sexta-feira, 30 de dezembro de 2011

American Tune

Sim, eu já estive em Nova Iorque algumas vezes, mas ao contrário de muita gente que se passeou pelas avenidas geometricamente perfeitas e com nome de números, eu não olho para os filmes hoje em dia e revejo a minha humilde pessoa na Times Square, ou na esquina da 5ª avenida com a rua 23 ao quadrado.
Não consigo fazer isso. Simplesmente, porque, mesmo quando andava por lá, me sentia dentro de um filme, ou de uma música de Simon e Garfunkel.
Nunca consegui abstrair-me do cinema, dos táxis amarelos, da banalidade das limusines, ou da certeza de ter visto o Woody Allen em cada tipo baixinho que se cruzava comigo. As pretzels, os cachorros quentes vendidos na rua (e que os protagonistas devoravam, enquanto falavam sobre o sentido da vida) faziam parte de um esquema montado para me levar a crer que eu não estava mesmo ali de verdade.
Chiça, aquilo era eu dentro de um guião escrito por alguém que não eu.
Até hoje, quando me revejo nas fotografias, com o Naked Cowboy a tocar guitarra atrás de mim e uma Pretzel (horrível, por sinal) na mão, acho que foi tudo uma montagem.
Humildemente confesso que nunca nenhuma cidade (ou país, já agora), me levou tão longe na ficção, como os Estates. Era como se conhecesse tudo aquilo desde sempre.
Não fiquei com memórias deste, ou daquele sítio, simplesmente porque as memórias daquela cidade pertencem ao mundo inteiro.
Nesse sentido, é uma cidade um bocadinho prostituta, que abre as pernas ao imaginário de todos, não deixando que ninguém roube um bocadinho do seu coração.
E não é uma prostituta qualquer, é uma prostituta cara como o raio que a parta.

quinta-feira, 29 de dezembro de 2011

Oprahhhhhhh

Sim, eu sei que ando neurótica por o programa da Oprah ter terminado.
Afinal de contas, a minha guru deixará de me acompanhar ao princípio da noite e eu deixarei de ficar mais sábia e de lacrimejar e de me sentir pequena e grande e boa e má e tudo ao mesmo tempo.
O que é que se há-de fazer, eu adoro a mulher.
Pérolas como (estou a citar de memória):
"Perdoar é abdicar da esperança de que o passado poderia ter sido diferente".
"Escutem sempre os vossos pressentimentos. Primeiro eles chegam sob a forma de sussurros que só nós parecemos escutar. Mais tarde transformam-se em gritos, quase impossíveis de negar".
Reportagens sobre Martin Luther King, genocídios, racismo, xenofobismo, pais de merda, pais corajosos, pessoas doentes, pessoas lutadoras, pessoas vis, viagens, decoração, guerra e uma vida inteira de possibilidades.
Cenas destas. Cenas que nos prendem, que nos colam o rabo ao sofá quando o programa dela começa e que nos fazem suspirar quando termina. Cenas que nos fazem sentir minúsculos, ou grandes. Que nos fazem pensar.
Por tudo isto, sei que vou lacrimejar perdidamente quando a sua ausência se fizer sentir na minha vida televisiva.
Será que o canal dela vai estar disponível nos nossos cabos?
Deprimi.

terça-feira, 27 de dezembro de 2011

Conselhos fundamentais da maternidade

Não usar roupa escura quando se tem um bebé constipado. O contraste do ranho no preto, ou no azul escuro, ou no verde escuro é inevitável e dá um aspecto suavemente badalhoco.

domingo, 25 de dezembro de 2011

Iluminatus est

Eu cá acho uma rebarbada treta, uma poeira para a vista, um exagero para inglês ver (ou não ver, neste caso), um teatro para idiotas, não haver iluminação de Natal em Lisboa.
Uma Câmara criativa certamente arranjaria soluções para iluminar a merda da Avenida da Liberdade sem que a Troika nos enviasse para o quinto dos infernos monetários.
Ai que somos tão poupadinhos, estão a ver? Andamos a cortar na luz. Estão a ver como somos bons e poupamos no mês de Dezembro? Olhem só!
Temos funcionários camarários que são absolutas pedras na engrenagem, não funcionamos, chateamos com requerimentos, estupidimentos, entupimentos, adoramos a burocracia, daquela que não deixa ninguém fazer nada, mesmo que esse alguém queira investir na cidade, mas poupámos bué neste mês de Natal.
Ir a Lisboa mostrar as iluminações à criançada sempre fez parte dos nossos percursos de Natal e ajudaria a tornar este Natal, impregnado de crise e vestido de negro, um bocadinho mais luminoso. Agradeço à CML a poupança de dona de casa, mas dispenso. Acendam mas é a bosta das luzinhas, sim?

quinta-feira, 22 de dezembro de 2011

Todas as nenhumas certezas do mundo

Fico sempre fascinada quando leio pessoas transbordantes de certezas, seguras de si e do seu futuro. Pessoas que sabem exactamente o que desejam para si e para os seus e que não se desviam um milímetro. Pessoas plenas de maternidade, de conjugalidade, de genialidade e outras tantas palavras que poderia inventar, terminadas em "ade".
Mulheres bem resolvidas (o que é que elas resolveram?), com maridos saídos de um filme da Disney, putos que não dão um pum, nem produzem ramelas e vidas com drama estrategicamente colocado nas entrelinhas, só para parecer real e suscitar algum compadecimento geral.
Eu também já fui assim, tinha resmas de leis e certezas não sujeitas a excepção. Sabia o que queria e o que não queria, até começar a viver fora do guião que tinha escrito para mim.
Quanto menos se vive (em todos os sentidos), mais leis não sujeitas a revisão se constroi.
Eu lá aprendi que o melhor é ir metendo plasticina nos meus planos e ir fazendo ginástica para aprumar os músculos que sobem e descem, ao sabor da vida.
Porque a própria vida, meninas e meninos, é a primeira a tramar-nos o esquema.

quarta-feira, 21 de dezembro de 2011

Acabou o drama

Acabei de ouvir no telejornal que os especialistas defendem a fantasia do Pai Natal. Os pais devem alimentá-la aos filhos.
E pronto, acabou-se o meu drama. Continuarei a alimentar, até eles, no seu devido timing, perceberem que é rebarbada tanga.
No entanto, faço questão de salvaguardar os Pais Natal dos Shoppings. Tipos suspeitos que recebem criancinhas aterrorizadas no colo. Esses, eles já sabem que são a fingir.
O verdadeiro, aquele que chega de trenó puxado por renas e, de vez em quando aparece aqui em casa com um sino, não anda pelas superfícies comerciais. Tem mais do que fazer.

segunda-feira, 19 de dezembro de 2011

Não, eu não estou com uma mantinha

sobre o corpo, a olhar a lareira crepitante e a sorrir com o momento idílico, como aparentemente, toda a gente tem feito ultimamente (a inveja é nojenta, sim). A minha lareira fuma mal e a última vez que a crepitámos ficamos com sequelas pulmonares permanentes e com a casa a cheirar a churrasqueira de Alvalade.
Também não estou com uma chávena de cacau quente a acariciar o pêlo do gato que não tenho e a suspirar, enquanto leio as páginas de um bom livro de vampiros, ou de assassinos em série.
Também não estou a ver uma comédia romântica, enquanto beberico um copo de tinto e passo o dedo sobre o rebordo do copo de cristal que não tenho.
Estou a fazer algo bem mais superior, bem mais erudito e repleto de sensibilidade humana:
Estou a chorar a morte do querido líder.

domingo, 18 de dezembro de 2011

www.solidão.com

Naquela pequena sala de si própria, ela escreve a alguém que não conhece sobre coisas suas.
Naquele pequeno sofá usado só de um lado, de pernas cruzadas e corpo frio pelo espaço que sobra, ela pede conselho a alguém que julga perfeito. Perfeito pela vida que (d)escreve naquele blogue, naquela página de facebook, naquele espaço virtual em que se pode ser tudo, desde que se seja capaz de agilmente o descrever em letras.
Naquela vida sonhadora, ela sonha poder ser dele, como a outra é dele. A outra linda, perfeita, de armário cheio de encanto e cabeça arrumada.
Naquela noite cheia de horas por passar, ela risca-as, às horas, uma a uma, como rasgões na pele e desabafa com ele, pede-lhe conselho, guarida, protecção. No fundo, pede-lhe atenção. Um minuto que seja. Ela imagina-o retirando tempo ao seu tempo ocupado para se dedicar a ela e às suas perguntas e anseios.
Ele responde-lhe. Ela sente-se importante na vida desse alguém tão importante que não conhece, mas que jura conhecer do avesso.
Tirando os 1345 amigos que tem no facebook, não tem ninguém. Por isso precisa de ouvir das letras de alguém o que poderia reter escutando uma voz do outro lado do telefone. Os conselhos que julga supremos, são apenas uma opinião, mas ela diviniza-os, engrandece-os, ao ponto de não achar possível que ele erre.
Ele sente-se Deus. Ele faz a diferença na vida dessa pessoa. É bom sentirmos que somos importantes para alguém. É inebriante sentirmos que temos poder sobre outra pessoa qualquer. Então, ele escreve sobre isso e sente-se ainda mais importante quando lhe chovem elogios de bondade sobre os ombros erguidos de vaidade.
Gasta horas e horas dos seus dias em frente a um monitor feito de maçãs Macintosh e sente-se grande. Grande como Deus. O Deus das pessoas sós.
Ela olha as horas e fecha o seu computador, abraçando-o como um tesouro único que não quer perder.
O telefone não tocou, a campainha não tocou, a sua vida não saiu dali.
Puxa o cobertor sobre o corpo frio. Levanta-se num ápice e verifica de novo o seu mail. Inbox vazia.
Volta a ler os mails trocados. Fecha de novo o portátil.
Deita-se. Os seus pés frios buscam em vão um lugar quente nos lençóis de Inverno. Apaga a luz e chora.
Ele sorri. Sabe exactamente sobre o que escreverá no dia seguinte.

sexta-feira, 16 de dezembro de 2011

Tic-Tac-Ti-Ta-T-T.............

Cada vez me convenço mais que a vontade de ter mais filhos é directamente proporcional às ajudas que se tem.
O meu relógio biológico eclipsou por completo. Não dá horas, minutos, segundos, dias, nem semanas.
Depois de estar há mais de um mês a ouvir tossir de noite, o meu organismo entrou em modo de auto-defesa e estou desconfiada que engoli os meus próprios ovários.
Quando vejo um bebé fofinho e pequenino sorrio e penso: Chiça, que fofura, cutchi cutchi, ainda bem que não é meu.

terça-feira, 13 de dezembro de 2011

Ansiolíticos e negócios florescentes

Depois de uma ida à farmácia e de lá ter deixado uma pequena fortuna, o meu cérebro deprimido conseguiu carburar uma brilhante ideia:
Um projecto de lei que obrigasse este governo à comparticipação a 100% dos ansiolíticos, ou da erva (ainda não decidi o que compensa mais). Não basta a voz do nosso Ministro das Finanças, que nos embala na sua cadência dormente. É preciso de facto entorpecer os sentidos a outro nível, para não desatarmos todos aos tiros.
Uma vez que a taxa de suicídio e de mortalidade deve disparar em breve, pensei num bom negócio: Uma funerária que tenha no seu catálogo de possibilidades, caixões de cartão reciclado a preço de saldo.
Só boas ideias de negócio. Como é que eu não tirei Gestão?

domingo, 11 de dezembro de 2011

Feiras de Natal à Tugalesa

As nossas feiras de Natal têm que meter a Zon, ou a Meo e respectivas mascotes saltitantes a aterrorizar os putos.
As nossas feiras de Natal têm que meter patrocínios ao Pai Natal pela Zon, ou Meo. Duendes com logotipos da Zon, ou da Meo, ou quiçá, dos preservativos Control, ou de uma marca de vodka.
As nossas feiras de Natal têm música tecno e comes, muitos comes, entre os quais salpicão, queijo da serra, chouriços vários, hot dogs, farturas, pães com chouriço.
As nossas Feiras de Natal têm tanto de Natal como o Red Light District (minto, este sempre tem luzes vermelhas).
Estou com uma depressão na catacumba da tola. Fui à Feira de Natal nos jardins do Casino do Estoril e plena do espírito da época. Ou seja, vim com um crepe, um pão com chouriço e uma dúzia de castanhas no bucho. Minto, venho também com três sacos de amostras que a mascote da Nestlé estava a distribuir.

sexta-feira, 9 de dezembro de 2011

Talento Bruto

Hoje, sem justificação que me justifique, nem que esfarrapadamente me desculpe, parei no programa matinal da tvi e descobri que o tema desse mítico, profundo e abrangente talking showing, era Picha e Coina, essas duas famosas localidades da nossa portugalidade. Famosas, não pela gastronomia, não pela beleza natural, não pelo raio que as parta, mas pelo seu nome.
As lágrimas, as gargalhadas, as chalaças feitas em redor dos dois locais com nome de pilinha e pi-pi, levaram-me a crer que o próximo programa será sobre um local no mapa chamado cocó, esse tema de humor acutilante e profundo, que faz furor na pré-primária e que arranca gargalhadas à criançada toda (eu incluída).
Ahahahahahaha, picha e coina. Ahahahahahah que original, que certeiro. Ó meu Deus, quem se terá lembrado disto? Como é que não vão estes criativos para Holywood, ou para a BBC?

quarta-feira, 7 de dezembro de 2011

A Sério?

