terça-feira, 30 de junho de 2009

Alguém me Explica



Alguém me explica como se eu fosse muito estúpida qual a necessidade da cor de cabelo do personagem Anne (interpretado pela Maria João Bastos) ser loiro platinado? Que mais-valia é que isso traz à história, ou ao personagem? Em que é que contribui para a credibilidade do argumento uma loira oxigenada no tempo do rei D. Carlos?
Depois há outra coisa que supera a minha capacidade de compreensão na série Equador: Porque raio é que o casal de ingleses interpretado pela MJ Bastos e Marco D'Almeida tem que falar com sotaque? É que sinceramente, ela parece o Tarzan a falar com a Jane e ele aparenta ter a boca cheia de cocó a sair-lhe por debaixo da língua.
Para umas coisas não houve qualquer pudor em desvirtuar a história original alegando a adaptação televisiva. Para outras, em que fazia todo o sentido adaptarem-se, como porem os dois simplesmente a falar português. Não, decidiram que parecia irreal pô-los a falar de forma a que pelo menos entendessemos o que diziam.
Eu sempre soube que a arte de adaptar um bom livro ao cinema, ou à televisão era das mais dificeis de dominar. E aqui tenho a prova.

Saber Ouvir

Uma das coisas que mais aprecio em alguém é a capacidade para entender o que estou a dizer mesmo antes de terminar o raciocínio.
Fico sempre um bocadinho impaciente quando tenho que explicar tudo outra vez, regra geral digo: Esquece, não era importante. Mais impaciente fico quando a pessoa para quem falo me olha com uma cara completamente a leste do paraíso, fingindo que está a ouvir tudo, quando na realidade apenas espera a sua vez de intervir, ou pensa no que é que há de fazer para o jantar.
O que me leva a essa qualidade em vias de extinção, presente em cada vez menos pessoas: A capacidade de ouvir. Rara, pois o egoísmo crescente de cada um, impede-o de ouvir verdadeiramente o outro.
Sabem quando desabafamos alguma coisa muito importante para nós e do outro lado vemos impaciência por partilhar a sua própria experiência? Quase dá saltinhos na cadeira, tal é a quantidade de pulgas que sente no traseiro enquanto espera para intervir.
Onde é que estão as pessoas atentas, que enquanto nos escutam se delegam para segundo plano, se limitam a nós por aquele instante em que lhes abrimos o nosso coração? Nada parece ser mais importante para eles do que ouvir a nossa versão de tudo e depois com calma, dando tempo, emitem a sua própria opinião?
As pessoas estão cada vez mais egoístas, fechadas nos seus próprios mundos, atentas apenas aos seus próprios dramas e isso deixa-me tremendamente triste.

segunda-feira, 29 de junho de 2009

Quando o Brasão Sai do Salto

Sempre me fez uma confusão desmedida os pais jovens da minha geração que tratam os filhos por você e que obrigam os filhos ao mesmo tratamento.
Eu não sou uma mulher excessivamente liberal, nem de esquerda, nem hippie. Não sou alguém que entende que pai e filho são compinchas sem degraus entre eles.
"Mas venha cá quiducha que não tarda está a levar tau-tau!". Há coisa mais ridícula?
Principalmente quando sentimos que tudo aquilo é uma encenação para parecerem brasonados e que umas vezes lhes sai Você e outras lhes sai Tu, consoante o local onde se encontrem. Se estiverem em público: "Venha cá Lourenço que o pai tem uma coisa para lhe dizer". Se estiverem no recolhimento caseiro: "Anda cá, ou queres levar?"
Mas penso que pior ainda que tratar os filhos por você, é tratarem-se entre eles (marido e mulher) por você. Depois assistimos a filmes cómicos, como um casal sentado ao nosso lado que discutia em pleno restaurante para toda a gente ouvir:
A menina vá à merda, é uma imbecil!

domingo, 28 de junho de 2009

Para Lembrar Depois

Alice enquanto olha com ar intrigado a minha barriga:
- Mãe o bebé está dentro do teu umbigo?
- Não, ele está dentro da minha barriga.
Depois de continuar a olhar como se de um momento para o outro fosse conseguir ver através da minha pele:
- Ele está preso com cola?

sábado, 27 de junho de 2009

Diz-me que Cão Passeias...


Há cães que simplesmente tiram toda a masculinidade do homem que os passeia. Por muito macho, coçador de tomates compulsivo, arrotador e javardo que seja, se passear um caniche pela trela, está perdido para qualquer mulher.
Por isso outro dia quando caminhava por Cascais com a Alice e vi um pobre diabo de caniche cheio de lacinhos e camisola cor de rosa pela trela, tive dó. Não sabia se havia de rir, ou chorar.
Ele claramente passeava um cão de uma amiga, da avó, quem sabe até da namorada e olhava o chão, temendo o escárnio alheio. Por isso tive a certeza absoluta que só amando muito alguém, ele passaria por aquele vexame.
Concluí então que só podia ser o cão da avó :)

Diga-se de passagem que até a mim que sou mulher teriam que pagar uma bela soma para me passear com um cão igual ao da fotografia. Aliás, acho que só com um saco na cabeça para não me reconhecerem...

A Fome, ou o desejo ardente de Trincar Qualquer Coisinha


Estive toda a noite a sonhar com isto:



Ou seja, vou ter que ir comprar isto:



Acho que estas fotografias vão saltar daqui num curto espaço de tempo, só para não correr o risco de trincar o monitor.
E é assim que estou, como um coiote à espera da sua presa atrás de uma moita, cheio de ramos na tola para se camuflar.

sexta-feira, 26 de junho de 2009

E Vamos Agora Ouvir Alguém...

"Que conheceu pessoalmente Michael Jackson".
E quando pensávamos que iamos ouvir a Madonna, ou o Obama falar sobre o falecido rei da pop, eis se não quando vamos para a casa do ex-bagageiro de um hotel em Genebra onde o ídolo esteve hospedado.
Palavras para quê...

