me que estava aqui. E não sabia que. Peço imensa desculpa. Não sabia que era casado e que a sua mulher...
Artur responde-lhe com um sorriso. O sorriso mais sereno e seguro já lhe haviam dirigido.
- Eu queria agradecer tudo o que fez por nós ontem, a minha filha está bastante melhor, ficou com uma vizinha... A voz dela, apesar de tudo era firme.
- Porque é que não vamos beber um café Alice? - Ele próprio estranhou o tom da sua voz. Não saíra rouca, nem demasiado baixa. De alguma forma sentiu que era Maria quem lhe dava a força para continuar a falar. - Faz-me companhia?
O olhar brilhante de Alice disse-lhe tudo o que ela não ousava dizer.
- Se não se importasse, preferia andar um bocadinho a pé. Passo o dia inteiro no café. Fazia-me bem um bocadinho de ar.
- Um passeio será.
Artur e Alice saem do quarto. O rosto de Maria parece serenar. Pode ser apenas um movimento involuntário, mas o que é certo é que uma expressão de paz toma conta da face dela.

O frio da rua atinge-os como uma chapada. Alice passa o cachecol sobre o rosto para melhor se proteger. Artur parece nem sentir a temperatura baixa.
- Como é que a sua mulher ficou assim Artur?
- Um acidente de carro, vínhamos de um jantar já tarde. Eu adormeci ao volante.
Alice contraiu os lábios, morreu de pena daquele homem tímido ao seu lado. Percebia agora aquela expressão vazia que tantas vezes vira sentado na mesa do café.
- Não imagino o que deva ter sofrido, a culpa, a revolta. Há hipóteses de ela recuperar?
- Ela está assim há mais de 3 anos. Os médicos não dão muita esperança.
- Mas o Artur continua a acreditar...
- O dia em que deixar de acreditar, é o dia em que vou ter que dizer ao meu filho que por minha causa, perdeu a mãe dele...
Alice tem o olhar raso de lágrimas, não sabe o que dizer para consolar aquele homem terno ao seu lado e a única coisa que lhe ocorre é dar-lhe a mão e apertá-la com toda a força do mundo. É precisamente isso que faz. Artur segura na mão dela e sente que não vai conseguir largá-la mais...

Ora aqui os tens de mãos dadas Miguel, o que fazes com eles agora é da tua responsabilidade...

sábado, 7 de março de 2009

A conversar é que a gente se entende


Adoro quando converso com alguém que me adivinha. Alguém a quem não tenho que explicar muito aquilo em que estou a pensar, pois logo na segunda frase já apanhou a intenção do que quero dizer.
Aquela química que existe entre duas pessoas que se entendem é maravilhosa. Uma frase leva a outra e o encadear de pensamentos é interminável, como uma bola de neve encosta abaixo, ganhando volume.
Em contra-partida de cada vez que tenho que explicar de vários ângulos o meu raciocínio sinto-me esgotada e sem ânimo para prosseguir a conversa. Regra geral, acabo por dizer: Esquece, não era nada de importante mesmo. E por dentro grito: Bahhhhh é muito chato conversar contigo! Depois mudo a conversa para o estado do tempo.

Parte 6 (O Silêncio do Amor)

Enquanto zelava pelo sono da sua filha, Alice revia mentalmente tudo o que acontecera nessa noite e como fora bom experimentar uma sensação que havia esquecido há muito. O sentir-se protegida, sentir que tomavam conta de si.
Mãe solteira há já tanto tempo, habituara-se a ter que resolver, decidir, lutar por cada pedaço da sua existência e da sua filha sozinha e isso cansara-a tanto. Formara já pequenas rugas de preocupação no rosto prematuramente envelhecido. Os seus cabelos acastanhados escondiam já alguns reflexos grisalhos e o seu olhar esverdeado e outrora fundo, era agora um olhar pura e simplesmente cansado, vazio. Apesar de ser dona de uma figura invejável a sua postura era a de alguém que se vergara já ao peso do mundo.
Mas hoje sentira que alguém a vira para além de si, para além da sua aparência gasta e banal e esse alguém era Artur. Agora que pensava nele sem ser como mais um cliente do café, conseguia descrevê-lo de cor, como se o conhecesse desde sempre. Os olhos negros rasgados, sensíveis e tímidos, como se comportassem uma imensidão de segredos, as mãos um pouco pálidas, mas firmes, a postura magra e esguia, o cabelo escuro e forte. Podia rever a imagem dele vezes sem conta dentro de si sem se cansar de o fazer.
Enquanto acariciava o cabelo da filha, deu por si a fazer uma coisa que não fazia há muito. Alice sorriu sem motivo aparente...

