domingo, 29 de dezembro de 2013

roteiro natalício para otários: Check

Fomos um bocadinho antes da uma da tarde, pois sabíamos que à hora da sagrada refeição ninguém penetraria no interior da tão falada Aldeia de Natal, em Lisboa.
Pagámos a bagatela de 40 euros/bilhete de família e lá transpusemos a entrada, esperando encontrar a sétima maravilha natalícia, pois por aquele preço, não poderíamos esperar menos do que neve nos cornos, um Pai Natal a cada esquina, vinho aquecido com canela, transporte em trenós puxados por renas, enfim, a Lapónia no Marquês de Pombal. Mas nada disso, ali estavam, de facto, 3 jovens renas, às quais apenas se tinha acesso pagando uma fotografia ao lado de anões rodeados de lama. Estava também uma coruja das neves, acorrentada e umas árvores salpicadas de branco e rodeadas de lama.
Subimos um pouco, em busca do presépio humano, apenas para descobrir que S. José, Nossa Senhora e o menino tinham ido à bucha, pois só estava o burro perto da manjedoura e na tenda dos reis magos, apenas um rei dormitava perto dos três camelos (o ponto alto da visita).
Cinquenta por cento da Aldeia de Natal é composta por cabaninhas para a bucha e respectivas mesas de apoio, com leitão, caldo verde, pão com chouriço e brigadeiros.
Havia uma espécie de globo de plástico, onde se fazia fila para os putos penetrarem e receberem com esferovite, ou espuma na carola, simulando neve nórdica e mais uma fila para, pasme-se com a originalidade, pinturas faciais.
Facto 1 e, no fundo, o mais importante: Os miúdos gostaram. Afinal de contas, ainda estão na maravilhosa idade de encontrarem encantamento em tudo.
Facto 2: À organização desta merda mal amanhada: VÃO ROUBAR PARA A ESTRADA.

sábado, 28 de dezembro de 2013

superar obstáculos

Nem todos temos que ser heróis e superar obstáculos de forma irrepreensível, até porque o tamanho dos obstáculos varia consoante os olhos que os enfrentam. É precisamente como a tolerância à dor, que varia de pessoa para pessoa.
Essa treta de enchermos o peito a desafios que nos tolhem é precisamente isso, treta. Resulta para uns, não tem que resultar para outros.
Muitas vezes é de peito para dentro e estômago colado ao coração que avançamos, a medo, inseguros, mas ainda assim ousamos dar o primeiro passo, mesmo sabendo que poderemos estacar ali adiante, envoltos na névoa da falta de forças e de protagonismo na nossa própria vida, envoltos na dúvida de que somos realmente capazes de fazer diferente.
E isso não é necessariamente bom, nem mau. É apenas.
Para esses, cada pequeno passo que não volta para trás é uma imensa vitória, mas não é um salvo conduto para que tudo continue a correr bem. Há que firmar bem os pés a cada passo alcançado.
Admitirmos que somos frágeis é abrirmos a porta a caminhos diferentes daqueles que trilham os que derrubam tudo à sua frente e assumirmos que nem todos temos que ser super heróis, mas que nem por isso, deixaremos de ter as nossas pequenas grandes vitórias.

quarta-feira, 18 de dezembro de 2013

Professores

Eu já sabia que os nossos cursos eram merdosos, mas constato, da pior forma possível, que é o próprio governo que não acredita neles, pois entende não serem suficientes para atestarem a capacidade dos professores leccionarem.
Deviam inventar assim uma espécie de exame da Ordem dos Advogados para o resto de todas as profissões. Vamos lá arranjar mais um patamarzinho para escalar e para verificar que não andaram todos a tirar cursos à Relvas.
Eu já sabia que trabalhar para o Estado, no nosso país, é exercício estoico e masoquista, que só aguenta quem tem rendas e empréstimos para pagar e filhos para sustentar, mas ultimamente sei-o com mais segurança do que nunca e maça-me ver aqueles que ajudam a educar os meus filhos, aqueles em quem confio para lhes ensinarem as coisas que não consigo ensinar-lhes, sujeitos a tanta merda.
Maça-me e sinto-me um bocadinho envergonhada.

terça-feira, 17 de dezembro de 2013

PUB

Num país de sacro santos jornalistas, em que os Deuses do Jornalismo caem em cima de Rodrigo Guedes de Carvalho, por ter conduzido uma entrevista fictícia de humor, ninguém fala sobre os profissionais da área, que utilizam blogues pessoais para, de forma encapotada e manhosa, fazerem publicidade a produtos?
"Hoje, acidentalmente e de forma totalmente aleatória, tropecei numa lata de Sagres, que caiu, acidentalmente e de forma totalmente aleatória, de uma varanda e, como não tinha mais nenhuma bebida refrescante ao meu alcance, abri a lata e, só por acaso, experimentei. Soube-me tão bem e dizem que tem propriedades medicinais. Dizem, que eu cá não digo nada".
Façam lá a publicidade toda que quiserem, pois que eu também me venderia por um carrinho de compras no supermercado (e continuo a achar que sou subvalorizada em termos de propostas publicitárias, olá, olá, estou aqui!).
Só não façam as pessoas de estúpidas, combinado?

quinta-feira, 12 de dezembro de 2013

Mudar o Foco

Sempre invejei as pessoas que conseguem conduzir com penduricalhos no retrovisor, sejam eles árvores de cheiro, mulheres semi-nuas, ursinhos de peluche, flores, bandeirolas de um clube de futebol. Como conseguem eles conduzir sem estar permanentemente a olhar para aquele objecto saltitante, mesmo em frente dos seus olhos? Como conseguem abstrair-se daquela coisa que se agiganta e salta, sem desviarem o foco da estrada?
Isto vale para o resto das coisas na minha vida, pois é como se tivesse um auto-focus a funcionar na minha cabeça, uma espécie de programador automático que não me deixa apreciar as pequenas coisas, quando objectos maiores se atravessarem à minha frente.
Será que preciso de meditação, de yoga zen, ou yang? Será que preciso de rever os meus olhos-pós-operação-miopia, a fim de deixar de ser míope para as coisas do espírito?
Gostava de levar a cabo todos aqueles bonitos dizeres que nos mandam dançar à chuva em dias de chuva, pegar nos calhaus do caminho e construir castelos, juro que sim, pois ainda vejo a chuva como uma coisa desconfortável que me molha e me acinzenta e os calhaus, bem, acho que os calhaus, para mim, serão sempre calhaus.

quarta-feira, 4 de dezembro de 2013

natal

O rosto corado pelo cansaço debruça-se sobre a mesa enfeitada de cores de verde e encarnado. Acende as últimas velas e dos lábios brotam suspiros de dor, pois o vigor da juventude há muito abandonou os músculos que lhe comportam os passos.
As crianças gritam, pedindo os presentes e temendo aquele homem barbudo e de pança pronunciada que se reveza com o menino jesus da sua meninice.
Não lhe acha mal, ao Pai Natal, nem ao rebuliço barulhento dos netos. Não encontra mal no cansaço e nos afazeres que lhe enchem a casa de vida, pois sabe que os anos diante de si são apenas uma questão de poucos dias.
Não encontra angústia no excesso de mimo, do qual os meninos parecem sempre cobertos nesta época, pois sabe que não há nada como o mimo bem doseado nas alturas em que é suposto o amor aparecer em excesso.
Lembra a vizinha do outro lado da rua e coloca o xaile sobre os ombros. Irá lá levar-lhe uma mão cheia de rabanadas e sonhos. Não dos sonhos que se sonham, mas daqueles que adoçam a ponta da língua. Ela não quer vir para a sua casa, não lhe diz nada já o Natal. Faz questão de não o celebrar, mas todos sabem que o chora com o fervor dos que acreditam nele e o perderam.
Regressa para casa e abraça os netos, um por um, prometendo-lhes o mundo inteiro de mimo perto da chaminé e sabendo que o Natal será sempre assim, em função dos outros, pois é nessa função que se encontra e que concilia aquilo que lhe é importante.

sexta-feira, 29 de novembro de 2013

a minha terra

A luz entra pela direita e aquece-me o rosto enclausurado na mesma expressão. Entra enviesada, tocando ao de leve as palavras frias que não profiro e iluminando aquele esgar de dor que não chego a materializar.
Quero que seja sempre assim, a luz, que chegue quando eu não der por ela e que se faça sentir apenas por sugestão na minha pele. Pensando melhor, quero que seja também assim a morte.
Do outro lado da janela, além da claridade morna que me recorda que existo, anuncia-se o casario branco e abandonado, onde já não moram vozes, nem se entoam canções na direcção do vento. De onde me encontro, vejo o vermelho gasto das telhas e pronuncio em voz alta os nomes das pessoas que ali viviam, deixando que a fina e acutilante dor da saudade me lembre que ainda permaneço ali.
O Crisóstomo, a Jacinta, o velho Dário das pernas mancas e a Dulce, a doce Dulce dos cinco filhos, que os contava a cada manhã, conferindo-os, para nunca lhes perder a conta, nem o feitio.
Já eu, não preciso de contá-los, pois perdê-los de mim é uma impossibilidade emocional. Trago-os no meio do vento e da luz desta aldeia onde permaneço. Caminho-os, quando, de pés doridos e frios, insisto em percorrer as ruas empedradas e vazias, parando em cada porta antiga que os tinha e chamando por eles, como se assim pudessem retornar à nossa terra e deixar de a pensar no singular, abandonada da vida dos outros.

quarta-feira, 27 de novembro de 2013

avós

Avós, muitos avós no feminino e masculino, acompanham os netos nas actividades pós escola. Uns ficam a preencher palavras cruzadas, outras definem estratégias de banhos e jantares, falando com as filhas pelo telemóvel, ordenando que não se atrasem de novo, que não sabem se têm jantar para os meninos, mas tentarão dar um jeitinho.
Eu sou uma das poucas mães no meio infindo de tantos avós que esperam pelo final da aula de natação. Fico ali sentada, a ver a minha filha crescida nas suas braçadas periclitantes, a bebericar um café demasiado torrado e a pensar que, hoje em dia, muita coisa só é possível por causa dos avós e que eles estão de novo, como nos primórdios não tão antigos da nossa História, a regressar em força à vida dos netos.
O que seria destas filhas com filhos, sem os seus pais, ou sogros, para complementar os seus atrasos, as suas idas madrugadoras para o trabalho? Agradecer-lhes-ão o suficiente? Terão consciência dessa maternidade tão mais suavizada pela presença constante e sem cerimónia daqueles que estão lá por elas?
Espero que sim.

segunda-feira, 25 de novembro de 2013

Uma imagem vale mais do que Todas as Palavras de Amor

Ela decidiu começar a fotografar pessoas que leem e, graças a ela, percebi que as pessoas ficam sempre bonitas quando leem.
Criou um blogue onde coloca as fotografias que tira a essas pessoas, juntamente com algumas frases que o leitor fotografado tem a dizer sobre o livro que segura nas mãos. Chamou-lhe Acordo Fotográfico.
Ela decidiu aparecer na Feira do Livro, no dia em que eu andava por lá, e achar que valia a pena tirar-me uma fotografia para o seu blogue (sim, há pessoas que encontram interesse nas pessoas menos interessantes do mundo ;))
Finalmente conseguiu o impensável: Fotografar alguém que lia o meu livro. E quando hoje vi esta fotografia

e o texto que a acompanhava, percebi como uma imagem tem o poder de nos fazer sentir tantas emoções em simultâneo e como sintetiza na perfeição tudo aquilo que não conseguimos transpor para palavras.