No Matter if You're Black Or White

Sempre achei a letra desta música bastante irónica vinda de um homem que ao longo da sua carreira passou pela estranha mutação de negro a branco.
Apesar do grande número de músicas que serviram de pano de fundo aos mais variados acontecimentos na minha vida, nunca fui grande fã dele e do seu bizarro mundo infantil chamado Neverland.
Daí ter estranhado a minha reacção quando a meio da noite o Hugo me acorda só para me dizer que o Michael Jackson tinha morrido.
- Acordas-me só por causa disso? Tu sabes como me custa voltar a adormecer! Espera lá, o quê? O Michael Jackson My Fucki'n White Negro????
- Sim, a sério!
E ali fiquei eu aparvalhada por dentro, a remoer, a remoer, a remoer e a entoar por dentro todas as músicas do homem.
Passei a noite inteira a cantarolar inconscientemente Michael Jackson e a surpreender-me com a quantidade de letras que sabia de cor e salteado, mesmo sem ser de todo sua fã.
Há pessoas que, mesmo sem nos apercebermos estão lá, na parte detrás dos nossos dias e memórias e lá ficarão para sempre, apesar de tudo...

Estado de Graça, ou nem Por Isso

Fiquei muito emocionada com tantos votos de felicidade que me desejaram por aqui. Os meus escassos neurónios (chupados pela condição de prenha) transmitiram toda a espécie de emoções ao meu coração babado e senti que tenho muita gente boa que me vem ler.
Mas quero desde já avisar-vos que este blog não se vai transformar num Baby Blog (não que tenha nada contra, mas simplesmente ele não foi criado nesse sentido) e que eu não vou sofrer uma súbita mutação e ficar uma daquelas grávidas agarradas aos rins com uma perna para cada lado, a gemer a cada segundo que passa.
Também não vou ficar resplandecente, cheia de brilho, linda, linda, linda, pois a tendência é para a engorda, inchaço, roupa a escorregar pelo rabo abaixo e idas à casa de banho de meia em meia hora.
Tenho tentado seriamente seguir uma dieta equilibrada, petiscando fruta, queijo fresco magro e bolachas de fibra no intervalo das refeições, de forma a nunca me deixar ficar com um apetite de cavalo, mas mais uma vez percebo que é tudo uma ilusão. Agora mesmo enquanto vos escrevo, olho a porta do escritório e acho que ela com um bocadinho de ketchup ficava perfeitamente comestível.
Se na gravidez da Alice sempre fiz absolutamente tudo, sem nunca pedir ajuda a ninguém. Desta vez cresci e aprendi. Vou pedinchar, fingir-me de vítima, valer-me da minha condição de prenha, para conseguir toda a espécie de favores. Só assim ganharei forças para os meses seguintes ao nascimento.
Virei sempre aqui queixar-me e contar-vos as últimas quando sentir necessidade, mas basicamente, vai ficar tudo na mesma por aqui. Posts idiotas, sobre cocós, posts mais profundos, carinhosos. Tudo depende de como me levantar nesse dia...
E pronto penso que é tudo, por enquanto claro :)

quinta-feira, 25 de junho de 2009

9 Meses de Uma Vida Inteira

Olá meu amor. Chamo-me Ana e sou a tua mãe. A partir de agora vais fazer parte de mim durante 9 meses (se tudo correr bem), ouvirás a minha voz desafinada a cantar no banho, as histórias que ler à tua mana antes dela dormir ecoarão até aos teus pequenos ouvidos, os protestos de fome do meu estômago a roncar vão ser uma constante, mais ou menos, de 10 em 10 segundos e hão de chegar a ti com a mesma velocidade que chegam a mim.
A partir de agora e durante nove meses seremos duas pessoas numa, unidas por um cordão que te alimenta de amor e de tudo o que precisas para viveres sem sobressaltos aqui dentro, enquanto te tiver.
Depois levarei uma vida inteira a tentar cortar em vão estes laços fundos que se constroem em mais ou menos 40 semanas, mas não tenhas medo, pois estarei sempre aqui por ti e para ti. Serei para sempre tua e da Alice.

quarta-feira, 24 de junho de 2009

A Medida Certa


Sempre preferi uma certeza a mil e uma suposições.
Sempre exigi saber logo, ao invés de esperar pela melhor altura.
Nunca gostei que me dourassem a pílula, que dramatizassem em excesso, ou que fizessem o oposto, ignorando-me por completo.
Por vezes prefiro um abraço a um rol de palavras de conforto. Outras vezes prefiro falar e não preciso que me abracem.
Há dias em que preciso de ficar sozinha, outros há em que dava tudo para me abstrair numa boa conversa.
A medida certa de entusiasmo, de derrota, de conforto, de palavras, de silêncio só eu a sei...

terça-feira, 23 de junho de 2009

Nunca Vos Aconteceu?

Nunca vos aconteceu pensarem muito em alguém que não encontram há anos e esse alguém acabar por vos aparecer à frente uns dias mais tarde? (Geralmente quando decidiram meter um trapinho em cima, não estão nos vossos melhores dias e até as olheiras decidiram aparecer só para dar uma ajuda quando vocês só queriam mostrar que a vossa vida e elegância estão sobre rodas desde a última vez que o viram)
Nunca vos aconteceu estarem sempre a esbarrar com um certo casal que não conhecem de lado nenhum? Como um casal de tugas que viajou atrás de nós no avião Lisboa/Estocolmo e passou o tempo inteiro a cruzar-se connosco como uma assombração nos locais mais improváveis, só para depois regressarem no mesmo voo à nossa frente.
Nunca vos aconteceu pensarem que alguma coisa importante está prestes a acontecer e acontecer mesmo? Geralmente no preciso momento em que deixam de acreditar que vai realmente acontecer alguma coisa.
Nunca vos aconteceu terem uma música antiga na cabeça e essa mesma música tocar no rádio do carro como se tivessem lido os vossos pensamentos?
É que a mim está-me sempre a acontecer...

A Tranquilidade da Idade



Antigamente quando viajava tirava milhões de fotografias e trazia não sei quantas lembranças, pois sabia que quando chegasse a casa viajaria tudo de novo quando mandasse revelar as imagens, ou andasse com as t-shirts do sítio.
Hoje em dia, deve ser da idade, preocupo-me muito pouco com o registo dos momentos e com a compra de recordações. Parece que me tira tempo para olhar com olhos de ver.
Gosto de me sentar numa esplanada, nos degraus de um qualquer local público e ver, sem obrigação de fotografar cada instante, de captar cada segundo da minha estadia naquele país.
A máquina é uma tremenda obrigação que nos impede de relaxar e absorver com os nossos próprios sentidos.
Não quero com isto dizer que não tiro fotografias, pois tiro muitas, mas já não com o mesmo prazer.
O mesmo se passa com as lojas. Posso entrar em muitas lojas, mas raramente trago alguma coisa para mim. Prefiro poupar o dinheiro para um jantar a dois num restaurante melhor.
Nesta viagem a Estocolmo a única coisa que comprei para mim foi esta placa que exibo com orgulho na parede da cozinha. Quando a vi pensei: Vou levá-la à minha mãe, mas depois caí em mim. Esperem lá, eu também já sou mãe. Posso oferecer-me este tipo de piadas caseiras.
E aqui me têm prestes a fazer 34 anos e cheia de uma maneira diferente de encarar as coisas. Isto da idade dá-nos realmente outra visão do mundo e dos outros. Nem sempre melhor, mas seguramente mais descontraída.