Artur adormeceu profundamente. Um sono reparador que não tinha há demasiado tempo. Pela primeira vez desde que o acidente se dera, não sonhou com Maria, nem com o acidente de automóvel que os vitimara há já 3 anos, a ela quase mortalmente, não pensou na culpa diária que o consumia por ter roubado a vida da sua companheira, da mãe do seu filho, uma vez que era ele que conduzia o carro naquela noite.
Este sono trouxe-lhe uma paz que julgava impossível e chorou enquanto dormia. Apesar de não se aperceber chorou de saudades da sua mulher, chorou por não ter coragem para dar a ordem de desligarem o suporte de vida, por não ter coragem de a deixar partir. Chorou por si, pelo seu filho, pela sua vida, presa naquele quarto de hospital, pois ele todas as noites, no meio das tarefas hospitalares que tinha que cumprir, fugia até ao quarto de Maria e conversava com ela. Contava-lhe do filho, contava-lhe dele, contava-lhe como corria o mundo lá fora, sem ela. Chorou por não ser o pai que o seu filho precisava, por ter falhado em tanta coisa. E de alguma forma, esse choro lavou-o por dentro.
Quando despertou, estranhamente não se sentia tão sozinho. Pois uma lembrança acariciava-lhe a pele arrepiada. A lembrança de Alice...

Agora Miguel, aguenta-te à bronca, porque a bola já passou para o teu blog!

Parte 5 (o silêncio do Amor)

A Parte 5 da Blogonovela O Silêncio do Amor já está disponível. Parece-me que temos um noveleiro nato que pensa que é enfermeiro. Miguel C

Espreitem e dêm a vossa opinião...

sexta-feira, 6 de março de 2009

Parte 4 (O silêncio do amor)

Alice passa as mãos pelo cabelo, numa tentativa vã de o arranjar, aperta o grosso casaco até cima e sai para o ar frio do começo da noite, ao encontro da sua vida lá fora.
Já não repara no carro estacionado em frente ao café, nem na nuvem de fumo que ele deixa atrás de si quando finalmente arranca, pois na sua cabeça apenas há espaço para as tarefas que tem que cumprir religiosamente e é nelas que pensa enquanto acelera o passo, passando o cachecol por cima do rosto. Não se detém muito tempo nas coisas más, nem na sua vida tão vazia. Há muito tempo que deixou de acreditar no destino. Ela sabe que a vida não é um caminho repleto de surpresas, mas antes um percurso no qual se escolhe o rumo que parece mais certo. Tenta sorrir, mas depois de um dia inteiro a servir à mesa não sente forças para dar um passo a mais do que os passos estritamente necessários.
Aproxima-se da escola da filha e sabe que assim que a vir irá arrancar de dentro de si força para a carregar ao colo no caminho de volta sempre com um sorriso nos lábios. Porque ela é o seu único motivo para sorrir.
Não, Alice não é uma mulher fria e indiferente. É apenas uma mulher cansada e magoada que há muito tempo deixou de lutar por uma vida melhor. Que há muito tempo desistiu de si.
Por isso está muito longe de imaginar que serve de alento aos dias de alguém...
ARTUR
Artur acabou de trocar de roupa e enverga agora a sua farda branca de todas as noites. Tem pela frente mais um turno interminável que pode ser muito agitado, ou nada agitado, o desenrolar das horas é sempre uma incógnita num hospital. Mas voluntariar-se para aquele horário nocturno, foi a única forma que encontrou de poder ficar perto da sua mulher...
Ainda faltam uns minutos para começar o seu turno, por isso decide ir até lá fora respirar ar fresco. Sente-se sufocar, precisa do ar gelado no rosto para despertar daquela espécie de sonho, de culpa, pois Alice não lhe sai da cabeça, o seu olhar, a sua voz, as suas mãos. É nesse preciso instante que vê Alice transpor as portas da Urgência com uma menina ao colo...
E é nesta altura que cansada e sem imaginação passo a bola ao Miguel C. Resta saber se ele se sente desafiado, ou não...