Porque é que abro o meu gmail e descubro que uma merda qualquer pornográfica invadiu o meu blog de comentários encriptados (ou lá o que é aquela merdunce aos quadradinhos com a palavra sex no meio).
A sério? Realmente? Aqui? Vão lá para outra esquina, pode ser? Aqui, o mais perto da pornografia que vão encontrar é um post sobre as desvantagens do fio dental.
Tudo o que existe de mais patético parece insistir em acontecer-me.

To Have or Not to Be, ou qualquer coisa assim

Outro dia ouvi um realizador de cinema, americano e milionário, dizer que percebeu que o dinheiro não era importante. Despojou-se assim dos casarões, dos carrões, dos milhões e de tudo o que acabasse em ões na sua vida. Ficou mais feliz.
Isto é espectacular, espiritualmente superior, é todo um outro nível de sabedoria de vida. Mas uma pessoa que faça contas ao dinheiro para comprar comida e peúgas para os filhos, ou que tenha os dentes podres, porque não pode pagar o dentista, jamais atingirá este nível de espiritualidade.
Enfim, o que eu quero realmente dizer é que é preciso ter-se dinheiro para se poder afirmar que não se precisa dele.

sexta-feira, 2 de dezembro de 2011

Absolutamente fascinada e apaixonada

Pelo raio do tabuleiro que comprei no Ikea.

quinta-feira, 1 de dezembro de 2011

Reflexão tão vaga e cretina como outra qualquer, mas minha

O nível de exigência que temos para com os nossos amigos, está proporcionalmente ligado à nossa própria auto-estima.
Aceitarmos amizades medíocres, carregadas de pequenas decepções, de pequenos arranhões infectados, é aceitarmos que não merecemos melhor.

domingo, 27 de novembro de 2011

Esclarecimento precisa-se

Mas que moda é esta de fazer pedicures com peixinhos?
Eu alucinei, ou vi uma loja num centro comercial, cheia de aquários com peixes pretos para a malta mergulhar os cascos?
Estou até agora enojada e a pensar quanto teriam que me pagar para enfiar os meus próprios cascos na água cheia de peixes e peles mortas de cascos alheios.
O que é que os peixes fazem? Comem as unhas, limando-as? Trincam as peles do calcanhar? São tipo piranha, ou enguia?
Bilheque.

sábado, 26 de novembro de 2011

Em Choque Catatónico


Acabei de descobrir mais um excremento americano em forma de programa televisivo no canal TLC, na linha do Toddlers and Tiaras. Chama-se Outrageous Kid Parties (deu-me preguiça de procurar um link) e mostra-nos mais um bando de mães (de classe média) desvairadas, que planeiam festas milionárias para os seus putos.
Neste momento estou a ver uma criança que vai fazer 6 anos, a receber um tratamento de beleza, antes de a mãe desembolsar mais de 2.000 dólares por um bolo, 20.000 dólares pelo espaço para a festa e provavelmente mais uns milhares em coisa nenhuma, pois perdi o fio à meada.
Mais uma vez há um pai banana que cede à loucura da mãe tresloucada e uma criança que vai apontando para um bolo de 10 andares num catálogo de bolos e que relaxa numa sessão de tratamento de pele.
A miúda tem birras quando vê o presente que lhe deram e tem birras porque partiu uma unha e tem birras porque, no fundo, é uma criança. E não há ninguém que dê uma paulada na cabeça desta mãe-que-tenta-preencher-o-seu-passado-frustrado-através-da-vida-dos-filhos.
Enfim, americanices.

sexta-feira, 25 de novembro de 2011

Casa das Histórias

Aqui está um sítio que já se enraizou nas minhas rotinas. Quer seja para um café na esplanada, quer seja para assistir às actividades infantis, quer seja para beber café, comer uma fatia de pão de ló e, logo de seguida, percorrer as salas preenchidas de imagens, quer seja para correr na relva atrás da Alice e do António. Adoro a forma como esta Casa das Histórias está pensada, para acolher toda a gente, sem barreiras.
Não é peneirenta, nem pedante. É sóbria, sólida, tranquila e convida o comum dos mortais a passear por entre as obras da Paula Rego e de outros autores que ela decide expor.
Confesso-vos que nunca fui grande fã da pintura dela. Apesar de reconhecer o seu talento, sempre a achei desagradavelmente rude (não a ela, mas às suas personagens), mas amo a sua Casa das Histórias e pisco-lhe sempre o olho na saída, agradecendo-lhe ter-me aberto assim as portas da sua casa e prometendo voltar.

quarta-feira, 23 de novembro de 2011

Pisar merda é sinal de dinheiro? A Sério?

Se vos disser que tenho uma tipa que passeia a cavalo pela minha rua e que o cavalo decide esvaziar as entranhas em frente do meu portão.
Se vos disser que o cão da minha vizinha snobenta, que é do tamanho de um cavalo, se solta sempre no passeio em frente do meu portão.
Se vos disser que há um gato vadio qualquer que adora vir cagar ao meu relvado.
Se vos disser que outro dia o António pisou a merda do gato e que eu passei com as rodas do carro sobre a merda do cão e do cavalo, mesmo antes de penetrar com o carro na garagem. Enfim, se vos disser tudo isto, vocês, crentes da sapiência popular, dirão que em breve cagarei dólares. E eu quero acreditar que sim, que merda atrai dinheiro e não mais merda. Mas por enquanto a única coisa que tenho cagado são despesas inesperadas mais iva.

terça-feira, 22 de novembro de 2011

Fora de Série



Sempre fui apanhada pelas séries de época da BBC, mais particularmente, por tudo o que fosse baseado em obras da minha adorada Jane Austen.
Donwton Abbey, não sendo BBC, nem baseado em coisa nenhuma, está melhor do que tudo o que já vi dentro deste género.

segunda-feira, 21 de novembro de 2011

O Tempo Levou (a minha versão)

Desde 2001, altura em que comecei a namorar com o Hugo, deixei de usar:
VHS
K7
mapas de estrada
Bilhetes de cinema que não pareçam talões de multibanco
disquetes
máquinas com rolo
sapatos de ténis brancos
t-shirts com mangas pelos cotovelos
Casacos de ganga
despertador de mesa de cabeceira
aparelhagem de som
telefones com fio
enciclopédias de papel
canetas de tinta permanente
óculos graduados
Esquentadores sem serem inteligentes
fogão e forno a gás
Levis de cintura subida, mais concretamente, até aos sovacos

Inspirada neste post

domingo, 20 de novembro de 2011

croc made in china, loja do china

Farta de gastar dinheiro em sapatos que lhes servem apenas por uns meses, principalmente se esses sapatos forem feitos na china, como as crocs, decidi investigar junto de quem conhece o meio chino-loja, se por lá haveria "crocs" de inverno made in china e de facto vendidas na pequena china portuguesa. Tendo tido um sim como resposta, incursionei por um desses estabelecimentos dentro. Desci à secção do calçado, movida pela determinação de não sair dali de mãos a abanar (como sempre acontece).
Mas o cheiro a alcatrão e a borracha queimada que exalava daquele magnífico calçado, penetrou com tamanha intensidade nas minhas narinas, que passado uns minutos rodeada de todo o tipo de solas de superior qualidade, quase padeci, vítima de intoxicação fedorenta.
Tenho o nariz dormente até agora e não encontrei porra de crocs nenhumas, só Louboutins de plástico, Fly Chinoise e galochas que cheiravam a cola.
Acho que há males que chegam por bem, pois estou desconfiada que se tivesse encontrado, teria que encomendar sacadas de máscaras de oxigénio para sobreviver ao pivete.
De que merda pestilenta são feitos aqueles calcantes, alguém sabe?

sábado, 19 de novembro de 2011

il pimba divo



Poder tentar, podia. Podia de facto fazer um forcing para abrir a minha mente e o meu espírito a estes senhores. Afinal de contas eles levam a música clássica a toda a gente e retiram-na daquele pedestal elitista. Mas não consigo. Olho para a cara deles e imagino-os a pentearem-se com laca antes de abrirem a boca e a pulverizarem a amígdala com spray de menta. Imagino-os a escolherem o sapato que jogue com a enxarpe e a meterem creme de rosto, antes de subirem ao palco. Imagino-os numa casa cheia de carpetes tigradas e espelhos por todas as divisões e desisto de tentar aceitá-los.
Sou uma cabra snobe, sim. Mas só no que toca à música a atirar para o clássico.

quarta-feira, 16 de novembro de 2011

A Nuna Marklina que há em mim

Lembro-me, como se fosse hoje, da nossa primeira aparelhagem a sério. Um trambolho, cheio de tijolos sobrepostos da Pioneer, preta opaca. Com dois decks para as cassetes e um leitor desses mágicos e reluzentes Cd's, que para mim permaneciam um mistério. Para os que tinham uma certa relutância em largar o vinil, tinha ainda um fofinho gira-discos sobre este prédio de som. Por isso eu poderia continuar a ouvir o Born In The USA, do Bruce Springsteen, o vergonhoso álbum do Jason Donovan, o Heaven Is a Place On Earth da Belinda Carlisle e todas as brasileiradas que polulavam na cultura daquele 4ºDtº de um prédio no Lumiar.
As colunas daquela Pioneer, meu Deus, as colunas eram brutais e quando o volume estava no máximo (o que acontecia sempre que me apanhava sozinha em casa), faziam as janelas vibrar, tensas e contidas.
Naquela altura, ao contrário do que sucede hoje em dia, as aparelhagens eram para serem vistas. Quanto maiores, mais estilosas.
Como só tinha Lp's e Singles em vinil e queria, porque queria estrear aquele leitor de cd's, pedi dinheiro à minha mãe e saí em direcção ao Centro Comercial do Lumiar, a fim de comprar o meu primeiro Cd. Tinha uma capa preta e a tromba do meu querido Phil Collins. Foi provavelmente o Cd ao som do qual mais choraminguei, mais slows dancei e mais suspirei.
Depois os Pink Floyd, como é que eu ouvia aquela merda vezes e vezes sem conta? Aquelas músicas que não terminavam nunca (e cuja única parte que eu verdadeiramente curtia era os primeiros 2 minutos), mas que eu tinha que gostar, só porque era cool gostar. Abria as janelas, rodava o volume até ao limite e punha-me ali no parapeito a olhar o infinito e a mandar umas baforadas num cigarro, a curtir o som, armada em boa, só para que as cabeças se virassem para cima, ao som do Whish you Where Here e sorrissem com o meu bom gosto musical...
Olhando para trás, eu também fui o Nuno Markl. É por isso que aquele caixa de óculos, que usa os seus defeitos em seu proveito, tem tanto sucesso com os seus cromos. Há-de haver sempre alguém, como eu, que esteve lá, onde ele esteve :)





segunda-feira, 14 de novembro de 2011

Estou Tramada

Nunca acreditei no Pai Natal e, antes de ser mãe, sempre defendi que não se devia dar corda ao mítico velhote nas mentes infantis.
Só que, como a maternidade é feita da arte de deglutir sapos uns atrás dos outros e perante a credulidade fofinha da minha filha, nunca tive coragem de lhe negar a existência do barbudo. E pior, mil vezes pior (e por isto me chibato cem vezes em cada omoplata), o meu tio tem-se mascarado para os putos todos os santos Natais. Vem pela rua com um sino e lá entra cá em casa com um saco com prendas, perante a estupefacção generalizada da criançada.´
Ultimamente a Alice tem-me perguntado se o Pai Natal sabe quem ela é, se ainda se lembra onde mora e se ele adivinha mesmo o que as crianças todas querem. No meio de tantas perguntas começa a custar-me à brava ter que inventar as respostas. Sinto que minto descaradamente. Eu, que tantas vezes lhe digo que não se deve mentir.
Só por causa disso já tratei de lhe dizer que a Fadinha dos Dentes não deixa presentes debaixo da almofada coisa nenhuma. Quem o faz são os pais.
Como é que saio desta sem parecer que a enganei este tempo todo?
É o drama, o horror e vem de trenó puxado por renas.