segunda-feira, 22 de junho de 2009

À Beira de um Ataque Nervoso Central

E quando entramos numa loja desesperadas por um bocadinho de ajuda e a empregada fica ali a olhar para nós como uma sombra fantasmagórica? Nós fazemos as perguntas e respondemos por elas. Tiramos informação com um saca rolhas e um pé encostado à parede para fazer força:
- Ah quer dizer que não tem esta caneta...
- Não.
- E não estão à espera de mais?
- Não sei...
- E o que é que tem dentro do mesmo género?
Silêncio sepulcral.
- Pode ser outra marca. É que eu preciso mesmo de comprar este presente, sabe.
Ela olha em volta com uma total indiferença.
- Que cores é que tem mais?
- É o que vê.
- Já eras violada por um bando de 50 nativos dos Camarões, não?!!!!
Esta é a parte da resposta mental. Aquela que eu dou exactamente antes de virar costas e sair da bosta da loja dentro da qual não tenciono voltar a entrar.

Enganados Até no Peixe

Eu sou uma gaja preocupada com aquilo que mete no organismo através da boca. Por isso tenho uma aversão muito especial à Aquicultura. Sim, eu já sei que sou esquisita, mete nojo e tudo o que me quiserem chamar. Mas enfiei nesta cabeça primitiva que os peixes criados em viveiro são alimentados com merda humana ( como já li algures, acontecia num qualquer viveiro Norte Americano) e com antibióticos nocivos.
Por isso nesta boca só entra peixe de mar, que mesmo o de rio já me mete uma certa angústia, imaginar um inteligente a pescar no rio Trancão e ir vender os resíduos tóxicos a um restaurante.
Por tudo isto hoje tive dois ataques de fúria quando pego numa bonita embalagem de salmão cuja designação "Atlanti.Co" me deixou desde logo tranquila, ilustrada pela fotografia de um belo e vigoroso salmão a saltar nas ondas revoltas do oceano, leio as letras miúdas, daquelas que só com duas lupas se conseguem decifrar e vejo: Peixe de Aquicultura. Ora bem para quê o engano visual? O embuste do nome da empresa. Nem sei se esta indução em erro não dá direito a um par de murros legais.
Os consumidores são enrrabados diariamente. São os produtos quase em final de prazo na fila da frente, as etiquetas que mal mostram a proveniência da carne, a constante ameaça da compra de gato por lebre.
Eu já sabia de tudo isto, mas não deixou de ser triste constactar que somos enganados até no peixe...

O Mundo dos Blogs

O mundo dos blogs trouxe-me grandes surpresas, partilhas, cumplicidades. Fez-me descomprimir quando mais precisava, sorrir quando a neura parecia querer instalar-se, ver que existem pessoas em todos os cantos do mundo com sentimentos tão iguais aos nossos. Fez com que me preocupasse com amigos que nunca vi, que pensasse numa certa pessoa como se fosse conhecida de anos.
E nunca ter olhado dentro dos olhos de alguém tornou tudo um bocadinho mais mágico. Uma espécie de fé cega dos que se limitam a confiar nos seus instintos sem pistas físicas que ajudem a formar uma opinião.
Dei por mim a desejar partilhar momentos tão meus com alguns conhecidos incógnitos, imaginando apenas a expressão de alegria do outro lado do monitor, as gargalhadas libertadas sem que eu as escutasse.
Se por um lado sinto que teria aqui grandes amigos, por outro tenho um receio secreto de estragar tudo assim que os conhecer pessoalmente.
Cobardia, timidez, insegurança? Talvez tudo isso, ou talvez nada disso. Apenas a vontade de querer que as coisas permanecem por tocar, assim, perfeitas...

domingo, 21 de junho de 2009

Um Dia em Cheio

Todos os Sábados deveriam ser como o Sábado de ontem. Venceu-se a preguiça e encheu-se a piscina. Sob o sol já morno do final de tarde senti os teus braços molhados em redor do meu pescoço, escutei os teus gritos de alegria, olhei-te sem me cansar jamais da tua expressão de pura felicidade.
Jantámos no jardim numa espécie de piquenique improvisado (já que não pude ir ao do Tony). O teu olhar brilhava encantado com a nossa presença e exigias a nossa atenção a cada instante. Decidimos ir ver a Mariza que cantava em Cascais, mas o trânsito era tanto que acabámos repatriados no Estoril no velhinho Deck a escutar músicas dos anos 90. Tu dançaste na esplanada perdida de sono, mas com uma vontade férrea de aproveitares a noite prolongada.
No final quando regressavas no colo do teu pai um senhor sem muito juízo veio ter connosco e pediu-nos umas calças para poder entrar no Casino.
Bem sei que me queixo do calor a todo o instante, mas o calor de ontem acabou por trazer felicidade. Daquela simples que não precisa de muito para nos fazer acreditar que a nossa vida está cheia de momentos maravilhosos.

sábado, 20 de junho de 2009

A única Vantagem dos 34 Graus

A única, repito, única vantagem destes 34 graus infernais é poder estender a roupa e tirá-la do estendal passados exactamente 5 segundos.
Mas mesmo esta vantagem tem um pequeno senão. A roupa sai tão dura e ressequida que se segura sozinha em pé. Posso guardá-la a um cantinho do quarto que ela fica ali de pé a olhar-me com aspecto de múmia.
Depois quando a vestimos é senti-la raspar-nos na pele como uma lixa.
Nada é perfeito.

sexta-feira, 19 de junho de 2009

Aí Vou Eu Para o Concerto

Preparada para o maior piquenique do mundo e munida do meu garrafão de tinto estou pronta para enfrentar o calor e ouvir o Tony Carreira em todo o seu explendor, neste caso explendor na relva.
Há no entanto uma coisa que me recuso a fazer. Seja em concertos do Tony, dos Rolling Stones, dos Bate n'avó, ou até do Toy. Aquele balançar de braços para a esquerda e para a direita, esquerda direita, esquerda direita. De sovacos ao léu, qual limpa pára brisas em modo automático.
Faço qualquer coisa num concerto, moches, saltos, gritos, palmas, arrancar cabelos. Agora limpa pára brisas nem com o garrafão de tinto pela goela abaixo.