The End


Pois é, acabei de escrever a última linha da história que me acompanhou nos últimos 10 meses da minha vida.
Cheguei a escrever com a minha filha constipada e carente ao colo, com visitas para almoçar em casa, na véspera de Natal, em domingos soalheiros em que só me apetecia fugir porta fora, em sábados de chuva, em que tudo caía cá em casa para se abrigar da neura.
Escrevi com mau humor, bom humor, triste, alegre, doente, cansada, animada, desanimada, inspirada, desinspirada, carente, cheia de amor. Mas sem nunca parar de escrever, porque este trabalho é assim, de uma entrega total. Não se contenta com menos do que isso.
A minha vida foi a deles e a deles um pouco a minha também e torna-se doloroso dizer-lhes adeus e deixá-los continuarem sozinhos, sem a minha ajuda para as decisões cruciais, sem a minha palavra na boca deles para os diálogos românticos, cruéis, enciumados, assassinos, cínicos.
Mas chegou a hora de vos dizer adeus. Força! A história é toda vossa, só têm que continuar a vivê-la sem mim...

quinta-feira, 5 de março de 2009

Parte 3 (o silêncio do amor)

Apesar do encontro, desencontraram-se mais uma vez. Ele olha o relógio e conta as horas que faltam para o dia seguinte nascer. Sabe que as noites costumam passar mais devagar. Respira fundo, entra no seu carro já gasto pelos quilómetros a mais, mas não tem coragem de arrancar. Ouve no rádio uma qualquer notícia que não tem o poder de o acordar e rende-se à recordação da imagem dela.
Deveria seguir na direcção do hospital, na direcção de mais uma noite de turno passada entre cheiros e ruídos tão familiares, mas fica ali, dentro do carro a ouvir o trabalhar do velho motor e a ganhar coragem para voltar à sua rotina nocturna. Olha mais uma vez na direcção do café e quase pode jurar que a vê espreitar discretamente na sua direcção.

Alice vê aquele estranho homem cruzar finalmente a porta do café, ainda espreita para a rua e consegue vê-lo já dentro do carro. Respira de alívio enquanto pousa o seu avental sobre o balcão. Hoje sai mais cedo do que o costume. Cansada, ainda consegue enumerar mentalmente as tarefas que tem que fazer antes e depois de chegar a casa. Passar na farmácia, no supermercado e finalmente apanhar a sua filha na escola, abraçá-la, sentir os seus pequenos braços em redor do pescoço e ouvir como foi o seu dia no caminho para casa. Essa definitivamente é a melhor parte do seu dia...

Cremes Para Todos Os Gostos


Outro dia entrei na casa de banho de uma amiga e enquanto estava para lá a fazer aquilo que lá fui fazer, isto é, lavar as mãos, claro. Olhei para uma prateleira que quase caía dos suportes com o peso que suportava. Eram frascos de cremes de dia, cremes de noite, cremes com colagénio remodelador, com activos naturais, com extracto de cafeína, de cocaína (devo ter lido mal), com estuque refirmante, anti rugas, anti papos de galinha, elastyl. Enfim, por momentos pensei estar num armazém de armamento pesado.
Será que alguém acredita que a nossa pele sente mesmo a diferença de um creme de noite para um creme de dia? A epiderme pensa: Espera lá, o sol já se pôs, preciso do creme de noite... Agora já amanheceu, dá-me com o creme de dia filha.
É só a mim que isto soa a TRETA???
E os nomes que dão aos produtos, por favor Estuque Refirmante???? Porque é que não vamos ao AKI e compramos um potezinho daquela massa tapa buracos para tapar a celulite?
Mulheres viciadas em cremes de beleza, ACORDEM por favor. Isto é apenas mais uma forma de vos fazer gastar dinheiro só para ficarem exactamente na mesma.
Mantenham a pele limpa e hidratada com um bom creme, o resto é pura ilusão de óptica...