O Choque da Minha Vida

Não, não foram as minhas galochas da moda (que não tenho, pois são cultura-de-fungos-friend) que se derreteram.
Não, não choveu sobre o meu cabelo esticado, nem encolhi a minha melhor camisola de caxemira.
Não, não deprimi porque ainda não começaram os saldos.

Arrastei a máquina de lavar a loiça, a fim de limpar o bedum escondido e ainda estou a hiper-ventilar.
Opção número 1:
Voltar a arrastar a máquina e fingir que não aconteceu nada, tomando vários copos de vinho.
Opção número 2:
Tentar limpar (pelo menos as teias de aranha), ver que fica tudo na mesma e entrar em depressão.
Opção número 3:
Escrever ao Querido Mudei a Casa, pedindo uma cozinha nova e ficcionar a minha história de vida.

A sério, a minha cozinha está podre. Aquele bolor em redor da ficha que liga a máquina da loiça à prostituta da Edp, está à beira de um curto-circuito.

domingo, 13 de novembro de 2011

Confiem em Mim

Numa época em que se liga a televisão e se transmite à humanidade, via facebook, a série que se está a ver naquele instante.
Numa época em que existe uma cena chamada Twitter que permite a alguém actualizar o status, de cada vez que dá um peido de consistência nova dentro do elevador de um prédio em Odivelas.
Numa época em que se partilha o jantar que acabou de ser servido no restaurante, para que se possa, enfim, actualizar os 23412 amigos on-line.
Numa época de Ipad's, Iphones e o diabo a sete mais uma maçã trincada.
Numa época em que o mais merdoso dos filmes há-de ser exibido em 3D, mesmo que seja um monólogo com um personagem sentado em frente ao espelho.
Numa época de emoções que não se sentem, enquanto não forem partilhadas com a comunidade virtual.
Numa época de velocidade furiosa em rigorosamente tudo o que existe.
Digo-vos:
Não revejam o Bambi e o Dumbo. Deixem-nos lá ficar no vosso imaginário. Vão ter uma grande decepção.

sexta-feira, 11 de novembro de 2011

Os Grandes Amores


Lembro-me da cassete que ele me gravou quando terminámos tudo, a fim de irmos viver a vida, fosse lá isso o que fosse. Essa mítica cassete continha apenas os pedaços importantes de letras das nossas músicas :
"Since The Last Goodbye, you and i came a long way"
"Little girl i wanna marry you, oh yeah, little girl i wanna marry you, yes i do"
"I Tell myself that i can't hold on forever" "You give my life directon"

E assim continuavam trechos e trechos de letras tremendamente românticas, retiradas do contexto, ou não, só para me transmitir, através das músicas que costumávamos ouvir, o quanto eu era de facto estupidamente importante para ele. Aquela cassete de 60 minutos, gravada dos dois lados e com uma capa personalizada, resistiu à passagem dos anos e dos namorados, dentro do fundo de uma gaveta.
Tinha quinze anos e pensei que jamais voltaria a gostar assim, de manhã à noite, a cada instante de segundo, a cada golfada de ar inspirada e expirada. Chorei, ri, sofri, deixei de sofrer. Afoguei mágoas e renasci finalmente para outro grandessíssimo amor qualquer.
Vários grandes e pequenos amores chegaram e partiram da tal vida que queria viver e a cassete continuou no fundo da gaveta, mesmo quando já não existiam leitores de cassetes em lugar algum.
Cansada dos amores pequenos, tremendos e assim-assim, fiquei sozinha durante o que me pareceu outra vida inteira. Não por escolha própria, mas porque assim foi.
Sozinha estava serena, sem palpitações cardíacas, interpretações de olhares, tons de voz, atitudes a analisar e escrutinar. Enfim, todas essas tretas que cansam o músculo cardíaco até à exaustão.
Sozinha era bom.
Até que sozinha deixou de ser bom.
Então veio aquele que seria o meu maior amor. Aquele que seria o princípio da minha família e eu cresci. Deixei de olhar tanto para trás, de inventar para a frente e comecei a olhar mais para o meu lado.
Abri aquela gaveta, tirei a cassete para fora e puxei pela fita velhinha, até deixar um esqueleto vazio no lugar da cassete transparente cheia de 60 minutos de palavras de amor.
Esse foi, então, o princípio do resto da minha vida.

quarta-feira, 9 de novembro de 2011

O Chef que tem dentro de si

Sei que já falei nisto, mas à medida que o excesso de peso se torna uma tragédia fora de moda, tal como o vício do tabaco, ironicamente, entram na moda os programas culinários e os livros lançados por toda a malta que saiba estrelar um ovo e meter uma erva aromática sobre a gema.
Parece que a mulher do Seinfeld lançou um livro de culinária.
E perguntam vocês (e bem): Quem é a mulher do Seinfeld?
Isso mesmo, acertaram, é a mulher do Seinfeld e ensinou a fazer frango assado no programa da Oprah. Fiquei catatónica com tamanha sapiência culinária.

segunda-feira, 7 de novembro de 2011

Não digam nada a ninguém,

mas daquilo que já li, de tantos livros comprados, emprestados, devorados pela noite fora, pela tarde dentro, ou pelas manhãs solteiras de domingo. De tanto escritor merdoso, assim-assim, bom, ou genial. Americano, russo, inglês, japonês, brasileiro, italiano e de nacionalidade irrelevante, na relevância da escrita. De tanto homem petulante, ou humilde, de letras escritas com lenta paciência e estudo, ou arrancadas das entranhas num rápido parto.
De todos os escritores que já conheci através do que decidiram escrever, o Eça continua a ser o justo alvo da minha paixão.
Lembro-me ainda das lamurias e queixumes de colegas que tinham que lê-lo e foi por isso com o fraco ânimo de adolescente, que me debrucei sobre Os Maias.
Foi a minha primeira paixão literária e, agora que olho para trás, continua a ser a maior.

domingo, 6 de novembro de 2011

Tragam os violinos



Bem sei que já venho tarde e a más horas falar desta mítica e mais do que romântica união, mas depois de ouvir pela enésima vez que a Duquesa-Pteronodonte de Alba é maravilhosa e que o amor não escolhe idades e que ela é que sabe o que é vida e que ela esteve lindamente a dançar no seu casamento, qual múmia ressuscitada do sarcófago, prestes a desfazer-se em cinzas, não deu mais para controlar a gargalhada.
Sim, ela tem dinheiro e tem direito a ser feliz, é um facto. Se não tivesse dinheiro, apesar de ter o direito a ser feliz, não encontraria um neto que a ressuscitasse com o seu beijo molhado e que a fizesse de feliz dessa forma amorosa. Teria que ser feliz de outra forma qualquer.
Agora para os mais românticos e para aqueles que apregoam (e bem, claro) que o amor não escolhe idades, tenho uma novidade chocante:
Não, ele não está perdidamente apaixonado por ela. A menos que tenha aquela tara de pinar com cadáveres em decomposição.
Atirem calhaus ao meu coração de gelo, mas aqui há amor ao pilim. Ele gosta do pilim dela, ela tenta segurar o pilim dele e vai morrer a tentar.

sexta-feira, 4 de novembro de 2011

Oiçam o Karson


E não é que ontem, no programa da Oprah, esta querida e espalhafatosa bichona deu o conselho fashionista do século?
Da sua boca botoxizada saiu um advice que partilho convosco, minhas vítimas ensandecidas da moda:
- As Leggings não são calças! Não são para serem usadas como calças. E eu verguei-me perante a sua sapiência. Ando a dizer isto há séculos.
Agora que terminou o meu minuto de futilidade, vou ali e já venho.

quinta-feira, 3 de novembro de 2011

O caixote do lixo em que me transformei

Os meus filhos, além de verem em mim um poço de ternura, amor fofinho e todas as lamechices inerentes ao estatuto que nos traz a maternidade, gostam de me ver como o seu ecoponto privado.
Lenços ranhosos depositados na minha mão, bolachas cuspidas, papéis rasgados, embalagens vazias. Enfim, eu sou um caixote do lixo com olhos.
Às vezes, o cansaço é tanto, que me limito a comer as bolachas cuspidas, só para não ter que levantar de novo a peida em direcção ao caixote do lixo.
Sim, sou triste.

domingo, 30 de outubro de 2011

Estou Aqui

Toco no teu rosto fresquinho e encosto o nariz na curva do teu pescoço. A tua pequena mão bate no redondo do meu ombro e dizes-me desse forma que gostas do meu colo, que estás onde deves estar naquele instante de pequena carência.
Queres depois descer até ao chão e correr. Não olhas para trás, para mim. A importância que me deste há pouco, fugiu contigo e com os teus minúsculos sapatos que correm à velocidade da tua alegria.
Alargo os meus passos e sigo-te de perto, mas distante. O suficiente para poder acorrer se precisares de mim. Não sabes que te sigo e continuas veloz na tua corrida pelo mundo. Queres reter tudo nas mãos, nos olhos, na palma dos pés. Sorris a desconhecidos. Eu não importo já. Nada atrás de ti te chama. És curioso e destemido e eu penso que não te comando. Por muito que queira manter ligados a ti os meus invisíveis fios de amor, não te comando.
Depois paras e olhas por cima do ombro. Ali estou eu, a tua guardiã silenciosa. Sorris. Confirmas-me e voltas a correr em direcção ao mundo.
Digo-te em voz só minha, sem que me entendas, ou escutes: Estou aqui, bebé. Estarei aqui, às vezes parece que sempre estive. É aqui que te pertenço. É aqui que tudo faz sentido.

sexta-feira, 28 de outubro de 2011

O Fado Desgraçadinho

Ermelinda, a quinta de 9 irmãos, enviuvou cedo e ficou com três filhos nos braços. Aos 21 anos teve que regressar a casa dos pais, onde ficou numa pequena assoalhada, juntamente com os três filhos. Dormiam os quatro num pequeno colchão. Os pais eram gente pobre, carregados de carências afectivas e monetárias, mas acolheram-nos.
Dois anos mais tarde, Ermelinda conhece Tancredo e pensa ter encontrado o amor.
Tancredo era soldador numa pequena fábrica metalúrgica e mal ganhava para o seu próprio "comer", mas decidiram casar e foi já de bucho cheio que Ermelinda assinou os papéis no registo civil.
À saída do registo, o casal é atropelado. Tancredo perde um braço e o seu trabalho de soldador. Ermelinda dá à luz um par de gémeos, que nascem tolhidos pela prematuridade e com graves problemas respiratórios.
No hospital, Ermelinda apaixona-se por Joaquim, o senhor da limpeza e volta para casa dos pais. Tancredo não lhe perdoa a traição e com o braço saudável, atinge-a com ácido no rosto, deixando-a para sempre desfigurada. Joaquim não suporta viver com uma mulher marcada e foge.
Ermelinda chega a casa dos pais com os cinco filhos e de bucho novamente cheio. Arranjam-se como podem no pequeno colchão...
Esta é uma história de ficção, mas qualquer semelhança com a realidade não é pura coincidência.
E eu agora pergunto:
Porque porra é que um fadinho dramático, uma história de vida miserável, vem sempre acompanhada de várias levas de putos?
Ora deixa cá engravidar mais um bocadinho, xa cá ver onde é que cabe mais um.