terça-feira, 19 de novembro de 2013

Sucesso de Vendas e Mitos Urbanos



Já há muito tempo que percebi que o facto de um livro constar de um top de vendas, nacional, ou internacional, é sinónimo para muitos, de reles qualidade literária.
Mas não acreditem em tudo aquilo que é suposto acreditarem, como o facto de os livros bons apenas serem apreciáveis por uma minoria eclética, que vasculha alfarrabistas, ou livrarias gourmet. Ou o mito que os escritores que têm sucesso não têm qualidade.
Aqui temos três exemplos de sucesso, que ocuparam as prateleiras dos tops e que mereceram o top, sim senhora :)

segunda-feira, 18 de novembro de 2013

A mãe

Abraça a filha doente, numa fotografia com contornos de amor e dizem-lhe que acredite na cura, que os milagres existem. Ela, que acreditou durante tanto tempo que os milagres aconteciam, começa a ficar cansada de ouvir falar em milagres. Apenas quer sentir o cheiro da sua menina.
Abraça a filha doente, numa fotografia a preto e branco, onde deixa o seu desejo de poder trocar de lugar com ela, pois essa troca de vidas é a única ideia que se lhe afigura como razoável, e falam-lhe de novo na fé que não pode perder. Ela, mulher de fé durante tantos anos, começa a ficar cansada que lhe falem de fé. E acha que pode perdê-la sim, sem que seja crime, sem que tenha que sentir-se pecadora.
Ela, mãe de uma menina doente, olha a fotografia a preto e branco e nada concebe além daquele momento. Deseja apenas ficar ali, sentindo a respiração quente da sua filha doente.
A mãe não quer mais ouvir falar de fé, nem de milagres. Ela não quer mais saber de curas metafísicas, nem correntes de orações que salvarão o seu amor.
Ela quer que calem as palavras de consolo, as correntes de fé, as orações pela cura que não cura nunca.
Ela não quer escutar rigorosamente mais nada além das batidas do coração da menina que é sua, por enquanto. Ela quer apenas poder trocar de lugar. Esse é agora o único milagre que pede.

quarta-feira, 13 de novembro de 2013

Na memória

Deve ser fodido morrermos. Principalmente quando temos tanta coisa por fazer. E é incrível como nos surgem sempre tantas coisas por fazer, quando a possibilidade concreta da morte nos chega sob a forma de um exame e da voz distante de um médico.
Queria mostrar a mim própria que sou capaz de fazer duas mãos cheias de coisas, que até podem nem parecer grande coisa, mas que são imensas para mim. Queria continuar a viajar e a sentir que o meu mundo é tão incrivelmente irrelevante, quando comparado ao mundo dos outros, que nos são diferentes. Queria continuar a perder-me na descoberta de outras culturas, pois é a melhor forma que conheço de me perder. Queria continuar a escutar o ruído da minha cidade, a chuva no rosto e o vento na cara, enquanto pedalo a toda a velocidade no meio do trânsito. Correr, meu Deus, que saudades de correr e calçar sapatos confortáveis e escolher uma roupa bonita. Queria continuar a comer aquela pizza fininha e calórica, naquele restaurante meio seboso que adoro, sem imaginar a gordura processada a alimentar-me o cancro. Queria continuar a pintar as unhas, a tomar duche a horas despropositadas, beber imperiais geladas, sem ter que lidar com sintomas secundários. Queria continuar a ler livros e a sentir o gosto do café acabado de fazer. São as coisas em que ninguém repara que me dói mais ter que perder. E depois temos as coisas mais importantes. Dessas não falo. Sonho-as apenas, como um sentimento que magoa por nunca nos ter acontecido.
As coisas importantes, como o amor, nunca me aconteceram de verdade. E isso. O amor, ou a falta dele, é o que me custa mais.
Estou agarrada à esperança de vir a ser amada e isso pode muito. A esperança do amor é bem capaz de me dar alento ao corpo, para que lute contra os agressores, para que não desista já. Não enquanto não tiver conhecido aquilo de que falam os outros.
É um tremendo lugar comum, bem sei. Mas é nos lugares comuns que reside o que verdadeiramente importa, quando lidamos com isto do cancro.

terça-feira, 12 de novembro de 2013

Em defesa de Magali

Pois que venho aqui, extemporaneamente bem sei, mas ainda assim a tempo de defender Magali Rebelo Pinto dos vis insultos que têm sido proferidos na sua direcção.
Factos:
As opiniões revestem-se da importância de quem as profere, e Magali não desempenha funções num qualquer cargo público, que a forcem a ser comedida nas suas opiniões.
Magali não tem que partilhar das nossas opiniões.
Magali, apenas porque escreve livros que muitas pessoas debicam, não tem necessariamente que conseguir falar de forma a alcançar o top 10 de popularidade.
Magali disse aquilo que achava sobre pessoas e crise e austeridade e coisas, imensas coisas, sei lá. E essas coisas são aquilo em que acredita.
Perguntarão vocês:
Mas como é possível isso ser aquilo em que ela acredita?
E responderei eu:
É possível, sim. Eu acredito que existirá imensa gente a pensar como ela. Pelo menos tantos quantos votaram PSD nas últimas autárquicas e temos que respeitar opiniões diferentes, ainda quando a vontade interior seja a de arremessarmos tijolos na direcção de quem as profere.
Este é o maior dos exercícios de democracia e cidadania. Respiremos fundo e passemos ao lado.

segunda-feira, 11 de novembro de 2013

O meu lugar são vocês

Cresce e não sofre retrocessos, daqueles que nos fazem questionar a sua prevalência.
É linear, no sentido ascendente, ao longo da nossa vida inteira.
É escuro e pintado de medo, quando pensamos que podemos perdê-lo e radiante, pleno dos reflexos da felicidade quando sentimos que o temos na nossa vida, com a cadência suave das coisas que não podem partir, porque não é suposto que partam antes de nós.
É pleno e esvazia-nos de tudo aquilo que não importa e vem sempre no começo de todas as listas de prioridades.
É o que melhor nos ensina um sentido para tudo aquilo que fizemos até ele e é ele quem nos diz que há sempre um sentido, desde que o tenhamos no final do dia, em forma de voz, cheiro, importância física.
É ele o grande, imenso, incomensurável amor da nossa vida e venham paixões pouco domesticadas, homens e mulheres e amigos e amigas, cheios de fogo e vento e tudo aquilo que nos sopra de vida apaixonada. Venham viagens e conquistas e bravas e louváveis atitudes, venham pessoas que nos aplaudam, outras tantas que nos abençoem, venha o mar, o céu, a terra inteira engolir-nos, a fim de mostrar-nos que a vida é muito mais, que a mim bastar-me-á sempre os vossos braços em redor do meu pescoço, os vossos lábios suaves na minha bochecha orgulhosa, para sentir que é precisamente esse o meu lugar e que não moveria nada de tudo aquilo que não fiz, ou das coisas que não me fizeram feliz, se isso implicasse não ter-vos, tal e qual vos tenho.
É que eu não sabia que podia amar-se assim antes de vos conhecer. Não sabia que a vida podia parecer tão imensa antes, mas tão pouca depois.
Não sabia que podia amar-se assim e hoje sei que pode existir uma espécie de amor sem mácula, nem egoísmo. Uma espécie de amor que sobrevive apenas do cheiro, da voz, das mãos e dos olhares na minha direcção, ou para longe de mim.
Serei para sempre vossa e vocês, irremediavelmente, cada vez menos meus, mas não importa, pois sei que nada mudará.

quinta-feira, 7 de novembro de 2013

solidão virtual

Passeio em Sintra e decido fotografar os meus ténis no meio da calçada e das folhas alaranjadas pelo Outono. Inspiro a única humidade que desculpo, a de Sintra, e olho em meu redor. Tudo aquilo é fotografável, publicável, partilhável e, por momentos, esqueço-me de que estou ali e de que é verdadeiramente possível existir fora das partilhas virtuais.
Os meus pés nas folhas, que bela fotografia para o Instagram, a minha ida a um hotel centenário, o que seria se não a partilhasse e esperasse pelos comentários dessa rede invisível, que liga pessoas que não vemos.
Passeio em Sintra e penso como é estúpida esta constante partilha de tudo e como faz com que nos sintamos sempre superiores àquilo que realmente somos.
Há quem cozinhe e partilhe aquilo que come, imaginando-se o Jamie Oliver, ou guru das comidas saudáveis, há quem empreenda tarefas domésticas e as descreva on-line, com dignidade de trabalho, quando na realidade são um simples desespero, sem brilho, nem graça de espécie alguma. Há quem escrevinhe pensamentos na sua página virtual e entenda que os comentários àquilo que escreveu validam a sua veia artística, que pode até ser nula. Há quem partilhe uma doença de um filho, por sentir-se mais acompanhada na luta inimaginável que atravessa.
Não consigo julgar de verdade, mas fico triste, pois nada disto é sinónimo de amizade, nada disto equivale a talento, nem popularidade real. Nada disto é verdadeiramente nada. Revela apenas um talento para fugir a si próprio, ou à solidão.
O número de casais que decide sentar-se nas mesas dos restaurantes, cada um partilhando aquele momento na rede, com os seus Tablets, ou Smart Phones e não se comunicam, não se olham, não se falam, não se dirigem, assusta-me de forma irreversível e obriga-me a desligar às pressas todos os aparelhos que me liguem ao mundo fora dos meus momentos importantes.
É que tenho medo de me esquecer como se vive, com todos os podres que são inerentes a qualquer vida normal, sem empolamentos.
A internet, a par de tantas coisas magníficas que trouxe, trouxe também a morte do olhar e morro de medo de me esquecer como se olha pelos meus olhos.

segunda-feira, 4 de novembro de 2013

alguém sabe

quantos litros de baba é possível jorrarmos pelos nossos filhos, sem pôr em causa a eficácia dos desumidificadores da nossa casa?