quarta-feira, 4 de março de 2009

Parte 2 (o silêncio do amor)

A rapariga de olhar inexpressivo traz o café na mão e dirige-se à sua mesa. Artur aclara a voz, prepara-se para dizer o que quer que seja, o seu nome, o nome dela. Pouco interessa, o que importa é começar, depois ele tem a certeza que as palavras surgirão como um turbilhão e a sua boca vai finalmente ligar-se ao coração. É agora ou nunca, ela pousa a chávena sobre a mesa e ele olha-a com toda a força do amor que sente. Mas é a voz dela que se impõe:
- Sente-se bem? – Os olhos verdes dela parecem pedir-lhe que fale – Está com uma cara estranha.

Artur quer responder, quer dizer-lhe porquê aquela cara estranha, contar-lhe como a vida dele está nas mãos dela.

- Talvez o café não lhe vá fazer bem, afinal já é o terceiro que pede hoje. – Ela tira a chávena de cima da mesa.

Artur grita por dentro, o seu coração quer sair do peito, o ar falta-lhe e as mãos são invadidas por uma humidade que sempre o assalta quando está nervoso. As palavras que tinha para lhe dizer prendem-se, enrolam-se no meio da língua como um travão e nem uma palavra é proferida. Nada.

- O café fica, ou vai? – A voz dela já não tem nada de doce, limita-se a ser impaciente.

O som oco da chávena pousada sobre a mesa faz com que ele acorde daquele sono e ainda vá a tempo de vê-la afastar-se abanando a cabeça. Artur levanta-se atrapalhado, deixa umas moedas sobre a mesa e sai apressado do café. Ao respirar o ar frio da noite, sabe que falhou mais uma vez. Se as horas corressem com a lentidão que ele desejava. Se pelo menos o dia não desaparecesse tão inesperadamente, talvez ele tivesse conseguido.

O Teu Olhar


Quando sorris para mim com os teus olhos rasgados vês-me como a pessoa mais importante da tua vida, vês-me como jamais imaginei que alguém me fosse ver.
Porque nós somos tanto pelos olhos alheios, pelos teus olhos aprendi a gostar mais de mim, a ver-me com uma importância que nunca pensei ter.
Quando penso que não podia ser mais incompleta a tua voz completa-me dizendo que me adoras.
Quando penso que não podia estar mais calada por dentro e por fora, tu obrigas-me a arrancar as palavras de dentro de mim e a formar verdadeiras declarações de amor.
Quando só quero fechar os olhos e deixar de sentir por um segundo apenas, tu puxas-me a mão e obrigas-me a olhar para ti e quando isso acontece vejo-me através dos teus olhos e sinto que fiz uma coisa certa na minha vida. Tive-te a ti.
Obrigada por me teres ensinado a amar-me através do teu olhar minha filha.

terça-feira, 3 de março de 2009

O Silêncio do Amor parte 1


A mão fria dele passa no caminho do braço arrepiado dela, mas não se detém, apesar de ter sido com esse propósito que se levantou.
Ela olha-o finalmente, enquanto acaba de limpar a mesa com um pano molhado:
- Vai tomar mais alguma coisa? – A voz dela soa-lhe doce, como uma carícia. Ele nem se apercebe que nessa voz não há a menor emoção.
- Mais um café por favor. – A voz dele sai rouca e desafinada de pura emoção, falar com ela sobre nada é a sua dádiva diária.
Artur vê -a afastar-se na direcção do balcão para pedir o café e respira fundo. Diz para si próprio que quando ela se virar lhe vai sorrir. Quer dizer-lhe tudo de uma só vez, tudo o que sente, o que imagina, o que sonha. Quer mostrar-lhe a verdadeira razão pela qual vai todos os dias há mais de dois anos àquele café, àquela hora e se senta naquela mesma mesa, só para poder ser atendido por ela, só para poder vê-la, ouvi-la. Com um bocadinho de sorte, tocar-lhe ao de leve, ainda que por acidente, como hoje...