À Noite Morre-se Mais Devagar

À noite morre-se mais devagar, todas as dores se reproduzem como ecos no silêncio e olhamos os que dormem em sossego com uma inveja desmedida.
À noite o pouco barulho ensurdece-nos e propaga-se em ondas sucessivas no nosso corpo doente.
À noite tudo é nosso, nada é dividido, ninguém nos ajuda a suportar o peso da doença.
À noite chora-se baixinho para não perturbar quem não chora.
À noite sofre-se sem alguém que nos conforte.
À noite tudo assume a proporção de fim mesmo quando o final está longe.
Amanhece finalmente e caímos num sono profundo e reconfortante, longe do escuro que assusta. Podemos entregar-nos nos braços do conforto e fechar os olhos por um instante apenas, pois sabemos que ainda falta muito para voltar a anoitecer...

Penso que quem já esteve doente numa cama de hospital (graças a Deus nunca foi o meu caso), ou quem sofre de privação de sono sabe do que falo.

quinta-feira, 18 de junho de 2009

Piaçaba Para Quê?


Estudei muitos anos num colégio de Jesuítas e entre as várias tradições monásticas que guardo até hoje na memória, as que se imprimiram com mais força foram a do papel higiénico-lixa e a dos piaçabas, tal como este da fotografia, que pingavam água urinada e continham no interior das suas agulhas vestígios de merda que nunca eram realmente limpos, pois desconfio que ninguém limpa piaçabas.
De cada vez que gemia de dor ao passar a lixa número 5 pelo rabo, ou vomitava de nojo ao seguir com o olhar o rasto que o piaçaba deixava pelo caminho, de mão no peito e olhar no infinito jurava para mim própria: Na minha casa haverá sempre papel higiénico suave e jamais entrará uma vassourinha-limpa-bosta.
Meus amigos posso não ter conseguido cumprir algumas promessas ao longo da minha vida, mas esta que fiz moça e ingénua naquela casa de banho jesuíta, não falhou.

Alguém me sabe dizer como é que se escreve esta palavrinha ternurenta? Piassaba, piaçaba, ou piaçá?

Dar uma Oportunidade ao Amor

Isto de lermos outros blogs às vezes faz-nos reflectir um bocadinho, por isso quando li ontem o post da Precis, no qual ela afirmava não acreditar em relacionamentos para sempre, mas sim em amor para sempre, a minha cabeça, depois de um longo jejum de neurónios, começou finalmente a carburar (obrigada por isso Precis).
Muitas pessoas pensam que o amor tem que ser sempre como no princípio. Por isso quando as coisas se modificam para a fase seguinte, sentem-se cair numa profunda decepção e milhares de perguntas começam a surgir: Será que o amo? Será que já não vai dar certo? Onde é que está o arrebatamento, a magia, a novidade que sentia no princípio? O facto de partilharmos o mesmo tecto fez desaparecer o encantamento inicial todo. Quem é este homem agora ao meu lado?
Nesse sentido entendo o que a Precis quis dizer, pois se não existir relacionamento, o amor será sempre perfeito dentro daquela caixinha que nunca chegou a ser aberta...
Abrir a caixa e deixar o amor crescer em todas as suas etapas, sem medo que ele azedasse, ou perdesse a validade, foi o meu grande desafio da vida adulta.
A exaltação cedeu lugar à serenidade. Onde havia inquietação há agora segurança. A incerteza passou a confiança. A novidade passou a uma doce previsibilidade.
Saber que vou chegar a casa e tenho alguém à minha espera. Saber que há alguém que se preocupa, que me pergunta como foi o meu dia, que me liga só para dizer olá, que partilha o meu silêncio, que enrosca os seus pés nos meus nas noites frias é a fase seguinte ao arrebatamento.
Tal como os filhos crescem e voam debaixo das nossas asas, também o amor cresce e evolui sempre para algo diferente, mas não necessariamente mau.
Há quem seja eternamente viciado nas borboletas no estômago, por isso quando estas deixam de esvoaçar partem em busca de mais sensações de começo, mas penso que a longo prazo se sentirão tremendamente desencantados com o amor.
É claro que há amores que morrem, que não evoluem, que se transformam em ódio, mas até para chegarmos a essa conclusão, ao fim do caminho, temos que ter dado um passo em frente, uma oportunidade ao amor...

quarta-feira, 17 de junho de 2009

É impressão Minha?

Alguém está a ver a entrevista do Sócrates na Sic? É impressão minha ou ele está com um biquinho de piriquito, voz de S. Francisco de Assis, olhar de cordeirinho prestes a ser sacrificado? Até as mãozinhas estão em posição de prece...
O homem está um poço de humildade beatificada.
Quase me apetece fazer-lhe festinhas, como se faz a um cachorrinho abandonado.
Ó meu Deus!!!! Ele hipnotizou-me!!!!!
Acorda Ana, Acorda!!!!!

Como é Óbvio, mas Óbvio exactamente para quem?

Uma mulher, durante anos, vítima de maus tratos do seu querido e dedicado esposo foi morta a tiro pelo mesmo quando segurava nos braços o filho de 4 meses. O ternurento marido apanhou 17 anos por homicídio qualificado.
Até aqui podia ser uma notícia do Jornal O Crime exibida na Sic Notícias. Mas o que me fez saltar os olhos das órbitas e me transformou as orelhas em duas batatas quentes, foi ouvir a advogada de defesa a sair da leitura da sentença, com o seu cabelo oxigenado, malinha pindérica e pose de grande advogada de série americana dizer com o ar mais convicto do mundo:
Como é óbvio a defesa acha excessiva a pena aplicada e vai recorrer.
Ora bem, como é óbvio? Mas óbvio para quem?!!!!!

A Melhor Série dos Últimos Tempos


A Anatomia de Grey está tão, mas tão boa que dou por mim a não querer antecipar o grande final da 5ª temporada, como muitos já fizeram. Prefiro esperar pelas quintas-feiras à noite e programar a minha magic box para gravar o aguardado episódio. Espero até a casa estar finalmente mergulhada no silêncio, dirijo-me sem pressa para o sofá, recosto-me nas almofadas, ponho o meu puff super duro a jeito debaixo dos pés e carrego play.
Depois é só deliciar-me com uma das melhores séries dos últimos tempos. Em que cada episódio é uma espécie de bomba poderosa, capaz de abanar os mais frios de espírito.