Prova de obstáculos

Alguém me disse, com razão, que o casamento é uma prova de obstáculos. Há quem prefira parar a cada obstáculo e reconsiderar o percurso inteiro e há quem simplesmente se dedique a encontrar uma forma de ultrapassar o obstáculo que surge. Há os optimistas que nunca enxergam obstáculo nenhum, mesmo quando está um rochedo diante do seu nariz, e há os que encontram rochedos em cada pequena pedra no caminho. Há os que pensam que o casamento tem que ser um constante passeio no parque, a cada dia, a cada minuto de vida em comum, há que respirar a paixão e enamoramento do começo de tudo e há os que pensam que o casamento é sinónimo de final de tudo aquilo.
Da conjugação destas visões surgirão discussões, fugas em frente, ou para baixo, dias péssimos, outros muito bons, mas cada vez menos dias de passeios no parque, até porque deixa de haver tempo para passeios e os parques nunca são como idealizámos.
O casamento é tramado, duro e execrável muitas vezes e outras tantas é precisamente o que precisamos para nos sentirmos felizes. É simplesmente assim e isso não é mau, nem bom. É.
Quanto mais lúcidos estivermos em relação à natureza do casamento, mais fácil será resolvermos os problemas que surjam, sem grandes extrapolações, nem dramatismos.





sexta-feira, 1 de novembro de 2013

Coisas que me chateiam, outras que nem por isso e as abóboras satânicas

As pessoas que se indignam com o Halloween, aludindo a Satanás e afins, de cada vez que se cruzam com uma abóbora, conseguem ser mais chatas do que o próprio Halloween. Relaxem.
O Halloween é menos chato do que o Carnaval.
O Carnaval é mais chato do que o Pai Natal e do que o Halloween.
Os jornalistas que vasculham o lixo da Bárbara conseguem ser mais asquerosos do que o Manuel Maria.
Um jornal, ou revista, que sobressairia pela positiva seria um que não mencionasse uma única palavra daquele ser minúsculo (como bem diz o Daniel Oliveira).
O Manuel Maria podia fazer de máscara de Halloween.
As mulheres normais que passam a vida a dizer que estão gordas. Ok, uma vez passa, duas talvez passe um bocadinho, pois quem não se acha gordíssima, pelo menos uma vez por mês?Agora constantemente a carpirem o seu peso, quando não passam de pessoas nem gordas, nem magras, maça-me e dá-me vontade de desferir chapadas na direcção das suas faces.

segunda-feira, 28 de outubro de 2013

Manuel Maria

Manuel em Paris.
Maria-de-mão-na anca em Lisboa.
O que pensa esta Maria que consegue com as declarações rascas sobre a mãe dos seus filhos?
Não há um único neurónio pensante que o alerte, ou ficaram todos em Paris a discutir filosofia?
Pois aqui fica uma dica, Maria, uma dica de sabedoria popular e não de Kant, ou Descartes:
O que Manel diz de Bárbara, diz mais de Manel do que de Bárbara.

quinta-feira, 24 de outubro de 2013

felicidade é...

Assistir ao debate no parlamento, ontem à tarde, e verificar, com um certo encantamento comovente, que o nosso PM está a ficar careca.

quarta-feira, 23 de outubro de 2013

dúvidas que me assaltam

Para se subir na hierarquia profissional é mesmo preciso ser-se muito, ou medianamente filho da puta, ou isso é um mito?

quinta-feira, 17 de outubro de 2013

Em jeito de Epílogo

Este final foi diferente de todos os fins, pois não me apeteceu beber um copo de vinho tinto, uma cerveja, nem dar pulos de satisfação, partilhando com todos aqueles que amo que terminei.
Disse-o apenas a duas pessoas, sem grandes exaltações, nem festejos, pois foi o exercício de escrita mais solitário e introspectivo que já vivi.
A pessoa com quem queria ter partilhado cada uma das palavras já não está aqui, à distância de um mail com um anexo. A pessoa com quem queria partilhar o que escrevi já não está à distância palpável de coisa nenhuma e eu gostava de acreditar que ainda me lê, mas não faço a mais pálida ideia se lá no sítio onde está ainda se preocupa com coisas terrenas como a leitura.
Para meu bem-estar, acredito que sim, que esteve comigo em cada linha solitária, pois tudo aquilo que escrevi foi para ela.


quarta-feira, 16 de outubro de 2013

Critica-se em privado, Elogia-se em público

Nunca percebi muito bem as pessoas que penetram nas páginas sociais de escritores conhecidos, ou de outras figuras públicas e decidem vomitar a sua sapiente opinião em forma de crítica naquele espaço lido por todos.
Outro dia espreitei a página do facebook de um conhecido e respeitado escritor português e encontrei o comentário de alguém que dizia qualquer coisa como:
Vi a sua entrevista na televisão e tive muita pena que alguém que escreve tão bem falasse tão mal, com tantos erros.
Ora bem, é caso para dizer: Que merda?!
Podes pensar assim? Claro que podes. É bonito dares-te ao trabalho de partilhar a tua não requisitada opinião em espaço alheio? Não, não é.
Na mesma ordem de raciocínio também sempre me custou perceber as pessoas que deixam correcções ortográficas nos comentários dos blogs, com verdadeiro sentido de missão pedagógica e fingindo altruísmo, em prol da língua mãe. Aqui também é caso para dizer: Que merda?!
Acham sinceramente que alguém vos agradece a lição/aula pública?
Não entendo, juro que não e olhem que já tentei por diversas vezes.

segunda-feira, 14 de outubro de 2013

A ordem dos desejos é arbitrária

Há quem faça listas de desejos no final do ano, há quem as faça quando sente que a vida lhe foge, há quem as faça porque acha que fazendo listas será capaz de as cumprir.
Eu faço aqui uma lista por motivo nenhum em especial, além de ser a lista de coisas estúpidas que sempre quis fazer, mas precisamente por serem coisas estúpidas, ficam sempre remetidas para dia nenhum. A saber:
- Conduzir até ao fim da reserva do depósito de gasóleo. Vi uma vez um episódio do Seinfeld em que o Kramer conduzia o carro, num misto de pânico e loucura, à espera que o depósito secasse e eu identifiquei-me com aquele misto de pânico e loucura, pois sou mulher demasiado previdente em termos de gasóleo.
- Passar por uma portagem com portageiro e não parar, limitando-me a atirar, em andamento, uma mão cheia de moedas de 1 cêntimo lá para dentro.
- Vestir-me toda de cabedal preto, enfiar dezenas de piercings na trombinha e partes moles, tatuar-me e pintar o cabelo de negro asa de corvo e parar numa fila de trânsito, com o volume do rádio no máximo, os graves a fazerem com que os outros carros estremeçam e a música que bomba no meu bólide ser "atirei o pau ao gato", versão André Sardet, ou Avô Cantigas.

É estranho, mas estes 3 desejos envolvem trânsito e carros. Os outros guardo-os para mim, pois não quero que permaneçam provas virtuais da minha insanidade.
E como sei, porque li algures, que os posts que terminam com uma pergunta têm maior "audiência" e como eu vivo, respiro e transpiro "audiências", aqui fica:
Qual é o vosso desejo mais estúpido? :)

domingo, 13 de outubro de 2013

Já no final da segunda caixa de antibiótico

É que encontro força anímica para vir aqui verter palavras de pouca profundidade.
Fui acometida por uma bronquite, que se transformou numa sinusite infinita, que me deu dores de dentes, dores na cara, dores no mais refundido da alma e que me retirou qualquer espécie de vontade de blogalhar, uma vez que outras escritas mais imperativas se impunham.
Miúdos adoeceram também com tosses e ranhos e afins e eu quis padecer de verdade, pois que não me passava a sinusite e que me doía constantemente a carola. Virava-me para o lado direito e doía, virava-me para o lado esquerdo e doía, baixava-me e doía, sorria (raramente, é certo) e doía, tentava pensar e doía, tocava com a mão na testa e doía e descobri, na cadeira do dentista, que a puta, sim ela não pode ser tratada de outra forma, da sinusite, me pressionava os dentes de cima e me provava dores na cremalheira.
Só anteontem comecei a melhorar e a pensar que afinal talvez valha a pena viver.
Quero dizer-vos também, publicamente que é para ficar nos registos da História da humanidade, que, após aqueles dias de nevoeiro intenso que se abateram sobre o país em geral e a minha casa em particular, decidi comprar um desumidificador, e garanto-vos que a água que tenho tirado dos nossos quartos é mais do que suficiente para abastecer o Alentejo em tempos de seca.

terça-feira, 1 de outubro de 2013

O mais e o menos

O mais desta semana:
Eleitores do Porto.
O menos desta semana:
Eleitores de Felgueiras, ups, de Oeiras/o Concelho com mais licenciados do país.
O tempo de pura gosma que tem estado por aqui e que faz com que tenha lesmas a treparem pelas paredes da casa e um cheiro a nevoeiro nos lençóis.

segunda-feira, 30 de setembro de 2013

Missing

Peço a vossa ajuda para voltar a encontrar o blogue da Melissa.
Se alguém souber como resolver a situação, ou se já tiver perdido o seu blogue para o buraco negro da blogosfera, podem deixar aqui sugestões. É que o blogue dela faz-me falta.
Imensamente agradecida

quinta-feira, 19 de setembro de 2013

O meu coração já não está aqui dentro

Apertado numa caixa que o protege, ele bate e movimenta-se, bombeando o sangue para dentro e para o resto do meu corpo, mas na realidade o meu coração está a alguns quilómetros de distância, mais precisamente dentro de uma sala de aula, na escola do António.
Pensei que tudo fosse ser razoavelmente fácil e sem grandes percalços, pois o meu filho nunca foi especialmente preso a mim e sempre gostou de se aventurar no parque, de galhofar com os primos, de correr como um doido e dizer que sim a qualquer aventura, por isso, quando no primeiro dia de escola ele ficou a dizer-me adeus com um sorriso, confirmei que tudo decorreria sem grandes angústias e o meu coração, apesar de mais pequeno, bateu com força pelo coração pequeno e independente dele.
Passaram alguns dias, uma virose e outra constipação depois, passaram alguns dias, poucos, e ele começou a perceber que a escola fazia efectivamente parte das "obrigações". Passaram alguns dias, muito poucos mesmo, e o António começou a acordar de madrugada, a dizer-me que não quer ir à escola, anda pela casa angustiado e sem sorriso a perguntar-me se tem que ir à escola.
Ao jantar é essa a preocupação dele, de madrugada é essa a preocupação dele, de tarde, quando chega a casa, é essa a preocupação dele.
Diz-me que gosta tanto da casa dele, que gosta mais da minha comida, que me quer muito e eu demoro sempre tanto a ir busca-lo (é o primeiro a sair). Confirma comigo cerca de 200 vezes por minuto, se vou mesmo busca-lo e eu digo-lhe que ninguém fica na escola, que irei sempre, mas sempre busca-lo. Volta a perguntar-me passados dois minutos, apenas para me confirmar na sua vida, para ficar seguro de que o amo e de que a sua realidade é também, e ainda, a nossa antiga realidade. Chora em casa e pergunta-me porque tem que ir, porque é que não pode ficar e eu deixo-me lá ficar perto dele, deixo o meu pensamento, o meu coração e umbom bocado do meu corpo bem perto e sinto-me sem coração o dia inteiro.
Depois tenho que pôr a minha cara cómica e escrever coisas ligeiras, passar para uma cara mais séria, enquanto escrevo coisas mais sérias, até chegar a hora em que ponho a cara serena para ir busca-lo e para continuar a confirmar-lhe que estou aqui e que o amo tanto, ou ainda mais do que sempre.
Não é fácil ter que pôr tantas caras e já estou perdida há muito tempo nesta confusão que é ter que fingir que tudo está bem, quando me sinto sem coração.
Dizem que é tudo natural, que é a adaptação dele a uma nova realidade e o deixar para trás a realidade que lhe é conhecida, mas eu não quero saber das coisas naturais que fazem sofrer o meu bebé, eu quero apenas que ele sorria e que o meu coração volte ao meu corpo.

quinta-feira, 12 de setembro de 2013

E nem sequer estamos no Natal

Alice contemplando a apertada chaminé da nossa casa, cujos únicos buracos estão cobertos por uma rede anti-ninhos-de-passarada:
- Mãe, és capaz de me explicar como é que o Pai Natal consegue entrar na nossa chaminé? Ou será que me mentiste?!!!
E é isto.