quinta-feira, 27 de outubro de 2011

Na Natação (a parte boa)

Desde que passei por um período turbulento na minha vida, período esse em que me transformei numa espécie de bola de stress e tensão, veias pulsantes e tudo, que tenho vindo a aprecisar coisas estupidamente normais.
O que antes era tarefa desgastante, agora é prazer.
O que antes era stressante, agora é canja de galinha com massinha de letras.
O que antes era um frete, agora é perfeitamente suportável.
Por isso, levar a minha filha à natação, já não é o correr no balneário, apressar, suar, ver tipas nuas e mães destravadas a lutarem por um duche vazio. Levar a Alice à natação é o meu momento zen.
Enquanto as restantes mães tagarelam sem cessar (de onde se conhecem elas, meu Deus) sobre as escolas, vidas, futilidades, olhando de cinco em cinco minutos para a piscina, para picar o ponto, eu encosto o queixo na pedra fria e fico ali, de pé a olhar a minha menina crescida em modo non-stop.
Não penso em mais nada, não quero saber de mais nada. Só os seus movimentos incertos, a sua coragem, a sua toca cor-de-rosa a despontar dentro e fora de água é que movem o meu olhar e aquecem o meu queixo gelado pelo contacto com a superfície fria.
Ela faz-me corações com as mãos e pisca-me o olho, eu retribúo. Naqueles 50 minutos, sou dela a cem por cento.
Sempre pensei que seria incapaz de me entregar à meditação, mas vejo agora que não é assim tão difícil despejar o corpo e a mente do que não importa. Basta-me ficar ali, a ver um bocadinho de mim fora de mim. Um bocadinho de mim tão mais corajoso, tão mais cheio de virtudes do que eu, um bocadinho de mim que não sou eu.

quarta-feira, 26 de outubro de 2011

Brinquedos Cretinos e Horrendos

Já perdi há muito a ilusão de encontrar brinquedos bonitos, originais e com 2% de parte didáctica. Hoje em dia, a malta que inventa brinquedos, combate ferozmente pela criação mais horrenda, ou mais cretina do universo.
No meu top 5 estão estas duas pérolas:
Um mini skate para andar com os dedos das mãos. Ui, que emoção, que adrenalina, que perigo não deve proporcionar este desporto em dois dedos. Tem rampas, ferramentas, o diabo a sete e é tão caro quanto idiota.
E esta coisa com ar de prostituta morta viva, que de boneca não tem nada.



terça-feira, 25 de outubro de 2011

"Cook Yourself Thin"



Adoro este programa. Quero provar de tudo e fazer de tudo.
Apesar de estas tipas adorarem contar as calorias de cada prato e eu não perceber um boi sobre calorias, tudo o que fazem tem um aspecto rigorosamente delicioso e, segundo elas, sem culpas.
Gosto de ver a forma como convertem pratos nocivos para a saúde, em comida-não-provocadora-de-enfartes.

quarta-feira, 19 de outubro de 2011

Já repararam...

Que, desde que surgiram em Portugal os armazéns IKEA, toda a gente tem a casa igual?
Quem entra numa, entra em todas :)
A propósito de IKEA, é impressão minha, ou aquilo já não é tão barato como era?
Onde é que está a política do acarrete o esqueleto da mobília, monte aquela merda toda ( tentando não enlouquecer) e pague menos?


Entrevista de emprego para o IKEA

terça-feira, 18 de outubro de 2011

AHAHAHAHAHAHA

O Governador do Banco de Portugal deixou um conselho sensato ao povo português:
Têm que poupar mais.

sexta-feira, 14 de outubro de 2011

Estado de Emergência Mental

Depois das medidas-para- deixar-a malta-em-pelota do governo, milhentas vozes se levantaram.
Perguntam vocês:
Vozes de protesto? Vozes de compadecimento?
E eu respondo:
Não.
A maior parte das vozes que escutei por este mundo virtual, foram vozes de regozijo. Ufa, ainda bem que ganho menos de 1000 euros, ufa, acho muito bem que a classe média pague, xiça, ainda bem que sou pobre. Eles que vão masé trabalhar, os mandriões que ganham esses milhões de euros. O que me leva a concluir que quem ganha mais de 1000 euros é milionário e não trabalha.
Somos um país de facto triste, onde parece que ganhar razoavelmente, por um trabalho que se faça bem, é vergonha (sendo que ganhar bem, não é ganhar 1000 euros).

Desabafo inspirado neste post.

quinta-feira, 13 de outubro de 2011

Estamos fecundados, estamos

Não se pode prender a malta que nos conduziu a este excremento financeiro?
Não se pode empalá-los?
A única safa é deixar o povo todo em cuecas e debaixo da ponte?????
A sério, é ultrajante. Sinto-me encolhida de medo.

quarta-feira, 12 de outubro de 2011

Os Pequenos Monstros

Há uns meses atrás, enquanto observava uma criança de 5 anos a dar ordens a uma empregada doméstica, copiando a forma como a própria mãe tratava a funcionária, estremeci.
A empregada ia sorrindo amarelamente e lá ia fazendo o que a criancinha ordenava, uma vez que a mãe achava muita gracinha àquele pequeno clone do seu feitio de merda.
Na escola da Alice há muitas crianças peneirentas e de nariz empinado e quando vejo as mães das ditas, entendo tudo. São clones.
Atitudes, gestos de desprezo, peneiras, arrogância em crianças tão pequenas, regra geral, são uma espécie de copy-paste do comportamento a que assistem em casa.
É claro que existem crianças difíceis, teimosas, menos dóceis, cujas atitudes têm uma grande dose de feitio incorporado. Feitio esse que os pais lá vão tentando adoçar em desespero, mas ainda assim, tentando dobrá-los um bocadinho.
Esses pequenos monstros, serão um dia monstros de tamanho normal e isso custa-me e assusta-me. Aliás, assombra-me.
Se há (pouco, mas ainda assim algum) poder que um pai tem é o poder de fazer a coisa certa. O poder de deixar uma pequena impressão digital no coração dos filhos, para que quando cresçam, ou ainda em tenra idade, saibam distinguir o certo do errado.

terça-feira, 11 de outubro de 2011

Depressão

O António Barreto diz que Portugal vai desaparecer e eu acredito.
Relacionado com a prostituta da crise e com o desânimo geral que se respira a cada anúncio do governo, nunca vi tanta malta depressiva no parque.
Hoje uma senhora de ar triste e de mochila às costas, senta-se perto de nós, abre a mochila e, não, não tira uma bazuca, nem uma granada de mão, mas um pacote xl de pão de forma e ali fica ela a alimentar os pavões. Sorriu tristemente para nós e disse: Esta é a minha única alegria.
É claro que ela podia estar triste por um milhão e meio de motivos, além do facto de o nosso país estar a desaparecer, mas por uns segundos, apeteceu-me ficar ali sentada com ela, a dar pão aos pavões.

segunda-feira, 10 de outubro de 2011

Giseleeeeeee

A quem é que chocou o anúncio da Hope, com a Gisele Bundchen?
A sério que há alguma mulher que tivesse ficado moralmente chocada com aquilo?
Sinceramente, quanto a mim, é mais uma sátira ao bicho homem, do que à condição feminina.
Chocou-me muito mais ver a Helena Coelho em lingerie, agarrada a uma tábua de passar a ferro, do que ver a Gisele a usar a lingerie para dar a volta à cabeça de um gajo.
Se há alguém que deva ficar ofendido aqui é o Homem :)
Quanto ao envolvimento governamental num anúncio de lingerie, nem sequer consigo comentar esta atrocidade.

Povo madeirense, obrigadinha por mais uma ronda desta merda

sábado, 8 de outubro de 2011

Rapidinha Ao Estilo d'A Mulher Certa

Sei que canto horripilantemente mal, quando passa Angels do Robbie Williams no rádio do carro e fico a ouvir zunidos e ligeiramente nauseada com a minha própria voz.

quinta-feira, 6 de outubro de 2011

Zzzzzzzzzzz Paris Zzzzzzzzzzz

Estou num estado tão pateticamente sonolento, que meço a qualidade de um filme pelo facto de adormecer, ou não, enquanto o vejo.
Quando o sono se entranha e nos provoca dores nos ossos e articulações, está na hora de repensarmos seriamente os filmes que escolhemos para ver. Tudo me soa a canção de embalar, os diálogos, a banda sonora, os sorrisinhos, as bombas que explodem, os tiros, os murros, os chavões, os beijos, as paisagens.
Quando o nosso filho insiste em acordar às 4 da manhã, ou num dia bom, às 6, qualquer filme que me ponham à frente é um drunfo.
Neste caso, falo do Meia Noite em Paris, com o Owen Wilson e a sua voz à la Woddy Allen a fazerem cafoné na minha cabeça.
Tenho a certeza de que se estivesse menos consumida por este estado sonâmbulo, tudo teria sido diferente. Mas Paris nunca foi a cidade da minha vida e o Owen Wilson está longe de ser o meu actor de eleição, por isso, muitos foram os momentos em que cabeceei vergonhosamente.
Acho que este filme é fofinho e despretencioso, bem ao estilo do Woody. Também acho que dá uma bela lição sobre os roaring twenties a um adolescente que comece agora a vibrar com o Hemingway e a Gertrude Stein (estive na campa dela no Pere Lachaise, quando tinha 19 anos), mas eu estou velha e só quero poder dormir uma noite inteira. Por isso, Paris, lamento desapontar-te, mas meia noite é muito tarde para mim :)

sábado, 1 de outubro de 2011

Não sei o que se passa

Mas a realidade é que alguns comentários aparecem no meu mail, mas não aparecem aqui...
Não tenho a mais pequena ponta de jeito para desvendar estes mistérios, por isso vou esperar que a doença passe por si.

sexta-feira, 30 de setembro de 2011

O circo do touro

Ligeiramente farta das pedras atiradas ao Miguel Sousa Tavares e porque sou ligeiramente do contra, venho aqui dizer que me irritam mais os Circos do que as touradas.
Falo das touradas com forcados que pegam o touro de caras. Falo de cavalos, cavaleiros e de touros com tomates, que investem sobre os cavaleiros como tanques de guerra e que me fariam fazer cocó nas calças só de estar a 100 metros deles.
Por outro lado, confesso que ver uma cambada de malta a fugir de um touro numa praça, a levar cornadas no traseiro, ou a atirar-se em massa para cima de um vitelo embasbacado, é coisa que me faz primitiva comichão. Mas uma tourada à séria, não sei porquê, juro que não sei e estas merdas não se explicam, emociona-me e arrepia-me. Isso faz de mim uma tipa básica, bárbara e filha da prostituta? Se calhar sim.
Agora o circo. O circo onde se levam as crianças, o circo que move multidões, o circo onde se enfiam animais de grande porte em jaulas, onde se amestram esses mesmos animais para que façam gracinhas diárias durante a vida inteira, isso sim é coisa para tirar a dignidade a um ser vivo como eu.

quarta-feira, 28 de setembro de 2011

Mais uma constatação sem ponta de interesse para a humanidade

A maternidade, tal como uma doença, ou um grande desgosto na vida de alguém, tanto pode adoçar, como azedar uma pessoa.
Tanto pode tornar alguém mais condescendente, como mais irascível. A uns a humildade toca, a outros é a petulância que chega para ficar. Com uns o egoísmo dissipa-se um pouco, com outros intensifica-se.
Uns concluem que pouco dominam da vida, outros sentem que dominam o mundo com teorias inabaláveis.
Tal como em tudo na vida, as experiências não nos afectam a todos da mesma forma.