*Excepção feita ao romance do Sheppard e da Grey que já enjoa um bocadinho...

terça-feira, 16 de junho de 2009

Derretendo Suavemente nas Tarefas Domésticas

Tiro a loiça da máquina, guardo-a no armário, abro a gaveta dos talheres, tiro os talheres da máquina. Tiro os copos da máquina, guardo-os no armário. Abro a janela e atiro a loiça toda borda fora (Sonho com esta parte vezes sem conta).
Já estive mais longe de aderir definitivamente aos pratos descartáveis. Fazíamos as refeições em cima de uma toalha de papel com pratos, copos e talheres de plástico. No final era só fazer uma trouxa com a toalha e zás, lixo com a porcelana.
Quando está muito calor devíamos reduzir tudo às funções vitais.
Depois o tempo que uma pessoa perde a andar de um lado para o outro enquanto descarrega a máquina, só para mais tarde ter que repetir todo o processo, dava para fazer uma volta ao mundo a pé coxinho.

Homem e Mulher

Anteontem vi uma reportagem sobre uma comunidade cigana que me deixou à beira de um ataque cigano.
Entre outras coisas que agora não importam comentar seguia o casamento de um casal jovem, penso que primos, que estavam prestes a entrar na vida em comum.
O sogro falava de como os homens podiam comer as mulheres todas que quisessem que isso não lhes trazia má fama, mas as mulheres tinham que casar virgens. Ninguém queria uma vadia imprestável. Por isso a noiva era sujeita a um teste de virgindade por uma junta médica na noite da boda. Se não fosse pura não servia para casar. Ora isto, dentro daquela mentalidade e tradição, não me chocou por aí além. A única pergunta que não me abandonava a cabeça era: Mas que raio de junta médica é que se vai prestar a isto?
E então percebi que a tal junta era um bando de mulheres ciganas a salivarem por acção. A esfregarem as mãos quando viram a jovem noiva entrar no barraco.
"carne fresca" - Pensavam. "Ai filha que se não és virgem tás f... connosco"
E tive pena. Uma imensa pena daquela menina que saiu em lágrimas da tal junta médica. Que não conseguia parar de chorar de dor física e provavelmente psicológica. E pensei: Ser cigano é bem mais fácil que ser cigana.
Ser homem ainda é bem mais fácil que ser mulher em tantas, mas tantas partes do mundo...

segunda-feira, 15 de junho de 2009

Um Calcante À Medida



Já que há tantas meninas na blogosfera que fazem posts com fotografias de sapatos Jimmy Choo, saltos agulha, sabrinas suaves e elegância de cortar a respiração, decidi que estava na altura de tentar fazer o mesmo.
Vou portanto falar sobre calcantes.
Porque é que as marcas de renome em termos de conforto do chulé não fazem igual aos grandes designers, só que confortáveis? Como a Zara que copia as grandes marcas, mas em preços pequenos. Assim a Hush Puppies podia fazer o mesmo com o conforto.
Porque é que todos os sapatos com fama de porem os pés nas nuvens têm que ser tão monstruosos?
É que uma gaja como eu sofre. Os meus pés não aguentam Jimmy choo's e o meu bom gosto não aguenta Hush Puppies. Mas que dilema, que catástrofe. Pensem em mim criadores de sapatos confortáveis!

Já Que É Para Buzinar...

Se conheço pessoas que não tiram a mão da buzina do automóvel, ao ponto da zona do volante usada para o efeito estar já sem cor e com uma espécie de sebo gorduroso, outras pessoas conheço que se recusam a usar o aviso sonoro, limitam-se aos sinais de luzes, mesmo quando o condutor de um pesado adormeceu e passou para a faixa contrária estando prestes a embater contra eles, são tão civilizados que lá vão fazendo sinais de luzes, como se estes despertassem o motorista do sono profundo.
Confesso que não ligo muito à buzina, mas quando a uso gosto que ela se oiça. Por isso nos dois Alfa Romeos que tive vibrava com os sustos que conseguia provocar nos transgressores. Os meus preferidos eram sem dúvida os que passeavam pela auto-estrada a 20 à hora a falarem ao telemóvel em zig-zag. Assim que colocava o polegar no botãozinho, que isto do carro italiano é a facilidade total em termos de acesso ao barulho, era vê-los saltar do assento e largarem o telemóvel pelos ares à beira do colapso cardíaco, tamanho era o susto. Foram as melhores buzinas da minha vida. Belos tempos em que com um simples toque conseguia pôr o trânsito na ordem, tal era o volume da coisa.
Agora reduzida à timidez de uma civilizada marca alemã, quase tenho vergonha de levar a mão à buzina. Aquele espirro de bebé que sai do meu carro é humilhante. Tenho sempre a mania que toda a gente vai olhar em volta à procura do condutor do triciclo...

domingo, 14 de junho de 2009

Eu não Tenho Terra

Gostava de ter uma Terra. De poder dizer que ia à Terra, como tanta gente diz quando ruma ao destino que os viu nascer e crescer.
Há quem tenha deixado o coração em África, quem recorde para sempre o cheiro do capim ou da chuva entranhada na terra. Acho tremendamente romântica esta nostalgia pelo Continente africano que tantos portugueses têm.
Há quem tenha deixado um bocadinho de si no interior, bem no fundo do mapa, onde tudo é verde e a civilização parece não ter tocado nada, nem ninguém. Deve ser maravilhoso poder levar os filhos a revisitar os locais onde fomos felizes. Debaixo daquela árvore dei o meu primeiro beijo, à beira deste rio fiz deslizar seixos sobre a superfície da água com os meus amigos. Aqui é onde o teu avô plantava tudo o que precisava para sobreviver. Poder mostrar aos filhos que se pode viver da terra, da nossa terra.
Há depois aqueles que emigram e que levam dentro do corpo a saudade física do que ficou. Há medida que o tempo passa Portugal vai perdendo defeitos e vão guardando dele apenas o que importa, o que os comove. O sol, a luz, a comida, o fado e entendem o que quer dizer saudade...
Mas eu não tenho Terra. Sou de uma grande cidade. Não digo que vou à Terra. Digo que vou a Lisboa. Não há uma árvore onde tenha gravado o meu nome, uma casa de família onde cheire sempre a pão acabado de fazer. Não me recordo da minha mãe à volta de um fogão atarefada, nem de refeições barulhentas à volta de uma mesa sem fim.
Eu sou de Lisboa e muito embora saiba que hão de haver sempre lugares nessa cidade muito meus, não tenho uma Terra para onde possa fugir de cada vez que me queira encontrar. De cada vez que sinta vontade de regressar ao essencial.
Há alturas em que sinto falta de raízes.