quarta-feira, 11 de setembro de 2013

alguém que me explique, como se eu fosse uma tartaruga aquática

Porque é que o Colégio Militar está de luto?
Não é o Instituto de Odivelas que vai fechar portas?
Onde é que estão as mulheres que deram nomes a ruas, pracetas, becos esconsos,que não se pronunciam em espaços de antena alargados, acerca do final deste prestigiado Instituto?
Desejo-vos sorte, queridas ex-alunas do Instituto de Odivelas, pois, para além de vos terem fechado as portas de uma instituição meritória, ainda vão ser obrigadas a levar com os meninos/alunos e dinossauros/ ex-alunos da Luz, rejeitando a vossa presença com bandeiras pretas e carantonhas assustadoras na televisão.
Eu até gostava do Colégio Militar, juro que sim, mas esta campanha corre o sério risco de levantar bastante azedume da minha parte e tenham medo, pupilos militarizados, que esta mulher, que não foi aluna de nenhum colégio de cariz militar, quando lhe dá para ser bélica, é capaz de organizar milícias armadas, apenas para fazer um cerco aos muros do colégio.
Quantas mulheres desempenham neste momento missões, cumprem serviço militar, morrem no desempenho das suas funções, em todos os cantos do mundo? Penso que algumas, mas não no Colégio Militar, pois que esse fica de luto só ao som da palavra "internato misto".
Onde é que andam as mães destes meninos, que não lhes metem juízo na cabeça?

terça-feira, 10 de setembro de 2013

a melhor dos últimos tempos

Chama-se The Big C e, tirando a terceira temporada que foi apenas mais ou menos a puxar para o bom, cada um dos episódios me fez rir, chorar, suspirar pelo episódio seguinte e sonhar que tinha sido eu a escrever os diálogos da Cathy.

quinta-feira, 5 de setembro de 2013

Tempo para o mais importante

Vi um anúncio de uma escola que está aberta das 7 da manhã às 8.30 da noite e tudo isto com pop ups, qual discoteca anunciando copos à borla.
Havia também o atractivo das noites de sexta feira, em que os putos podiam ficar até às 2 da manhã para os pais poderem sair, como parece que agora é moda fazer-se nas escolas.
Provavelmente não fecha o ano inteiro e, tal como a proposta do governo para fazer as pessoas trabalharem mais horas nos seus locais de trabalho, arrancando-as de outras obrigações relevantes, acompanham assim esta maré de desumanização da família e da vida em sociedade.
Sim, é perfeito para quem trabalha como um cão e não tem avós a quem recorrer para oferecerem ninho aos netos.
Sim, é perfeito para quem acha que depositar os filhos numa escola, deixando-os ao cuidado de terceiros, é o paraíso necessário à sobrevivência diária.
Sim, é perfeito para uma sociedade que se esqueceu de como se criam putos sem a ajuda das escolas.
Sim, é perfeito para uma sociedade que se esqueceu de como era antigamente, quando as férias eram férias e não Atl's, de quando as famílias eram elos e não elementos dispersos.
O governo acha, do alto do seu nazismo capitalista, que mais horas de trabalho correspondem a mais produtividade, qual fábrica, em que é preciso produzir numa linha de montagem, sem grande espírito envolvido.
O governo não flexibiliza, não humaniza, não se preocupa com as famílias e acredita, do alto da sua ideologia totalitária, que os trabalhadores serão mais produtivos com mais horas no couro, com mais espadas em cima da cabeça, com mais medo.
Não nos deixemos nós cair na mesma ideologia. As escolas não podem ser depósitos onde deixamos o que nos cansa, alivando assim um fardo demasiado pesado.
As escolas auxiliam-nos, sim, na educação dos grandes amores das nossas vidas, mas não são mais do que isso, auxiliares. Cabe-nos a nós, pais e, deixem-me sonhar, ao governo deste país cada vez mais merdoso, zelar para que haja tempo, porque o tempo que perdemos longe das coisas que nos são importantes, não se recupera nunca.

terça-feira, 3 de setembro de 2013

a pergunta que se impõe:

Sabem se existe algum grupo de ajuda para mães que vão ficar sem os filhos em casa?
Amanhã é o primeiro dia de escola do António e eu sinto-me em modo-padecimento-desfalecimento-perturbação-intestinal-desinspiração-total-e-absoluta.
Já tem o saquinho com a muda de roupa, o peluche, uma almofada preferida, uma mochila minúscula dos Angry-Birds e uma mãe que está à beira de um ataque de nervos.

segunda-feira, 2 de setembro de 2013

O éter evaporou-se

Foi-se embora um dos primeiros blogs que comecei a ler, um blogue onde me apetecia parar com uma caneca de café e uma mão cheia de biscoitos. Um blog onde me sentia em casa.
Foi-se embora o Cheirinho a Éter do Miguel, que conheci, juntamente com a sua mui esbelta família, e que se tornou um amigo.
Foi-se embora mais um blogue onde me sentia em casa.
E a verdade, nesta coisa da blogosfera, é que são cada vez menos os blogs despretensiosos, nos quais me apetece parar para beber um café, sem ser bombardeada com coisas que nada me dizem, apesar de dizerem tudo a quem neles escreve.
A verdade, neste estranho mundo dos posts, é que vou ter saudades de quando o Miguel era enfermeiro em Portugal e gastava os tempos mortos a falar para nós.
Ele emigrou e com ele levou as últimas snifadelas de éter e a mim custa-me ficar sem éter.
Custa-me.

sábado, 31 de agosto de 2013

A Limonada está na Moda


Onde quer que vamos, seja à tasca das bifanas, seja a uma tasca imunda em Sevilha, seja nos pregos, gourmet, ou não, seja no café, temos limonada e a realidade é que, quando é bem feita é das melhores bebidas do mundo.
Sempre fui a verdadeira naba da limonada, pois para conseguir emborcar o líquido de citrino amarelo, tinha que juntar meio quilo de açúcar à mistura.
Mas eis que se me fez luz no cerebelo e comecei a pulverizar açúcar e gelo na Bimby e a iniciar-me na arte da limonada do céu.
Junto-lhe gasosa gelada e os limões espremidos e fico a beber limonada na veia, todo o santo dia.
E pronto, achei que precisava de partilhar este achado bebível convosco :)

quarta-feira, 28 de agosto de 2013

Lixo

Apesar de ter conquistado o hábito de colocar algumas coisas que já não uso do lado de fora dos contentores do lixo de alguns bairros mais pobres, e saber que passados cinco minutos já nada ali fica, pois alguém passou e levou.
Apesar de ter alguma noção de que aquilo que já não tem uso para mim terá uso inestimável para alguém, odeio dar trapos aos mais carenciados.
As coisas que dou para a caridade estão sempre estimadas e lavadas. Não sou capaz de enfiar meia dúzia de coisas esburacadas e sujas num saco para dar a alguém.
Não gosto de confundir coisas que merecem o contentor do lixo, com coisas que os outros merecem.
Provavelmente é uma mania parvinha, mas é uma mania que não tenciono combater.

terça-feira, 27 de agosto de 2013

Crise dos 38

Está menina.
Os cabelos mais compridos, o olhar mais rasgado, o sorriso mais gozão, as pernas mais longas, tudo mais qualquer coisa.
Impacienta-se mais com as minhas particularidades, as mesmas em que nunca havia reparado e faz-me notar aquele tique que tenho, a repetição de histórias que já lhe contei, a minha rabugice.
Está crescida e eu sinto a falta de quando me via apenas virtudes. Sinto falta de gostar um bocadinho mais de mim através do seu olhar, sinto falta da ingenuidade completa que só uma criança pequena possui e que nos faz sentir mais pessoas.
É claro que gosto dela assim, crescida e sempre mais qualquer coisa, mas já não é tão minha quanto era e isso enche-me de uma espécie de vento seco e nostálgico.
Está menina e eu estou com trinta e oito.

segunda-feira, 26 de agosto de 2013

imagens que nos definem

Liliane Marise, personagem fictícia de novela, é notícia de telejornal, pois já é disco de um metal precioso qualquer.
Um Lorenzo que é motivo de interesse jornalístico porque é rico.
As autárquicas que, iguais a si próprias, estão ainda mais iguais a si próprias e que convidam a overdoses de Guronsan, juntamente com naifadas nos pulsos.
Assim vamos nós.


domingo, 25 de agosto de 2013

Hollywood não tem só o Rodrigo Santoro e o Diogo Morgado

Tem também Wagner Moura.
E foi uma agradável surpresa descobri-lo a contracenar com o Matt Damon, no filme Elysium :)



terça-feira, 20 de agosto de 2013

voltem depressa

Morreste e ainda não aceitei dizer esta palavra em voz alta.
Escrever que morreste é mais duro, mas mais simples do que falar que morreste.
Existem coisas que se escrevem melhor do que se falam e a tua morte é uma delas. Por isso, escrevo-te que morreste, apesar de ter a certeza - das certezas nenhumas do mundo - de que me lês e àquilo que te escrevo todos os dias.
Morreste e queria mostrar-te tantas coisas que te tenho escrito desde que te foste embora.
Desculpa não termos voltado depressa, mas continuamos aqui, ingenuamente à espera que voltes tu depressa de onde quer que estejas.
Morreste e nós prosseguimos com a tortuosa cadência dos que perdem sem retorno. É que, se há dias em que a morte faz parte da vida, outros há em que queria que a morte simplesmente se fodesse.

segunda-feira, 19 de agosto de 2013

...

Perdoarmo-nos a nós mesmas quando sentimos que não houve férias, apesar de termos saído do sítio do costume.
Perdoarmo-nos a nós mesmas quando sentimos culpa por não termos sentido que tivesse havido férias.
Perdoarmo-nos a nós mesmas por sentirmos coisas menos positivas, apesar de ser suposto sentir alegria constante.
A partir do momento em que nos comprometemos com a maternidade invertem-se os mundos e o descanso deixa de ser o nosso, passando a centrar-se na alegria deles.
Os meus filhos brincaram, mergulharam, comeram sandochas com areia debaixo do guarda-sol, bolas de Berlim, línguas da sogra, gelados a desoras, fizeram castelos de areia pouco sólidos, ficaram com os dedos dos pés estupidamente bronzeados, enchendo-me de vontade de lhes trincar cada um desses pedacinhos de caramelo, riram, gritaram, viveram com toda a energia que pinta as crianças da mais pura alegria.
Conheceram a Isla Mágica e um bocadinho de Sevilha, no que foram os dois dias mais quentes e cansativos da minha memória.
Vim mais cansada do que fui, mas eles trouxeram a recordação de mais um verão em que foram crianças, com todos os direitos e prazeres implícitos e isso, afinal de contas, é o mais importante e o que nos enche da sensação de dever cumprido e comprido ;)

terça-feira, 6 de agosto de 2013

A sério que existem, eu vi

Putos que mantêm os pais reféns numa teia de chantagem emocional e birras e pais que não têm força para contrariá-los.
Está na altura de se libertarem do jugo da birra, pode ser?
Se não querem mais que o vosso filho adormeça todas as noites na vossa cama, caguem lá nas teorias que defendem o co-sleeping até aos 40 anos. A sério, não é impossível um puto ser feliz na sua própria cama e ir à vossa cama em visitas felizes e esporádicas. Garanto que não é.