segunda-feira, 26 de setembro de 2011

Pelo olhar dos meus filhos

De todos (tão poucos) olhos sobre mim, os teus são os que mais me emocionam.
São os que me olham (ainda) sem mácula. São os que me olham perfeita, mesmo quando estou longe de o ser
No reflexo dos teus olhos é onde gosto de me ver.
Não quero espelhos, nem miragens numa qualquer água turva de alguém. Quero os teus olhos grandes, castanhos e meigos que me fitam, como se fosse a pessoa maior da tua vida.
Não preciso de elogios, de palavras amontoadas dentro das frases dos outros.
Não preciso dos sons pouco verdadeiros, que se libertam dos lábios de sorrisos que me falam sem verdade.
Preciso apenas do teu olhar para me sentir maior, dentro de tudo o que é pequeno em mim.
Sei que em breve deixarei de ser quem buscas com esses olhos imensos e densos de amor, mas enquanto for eu o teu conforto, serei grande.

quinta-feira, 22 de setembro de 2011

A Comida é Fodida

A comida é mesmo o vício do século e o mais complicado, mais tortuoso, mais lixado de conseguir largar. Uma vez que não é ilegal, nem socialmente mal visto.
Os programas que apelam ao alimento polulam e enchem-nos a vontade. As carências emocionais, as frustrações, os traumas do passado, são muitas vezes substituídos por aquele conforto gustativo.
Alimentar a família é também motivo para alimentar o nosso vazio, que parece nunca ficar cheio e a coisa prolonga-se no tempo. Cada dieta uma tortura, cada garfada uma culpa abissal.
Acho que posso agradecer não sei bem a quem, o facto de não ter propensão para arrecadar muitos quilos, porque em dias como o de hoje, acho que marchava tudo o que ocupasse as laterais e dianteiras do meu frigorífico.
O que vale é que só tinha sopa, arroz branco e azeitonas.
Excusado será dizer, que as azeitonas já eram.

terça-feira, 20 de setembro de 2011

Eu cá é mais isto




Eu sei que cada um tem o seu amortecimento televisivo-cerebral favorito.
Depois de um dia esgotante de um trabalho mal pago, com patrões filhos da puta e frustrações várias a todos os níveis, é normal que se anseie por um bocadinho de comportamento primata, para descomprimir, mas eu é mais isto.
Não há reality shows que me façam mudar de canal, quando algum destes está a dar no Discovery :)

segunda-feira, 19 de setembro de 2011

De Loucuras, Valsa Lenta

A loucura é uma coisa que me assusta como a merda (adoro desperdiçar a palavra merda).
Principalmente, porque um louco nunca tem consciência do seu estado demencial. O que o leva sistematicamente a concluir que todos em seu redor padecem da demência de o chamarem louco. Todos os que o rodeiam são de facto os loucos, biltres, desgraçados, tarados e, acreditem que passados uns dias na presença de malta com distúrbios na glote cerebral, começamos a sentir o frémito da loucura tomar conta de nós.

sexta-feira, 16 de setembro de 2011

A todos os que andam pelo mundo virtual




Não percam este documentário/filme.
A sério, não percam.
Dá todo um novo alento à frase: Nem tudo o que parece, é.

quinta-feira, 15 de setembro de 2011

O meu sonho recorrente


Quanto maiores são os problemas supérfluos, maior é a vontade de viver do que a terra me dá.
Tenho sonhado acordada com isto:
Sou dona de uma quinta imensa e preocupo-me com as condições do clima.
Leio, escrevo e as minhas dores de cabeça dão-se à conta das colheitas e dos animais que crio.
Levanto-me antes da luz do sol e canso o corpo. Canso-o de tal forma, que nada me sobra na mente. Nada além de um livro, ou de uma folha de Word em branco, à espera de ser fertilizada.

quarta-feira, 14 de setembro de 2011

Esqueçam tudo o que pensavam saber sobre sensualidade nocturna



Não, não é uma miragem. Na secção de lingerie de uma mega-loja, meti os olhos nisto.
Passei pelo corredor da roupa interior masculina e também havia versão masculina desta peça sensual.
Tremi de sensualidade imaginária, ao visualizar-me com uma cena destas, de roca na mão e a espernear com birra, porque o Hugo não vestiu o dele.
À noite, quando me der vontade de fazer chichi, também vai ser super prático, mas jogando pelo seguro, é melhor enfiar uma fralda.
Também não tenho que me preocupar em cair pela escada abaixo, pois lembraram-se de meter anti-derrapante debaixo dos pés.
E eu a pensar que já não podia ficar mais sexy do que sou. Descobri a pólvora.

terça-feira, 13 de setembro de 2011

A minha suja, empoeirada e emporcalhada de chulet gourmet, croc

Quis embelezá-la, colocar-lhe um adorno digno do meu pé 39 e simplesmente apaixonei-me por esta Marge Simpson. Perdi a cabeça e adquiri este adorno milionário.
Linda de morrer, glamorosa, adepta da laca e de voz sexy. A Marge é o que qualquer mulher ambiciona ser quando se tornar num desenho animado.
Exibi-a com orgulho, cruzei a perna e abanei o tamanco em frente dos meus sogros, numa de os escandalizar mesmo.
A minha sogra teve a reacção escandalizada que esperava. Sorriu e disse-me:
Que linda lagartinha que tens no sapato, Aninhas.

segunda-feira, 12 de setembro de 2011

Não é o fim do mundo em cuecas, mas...

Gosto muito da escola da Alice. Tem espaços verdes, fazem piqueniques nos dias de sol, brincam tanto quanto trabalham e é um ambiente luminoso e alegre, que me inspira alegria de cada vez que entro nos seus portões. Muitas vezes saio de lá com vontade de cantar o Sound of Music.
Mas quando fizer 3 anos, o António marchará para a pré-escola e, por muitas voltas que se dê, não é possível manter os dois na mesma escola. Por isso, a Alice seguirá para uma escola pública para fazer a primária.
Que sorte que temos, com uma escola básica a um minuto a pé aqui de casa. Por isso, ontem decidimos ir espreitar a escola.
Demos as mãos e caminhámos os poucos passos que separam a nossa casa desse edifício "idílico".
À medida que nos aproximávamos, esquivando-nos das pedras da calçada soltas e dos cagalhões caninos pelo caminho, uma sensação de tristeza foi invadindo o meu olhar.
Um pré-fabricado, rodeado de cimento, salpicado de mato aqui e ali. Valetas, calhaus e muito poucas condições de segurança. Respirámos fundo e dissemos: Não é assim tão mau. Podemos vir levá-la a pé e isso é do caraças. Ouvimos a campainha do recreio tocar aqui em casa e uma coisa compensa a outra.
Depois fomos ver outra, que fica a 3 minutos de carro. O edifício mais composto, apesar de ter pedaços de parede soltos. Mas o recreio, caraças. O recreio é um pedaço de cimento com degraus de cimento a caírem aos bocados.
Sei que sou comichosa, mas a sensação de desolação ficou.
Pensei nos cortes que este governo encavador fará na educação, no cimento que rodeava o espaço e respirei fundo. Não é o fim do mundo, mas é um mundo mais cinzento, sim senhor. Custa assim tanto rodearem as escolas com um bocadinho de verde? Sempre enganava o olho.

sexta-feira, 9 de setembro de 2011

cheirinho a éter

Hoje, enquanto o Miguel C estava sentado no nosso jardim, descalço e com o à vontade que só velhos amigos conseguem.
Hoje, enquanto os filhos dele e da M. brincavam com os meus filhos.
Hoje, enquanto falava na sua ida para Lausanne, com aquela expectativa de quem desbravará em breve uma nova vida.
Hoje, enquanto sentia sermos todos amigos desde sempre, agradeci à blogosfera e tive pena. Aquela pena egoísta, mas sem maldade, de ter que os perder para os Alpes.
Miguel, espero que não mudes o nome do teu blog para Cheirinho a Queijo e que sejam muito, mas muito bem sucedidos em terras da Nestlé.

quinta-feira, 8 de setembro de 2011

tenho estado a pensar

De quantas formas se pode encavar a classe média?
Ainda não tenho as contas todas feitas, mas tenho quase a certeza mais ou menos absoluta, de que são muitas. Existe uma espécie de Kama-Sutra de encavanço e este governo está a experimentar todas as posições.

quarta-feira, 7 de setembro de 2011

verdades e constatações mais ou menos universais

Não há rigorosamente nada que pague a sensação de nos deitarmos de consciência tranquila.
Nós somos muito mais aquilo que fazemos, do que aquilo que dizemos.
A família, no final das contas, dos dias, das decepções, das mágoas, das dores, é mesmo o mais importante.
Há coisas que, depois de ditas, apodrecem tudo em seu redor.
Os segredos são coisas nojentas, que precisamos de partilhar com alguém, para não ficarmos com bolor por dentro. Mas envenenamos a outra pessoa com a mesma matéria fecal, partilhando a doença.
Foi provavelmente por isso, que surgiu a figura da confissão.
Queria muito poder enfiar uma mochila às costas, ou uma malinha com rodas, que sempre é mais confortável e partir de viagem para um lugar qualquer longe do mundo dos outros.

sábado, 3 de setembro de 2011

LV, RL ou outros que tantos que não me fashionizam

Longe vão os tempos dos baús de porão, do conceito de longa viagem, da solidez que vinha com o nome Louis Vuitton.
Hoje em dia é apenas sinónimo de status, novo riquismo, pinderiquice completa e absoluta.
Que me perdoe quem tem uma LV velhinha, dos tempos em que ter uma era igual a nada, pois que ninguém conhecia bem a marca, mas a realidade é que, ainda que ganhasse o Euro-milhões, jamais me passaria pela cabeça entrar numa loja desta marca e abastecer-me da cabeça aos pés de pochetes, bolsinhas de meter na cintura, ténis, carteiras, só para adquirir o status à pressão.
Noutro registo, o que é que passou pela cabeça do meu querido Ralph Lauren, para espetar com cavalos à escala real nos polos, camisas e afins? É a pensar nos míopes?
Teriam que me pagar para andar com um cavalão ao peito e não o contrário.



segunda-feira, 29 de agosto de 2011

Do alto da minha (in)sapiência

Se há coisa gira nisto de ser mãe, ou pai, é podermos debitar conselhos e vermos os olhinhos ingénuos deles abrirem na potência máxima, enquanto escutam as palavras (para eles) sábias da mãe, ou do pai.
Nunca achei saber grande coisa sobre a vida, ou sobre o que quer que fosse, pois sempre entendi que a minha vida não é a vida de mais ninguém. É só a minha vida, os meus problemas, as minhas buscas e concretizações, que não são necessariamente as dos outros.
Mas para vocês, filhotes, aqui vai uma reflexão:
Construam sempre uma história com o vosso parceiro, antes de decidirem ser pais. Viagem, criem memórias a dois, façam questão de escrever umas páginas sem mais personagens além de vocês. Só assim aguentarão a sucessão de tarefas, de obrigações, de pequenas rotinas, de submersão que virão com os filhos.
Só assim conseguirão continuar a remar com o vosso parceiro, a um ritmo sereno, pois já sabem como foram antes deles e é precisamente isso que sabem que voltará passado um tempo.
Segurem-se à história que fizeram lá atrás e esperem por ela, quando o romantismo não surgir todos os dias por cansaço, quando não houver tempo, nem força para namorar, pois que não há ajudas, quando a coisa estiver tão romântica, como uma tigela de canja e umas pantufas, vocês poderão sorrir e recordar o que já foram. Poderão dar a mão ao vosso parceiro, com a certeza de que são mais do que isso.

terça-feira, 23 de agosto de 2011

Agora a sério

Tenho tido minutos de puro deleite. Bem sei que são apenas minutos, mas mesmo assim, adoro quando os meus filhos estão sentados a brincar juntos na areia. O António põe e tira conchas do balde cerca de 348716 vezes por minuto, depois leva pedaços de areia à boca e saboreia, enquanto a irmã tenta limpar-lhe as mãos.
Esses breves momentos, em que tudo parece encaixar no lugar e em que mais ninguém quer estar noutro lugar qualquer, são absolutamente perfeitos.