segunda-feira, 2 de março de 2009

Desabafos de Novela

É engraçado como começamos os nossos projectos com uma certa distância dos personagens, vamos entrando devagarinho na vida deles, a medo, quase pedindo com licença.
As falas não fluem na perfeição, pois eles ainda nos são estranhos, ainda estamos a acertar ponteiros. A meio do projecto a paixão deles é a nossa paixão, as tristezas confundem-se com as nossas, os dilemas por resolver não nos deixam ao longo do dia, chegamos a pensar pela cabeça deles, como se fossemos um só. Andamos ao seu ritmo e esquecemos o nosso. E conciliar isto com a vida real é do mais complicado que há.
No final, depois de 10 meses de trabalho consecutivo, já não os podemos encarar, só queremos dizer adeus, que se resolvam os problemas, dilemas amorosos, mistérios insolúveis. Dentro de mim um desejo absurdo de os pôr à batatada por tudo e por nada, só para os despachar a todos num único e derradeiro episódio. Só queremos ter um dia para nós, longe deles e das suas vidas. Só queremos lembrar-nos de como é que éramos antes de começarmos esta história.
No final, quando lemos FIM, suspiramos de alívio, cansaço, esgotamento e começamos o processo de esvaziamento cerebral.
No dia seguinte toma-nos de assalto a saudade, queremos tê-los de volta, mas já não dá.
Dois dias depois a angústia de saber se voltaremos a ter outra história na nossa vida.
Se isto não é viver numa montanha russa de emoções, então não sei o que será...

O Mundo ao Contrário


Eu já sei que não é politicamente correcto dizer estas coisas e que ultimamente se vive numa época do politicamente correcto. Emite-se uma qualquer opinião e temos logo uma centena de fundamentalistas aos gritos a chamarem-nos de tudo. Mas eu vou ter que falar disto. E começo com uma simples pergunta: O que é esta merda?
Uma mulher que não se sentiu mulher, durante toda a vida quis ser homem e toca de fazer a sua transformação, toma tudo o que é estrogénio, fica sem mamas, cheia de pelos, barba, enfim, fica o verdadeiro macho. Até aqui nada que me choque.
Passado um tempo descobre o apelo da maternidade (ele e a parceira). Esperem lá, mas ela não queria ser homem? Por ventura os homens sentem tal apelo, desejam estar grávidos, sentem o relógio biológico feminino a dar horas, o apelo do útero, chamem-lhe o que quiserem?
Porventura os homens que querem mesmo ser homens sonham com uma gravidez?
Parece que ele/ela não sabia afinal bem aquilo que queria, pois de pêlo debaixo do sovaco, barba e peito de macho, decide ser mulher por nove meses.Apenas o tempo suficiente para gerar dentro de si um pobre inocente que quando tiver idade suficiente para fazer perguntas, vai ver as fotografias do pai grávido dele.
Engravidar por capricho sempre me pareceu aberrante, mas por um capricho deste tamanho, acho criminoso.
É claro que, apesar de já ser uma notícia antiga, a TVI foi repescá-la para a noite de abertura do seu TVI 24. Porque é que não estranhei?
ADENDA DE ÚLTIMA HORA: AFINAL O HOMEM/MULHER/MÃE/PAI/COISA ESTÁ GRÁVIDO PELA SEGUNDA VEZ!!!!!!!!

domingo, 1 de março de 2009

Dias Que nos Marcam

Há dias que nos marcam a vida para sempre.
O dia em que o meu pai saiu de casa e a minha mãe me disse que eles se iam separar, tinha eu sete anos.
O dia em que te reencontrei quando já mal me lembrava do teu rosto.
O dia em que segurei o exemplar do meu livro nas mãos e chorei de pura felicidade.
O dia em que falámos pela noite dentro na praia e nos pusemos a par de tudo o que nos tinha acontecido durante o tempo em que havíamos estado separados.
O dia em que terminei o meu curso.
O dia em que apareceste aqui em casa com uma rosa amarela e uma garrafa de tinto e eu tive a certeza de que já não me vias apenas como uma amiga.
O dia do nosso casamento.
O dia em que soube que estava à espera da nossa filha.
O dia em que ela nasceu.
E todos os dias em que acordo com o teu braço sobre o meu corpo, como se durante o sono tivesses medo de me perder.
Agora que olho para trás, na maioria dos dias que me marcaram, tu estavas lá.