Sim, eu já estive em Nova Iorque algumas vezes, mas ao contrário de muita gente que se passeou pelas avenidas geometricamente perfeitas e com nome de números, eu não olho para os filmes hoje em dia e revejo a minha humilde pessoa na Times Square, ou na esquina da 5ª avenida com a rua 23 ao quadrado.
Não consigo fazer isso. Simplesmente, porque, mesmo quando andava por lá, me sentia dentro de um filme, ou de uma música de Simon e Garfunkel.
Nunca consegui abstrair-me do cinema, dos táxis amarelos, da banalidade das limusines, ou da certeza de ter visto o Woody Allen em cada tipo baixinho que se cruzava comigo. As pretzels, os cachorros quentes vendidos na rua (e que os protagonistas devoravam, enquanto falavam sobre o sentido da vida) faziam parte de um esquema montado para me levar a crer que eu não estava mesmo ali de verdade.
Chiça, aquilo era eu dentro de um guião escrito por alguém que não eu.
Até hoje, quando me revejo nas fotografias, com o Naked Cowboy a tocar guitarra atrás de mim e uma Pretzel (horrível, por sinal) na mão, acho que foi tudo uma montagem.
Humildemente confesso que nunca nenhuma cidade (ou país, já agora), me levou tão longe na ficção, como os Estates. Era como se conhecesse tudo aquilo desde sempre.
Não fiquei com memórias deste, ou daquele sítio, simplesmente porque as memórias daquela cidade pertencem ao mundo inteiro.
Nesse sentido, é uma cidade um bocadinho prostituta, que abre as pernas ao imaginário de todos, não deixando que ninguém roube um bocadinho do seu coração.
E não é uma prostituta qualquer, é uma prostituta cara como o raio que a parta.
Grandes diálogos: O Apartamento
Há 1 mês