De férias

Na teoria, porque na prática vim apenas ficar cansada num lugar diferente.
Mas não posso realmente queixar-me das dores no lombo e na cabeça e nos pés e nos braços, pois o facto é que estou a cansar-me no Algarve, onde não chove, venta apenas um bocadinho e há bué malta a falar estrangeiro.
Outro dia, aqui na piscina do pedaço, vi uma mãe de 3 putos insuportáveis, a espalhar creme protector na cara do marido, no nariz, no pescoço e nos bracinhos, como se ele fosse também uma criança indefesa, que não dominasse a ciência de espalhar protector em zonas acessíveis à sua própria mão.
Pensei para mim, que há mulheres do caraças e donas de uma maternidade que brota infinitamente do seu interior.
Se o Hugo me pedisse para lhe espalhar protector na carinha, depois de uma sessão de espalhar creme aos putos, que gemem e reclamam e fogem, o mais provável seria atirar-lhe com o frasco de creme ao trombil.
E pronto, agora vou voltar a ser fofinha.

sexta-feira, 19 de agosto de 2011

Nos balneários, parte não sei quantas

Cada dia nos balneários da natação da Alice, é um dia de novidade.
Ontem, um bando de velhotas todas nuas em amena cavaqueira.
Terão vindo da hidroginástica, onde verteram pequenas pingas de chichi nas águas onde a minha filha mergulhou? Terão vindo de uma sessão de grupo no banho turco? Terão vindo de uma aula de musculação do glúteo? Não faço a mínima ideia, mas ainda estou a tremer com o susto e a sofrer de stress pós-traumático.

quinta-feira, 18 de agosto de 2011

Pessoas que não carpe diem nem um bocadinho de nada

Existem pessoas que, com um dia de sol absolutamente perfeito, insistem em pensar que pode ficar cinzento.
Existem pessoas que, com uma vida boa como tudo, insistem em travar naquele pequeno calhau pelo caminho e tropeçar em modo non-stop, gritando que dói e que é um calhau maldoso e que não deveria estar ali. Pessoas que não sabem contornar o pequeno obstáculo, com medo do caminho à sua frente e para ali ficam, a tropeçar vezes sem conta no mesmo calhau, porque já não sabem o que é a vida sem o queixume pelos pequenos calhaus.
Existem pessoas que, com os dias inteiros pela frente, gemem por aquele pedaço de futuro que não desejam, mesmo que ainda não tenha acontecido.
Existem pessoas que, em frente de um jardim florido, reparam naquela erva daninha que cresceu ao lado de uma das flores e matutam nela horas infindas, esquecendo, assim, de gozar o momento.
Existem pessoas que não sabem afastar-se, para melhor apreciarem a pintura e ficam às cabeçadas num pequeno detalhe de merda que não conseguem entender, precisamente porque não se afastam apenas uns passos.
É claro que não precisamos de andar sempre aos sorrisos e a declamar poesia, embriagados de felicidade pela vida, mas chiça, tanta miserabilidade enjoa um bocadinho muito grande.

terça-feira, 16 de agosto de 2011

Penduricalhos e afins

Odeio com fervor apaixonado as etiquetas gigantes nas t-shirts.
Odeio com fervor desequilibrado umas fitinhas que agora decidiram enfiar em tudo o que é t-shirt, como se fosse fundamental pendurarmos as t-shirts em cabides, ou no raio que as parta.
Odeio ter que cortar quilos de papel e de tecido, de cada vez que chego a casa com t-shirts novas, repletas de penduricalhos desnecessários.
Odeio ter comprado um pacote de cuecas na Women's Secret, todas giras (apesar de cheias de etiquetas). Chegar a casa e perceber que cada uma delas tem escrito um dia da semana.
Há coisa mais triste do que envergar uma cueca a dizer quarta-feira a um domingo?
Fora da zona de penduricalhice, mas não deixando de me enervar de forma ligeira, odeio pegar numa revista social e deparar-me com 100 páginas de mulheres, ou ex-mulheres de futebolistas. São de facto, as pessoas mais sem interesse à face do mundo da revista da cusquice. Pelo menos para mim.
E pronto.

sexta-feira, 12 de agosto de 2011

Força Hipnótica

Não se deixem levar pelas forças do mal. Sejam fortes e resistam até ao fim. Não colaborem com a malta que nos quer deixar apenas em cuecas amareladas e meias esburacadas.
Hoje, durante a entrevista da Judite Sousa ao nosso Ministro das Finanças, percebi finalmente porque é que não há revoltas na rua e fogo e pedras atiradas ao governo e incendiários enlouquecidos e homens bomba.
O homem hipnotiza com a voz.
Tenham muito cuidado. Quando o nosso Ministro estiver a falar sobre as próximas medidas que tomará para nos deixar em pelota, procedam à introdução de tampões de silicone no orifício auricular. Se não tiverem poder de compra para os tampões, deixem o material ceroso invadir o tímpano.
Só assim, a vossa força permanecerá intacta e não se deixarão levar pela sonolência- bloqueadora-de-raciocínio que a voz do homem produz.
Desde a voz do Xanana Gusmão que um homem não me deixava assim.

Ser a Tua Mãe

Enquanto bebes o teu leite com chocolate e trincas os mini-queijinhos flamengos que adoras, olho-te e deixo que a minha admiração transborde.
Gostas do Garfield e do Snoopy (tal como eu), ris-te com o Homer Simpson, apesar de não perceberes nada do que ele diz e eu olho-te e deixo que a minha admiração se entorne pelo que resta de mim inteira.
Tens dois dentes de leite que já abanam das suas frageis estruturas e eu sinto já saudades dos teus pequenos dentes cor de arroz, que sempre definiram o teu riso. Ver-te com um sorriso de dentes crescidos, vai deixar-me triste e contente ao mesmo tempo, como se ficar triste e contente em simultâneo, fosse a nossa melhor definição.
Olho-te com o teu irmão, na praia, no teu quarto, dentro da pequena tenda que vos comprei e adoro a forma como o apertas e a paciência infinita que tens com as birras dele (é claro que nem sempre tens paciência, mas quando tens compensa tudo).
Olho-te com os teus livros de dinossauros, com os teus óculos escuros do Winnie the Pooh. Olho-te na natação, nas tuas pequenas conquistas e coragens e sinto-me afogada na imensidão que é isto de ser a tua mãe.
Como é que eu sou a tua mãe? Eu, uma pessoa desajeitada, tímida, que, em tantos aspectos, ainda se sente mais filha do que mãe.
Como é que eu sou a tua mãe, Alice?
Ontem disseste-me que eu e o pai te escolhemos antes de teres nascido e eu tenho que te dizer que, ainda que tivessemos podido escolher como serias, jamais teriamos sonhado com tanto.
Não imagino a minha vida sem a tua vida dentro.

quinta-feira, 11 de agosto de 2011

Evil Beach

Esta semana tenho ido sozinha para a praia do Guincho com os miúdos.
Sempre achei que não seria espiritual, nem fisicamente forte para empreender tal tarefa solitária, mas recompus-me, dei vários estalos consecutivos em mim própria, proferi insultos na direcção da minha cobarde e maricas pessoa e marchei para a praia do ciclone, a fim de encher os pulmões das crias com ar do mar.
Afinal de contas, falamos em ir à praia e não de uma prova de montanhismo.
Mas hoje, agachados na trincheira de um Pára-Vento, com o António a trepar por mim acima e a ganir o tempo inteiro, enquanto a Alice sacudia a toalha negligentemente para cima de nós. Hoje, enquanto trepava a duna de regresso ao carro com o António ao lombo e o saco com as toalhas no ombro. Hoje, enquanto tentava chegar ao mar, entre os gritos birrentos do meu filho e os gritos de excitação da minha filha, só para ser acometida de dores reumáticas-de-contacto-com-água-do-guincho. Hoje cheguei, enfim, ao meu limite. O limite da duna e do vento desta praia temperamental.
Eu sei que há mais praias nesta terra chamada linha, mas eu sou uma gaja teimosa e esperançosa e como vivo a 7 (não 5, nem 10) a 7 minutos do Guincho, insisto em trepar a duna, entricheirar-me e queixar-me depois.
Agora vou ali ganir de dores nas costas e suspirar pelos tempos em que conseguia estar numa praia, deitada a ler e a ouvir as gaivotas ao longe e já volto.

quarta-feira, 10 de agosto de 2011

As Bolas

Não há nada que se compare ao sabor de uma bola de berlim degustada no areal :)
É um dos pequenos grandes prazeres de uma vida. Os gritos dos putos ao longe, os gritos dos meus putos de perto e o açúcar espalhado em redor dos lábios dos três.

terça-feira, 9 de agosto de 2011

Em Memória da Memória

Dizem que, quando as pessoas morrem, as divinizamos. Ficam perfeitas. Todas as curvas apertadas de carácter se esbatem, todos os erros cometidos em vida se amenizam, todas as atrocidades levadas a cabo se relativizam e aquela pessoa, relativamente intragável em vida, é agora santa.
Dizem que, quando as pessoas morrem, se transformam numa espécie de livro, onde só os capítulos com as passagens bonitas permanecem e são lidos com solenidade.
Eu cá acho que não é nada disso.
Acho que, quando alguém importante parte dos nossos dias, as coisas más permanecem sim. Mas o mais incrível, é que começamos a sentir saudades dessas coisas que tanto nos aborreciam.

segunda-feira, 8 de agosto de 2011

Fecuntata Est Ana

Adoro quando me tratam como uma retardada mental (sem ofensa para os retardados mentais).
Desde o médico na urgência que insiste comigo que a dermatite que se instalou nas minhas palpebras, se deve a um produto que eu usei, mesmo depois de lhe ter dito 345 vezes que nem sequer me maquilho, nem usei nada de novo nos últimos 10 anos. Ele faz uma expressão de "falo com uma retardada mental" e contradiz-me com expressão de enfado. Agarra-se àquela merda e insiste até à morte, ignorando o que lhe digo. Talvez porque dê demasiado trabalho arranjar outra justificação para a bosta da dermatite, talvez porque me julgue mesmo uma pessoa com falta de oxigenação cerebral. Eu acabo por dizer que tudo bem, se ele diz que é da maquilhagem, eu maquilhei-me sim, com umas sombras da loja do chinês. Talvez assim ele se sinta menos frustrado e eu menos tonta.
Receita-me um creme fantástico e uns anti-histamínicos e deixa a retardada sair.
Venho a descobrir mais tarde, com uma médica a sério, que me tinha receitado um creme altamente alergéneo, por isso eu não melhorava.
À conta de não melhorar, não posso arranjar as sobrancelhas, esse sim, um dos meus únicos vícios de estética.
Também adoro quando me falam sobre trabalho, como se eu fosse a tipa mais burra à face da crosta terrestre. Abrem muito os olhos para mim e gritam com voz cavernosa na direcção desta débil de espírito. Adoro que me humilhem e que me façam sentir pouco digna do salário milionário que me pagam.
É mesmo assim que se motivam equipas. Qualquer psicólogo acabado de formar o confirma.
Venham mais vinte, que eu deliro. Sentir-me rebaixada é do melhorzinho que existe. Faz tão bem à pele, que lhe confere um tom rubro, descamado e vibrante.
Só não fiquem em choque se, um dia mais tarde, esta débil de espírito, num acesso de oxigenação súbita da massa grey, vos mandar fecundarem-se lentamente e com dor, sim?

sábado, 6 de agosto de 2011

Steven, o meu herói

No tempo do jogo do elástico, dos estalinhos de carnaval. No tempo em que andava de bicicleta à volta de um quarteirão, onde hoje em dia não deixaria andar os meus filhos à vontade. No tempo em que ia e vinha do colégio a pé. No tempo em que ouvia Lp's do Jason Donovan e da Belinda Carlisle. No tempo em que os amigos eram irmãos e os irmãos eram amigos, havia filmes de aventuras.
Não era preciso uns óculos 3D, nem bilhetes que custassem o rabo e as calças. Não era preciso pipocas, nem coca-colas. Não era preciso mais do que um bom filme de aventuras e, meu Deus, se havia bons filmes de aventuras.
Todos os meus preferidos tinham um nome. Ora fosse o produtor, ou realizador, não importava. Se tivesse lá escrito Steven Spielberg, seria certamente inesquecível.
No topo da lista dos inesquecíveis, está o Goonies. Devo tê-lo visto mais de 15 vezes e continuo a achar-lhe o mesmo fascínio que achei aos 10 anos.
Não há quem melhor tenha sabido entrar no meu imaginário, como este homem. Obrigada Estêvão por me teres feito sonhar, rir, chorar, apaixonar dezenas e dezenas de vezes.

quarta-feira, 3 de agosto de 2011

Face-maçada

Isto do facebook é muito maçador.
Senão, vejamos: Temos uma relação com alguém no mundo real e vão a correr amigar-nos na rede social, pois se a coisa não se der virtualmente, parece mal, parece que não nos conhecemos de verdade. Essa relação real é quebrada, por um motivo, ou por outro e lá temos nós que ir desamigar no livro-da-face, se não a coisa parece que não aconteceu.
Gerir a realidade real e a realidade virtual, pode ser de facto tremendamente maçador.
Tão maçador, que só de escrever sobre isso bocejei.