sábado, 13 de junho de 2009

Pesadelo de Ganga

Hoje estive a tentar lembrar-me (do fundo da minha preguiça mental e física) de um facto de importância vital: Qual tinha sido o país onde vira mais homens com calças de ganga pouco estilosas.
Talvez pouco estilosas seja ligeiro para definir a aberração da calça de ganga curta nas pernas e com a cintura até aos sovacos, deixando as bochechas do rabo separadas pela costura que entra por ali adentro.
É como se usassem as calças de ganga da década de 80 da mulher encolhidas por 20 anos de lavagens.
Eu sei que estive num país onde homens assim vestidos de calças até ao pescoço pululavam, mas onde, onde?
E agora que puxo pelo cérebro dormente lembro-me de outro pormenor que saltava à vista, logo ali, onde as calças terminavam pelas canelas, uma meia branca turca e felpuda enfiada à pressão no sapato brilhante.
Mas onde é que eu andei? Será que não passou de um pesadelo? Não, eu sei que estive num sítio assim e que não dava gozo nenhum estar na esplanada a vê-los passar...

sexta-feira, 12 de junho de 2009

Homenagem à Inércia

Os meus neurónios começaram a sua viagem para fora do meu cérebro. Sinto-me uma espécie de incubadora de estupidez. Parece que oiço em câmara lenta, que vejo mas não apreendo, que toco mas não sinto, que me deito mas não chego a dormir de verdade, que caminho com um único propósito: O de chegar ao sofá mais próximo. Conduzo o carro em piloto automático e pergunto-me como é que cheguei àquele local se nem me lembro de ter feito o trajecto.
Apetecia-me fazer um discurso de homenagem à inércia, mas até isso parece demasiado trabalhoso.

O Nosso Coração

O nosso coração cansa-se de várias coisas. Das decepções, dos desgostos, dos desencontros constantes, da falta de entendimento, da falta de espaço, de espaço a mais, do vazio, do cheio, do que não acaba, do que termina demasiado cedo.
O nosso coração sofre ao longo da vida um sem número de palpitações de toda a espécie, apertando e desapertando o nó consoante seja preciso arranjar lugar, ou desocupar um lugar.
O nosso coração chega a sair-nos das mãos só para nos mostrar que é possível deixarmos de o sentir por uns instantes.
O nosso coração ensina-nos dia após dia que o que estava dentro dele ontem, hoje não estará igual. Que haverá sempre espaço para qualquer coisa nova e que isso não é necessáriamente mau. Por vezes quer apenas dizer que crescemos...

quinta-feira, 11 de junho de 2009

Estratégia Sádica

De todas as estratégicas sádicas de marketing usadas nos hipermercados a que mais me tira do sério é a distribuição de balões, pequenos brindes, chocolates, chupas e toda a espécie de fura dentes nas filas da caixa.
Tudo para os putos serem aliciados durante a espera e os pais presos naquela armadilha terem que resistir às birras, gritos, pedidos insistentes sob o olhar crítico dos restantes mirones que sem mais nada que fazer fixam a cena com um olhar assassino...

quarta-feira, 10 de junho de 2009

Café com Livros


Devia haver café dentro de todas as livrarias. Nem que fossem sacos abertos cheios de grão de café, só para sentirmos o cheiro que se mistura com as páginas e capas das histórias.
Estou cada vez mais convencida que existe uma relação directa entre a vontade de permanecer para sempre dentro de uma livraria e o cheiro do café.
Por este motivo tão importante e por outro que não posso revelar gostava que me dessem sugestões para um nome que encerrasse esta ideia: Livros com Café...

Fazer a Diferença

Ontem ao ver um programa em que crianças com deficiências eram descriminadas, gozadas e maltratadas na escola pelos colegas, percebi mais uma vez que as crianças são capazes do melhor e do pior do mundo. Mas que pode estar nas nossas mãos tentar inverter desde cedo esta tendência para marginalizar pessoas diferentes.
Não podemos simplesmente lavar as mãos e dizer: Eles são pequenos é normal. Pois eu não acho normal este tipo de conduta.
Ser mãe/pai nos primeiros anos de vida de um pequeno ser encerra um poder fantástico. O poder de incutir a tolerância e respeito, até a defesa de alguém que esteja numa posição mais frágil.
Ser mãe não é apenas um acumular infinito de tarefas que nos deixam sem forças. É muito mais do que isso, é uma hipótese de contribuirmos para a formação de um ser humano fantástico.
Bem sei que tudo isto passa pela nossa própria conduta, mas como já disse mais de um milhão de vezes, a minha filha fez-me querer ser uma pessoa maior em muitos sentidos além do tamanho. E como isto de desejarmos o melhor para os nossos filhos não conhece limites, eu posso almejar à vontade.
Se isto não está próximo de um discurso do Padre Borga então não sei...

terça-feira, 9 de junho de 2009

O Cérebro De Gaja


O meu cérebro é muito prático e racional em muitas coisas importantes. Eu consigo pensar no meio do pânico, sei como agir em situações limite, consigo cozinhar uma refeição com dois ovos, uma cebola e uma lata de leite em pó. Mas eu não sei caminhos. Peçam-me tudo, menos decorar precursos, olhar mapas, seguir as indicações do GPS, tentar decifrar os placards contraditórios, ou ausência dos mesmos, que pululam nas nossas estradas.
Hoje pedi o GPS ao Hugo, pois tinha que ir ter a uma morada no cú de judas e sem aquela ventosa mágica no vidro, decidi deixar-me conduzir pela voz da Karina Soraia que me dizia serena:
Saia na Saída. Daqui a 200 m vire à direita, depois vire à esquerda. Faça a curva apertada à direita, siga à esquerda. Depois de 70 m saia na terceira saída.
Mas o que é que são 70 metros??? Quando há 50 saídas, qual delas é a dos 70 metros? E o que é que este beco esconso e sem saída está a fazer à frente do meu volante? E porque porra vim dar a um beco com escadas? E porque é que ela agora não pia?
Tiro um momento para olhar o visor e leio: A calcular o percurso. O que é sinónimo de engano da minha parte.
Eu bem sei que há quem diga que os homens mudam lâmpadas, penduram quadros, arranjam telhados. Mas esqueçam tudo isso que não fazemos por pura preguiça, pois o verdadeiro pânico feminino surge quando estamos perdidas na estrada. Completamente sós. Ou melhor, nós e a voz da Karina Soraia.

segunda-feira, 8 de junho de 2009

O Maior Pic-nic Do Mundo!!!!!!