terça-feira, 30 de julho de 2013

Sabem quando

passa uma eternidade sem que aconteça nada nas vossas vidas e as teias de aranha insistem em permanecer no quotidiano e de repente, de um dia para o outro, tudo acontece ao mesmo tempo?
Pois é.
Primeiro que o organismo se adapte aos planos sucessivos em andamento é um pau, por isso tenho andado adormecida por aqui. Pura e simplesmente porque tenho andado demasiado acordada por ali.
Isso e tenho a Alice de férias desde finais de Junho e o António em casa desde que nasceu, portanto, compete-me a tarefa de tornar-lhes as férias aprazíveis.
As minhas férias? Hein? Ouvi alguém perguntar?
Não sei, acho que passar férias no meu caso será apenas fazer as mesmas coisas numa casa diferente, mas tudo bem, o que importa é estarmos aqui e estarmos bem, tudo o resto é relativamente cagativo.
E pronto, aqui vim eu dizer isto.

terça-feira, 23 de julho de 2013

Também eu fiz um estudo e concluí que

Os temas que despoletam o lado mais irrascível, faccioso e irracional das pessoas são:
- Animais (não todos, apenas cães, gatos e touros).
- Maternidade/Escolhas de Parto/Amamentação
- Futebol.

segunda-feira, 22 de julho de 2013

Parece que é isto

Ministro das Finanças demite-se com meses e meses de atraso e vai uma ministra para o seu lugar.
Ministro Portinhola não gosta da senhora escolhida e demite-se irrevogavelmente.
Primeiro Ministro não aceita demissão e não quer aquela Porta fechada.
Os dois têm algumas reuniões de pacificação e de amor.
Ministro fica, mas agora à frente de uma coisa com outro nome mais sonante.
Ministra que levou à demissão da Portinhola também fica.
Presidente da República entende que a fractura fracturante que aconteceu no seio de tão sereno governo não pode ficar assim e faz um discurso à nação, afirmando que é imperativamente necessário e urgente um acordo entre os três grandes partidos, que o que aconteceu foi bué grave e não se pode andar a brincar com a imagem do país lá fora. Sem isso, sem o acordo de salvação, nada feito.
Tentam os três partidos amar-se à porta fechada, enquanto o Presidente decide concretizar sonho antigo de encarnar David Attenborough e viaja até às ilhas selvagens, observando a passarada.
Pasme-se: Falha o acordo e o amor.
Presidente da República fala à nação, de mandíbula apertada e ar grave e o que diz o nosso Presidente, recentemente regressado dessa perigosíssima e radical viagem às selvagens?
O que acontecerá face ao drama irrevogável do desacordo entre os três homens mais poderosos do momento? O que fará o nosso Presidente, que deu um murro na mesa e fez o inesperado, obrigando os partidos a chegarem a acordo? O que faz ele, hein? O Drama, o horror expectante assalta a casa de cada um dos cidadãos portugueses, que olham a televisão, à espera de ver aparecer o homem que mudará tudo.
O que faz o nosso PR?
Pois, nada.
Voltamos exactamente ao ponto onde começa a história e nada mexeu. Detesto ser enganada com o trailer de um filme de acção, que depois se revela um romance de amor.
Detesto.

quarta-feira, 17 de julho de 2013

Deixem-me rir para não chorar

Quem inventou expressões como:
"Onde come um, comem dois, ou três", ou
"Os filhos nascem com um pãozinho debaixo do braço"
Nunca teve que encomendar material e manuais escolares.
E com esta termino a minha dissertação sobre o tema, pois só de falar nisso já me sinto mais tesa.

terça-feira, 16 de julho de 2013

Já sei que ninguém pensa o mesmo, mas



confesso que me estou a cagar para este menino.
Não suscita em mim grande comoção, nem emoção, nem compadecimento.
Não sou americanista, nem ingénua, ao ponto de imaginar os Estados Unidos como pináculo supremo das liberdades, direitos e garantias, mas também não sou tontinha ao ponto de acreditar que não estão atentos à actividade verbal dos cidadãos do mundo e governos do universo e que, muito provavelmente, gostam de estar informados sobre a que horas é que alguém grita "terrorismo", ou "os americanos são cocó", enquanto manda uma cagada.
Vai daí, maça-me que este rapaz tenha roubado informação, à qual tinha acesso por lhe ter sido depositada elevada dose de confiança, uma vez que lá trabalhava, e tenha decidido desbroncar-se para a imprensa.
Ele não é um pirata informático rebelde, que penetrou em redes ultra secretas, através do seu próprio génio anarquista. Ele tinha acesso directo às informações que roubou. Não teve rigorosamente trabalho nenhum em fanar informações à entidade que lhe pagava o ordenado e isso maça-me e torna-o parvinho aos meus parvinhos olhos.
Sim, direitos e garantias supremos estão a ser violados, sim os Estados Unidos são muito mauzões, mas eu estou-me a cagar.
Fico mais maçada com o que se passa no Egipto, ou com os direitos das mulheres no Afeganistão.
Cá por mim, bem pode ficar no terminal do aeroporto, juntamente com o Tom Hanks e rodar um filme sobre isso.

quinta-feira, 11 de julho de 2013

de todas as tarefas do amor

deixar partir é a mais dolorosa de todas.
Aceitar que é altura de deixar de lutar por aquele que se ama, deixar o coração continuar a pulsar sem a batalha por esse grande amor, aceitar a ideia de que o mundo ficará sem a pessoa que se ama, que nós ficaremos sem a pessoa que amamos no nosso mundo dói tanto que, muitas vezes, fugimos do seu mero pensamento.
De todas as tarefas do amor, a mais difícil é deixar partir, pois quando se ama como uma mãe, ou um pai, ou um filho amam, não existe isso de deixar de lutar. É preciso amarrar mãos e vontade, é preciso amarrar sentimentos e deixar entrar a aceitação de que irá perder-se alguém que se ama, mas que está na altura de o deixar partir e, muitas vezes, é apenas depois dessa aceitação dilacerante, que esse alguém que amamos se liberta.
A todas as mães, a todos os pais e filhos que têm que deixar partir e conseguem efectivamente fazê-lo: Eu sei que são os mais bravos do mundo.

segunda-feira, 8 de julho de 2013

Engolindo o meu cartão de eleitor

Ainda me lembro de quando fui recensear-me. Acabada de completar 18 anos, toda inchada e convencida de que o meu voto faria toda a diferença do mundo e prometendo a mim própria que nunca deixaria de exercer um direito ainda negado em tantos países do globo.
Mas cresci e comecei a aperceber-me da potencial merda que me surgia no boletim de voto, portanto comecei a exercer o meu direito em branco. Ou seja, dirigia-me às urnas, para que não pesasse em mim a consciência da abstenção de exercício de um privilégio democrático, mas entregava o boletim em branco.
Nas últimas eleições, e agora acreditem que me custa horrores dizê-lo em voz alta sem empreender a tarefa de espetar com o meu crânio na alvenaria, votei cds e fui acometida da sensação mais estranha de todo o meu percurso votante:
A vergonha, o horror e a humilhação.
Mas como posso eu dizer que votei no Portas e na cambada de betinhos imberbes que o seguem, sem ser achincalhada, gozada, vaiada?
Como?
Por tudo isto, está na altura de engolir o meu cartão de eleitor, como fez o outro autarca, quando engoliu um documento numa busca que faziam ao seu gabinete. Está na altura de não correr mais riscos de achincalhamento e humilhação e vontade de arremessar crânio contra paredes, pois para isso já tenho as minhas merdas do costume, não preciso de mais esta.

domingo, 7 de julho de 2013

saudades

Que saudades de viajar. Que saudades imensas de sentir aquele frémito nervoso no aeroporto, de me deter em cada detalhe neurótico da minha personalidade que, por inominável fobia, julga sempre que não regressará da viagem de avião.
Que saudades imensas de sentir o pulso a uma cidade desconhecida e cheirá-la, como apenas se cheiram as cidades que não se conhecem.
Que saudades de me sentir sôfrega e trôpega e sôfrega de novo, ao avistar um qualquer detalhe na paisagem que me sufoque a alma de prazer.
Que saudades de me sentir pequena e nada importante e de desaparecer nas vidas dos que ali vivem habitualmente.
Que saudades do regresso e das saudades que ficarão para sempre, de cada viagem, de cada detalhe imortalizado nas fotografias que se revêm vezes sem conta.
Que saudades de ir além do Algarve, sem pressa, nem compromisso.
Que saudades.

sábado, 29 de junho de 2013

ohhhh, a praia, a praia

Tirando alguns finais de tarde mornos, em que me perco em brincadeiras absurdas com os miúdos, a praia cansa-me e vou apenas por obrigação familiar.
Não entendo o fascínio que move milhares em direcção aos areais escaldantes, férteis em fungos e beatas de cigarro enterradas.
Tudo isto se amplia, quando me chegam à memória imagens de armação de pêra, em dia de calor sufocante, com cada centímetro de areal ocupado por rabos peludos, mamas besuntadas de creme, marmitas, gritos, bolas a serem chutadas sobre corpos deitados. Enfim, um areal inabitável, mas cheio de pessoas cuja ideia de descanso era aquilo.
Nada me dizem as filas, a procura de lugar para estacionar, o sol fervente, os 34 graus, o estar de papo para o ar, enquanto se trabalha para o melanoma, só para depois ir refrescar ao mar, zerando assim todo o processo e criando nova vontade de torrar.
Se tivesse que usar o meu direito à greve, conseguiria imaginar, pelo menos, 10 coisas mais interessantes para fazer do que ir torrar para o areal, mas o que é que se pode fazer, a praia exerce um fascínio quase afrodisíaco sobre a maior parte dos portugueses e imagino que seja por isso que os países mais desenvolvidos sejam aqueles onde há menos dias de sol.
Lembro-me, quando visitei Estocolmo, do brilhante dia de sol que nos recebeu e de ter visto, em plena hora de trabalho, a malta toda de calças e mangas arregaçadas em cada pedaço de relvado da cidade.
Um sueco em Portugal faria greve todos os dias.

músicas que te trazem de volta à (minha) vida



quarta-feira, 26 de junho de 2013

Férias no idílio paradisiaco

Último dia de aulas da Alice: Febre. Foi representar o seu brilhante papel, na festa de final de ano, com Brufen no sistema, pois que show must go on, pelo menos para ela.
Melhoras substanciais e decidimos sair do exílio e ir dar um giro no carro da minha irmã, a pedido desta. O giro tinha como destino um local cujo nome não referirei a fim de não pensarem que já me vendi à publicidade (quem me dera que deixassem de ignorar o meu potencial), mas que começa com F e termina com T e onde ela queria ir em busca de uns ténis com uma estrela mais baratos.
Saímos bem dispostos e airosos, apesar de derretidos e eis se não quando, a meio da Segunda Circular, o António começa a dizer que estava mal disposto e, com o pré aviso de meio segundo que é habitual as crianças darem, expeliu o conteúdo do pequeno almoço pelo carro da tia, nos meus braços e mãos.
Retornámos a casa, sempre na expectativa de réplicas e presumimos que tinha enjoado no carro desconhecido.
Esfreguei carro, cadeirinha, sob o sol fresco dos 34 graus que se faziam sentir e desejei com toda a força que a presunção do enjoo estivesse certa.
É claro que presumi mal.
Febre e, hoje, vomitado sem pré aviso no sofá, que já esfreguei sob o calor tórrido e fermentante que se faz sentir na minha sala.
Pobres filhinhos que não há nada que não partilhem entre eles e com a sua mãe, amo-vos tanto, mas estou tão cansada de vírus e bactérias e limpezas sob o calor tórrido que se faz sentir, que estava capaz de morrer de cada vez que vejo fotos de pessoas com os pés virados para uma piscina de água, já que para uma piscina de vomitado também posso tirar.