A propósito da Frida Kahlo

Não aprecio particularmente quadros que a minha filha pequena conseguisse pintar.
Gosto de sentir que nem num milhão de anos, conseguiria pintar uma merda daquelas. Isso sim, faz-me ficar especada em frente de uma qualquer manifestação de engenho alheio.
Ah, a arte é para fazer pensar, vamos pôr um par de luvas e um rolo de papel higiénico em cima de um banco e dizer que é arte. A malta vai adorar, vai reflectir sobre a conjuntura da reciclagem do papel e a simbologia da luva no pensamento contemporâneo. Não é para mim. Desculpem lá, mas aqui a grosseira e ligeiramente labrega pessoa, gosta de outro tipo de cenas.
A Frida Khalo, mesmo antes de saber alguma coisa sobre o significado tão pessoal das suas pinturas, sempre me meteu um bocadinho de medo. A sua imagem dura, os seus quadros agressivos, aquilo não seria para pendurar na parede de uma casa minha, pois era a história dela. Sempre pintou mais para si, do que para os outros.
Mas este quadro, ontem em particular, disse-me muito. Apesar de não querer dizer nada daquilo que senti ao olhá-lo, achei que pertencia ao meu momento.
Estavam ali as duas Anas e uma rompia com a outra. Uma ajudava a outra a superar-se a si própria. Uma esvaziava-se e outra se enchia.
Um bocadinho esquizofrénico, sim, mas ontem a arte, esta arte, fez um bocadinho parte do meu dia e eu tive que me render às evidências:
A arte pode ir além da técnica, sim. A arte pode fazer-nos pensar.

terça-feira, 2 de agosto de 2011

segunda-feira, 1 de agosto de 2011

Comodismo

É mais fácil ficar numa situação que nos magoa, do que sair da situação que nos magoa.
Juro.
Sinto-me estupidamente cobarde, agarrada a coisas que não importam, mas que eu digo que importam, só para me convencer que estou a agir da forma certa.
Queria ser uma gaja cheia de coragem, mas limito-me a encher o depósito da paciência, que se tem revelado com uma capacidade extraordinária.
O problema é que fico sem paciência para as coisas que importam de verdade.

Atenção, que não me refiro a nada de muito importante e isso é o que mais me irrita.

quinta-feira, 28 de julho de 2011

No Ginásio Parte 2

Além da malta toda em pelota, verifiquei que existe uma balança no balneário.
Ri-me para dentro, quando vi uma rapariga a entrar no balneário, transpirada, vinda de uma aula e ainda em modo-body-pump, aos saltinhos energicamente irritantes.
Enfim, a rapariga entra na sala da pelota e a primeira coisa que faz é ir pesar-se.
Hmmmm, xa cá ver se já emagreci alguma coisinha depois da aula, hmmmmm.

quarta-feira, 27 de julho de 2011

Palavrões

Hoje podia passar o dia inteiro a dizer palavrões. Daqueles rebuscados, antiquados, insultos grotescos, ou elaborados. Palavrões.
Porque há dias em que só um bom palavrão define e resume tudo o que nos vai por dentro.

terça-feira, 26 de julho de 2011

Lista de Intenções Para Um Total Make-Over

Preciso urgentemente de pijamas que não tenham o Rato Mikey, a Pantera Cor de Rosa, ou cuja parte de cima não seja uma t-shirt que deixei de usar no dia-a-dia (para passar a usar à noite).
Preciso urgentemente de deixar de pensar que as boxers do Hugo podem ser uma parte de baixo de um pijama feminino, quando conjugadas com a minha irresistível t-shirt da Marge Simpson.
Preciso urgentemente de meias que não tenham tucanos, animais da selva, corações, ou pequenas flores e de investir em colants sexys.
Preciso urgentemente de qualquer coisa que ainda não consigo definir bem, mas que tem a ver com o facto de trabalhar em casa e de estar a transformar-me lentamente num bicho do mato, daqueles bem chatos.

segunda-feira, 25 de julho de 2011

Pais cocó

Ontem, numa das nossas incursões domingueiras pelo parque infantil, presenciámos o desespero de uma mãe, que tentava que o marido/pai jogasse à bola com o puto. O homem estava confortável, com o seu telemóvel, debaixo do frondoso arvoredo e julgava-se o rei do pedaço. Achava, com toda a certeza, que a sua mera presença, ainda que passiva, fosse o suficiente para a mulher não se queixar de mais nada.
"Eu só tenho deveres, deixei de ter direitos!", gritava ela ao homem, que repousava sob a sombra do arvoredo. E aquilo chamou a minha cuscuvilheira atenção e pôs o meu diminuto cérebro a carburar.
Acabei por concluir, sozinha com os meus botões, enquanto via o Hugo a empurrar o António no baloiço, que mais depressa me levaria ao divórcio um marido que fosse um pai merdoso, do que só um marido merdoso.
Não há rigorosamente nada mais desesperante do que assistir à fraca performance de um pai que se encosta, que não reage, que não colabora. Que acha que tudo aquilo que faz é um extra, um bónus, quando na realidade é uma obrigação inerente à sua condição de pai.
Por isso, meninas que lêem esta gaja-demasiado-rabugenta-para-ser-verdade, escolham bem o macho com quem vão constituir prole. É que vão ficar ligadas a ele para toooooda a vida, mesmo que o divórcio chegue e não há coisa mais chata, do que estar ligada a um homem que não sabe ser um bom pai para os vossos filhos.

quinta-feira, 21 de julho de 2011

Chamem-me taradinha do pudor

Não me atirem pedras os adeptos/fanáticos do ginásio, mas desde os tempos de colégio que não frequento balneários e nessa altura vestíamos e despíamos a roupa numas casinhas individuais, que aquilo era colégio de pudor jesuíta.
Foi, então, com estúpido assombro que, ao levar a Alice às suas aulas de natação, constatei que a malta anda toda nua de um lado para o outro.
Olha, vou tirar o colar! Espera, deixa-me tirar a cueca também!
Olha, esqueci-me de tirar a aliança! Espera, não consigo tirá-la se não desapertar o soutien!
Malta, olhem, vou secar o cabelo! A roupa aquece muito, enquanto o secador está ligado.
Foda-se, mas em casa, quando saem do banho, vão a pingar todos em pelota pela casa?
Juro que ainda hei-de entender esta embriaguez corporal, mas por enquanto, ainda estou na fase de observação.
Quando vai o Hugo com a Alice, têm que ficar no balneário masculino...

domingo, 17 de julho de 2011

Agora já percebi tudo

A tendência televisiva é para programas de combate à obesidade. Seja através do exercício físico maluco e de incentivos monetários, de bandas gástricas, de by-passes gástricos, de cirurgias estéticas. Eu meto num canal qualquer e lá estão pessoas com excesso de peso a sofrerem para se livrarem dele.
Meto noutro canal e lá estão a falar da comida enquanto vício, enquanto droga do século XXI e eu tremo de cada vez que me apetece comer um doce, depois de uma tarde neurótica. Enfio linhaça na sopa e tomo pastilhas de Omega3 ao pequeno-almoço.
Depois mudo de novo o canal e vejo que a tendência é programas de cozinha. Chefes desvairados, sarcásticos, mulheres com orgasmos culinários, bolos de alto gabarito, malta a lamber os dedos e a rapar o tacho e fico com vontade de cozinhar freneticamente para a minha família. De ter sempre a casa a cheirar a bolos acabados de fazer.
Em que é que ficamos, senhores? Isto é programação esquizofrénica e é precisamente esquizofrénica que me sinto.

sábado, 16 de julho de 2011

Sufoco

Quando estou rodeada de pessoas verdadeiramente imbecis, desprovidas de humanidade, desconhecedoras da palavra humildade e com várias costelas cínicas no esqueleto vertebral, os meus ponteiros ficam descompassados e deslizam pelo mostrador da minha paciência a uma velocidade estonteante.
Jamais me terão como amiga e pergunto-me como é possível sequer terem amigos, movidos por algo além do interesse.
Penso nos meus próprios amigos e como seria bom tê-los ali naquele momento, para limparem o ar com as suas risadas e feitio cristalino.
Tenho dias em que sufoco. Pura e simplesmente sufoco.

sexta-feira, 15 de julho de 2011

15.07.1975


Sim, já tenho 36 anos. Poderia dizer que não me sinto com 36, que estou aí para as curvas, que sou uma jovem em todos os sentidos, que a minha pele brilha mais agora, do que nos sebos da adolescência, mas estaria a mentir.
A realidade, é que são mais os dias que me sinto com 63, do que com 36.
Sei que, quando chegar à velhice pura e dura, me sentirei com vinte, mas agora sinto-me apenas irritadiça, cansada, generalizadamente podre.
O que vale é que tenho saúde :)
*E nem de propósito. Este é o 1000º post :) Caramba, tantos disparates que já aqui escrevi. Mas não os escreveria noutro lugar qualquer.

domingo, 3 de julho de 2011

Amar

O amor aumenta, decresce, amaina, explode, enfarta-se, fica faminto.
O amor é vertical, horizontal, em espiral e desenha gráficos pouco lineares.
O amor cansa e descansa.
O amor é paciente, impaciente, quente, gelado, preguiçoso, frenético.
O amor é chato como a potassa, faz tanta falta como o raio que o parta.
O amor deseja-se ardentemente, ou deseja-se ardentemente não tê-lo.
O amor é diluído numa profunda amizade, ou destruído numa louca e criminosa antipatia.
O amor é sereno, histérico, profano, sagrado, grávido do mundo inteiro e esvaziado logo de seguida.
O amor é esquizofrénico.
Há apenas uma forma deste sentimento que se mantém como um gráfico linear, em sentido crescente. Uma forma de amor que não sofre as mutilações do tempo e dos dias dentro desse tempo.
Há apenas uma forma de amar que nos estica e nos ensina que amar não mata, antes ressuscita e faz viver, uma e outra vez, ao longo de uma sucessão de números do nosso calendário.
A forma como amamos os nossos filhos.

sábado, 2 de julho de 2011

Se eu pudesse

Andava sempre com uma pequena máquina fotográfica.
Não teria perdido a oportunidade de fotografar as três jovens loiras, bronzeadas, vestidas com motivos florais, todas giras e surfistas num volkswagen carocha descapotável. Do carro saía uma música animada e elas cantavam efusivas e com uma alegria tão própria da melhor das juventudes.
Não estivesse eu em Cascais e poderia jurar que tinham saído de uma série juvenil passada em Beverly Hills.
Só que no banco do pendura ia um velhote.
Tinham que ter visto, para entenderem.
Também teria fotografado um burro escanzelado que seguia à frente do meu carro outro dia, no caminho para o Cascais-shopping.

quarta-feira, 29 de junho de 2011

Irmãos

O António vê a irmã no meio de muitos meninos vestidos de igual. Ele já sabe a mesa onde ela lancha e estende o dedo em riste para ela, com um sorriso de orelha a orelha.
Quando estaciono o carro perto da escola e lhe digo: Vamos buscar a Alice? Ele agita-se, numa excitação enternecedora.
Chateiam-se, gritam-se, empurram-se, têm ciúmes, mas entre os dois já existe um elo forte e invisível, só deles.
As doenças são a dobrar, as birras são a dobrar, o cansaço é a triplicar, a roupa para lavar é a quadriplicar, mas, no final do dia, quando a casa dorme e eu entro nos seus quartos, gosto de os sentir dois. Gosto de os saber um do outro. Gosto que se tenham um ao outro e adoro ver quatro pratos na mesa.