Não contive a emoção quando passei por um daqueles cartazes que anunciam um evento a nível nacional, daqueles a não perder nem que chovam pedras. Tive até que parar o carro e limpar os olhos lacrimejantes.
É que é já no dia 20 de Junho que vai ter lugar no idílico Parque da Bela Vista (O Central Park lisboeta) o aspirante a maior piquenique do mundo, não fossemos nós os maiores em tudo o que importa, vamos tentar entrar para o guiness nesta categoria de mais gente a palitar os dentes no relvado.
E a cereja em cima do bolo é o Tony Carreira que promete oferecer conforto à digestão dos convivas, já que depois das chouriças, morcelas, feijoadas, pernas de presunto, garrafões de tinto, não há nada que chegue ao nosso Tony para acalmar a flatulência e gás acumulado.
Não tenciono perder este marco histórico nacional. Quero fazer parte do guiness. Já dormi à porta do maior Centro Comercial da Europa para ser a primeira a entrar. Estava no famoso grupo que correu pelo Túnel do Marquês quando este abriu ao público e agora lá estarei no Parque da Bela Vista com a minha geleira na mão, um chapéu no cocoruto da tola e uma dose industrial de palitos para não gritar: Tony!!! Cheia de tramoços nos dentes.
Ser portuguesa tem destas coisas inesquecíveis e eu sou portuguesa com certeza.

Just in cases: Tudo o que leram acima acerca da minha pessoa é pura ficção. Mas por quem me tomam?

domingo, 7 de junho de 2009

A Alice Mora Aqui

De todas as cedências que fiz, passar a máquina fotográfica para as tuas mãos foi a mais espantosa de todas. Já tiraste mais de duzentas fotografias e de cada vez que as vejo comovo-me, pois é como se viajasse através dos teus olhos.
Para além de já podermos contar com as tuas mãos para tirares fotografias de casal, sem termos que pôr a máquina em piloto automático, ou esticarmos o braço e tirarmos a nós próprios, podemos conhecer-te um bocadinho melhor através das imagens que decides terem importância, ou não.
Já nem ligo ao flash que dispara na minha direcção quando menos espero, pois este teu hábito também já faz parte de mim, tal como todos os barulhos, gritos, canções, abraços, birras, rotinas que lentamente foste introduzindo na minha vida.





sábado, 6 de junho de 2009

Cuidar da Ninhada Cansa

Hoje estive numa festa de putos. Um primo da Alice fez anos e lá fomos nós munidos de tampões para os ouvidos para quando os gritos dos miúdos começassem a enlouquecer-nos. Mas surpresa, das surpresas. Foi agradável. Ao ar livre, churrasco sempre a carburar sem grandes esperas, os miúdos selvagens ao ar livre de galho em galho e uma mãe que não via há muito tempo. Uma mãe divorciada com 3 filhas infernais que me dizia que estava a pensar comprar 3 bastões, com o nome de cada uma delas para afastar os rapazes que se aproximassem.
Uma mãe que cortou febras, fruta, encheu copos, gritou, bufou, avisou, desesperou, ouviu o seu nome ser chamado mais de mil milhões de vezes por segundo. Uma mãe que me deixou de rastos.
De tal maneira fiquei cansada com aquela guardiã da ninhada que quando cheguei a casa pus a roupa suja da Alice no micro-ondas.

Cerelac


Confesso-me viciada, agarrada, consumidora compulsiva do produto. Enfim, todos os adjectivos negros que consigam encontrar para definir alguém que não passa sem alguma coisa, encaixam-se na minha pessoa.
Podia ser droga, bebida, tabaco, calmantes mas não, o meu vício é bem mais antigo e entranhado que todos estes. Vem desde os 6 meses de idade e chama-se papa, papa Cerelac.
Não sei o que é que a Nestlé põe nos seus produtos, mas desconfio que alguma substância viciante, pois desde tenra idade que me apanhou bem apanhada nas suas malhas.
E depois não gosto dela fininha e bem passadinha, eu gosto dela espessa, cheia de grumos. Tão consistente que dá para unir tijolos como cimento. Tão poderosa que me sinto um pouco tímida em devorá-la à frente de mais alguém que não seja igualmente viciado, os chamados leigos da papa que a mexem com um garfinho e a comem quase líquida e com água.
Se alguém souber de um grupo de apoio que nos ajude a ultrapassar este vício com mais de 30 anos, eu agradecia que deixassem o contacto, pois por muito rígida que eu seja com a alimentação, este é o meu calcanhar de Aquiles. Posso até viver de grelhados e saladas, mas depois a Cerelac estraga tudo...


PP Fantasma eu disse que a Cerelac merecia um Post...

sexta-feira, 5 de junho de 2009

És o Orgulho do Papá



Quando ouço as Cinhas da vida dizerem que têm muito orgulho na carreira de modelo da filha (Pimpolha, Pipi, ou lá qual é o nome) a propósito da aparição desta na capa de uma revista masculina rio-me a bom rir, pois imagino-as a olharem para as filhas com um grande sorriso de compreensão enquanto a sua menina lhes diz: Mãe vou posar para uma revista masculina, para que muitos homens se possam imaginar comigo na cama enquanto na intimidade da casa de banho contam os azulejos à minha custa.
- Ó que orgulho filha. Acha que também posso posar consigo? Foi para isto que a eduquei, que lhe paguei os estudos. Um investimento que deu frutos. É linda meu amor.
Vou ser terrivelmente franca, mas se algum dia a minha filha enveredasse por esta carreira promissora eu não ia agir como se ela tivesse ganho o Prémio Nobel da Química. Já sei que temos que respeitar a escolha dos filhos, blá blá blá, que lindo e poético. Mas imaginar fotografias de uma filha descascada nas mãos de milhares de homens não é propriamente a visão do paraíso para uma mãe.
Por isso quando vejo a Ana Malhoa do Bueréré na sua carreira de cantora erótica pendurada em motas com mamas que se confundem com bóias e as bochechas do rabo a pedirem tau tau só penso no pobre José Malhoa a ter que dizer com sorriso amarelo: És o orgulho do papá filha.