Hoje estás aqui,

em cada linha, em cada inspiração de ar, em cada espaço em branco, em cada instante de paragem.
Hoje estás aqui e escrevo-te na primeira pessoa, como se estivesses na ponta dos meus dedos e os comandasses.
Que pena imensa não estares do outro lado das minhas palavras, que pena imensa não habitares já do outro lado deste monitor, respondendo-me, desafiando-me, arrancando-me do torpor costumeiro dos meus dias sem graça.
Mas agora tenho o privilégio de ter-te aqui. Não todos os dias, não a todo o instante, mas de vez em quando. E quando isso sucede, ter-te aqui na ponta dos dedos, do lado de cá, sei que tudo ficará bem.

segunda-feira, 24 de junho de 2013

Com o mal dos outros

Tenho feito alguns progressos nos meus julgamentos precipitados. Sei que, hoje em dia, sou uma pessoa mais ponderada e controlada, no que toca a disferir chapadas emocionais aos outros, mas, apesar de toda essa minha aprendizagem, sei que ainda estou em evolução e que há uma mão cheia de coisas que me aflige e me irrita e onde não me apetece passar o pano da serenidade.
Hoje, por exemplo, estavam quatro mães a almoçar ao nosso lado e a conversar sobre as crias (que não estavam presentes). Uma delas falava, de peito cheio e voz alta, sobre o facto de se recusar a dar medicamentos à filha.
- Eu recuso-me a dar-lhe Brufen, ou gotas, ou benurons. É que nem pensem! Ela não toma medicação!
E eu perguntei a mim própria, com um certo rubor indignado a querer despontar na minha fronha:
- Mas que merda dás tu à tua filha se ela estiver a arder em febre? Banhinhos mornos?! Rezas com incensos?!
É isso e as mães que se gabam de não vacinarem os putos, como se proclamassem assim a sua destemida coragem de ir contra tudo e todos e de defender as suas crias contra os malefícios das vacinas, esses perigosos progressos da medicina, tão nefastos para a saúde pública.
Esquecem-se é que se podem dar ao luxo de não vacinar os seus filhos, porque existem vacinas que erradicaram, quase na totalidade, doenças terríveis.
Porque é que não pegam nos filhos por vacinar e vão fazer uma viagem ao Sul da Asia, ou ao continente africano e as expõem à poliomielite, por exemplo?
Acho cutxi cutxi e super vanguardista da parte destas mães quererem defender os filhos das vacinas e apregoarem este feito aos sete ventos, como se fosse motivo de orgulho. Mas mais valia estarem caladinhas.
Sim, eu sei. É o meu lado por trabalhar, a minha faceta por moldar, a minha serenidade por serenar e os meus julgamentos a pularem da minha boca para fora, mas há merdas que me deixam assim e desconfio que deixarão sempre.

sexta-feira, 21 de junho de 2013

enamoramento comestível

Agora a sério, quem é que querem enganar?
Juro-vos que não acredito em vocês, estoicos empreendedores de dietas que continuam a fotografar cada migalha de comida que consomem.
Que caso de amor é este com o alimento? Que caso de amor é este que vos leva a fotografar cada prato, cada detalhe comestível das refeições, por mais desengraçado que seja?
Isto não demonstra progressos na dieta. Demonstra apenas enamoramento pela comida e esse é o exacto problema que vos levou à dieta.
I Rest My Case.

quarta-feira, 19 de junho de 2013

em busca da t-shirt perfeita

Eu só queria uma t-shirt que:
- Não encolhesse 15 cm na primeira lavagem.
- Não parecesse ter encolhido/ter sido rasgada à dentada/ter sido confecionada numa fábrica onde poupam no tecido
- Não fosse tirada de dentro de um vídeo clip da Samantha Fox a saltar de dentro de uma piscina
- Sem manga à cava/manga até aos rins
- Sem motivos tropicais: Ananases, papagaios, palmeiras
- Sem motivos navais, a fazer parecer a tripulação do Barco do Amor
Não quero ter nada a ver com a moda dos anos 80, por favor, onde é que andam as t-shirts que me deixam esticar o braço para alcançar os enlatados no supermercado, sem deixarem à vista a minha pança?
ONDE???

terça-feira, 18 de junho de 2013

Para onde foram todos?

Confesso que li esta notícia, que nos fala da agressão sofrida pela famosa Nigella Lawson, com um misto de asco e estupefação. Asco pelo verme do marido da Nigella e por ter constatado, mais uma vez, que a violência doméstica toca a todos, ricos, pobres, famosos, incógnitos. Estupefação pelo facto de as pessoas no restaurante se terem dado ao trabalho de fotografar a agressão, mas ninguém ter feito um corno em defesa da senhora.
Que merda de sociedade a nossa em que, protegidos pela objectiva de um telemóvel, julgamos ser ficção virtual o que se passa mesmo à frente do nosso nariz?
Mas o que é isto, que demissão é esta de todos os nossos deveres cívicos, para onde foram as pessoas que se preocupam e que interferem quando uma atrocidade é cometida bem em frente do seu nariz?
Para onde andamos todos a olhar, que nunca nos metemos em nada, nunca interferimos, não levantamos a peida da cadeira para ajudar quem precisa de auxílio?
O que é esta merda de andarmos todos obcecados com o cotão do nosso próprio umbigo, ignorando os umbigos dos outros?

segunda-feira, 17 de junho de 2013

Do nós ao Eu

Nos últimos 3 anos e 4 meses temos sido dois.
Dois em absolutamente tudo; nas idas ao médico com a irmã, nas idas ao supermercado, nas idas à drogaria para comprar um parafuso, à mercearia do pedaço, porque preciso apenas de um limão, nas idas ao parque, nas idas ao Ikea, nas idas à escola e às aulas de piano da mana, nas idas à depilação (sim, é verdade), na compra de um livro, nas arrumações da casa, na rega do jardim, no abastecimento do carro com gasóleo, nos cozinhados, nos passeios.
Já não sei o que é estar sozinha, nos meus silêncios e meditações, nas minhas viagens de carro sem ter que pôr cinto na cadeirinha, tirar cinto da cadeirinha, apaziguar dúvidas, responder a perguntas, colocar músicas a teu gosto.
Oiço muitas vezes outras mães dizerem que querem mais filhos e que morrem de saudades dos seus bebés e é verdade, também morro de saudades daquilo que eles vão deixando de ser todos os dias, mas penso que o desejo irreprimível de mais crias, vem com as ajudas que se tem. Com o poder "largar" as crianças e ir comprar limões, ou almoçar fora, sem toda a logística inerente.
Quando somos apenas nós e tudo de nós depende, quando apenas desejávamos poder vegetar cinco minutos, o desejo orgânico de repetir bebés e momentos é aniquilado pela razão. A minha razão está cansada e diz ao meu corpo que descanse. Ao todo, com a Alice incluída, têm sido sete anos non-stop. Quando ela entrou para a escola, eu já tinha o António.
Já não sei, e desconfio que precisarei de vários meses de adaptação para reaprender, como é que se vive sem ouvir a tua vozinha a todo o instante, as tuas birras, sentir a tua mão na minha, ou a fugir de dentro da minha. Preciso de reaprender tudo e tenho a certeza de que andarei por muitos meses coxa, como se me faltasse um membro, a olhar por cima do ombro, a ver para onde correste tu, a proferir o teu nome quando vejo um camião enorme, que sei que gostarias de ver. Precisarei de vários meses de adaptação a mim sem ti em permanência comigo.
Em Setembro começas a tua vida escolar e eu começarei a minha vida de adulta e estou já em modo estágio para quando deixarmos de ser os dois todos os minutos do dia.
Choro e rio, tremo e relaxo, anseio e temo, dói-me e sabe-me bem, abraço-te, prendendo-te mil vezes em pensamento, e deixo-te ir. E sei que será sempre assim connosco.


sexta-feira, 14 de junho de 2013

o que é que leva

uma pessoa com um cargo político a recandidatar-se após anos e anos e anos de cargo político, ou quando todo um povo se manifesta contra essa mesma pessoa?
O que levará um Presidente de Câmara de Santa Uretra de baixo a decidir recandidatar-se por Penicos de Cima?
O que levará alguém a insistir por anos e anos e anos na carreira política, agarrando-se, segurando-se com unhas, mãos, dentes e pés àquela merda?
Eu só posso concluir que, pior do que qualquer droga pesada, o poder vicia e todas as pessoas que fazem carreira do poder, seja ele local, ou a nível nacional, deviam dar entrada em clínicas de desintoxicação todos os anos.

quarta-feira, 12 de junho de 2013

ser igual todos os dias cansa

Se eu sou assim e tu és assado, se gosto de azul e tu gostas de rosa, se nada me dizem flores e tu páras em cada recanto florido, se gosto daqueles todos e tu não gostas de nenhum, se acho que não é e tu fincas pé que será, se gosto de partir e tu de ficar, se ambiciono a lua e tu o sol, se sou das manhãs e tu de dentro da noite, se aprecio o cheiro de uma certa rua, que a ti te repudia, se gosto de me perder numa multidão e tu de te quedares quieto na tua solidão, se gosto de gritar quando sei que ninguém me escuta e tu de escutares quando ninguém grita, se nada encontro em pessoas parecidas comigo e tu buscas os teus semelhantes a fim de te reencontrares, se vejo perdão e tu vês orgulho, se vislumbro sombras onde para ti tudo é luz, se sou branca e és negro, se sou assim e tu és assado.
Que raio tem isso agora de importante?
Que tremenda chatice é querer ser sempre igual, sem uma nota que nos distinga dos demais. Que tremenda chatice é não empreendermos o nosso caminho, deixando que se cruze com todos os caminhos alheios, atravessando-os, respirando-os, respeitando-os, vivendo-os como parte do nosso percurso.