Pequena e acolhedora



Como todas as grandes músicas.
Nunca entendi o porquê de umas músicas nos dizerem tanto e outras tantas não nos dizerem nada.
Esta diz-me muito e acolhe-me sempre nos seus braços, de cada vez que a escuto.

terça-feira, 28 de junho de 2011

Sei que preciso de um tempo para mim

Quando dou por mim, sentada na sanita, com o António a tentar atirar a chupeta para dentro da mesma, enfiando-a entre o meu traseiro e o tampo.
Sim, sei que sou patética.
Sou uma patética cansada.

sexta-feira, 24 de junho de 2011

Com o Corpo Tramado

Tremo, suo, tenho ligeiros ataques de pânico e volto a tremer, a suar e hiperventilar, só de pensar na junção destas duas palavras: Praia e António.
Praia já não é sinónimo de descanso há alguns anos, mas estou plenamente convencida que este ano terei que carregar um saquinho de soro com Red Bull pela praia e uma fralda para incontinentes.
Sinto-me cada vez mais uma espécie de pajem dos meus filhos, principalmente do mais novo.
Não mexas aí, vem cá, espera aí, não metas o caracol na boca, não esmagues o caracol, não desligues a televisão, não ligues a televisão, não fujas pela porta só porque ela está aberta!!!!
António, vem à mãe, vem cá fofinho, não te voltes a fechar na casa de banho, vais cair, vais magoar-te, entalar-te, decepar-te!
Doce ilusão a minha, que julgo valer a pena proferir palavras de aviso na direcção dele.
Doce ilusão, ou preguiça dolorosa e esperança vã de não ter que levantar-me pela milionésima vez para correr atrás dele.
Sinto-me velha. A sério, o meu corpo está uma carcaça. Os filhos são exigentes espiritualmente sim, mas a nível físico tramam-nos o corpo e eu estou com o corpo tramado.

quinta-feira, 23 de junho de 2011

Já não cheira a merda

Eu sou a pessoa mais politicamente céptica do planeta, mas sinto que se respira outro ar em S. Bento, já não cheira tanto a merda como cheirava.
Gosto que um dos nossos ministros ande de vespa, gosto que o nosso PM viaje, dentro da Europa, em classe económica, gosto que a sua mulher pense que é a Michelle de Massamá, gosto que a Presidente da Assembleia da República seja mulher, gosto que não estejam a pensar em férias nesta altura tramada.
São coisas perfeitamente cretinas, mas gosto à brava de todas e cada uma delas.
Agora vá, já estou de olhos fechados à espera da parte que irá doer.

segunda-feira, 20 de junho de 2011

Salsicha Nobre

Fui só eu que fiquei estupidamente contente com o "chumbo" do Fernando Nobre?
E como é que aquele homem ainda ficou para a segunda volta?
Aliás, como é que ele, vendo que estava a ser motivo de fricção entre CDS e PSD, ficou tanto tempo colado ao desejo de poder?
Espero a qualquer momento notícias do homem barricado no WC da Assembleia da República, com explosivos, a exigir a recontagem dos votos.
Há pessoas patéticas e depois há o Fernando Nobre.

quinta-feira, 16 de junho de 2011

Rubrica: "como saltar para a cueca da SUA mulher em 5 minutos"

Quando a mulher é a sua mulher há já alguns anos, esqueça a escrita. Tirando as listas de supermercado e alguns sms fofinhos a dizerem: Amo-te muito, praticamente nenhuma letra será trocada entre vocês.
O truque para saltar para a cueca da esposa é simples:
Dizer-lhe que hoje trata do jantar, dos putos, da loiça e aspira, enquanto ela relaxa com um copo de vinho tinto. Proceda a estas tarefas enquanto suspira o quanto a vida dela é dura e admirável.
Simples, não é?
Só não garanto que, depois das tarefas todas concluídas, a libido se mantenha, mas vale a pena tentar.

Nova Rubrica: "Como Saltar para a Cueca de uma mulher em 2 dias"

Queridos homens e rapazes deste universo virtual,
Venho por este meio mostrar a minha amizade para convosco, e deixar-vos algumas dicas de engate rápido no gatilho.
Vejo que perdem tanto tempo em roupas cool, sapatos estilosos, carros topo de gama, jeitos no cabelo, perfumes, enfim, tudo aquilo que caracteriza a metro sexualidade (seja lá o que isso for), quando poderiam ter as mulheres todas do mundo aos vossos pés a custo zero.
Ontem, em conversa com a Melissa, percebi que a mina de ouro dos possíveis engates, reside na escrita. Sim, ouviram bem, as mulheres enlouquecem por um gajo que escreva.
Se escrever bem, é o êxtase. Se escrever bem sobre sentimentos, são os orgasmos múltiplos. Se escrever bem, escrever sobre sentimentos e não tiver medo de expor o seu lado mais íntimo, é a entrega total e sem reservas, possível pedido de casamento e paternidade dos filhos que carregará.
Ele pode ser um gadelhudo, barrigudo, com pelos no nariz. Ele pode ser calvo, esquelético e sem pelos em lado nenhum. Não importa, desde que escreva bem.
Concluímos também que o contrário raramente acontece. Os gajos estão-se a cagar para a forma como uma mulher escreve.
Encaram a escrita da fémea, principalmente quando escreve sobre feelings, uma coisa banal, constrangedora até.
Por isso, andamos a pensar, eu e a Melissa, em abrirmos um workshop para iniciação à escrita sentimental masculina, lado a lado com cursos de auto-ajuda para o engate.
Aceitam-se inscrições e prometemos resultados rápidos.

sábado, 11 de junho de 2011

Depois de uma manhã no Chiado

Pergunto:
A loja Muji, essa meca japónica das caixinhas com separadores e agendinhas e caderninhos e cenas que adoro, não se lembrou das pessoas com cadeirinhas de bebé, ou cadeiras de rodas?
Ao deparar-me com um lance de 6 escadas dentro do próprio 1º andar (sendo que o acesso aos restantes andares é feito apenas por uma imensa escadaria), dirigi-me ao balcão e perguntei pelo acesso para pessoas com mobilidade condicionada.
- Ah, se quiser, chamo o segurança para a ajudar com a cadeirinha do bebé.
- Ah, que giro, então e se for alguém numa cadeira de rodas? O segurança faz o quê? Leva-a ao colo e passeia-se com ela pelos corredores?
Acho esta merda inadmissível numa loja que abre portas nos dias de hoje, INADMISSÍVEL.
A partir de hoje, cagarei na Muji. Quero que a Muji se Muji. Aliás, cagarei no Chiado inteiro (para grande desgosto meu).

sexta-feira, 10 de junho de 2011

Ser um bocadinho mais ou menos

É sair de Portugal, em busca de melhores condições de vida e regressar porque se tem saudades da Feijoada à Transmontana, do Cozido à Portuguesa, dos Pastéis de Bacalhau e de nata, ou daqueles de massa tenra.
Ser um bocadinho mais ou menos é achar que está tudo mal, mas nada fazer para que tudo fique um bocadinho menos mal.
Ser um bocadinho mais ou menos é ir a um concurso que procura talentos, apenas com um bocadinho de talento.
Ser um bocadinho mais ou menos é separar os lixos, mas continuar a cuspir para o chão.
Ser um bocadinho mais ou menos é votar no Partido dos Animais, por achar que estes merecem mais o nosso voto, do que as outras pessoas no boletim de voto que supostamente, representam pessoas.
Ser um bocadinho mais ou menos é ir fazendo quando está de chuva e perder a vontade de fazer quando está de sol.
Ser um bocadinho mais ou menos é, no final das contas, ser português e ser português nos dias que correm é um bocadinho mais ou menos.

quinta-feira, 9 de junho de 2011

A A

Já não sou dona de mim. O meu coração pertence-vos irremediavelmente.
Este músculo que me mantém viva, é agora vosso e bate convosco e por vocês, compassando e descompassando o ritmo ao ritmo dos vossos pequenos gigantescos corações.
Isto de amar um filho, é das sensações mais maravilhosas e mais assustadoras do mundo.
Ficamos donas de um universo inteiro de emoções, mas muito sozinhas nos medos próprios de quem gosta assim demais.

Posição Fetal de Mim Mesma

Regressar à posição fetal e fixar um ponto bem longe. Daqueles pontos que nunca chegamos a ver de verdade, pois o nosso olhar fica turvo pelo sono acumulado.
Silêncio e não ter que produzir pensamentos, nem frases, nem piadas, nem coisas estupidamente inteligentes.
Não ter que cozinhar.
Não ter que arrumar.
Era isto que queria.
Ah e podia ser só durante um dia, que já me sabia a pato.

domingo, 5 de junho de 2011

Hoje, em dia X, é isto

"Vem por aqui" - dizem-me alguns com os olhos doces
Estendendo-me os braços, e seguros
De que seria bom que eu os ouvisse
Quando me dizem: "vem por aqui!"
Eu olho-os com olhos lassos,
(Há, nos olhos meus, ironias e cansaços)
E cruzo os braços,
E nunca vou por ali...

A minha glória é esta:
Criar desumanidade!
Não acompanhar ninguém.
- Que eu vivo com o mesmo sem-vontade
Com que rasguei o ventre a minha mãe

Não, não vou por aí! Só vou por onde
Me levam meus próprios passos...

Se ao que busco saber nenhum de vós responde
Por que me repetis: "vem por aqui!"?

Prefiro escorregar nos becos lamacentos,
Redemoinhar aos ventos,
Como farrapos, arrastar os pés sangrentos,
A ir por aí...

Se vim ao mundo, foi
Só para desflorar florestas virgens,
E desenhar meus próprios pés na areia inexplorada!
O mais que faço não vale nada.

Como, pois sereis vós
Que me dareis impulsos, ferramentas e coragem
Para eu derrubar os meus obstáculos?...
Corre, nas vossas veias, sangue velho dos avós,
E vós amais o que é fácil!
Eu amo o Longe e a Miragem,
Amo os abismos, as torrentes, os desertos...

Ide! Tendes estradas,
Tendes jardins, tendes canteiros,
Tendes pátria, tendes tectos,
E tendes regras, e tratados, e filósofos, e sábios...
Eu tenho a minha Loucura !
Levanto-a, como um facho, a arder na noite escura,
E sinto espuma, e sangue, e cânticos nos lábios...

Deus e o Diabo é que guiam, mais ninguém.
Todos tiveram pai, todos tiveram mãe;
Mas eu, que nunca principio nem acabo,
Nasci do amor que há entre Deus e o Diabo.

Ah, que ninguém me dê piedosas intenções!
Ninguém me peça definições!
Ninguém me diga: "vem por aqui"!
A minha vida é um vendaval que se soltou.
É uma onda que se alevantou.
É um átomo a mais que se animou...
Não sei por onde vou,
Não sei para onde vou
- Sei que não vou por aí!

José Régio

segunda-feira, 30 de maio de 2011

A Arte do Enrabanço


Em Portugal enraba-se muito e várias vezes ao dia.
Enraba-se porque se tem uma vida medíocre e é preciso não deixar os outros alcançarem objectivos.
Enraba-se, porque se tem frustrações e é urgente descarregá-las em quem se atravessa no caminho.
Enraba-se, porque sim, porque nim, porque não? Enraba-se.
Em Portugal quem não avança, não deixa avançar, quem não progride adora lançar areia na engrenagem dos que querem progredir.
Em Portugal se falta um carimbo para se salvar a vida a alguém, não se salva a vida, pois que falta um carimbo.
Em Portugal dificulta-se, puxa-se para trás, diz-se que não só porque sim.
Em Portugal o enrabanço mútuo e do Estado para com o seu Povo atinge níveis de verdadeira sodomia.
Por isso é tão bom, quando se cruza alguém no nosso caminho que nos desencrava, que nos empurra para a frente, que nos descomplica a vida.
Por isso, quando outro dia o rapaz da Emel, que se preparava para me passar um papelinho, decidiu perdoar-me a "grave infracção" com um sorriso (e não, não foi pela minhas pernas boas), aquilo me soube a milagre.