segunda-feira, 10 de junho de 2013

marmelada no ikea

O restaurante do Ikea de Alfragide tem uma espécie de coreto no meio, com brinquedos lá dentro e um balcão à volta, para que os pais possam almoçar, enquanto os filhos brincam ali dentro.
E ali estava eu, a engolir almondegas de carne de cavalo, enquanto o António saltitava dentro do dito, quando um casal de jovens bastante apaixonados, decide que aquele é o lugar mais romântico do restaurante para almoçar languidamente.
Estou eu e os dois jovens e o pequeno Toy dentro do "recinto".
É de frisar que o restaurante estava praticamente vazio, uma vez que era dia de semana e eu tenho o hábito de almoçar com a sirene dos bombeiros e das fábricas.
Casal troca carícias, casal troca comida de boca, dando a provar um ao outro os prazeres da gastronomia sueca, soltando sorrisinhos, partilhando batatas fritas e suspiros.
Até aqui, são apenas dois jovens cuja paixão arrebatou os últimos neurónios e que encontra oportunidade de exploração romântica em qualquer esquina, uma vez que ainda não tem casa própria. Até aqui o meu cérebro ainda aceita a cena, apesar de não perceber muito bem a escolha daquele lugar em concreto, com tantas mesas vazias. Mas quando decidem começar a beijar-se, entre a troca de batatas fritas, aproveitando para fazer lavagem ao estômago com as línguas. Quando decidem que as línguas, ainda a pingar molhanga, podem explorar os recantos do organismo um do outro, ouvidos incluídos, em frente de um António que os mira com aparente estupefação e perguntas em construção, a coisa muda de figura e eu pergunto-me o que acontecerá quando os jovens decidirem passar pela zona do armazém que tem os quartos montadinhos, com lençóis e tudo. Quase que aposto que vão pensar que é o recinto das refeições e farão um piquenique com bolos de canela e cafezinhos em copo de cartão, bem sobre o colchão.

domingo, 9 de junho de 2013

Gostei muito

Aliás, adorei. Mas sempre fui cegamente parcial em relação a esta dupla, por isso podem bem cagar na minha opinião :)

quinta-feira, 6 de junho de 2013

parece que hoje farias 31 anos,

mas parece também que teremos que deixar de contar os teus aniversários, como parte disto de nos teres morrido.
A tua mãe lembra-te desde o dia em que te viu pela primeira vez e recorda cada um dos 6 de Junho desde então, com uma precisão dolorosa. Foste o seu bebé, a sua menina, a sua mulherzinha independente e ela teve que deixar-te partir em cada uma dessas pequenas mortes, para que pudesses crescer.
Mas ter que deixar-te crescer assim tanto, para longe do mundo que conhecemos. Ter que deixar-te partir definitivamente, nenhuma mãe sabe como fazê-lo. É um percurso infinito e a cada 6 de Junho que passar, recordará tudo de novo e o caminho parecerá tornar-se de novo infindo.
O teu pai recorda a sua eterna menina, que o será sempre e ainda não acredita que tem que deixar-te passar, a ti e aos 6 de Junho, sem que tenhas passado de verdade.
A tua irmã mais nova recorda os 6 de Junho desde que se lembra de recordar-te a ti e com eles chegam as memórias infinitas de vocês, de como tudo era desde sempre.
Os teus amigos lembram, com aquele nó apertado e fundo que nos corta a respiração, as festas, os jantares, as conversas, os copos, a cumplicidade, o riso e as lágrimas e sabem que serás recordada em todos os 6 de Junho das suas vidas, com uma obrigação involuntária e desoladora.
As datas têm este poder de nos aprisionar, como se significassem etapas concretas em que tudo começou, em que tudo terminou, mas não é bem assim, pois entre o nascimento e a morte houve todos os dias em que amaste, sorriste, viajaste, tocaste o coração de alguém.
Houve aquele dia sem data marcada em que te apaixonaste pela primeira vez, houve um outro dia não assinalado no calendário, em que te tornaste mulher, outro houve em que escutaste um grupo qualquer e dançaste e cantaste, até tudo o resto desaparecer em teu redor. Imagino, quer dizer, tenho a certeza de que tiveste uma imensidão de dias sem data assinalada, que te marcaram no mundo.
Houve as conquistas intelectuais, houve as conquistas pessoais, houve as batalhas travadas e vencidas, outras travadas e perdidas, mas houve, houve, houve. Houve vida entre a data de princípio e de fim.
Houve um meio inteiro das datas que te significam. Um mundo inteiro que me faz crer que viveste. Muito aquém do que poderias ter vivido, mas imensamente além de tantos outros, cuja vida se limitou a uma eternidade de anos sem conquistas.
Por tudo isto tentarei celebrar-te sempre todos os dias, sem princípio, nem fim, pois agora já não te reges pelos nossos calendários rotineiros. Agora és maior do que tudo aquilo que nos contabiliza em meses e anos e dias.
Agora és muito mais do que os trinta 6 de Junho que passaste, agora és plena, inigualável, total e, com alguma sorte, nada lembras já de nós, nem dos que te choram numa saudade infinita. Agora és como sempre imaginei que fosses: Imensa.

terça-feira, 4 de junho de 2013

não sei se sabem

disto que vos vou falar, mas o mais provável é ser comum a todos nós que temos filhos.
O cansaço, muitas vezes, rouba-nos aquela parte do coração que vê. Torna-o num músculo automático e cansado, limitando-se a impulsionar sangue sem parar. O coração comporta a nobre tarefa de não nos deixar morrer, de não parar nunca, mesmo quando dormimos, sofremos, choramos, rimos, mas nós esquecemo-nos dele demasiadas vezes.
Só que, de tempos a tempos, ele pára, metaforicamente falando, e concede-nos a honra de o sentirmos. Os ruídos e o cansaço deixam de ter importância e conseguimos sentir as coisas como deveriam ser sempre.
O António, de há um mês para cá, tem acordado todos os dias às 6.30 da manhã e é sempre comigo que vem ter, pedindo xixi. Depois não adormece mais, passa-me carrinhos por cima, fica sentado perto de mim, exercendo pressão silenciosa e esperando que me levante.
Todas as manhãs tem sido este o meu acordar madrugador e rabugento e eu não raciocino, faço tudo em modo automático. Consigo arranjar sempre espaço para gemer de dor sonolenta, de cada vez que os pés dele entram no meu quarto e de amaldiçoar aquele despertar quase nocturno.
Ontem foi diferente. Pediu-me apenas que lhe tirasse a fralda da noite e foi para baixo, em silêncio. Nada de televisão, nada de ruídos, nada de nada.
Hoje passou-se a mesma coisa e eu pensei finalmente que uma bênção tinha caído sobre mim e nada quis indagar, pois mais meia hora de sono era tudo o que precisava.
Passada essa meia hora desci e dei com o meu filho sentado em frente da janela grande que temos na sala a olhar lá para fora, absolutamente contemplativo.
- O que é que estás a fazer, António?
- A ver os passarinhos.
Aproximei-me e lá estavam eles, cerca de 6 passarinhos a chilrear, empoleirados nos fios.
- Não faças barulho, mãe.
E parou tudo. Os pés descalços dele a baloiçarem, o dedinho a apontar para os pássaros, os olhos castanhos brilhantes. Aquela minha bolinha de amor puro e completo. Aquele menino que não gosta que o chamem fofinho, nem bebé. Aquele menino que tantas vezes finjo ouvir, quando estou noutra. Aquele filho capaz de ficar meia hora a olhar os pássaros a baloiçarem nos fios de electricidade, mas incapaz de se enfiar na nossa cama e dormir mais um bocadinho.
Aquele menino maravilhoso era meu e eu há tanto tempo que não o olhava assim, com olhos de amor absoluto.
Pode ser apenas um momento, uma mão a apanhar um punhado de relva, um pé descalço no meu colo, uma posição enquanto dorme. Mas é um momento que me lembra sempre, de forma quase brutal e dolorosa, o que é sentir amor imaculado, o que é tê-los dentro da minha vida banal.

quinta-feira, 30 de maio de 2013

f#*#*-se

O MEC não imagina o quanto o admiro. É cretino, bem sei, pois que isto de ter ídolos ainda presentes aos 37 anos, mais não é do que a prova viva que a adolescência não padeceu completamente dentro de mim. Ainda hei de escrever sobre a importância que este homem, de laçarote e cabelo encrespado, cheio de tiques e de ânsias ao falar, teve na minha juventude, quando sonhava com profissões que nunca segui, ou quando me imaginava a escrever como ele (sim, já que é para sonhar, que se sonhe em grande), mas hoje falarei apenas de um dos legados que deixou:
A palavra "foda-se".
O MEC, de laçarote e estilo impecavelmente britânico, descomplexou a língua portuguesa e ensinou-me que um "foda-se" era uma palavra tão digna de ser dita, ou escrita, como qualquer outra.
O "Foda-se" foi por ele retirado das catacumbas do desprezado calão e utilizado como qualquer outra palavra, sem ####, ou ****, com todas as letras.
É claro que um "Foda-se" dito, ou escrito por ele, não era a mesma coisa do que um "Foda-se" dito por outra pessoa qualquer, mas ainda assim era um "Foda-se", e um sorrisinho nervoso percorria-me sempre o organismo, de cada vez que o ouvia pronunciar a palavra, de cada vez que cumpria o papel de reabilitá-la, de trazê-la ao mundo dos literatos, utilizando-a as vezes necessárias à expressão do sentimento que só um "Foda-se" consegue.
Por isto, obrigada MEC. Foda-se, não sei o que seria de mim sem as tuas palavras :)





Quando o nosso dia é Clint, Clint Eastwood

Os melhores filmes chegam da sua cabeça e as melhores bandas sonoras da ponta dos seus dedos. Aposto que não sabem que ele compõe a maior parte das bandas sonoras dos seus filmes e são simplesmente sublimes. Acompanharam-me em muitas alturas, inspiraram-me muitas palavras, comoveram-me ao temperarem de forma perfeita os seus filmes.
Estou sempre a falar disto, e sei que sou uma espécie de totó das bandas sonoras, em especial as do Clint, mas hoje o meu dia tem sido assim.













quarta-feira, 29 de maio de 2013

vida na fila do pingo doce

Ela tem os dentes cravados no lábio inferior, como se quisesse mutilar-se de fúria. Ele revira os olhos um sem número de vezes, enquanto esvazia o carro do supermercado, sob o olhar impaciente dela.
- Trouxeste as curgetes?
- Mas era para trazer?
O olhar dela tolhe-o de pavor, deixando-o ao sabor daquela espécie de rigor mortis familiar, que lhe trespassa cada músculo do corpo.
O silêncio dela é a mais afiada das facas e ele sabe que a falha da curgete pesará no resto da viagem até casa e, muito provavelmente, no resto do dia.
São quilos de merdas inúteis sobre o tapete rolante da caixa registadora. Quilos e quilómetros de códigos de barras, de mantimentos que nada mantêm, além do saldo negativo, de cheiros, detergentes, iogurtes calóricos, cereais que não são verdadeiramente dietéticos.
Ele deixa de lhe responder, pois sabe que nada do que disser a satisfará. Ela deixa de o olhar, pois é asco que tenta não sentir por aquele homem que se esquece das curgetes e que se esquece constantemente de todas as coisas importantes para ela, e enchem os sacos, um após outro, com gestos afinados por anos de rancor. Ela retira o que acha que não tem cabimento no saco que ele escolheu e reposiciona-o, de acordo com o seu critério meticuloso e superior.
Sinto as veias dele pulsarem. Posso jurar que vi o pescoço aumentar de tamanho, tal o volume de sangue naquelas artérias prestes a estoirar de um momento para o outro.
A conta astronómica é dita em voz alta, a pergunta quanto à posse de um qualquer cartão de gasolina é feita mecanicamente e ele estende os cartões, arruma os sacos no carrinho e deixa-a sozinha, enquanto avança para o estacionamento, ganhando assim uns segundos para se recompor e para achar que tudo é relativo.
Atrás de mim, um casal de velhotes. Ela diz-lhe que ainda vai aproveitar o resto da tarde para acabar de passar as fronhas e os lençóis, ele responde-lhe com um compreensivo: Muito bem, faz como achares melhor e ela repete-lhe que é melhor assim, que depois nunca mais pega nos lençóis. Ele já não lhe responde.
Eu estou no meio, plenamente consciente das vidas dos outros em meu redor. Mais desperta do que nunca, atenta até à ponta dos cabelos, perfurada até à raiz dos meus ossos e feliz, absoluta e rigorosamente feliz por estar sozinha naquela fila de supermercado.

terça-feira, 28 de maio de 2013

Alerta mães e pais



A propósito deste post, lembrei-me nitidamente daquele dia em que fui ao supermercado com a Alice e, ao entrarmos no elevador, deparámo-nos com uma senhora cujo rabo excedia certamente o limite de peso do monta cargas. A senhora estava virada de costas para nós, oferecendo-nos, naquele espaço confinado e tão atreito a ataques de riso, a visão da sua prateleira.
Eu quase fiz xixi nas calças com o esforço nervoso de não me rir e evitei a todo o custo olhar a minha filha, temendo o pior.
A uma certa altura, já só havia o rabo no elevador, nada mais era importante, nada mais era visível, só aquela bunda gigantesca na minha cara, até que, num impulso infantilóide e parvo, olhei a Alice, só para confirmar que ela estava prestes a desmanchar-se a rir, tal como a imbecil da sua mãe, mas ela estava normalíssima. Falou comigo sobre o bolo que íamos fazer com os ingredientes que compráramos e olhou o rabo, como se fosse o rabo mais normal à face da terra. Ter ali aquele rabo, ou o rabo da Gisele Bundchen era igual para a minha filha e eu rebentei, literalmente, rebentei de vaidade naquele bocadinho de gente que saiu de dentro de mim.
Ela odeia que se goze com alguém, odeia quando ouve piadas sobre o Obama, pela cor da pele dele, odeia que os colegas gozem com outros colegas.
Mas, pensando bem, alguma desta forma de agir, e aqui não vou guardar créditos na algibeira, tem sido estupidamente incutida por mim. Desde minúscula que lhe faço lavagens cerebrais em relação a descriminar colegas por serem diferentes, mais frágeis etc. e desde minúscula que ela me escuta, de olhos arregalados e interesse superior sobre as minhas palavras, como apenas nesta idade nos escutam.
Um dia destes, deu uma reportagem sobre um menino bailarino e ela começou por estranhar, o menino no meio dos tutus e das sapatilhas rosa e de todo aquele universo tão associado às meninas, mas 5 minutos de conversa depois, já tinha percebido que há meninos que gostam de dançar e que o fazem tão bem, ou melhor do que meninas e que não havia essa treta de profissões de meninos e de meninas, muito menos na dança.
Se vos disser que esta é a parte da maternidade que mais gozo me dá, não estarei a mentir, pois sinto que está nas nossas mãos, pais e mães, formarmos pessoas descomplexadas e íntegras. Está nas nossas mãos, sim.
É em casa que oferecemos as bases para a forma como se comportarão em sociedade, como descriminarão, ou não o próximo, e é este gigantesco poder que nos é conferido desde o dia em que nascem.
Não nos demitamos dele, não achemos que é coisa menor, nem o deixemos nas mãos dos outros. Ensinemos os nossos putos a não descriminarem, desde minúsculos, sim?

Ele disse



que o atributo mais sexy numa mulher era a inteligência e eu acreditei.

segunda-feira, 27 de maio de 2013

Toda a verdade sobre os vários primeiros encontros

Podia ser porreira e deixar sobreviver o engodo que existe desde o princípio dos tempos, de que somos mesmo o espanto que aparentamos ser nos primeiros encontros.
Mulheres compreensivas, extasiadas com todos os vossos raciocínios, rebolantes de riso com as vossas piadas, Miss Simpatia com os vossos melhores amigos, irrepreensíveis em todas as variáveis que vos são caras, mas quesefoda, acho que está na altura de ser sincera:
Nós não somos nada disso. Ou, pelo menos, não somos tudo isso para sempre.
E digo-vos mais, não tenho saudades rigorosamente nenhumas dos tempos em que tinha que representar o papel de mulher ideal, para conseguir conquistar alguém. Que exercício cansativo, meu Deus.
Esconder a minha rabugice, insegurança, neurose, vontade de ir à casa de banho, depilação duvidosa, arrotos esporádicos e incontroláveis, é do mais cansativo que existe.
O monstro acabará sempre por vir à tona e, acreditem, tentar recuperar o esplendor dos primeiros tempos é a missão mais frustrante que o ser humano pode empreender.
Tudo isto poderá levar, e leva muitas vezes, a que o homem, pobre vítima enganada, corra em busca de outro qualquer esplendor, da sensação fugaz de ser o centro do mundo para uma mulher, que o aprecia como se mais nada existisse à sua volta, mas, não se deixem enganar, dentro dessa mulher que vos come com os olhos e vos acha o ser mais espantoso da Criação, existe um monstro adormecido, à espera do conforto da rotina para se revelar.
E é isto. A única variante poderá estar no grau de chatice revelada ao longo dos anos, ou no momento mais precoce, ou tardio dessa revelação.

*Inspiradíssima numa entrevista feita pelo Connan a uma comediante sincera como tudo, que chegou a admitir que gostava de fazer amor deitadinha, sem grandes teatros, nem cansaços, cujo nome não me recordo:)

...

Ontem, fui ler-te de novo. Comecei pelas primeiras palavras e senti a gigantesca onda de esperança em cada uma delas, como se cada letra revestisse a força que te enchia o corpo e o espírito.
Não quis continuar, não quis ler mais para a frente de nada, ultrapassar o otpimismo, a energia, a força do começo de tudo. Deixei-te nas primeiras linhas, onde tudo é pleno de possibilidades e os finais podem ser reescritos com as letras dos sonhos possíveis.
Talvez assim o fim nunca se escreva, talvez assim o final possa construir-se diferente, talvez assim vivas ainda, algures numa rua de Paris, escutando um sino a repicar ao longe, enquanto pegas na tua bicicleta e te diriges à Universidade, incógnita, normal, com as tristezas e alegrias de quem vive todos os dias sem pensar no final.
Talvez assim, nada de tudo aquilo que poderias ter prosseguido se perca.
Posso jurar que estavas lá no sábado. Sentada no relvado em frente, seguravas um pacotinho de churros e gozavas comigo, enquanto não fazias o menor esforço para disfarçar os quilos de orgulho exagerado que sentias.

sábado, 25 de maio de 2013

Vou dizer-vos um segredo:

Este blogue trouxe-me as melhores pessoas do mundo e o livro trouxe-me outras tantas pessoas maravilhosas, que me dirigiram palavras muito importantes.
Hoje estive com algumas dessas pessoas e fiquei com aquela felicidade que se sente quando os momentos são praticamente perfeitos.
E, tremendo, com medo de me esquecer de alguém:
Patrícia Tomé, que me levou um ramo de flores amarelas, Vânia Silva, que enviou um exemplar do meu livrinho para a Argentina, a Nasalina, querida, tímida, mas de olhar sensível, a menina que foi com a Vânia e que tinha um sorriso mais do que simpático, a gralha e família bonita, a Patrícia, amiga da minha querida Silvina e a mais do que simpática e giraça Sandra, do blogue Acordo Fotográfico, do qual sou mais do que fã e que decidiu que eu era digna de ser fotografada perto de uma palmeira :)
OBRIGADA por terem feito parecer que eu era alguém importante. Obrigada por terem aparecido na feira do livro.

sexta-feira, 24 de maio de 2013

Um dia depois de o seu livro ter chegado às livrarias

Miguel Sousa Tavares compara Cavaco a Beppe Grillo , esse mítico comediante italiano e diz que para palhaço já temos cá um, Mr. President. E é trucidado por uns, aplaudido por outros, motivo de abertura de inquérito pela Procuradoria Geral da República, a pedido de outro, que decidiu finalmente acordar do seu marasmo e mexer-se, em defesa própria, claro.
Onde está Beppe Grillo que não se insurge contra vil comparação, onde estão os palhaços deste país que, numa luta desigual, tentam fazer rir como Cavaco, mas sem o mesmo êxito?
Depois, para grande desilusão de uns, aplauso de outros e a indiferença de outros tantos, Miguel vem dizer-nos que não tem qualquer tipo de consideração política em relação a Cavaco-político, mas que tem em relação ao Chefe de Estado e eu achei tudo muito bem, tudo lindamente, pois que há coisas que não podemos dizer enquanto figuras públicas, mas que podemos dizer enquanto cidadãos anónimos. Pois que há coisas que todos gostaríamos de ter voz para dizer, mas que estão vedadas aos que têm voz, pois que há chá e falta de chá e quando o chá está presente, é preciso não chamar palhaço em hasta pública. É preciso deixar isso para outras circunstâncias mais íntimas e Nossa Senhora de Fátima sabe disso.

quarta-feira, 22 de maio de 2013

tal como a música não entra nos ouvidos de duas pessoas da mesma maneira,

os livros não penetram no nosso espírito de forma idêntica.
Enquanto eu posso ouvir Bruno Mars e deixar-me envolver por uma alegria pateta e sem limites, aos ouvidos de outra pessoa qualquer, o mesmo cantor pode provocar crises de hemorroidal e instintos assassinos em simultâneo.
Com os livros passa-se exactamente o mesmo.
Se há pessoas que choram e trocam promessas de amor com Saramago, outras há que jorram rios de baba, provocados pelo sono.
Se há pessoas a quem as letras de um determinado escritor provocam uma imensidão de significados, outras há que as acham pouco cativantes e nenhum interruptor é aceso.
Nenhuma das duas sensações é certa, ou errada, superior, ou inferior. É apenas isso, uma sensação provocada pelas palavras que outra pessoa escreveu.
Até os livros mais consensuais hão de ter algures alguém que não os achou magistrais, talvez porque não os leu na altura certa, talvez porque simplesmente nunca será tocado por aquelas palavras, ponto final.
O que importa é o que um certo livro nos disse, numa determinada altura da nossa vida e isso não tem que ser igual ao que a nossa melhor amiga sentiu, ou ao que o génio da crítica pensou. A relação que temos com um livro é demasiado íntima para ser generalizada.
Há quem faça da crítica literária profissão e há quem sonhe com isso e apelide a sua, suposta e idealmente, humilde opinião de "review", imaginando-se na New Yorker, ou coisa que o valha, mas a realidade é que nada disto deveria importar grande coisa, pois nada disto é universal. Varia de olhos para olhos, de coração para coração, de leitor para leitor e é essa a magia dos livros.

terça-feira, 21 de maio de 2013

Marquem na vossa moleskine, merdeskine, ou qualquer outro objecto com folhas de papel



De todas as situações patéticas existentes, acreditem que uma das mais acutilantes é estar sentada numa mesinha a ver passar as pessoas e a verificar, mais uma vez, a minha absoluta falta de relevância.
Se quiserem constatar comigo, apareçam, pois que prometo escrever-vos palavras de platónico amor agradecido.
Se não aparecerem, aproveitarei para colocar em dia o meu soninho, fechando os olhos e cabeceando um bocadinho :)