Quando as Coisas Acabam

Às vezes lembro-me daquele casal amigo que teve um casamento de sonho e cuja vida parecia tão encaminhada. Tiveram um filho na mesma altura em que tivémos a nossa filha, viviam numa casa com personalidade e tinham sempre imensos amigos por lá.
Mas houve um dia em que senti que as coisas não estavam iguais. De cada vez que ela abria a boca para falar sobre o que quer que fosse, ele olhava-a de lado. Mais ninguém parecia reparar naquele olhar de desprezo que se instalara desde a última vez que tinha estado com eles.
Mais tarde o olhar passou a palavras e de cada vez que ela abria a boca ele prontamente a contrariava com uma voz impaciente.
Às vezes acho que até a maneira como ela respirava, andava, ajeitava o cabelo o irritava.
Todas as pequenas coisas do dia a dia se devem ter transformado num martírio para aqueles dois, pois ela não entendia o porquê da implicância e ele não percebia o porquê daquela morte. Da morte de tudo o que sentira em tempos.
Uma guerra cujo alvo a abater era a outra parte do casal instalou-se e tudo era motivo para mais uma batalha.
E eu fiquei triste. Triste e assustada, pois pensei que até aqueles dois que eu tinha como uma espécie de modelo não estavam livres da morte súbita do amor. De acordar um dia e sentir que aquela pessoa nos provoca nojo em vez de desejo, choro, em vez de riso, gritos em vez de conversas, incompreensão em vez de entendimento.
Tal como a vida tem um prazo de validade, há amores que também têm essa data limite finda a qual expiram. Há quem diga que são sete anos, há quem diga que é quando os filhos estão criados e deixa de haver motivos exteriores para permanecerem juntos, há quem diga que alguns amores nascem feridos de morte.
Quanto a mim apenas sei que antes de chegarem ao fim os sentimentos vão dando gritos de alerta, sinais, pistas que muita gente se recusa a encarar e quando finalmente falam sobre isso, já não há nada a fazer...

quinta-feira, 4 de junho de 2009

Descubra as Diferenças


The Ultimate Survivor



Sempre que apanho o programa deste javardo no Discovery fico presa a ele como uma mosca que não consegue largar a pestilência.
Algum de vocês já viu a quantidade de porcaria que este homem leva à boca no decorrer do seu programa?
O objectivo dele é ensinar-nos a sobreviver nos locais mais improváveis. Bastante útil para mim, pois aventureira como sou, nunca se sabe quando posso ficar presa na floresta, savana, ou pior do que qualquer uma daquelas hipóteses, no cú de judas.
Ora como estava a dizer, o nosso amigo mostra-nos que podemos comer desde entranhas de carcaças de zebra, a fezes de camelo, de rinoceronte, a larvas do tamanho de aviões, beber a própria urina. Ele faz festinhas carinhosas em tarântulas venenosas do tamanho de jipes e beija crocodilos no meio da água. Enfim, é um fartote.
Mas a única coisa que me prende verdadeiramente a atenção é vê-lo comer coisas que nem os abutres querem para eles, pois penso sempre na cara da namorada quando o vê atravessar a porta da rua a dizer: Querida cheguei, beija-me na boca!

Por Favor se acabaram de comer não vejam o Filme, correm o sério risco de bolsarem de seguida...

quarta-feira, 3 de junho de 2009

Aventuras no Reino do Lavabo

Eu bem sei que este blog aborda com alguma frequência temas eruditos relacionados com bosta. Portanto não querendo quebrar a tradição, este é apenas mais um post em redor desse tema profundo.
Há umas semanas atrás fomos os três almoçar a um belo restaurante no Pátio Bagatela e a minha filha com a sua pontaria afinada como sempre pediu-me para ir à casa de banho exactamente a meio da refeição. Olhando em volta para o conforto e elegância do restaurante, senti-me menos rabujenta por ter que a transportar a esse antro.
Mas desilusão das desilusões. Assim que ponho o pé na casa de banho das mulheres ali bem plantado no meio do chão, jazia morto e arrefecido um cagalhão monumental que deixara o seu rasto desde a sanita até ao meio do pavimento de mármore. Fui chamar uma empregada que não me deu solução para o caso. Limitou-se a fechar a porta da casa de banho, qual avestruz que esconde a cabeça debaixo da areia quando fareja perigo, neste caso merda.
Dou uma espreitadela para o wc masculino e dou de caras com o urinol cheio de gelo até acima. Será que é tradição? Será que é normal fazerem isto sei lá para arrefecer a canalização? A dúvida assaltou-me e de nada me adiantou o homem da família que se limitou a dizer. Acho que já vi fazerem isso não me lembro onde...
No meio de tantas andanças traumatizantes a Alice simplesmente recusou-se a usar os lavabos.
No final da refeição já um bocadinho estragada pelo incidente o empregado solícito traz-nos um digestivo amarelado cor de limonada a abarrotar de gelo. A minha cabecinha não demorou mais de um segundo a fazer a associação e a disparar as luzes vermelhas de perigo. Percebi então o que é que o gelo estava a fazer no urinol...

terça-feira, 2 de junho de 2009

Procura-se

Mas alguém sabe o que é que aconteceu ao Refogado e Hortelã? Esse jovem médico cujas aventuras, desventuras, pensamentos, reflexões acompanhava fielmente? Em Fevereiro escreveu um post a informar-nos que estava doente e desde então nada, nem um pio.
Quando o último post de alguém é acerca de uma doença e se passam 3 meses sem que mais nada seja dito, o que é que uma pessoa pensa?... Pois, o pior.
Por isso tomei uma decisão: Vou deixar escrito no meu testamento (ah ah ah) caso me aconteça alguma coisa, como morrer por exemplo, que vos venham aqui dar uma palavrinha. Pode parecer mórbido, mas não vos quero deixar pendurados.

O que Podia Ter Sido...

Não sou uma daquelas pessoas que olham para trás e dizem banhadas de uma certeza poética: Não me arrependo do que fiz, apenas do que não fiz.
Ora bolas eu já sei que os nossos erros fizeram de nós o que somos, mas não posso dizer que não me arrependo de nada. É claro que me arrependo.
Às vezes paro para espreitar sobre o meu próprio ombro e ver-me lá atrás no passado e se pudesse voltar àquela encruzilhada onde tive que optar cedo demais. Sem a sabedoria que alguns anos colocados na soma da idade trazem, teria trilhado outro caminho. Menos sinuoso, menos sofrido.
Quando me contemplo daqui, da minha vida de agora, sei que não agi sempre bem com os outros, comigo própria e vejo com uma clareza assustadora que teria feito diferente sim.
Mas uma pequena mão desperta-me da viagem ao passado e outra mão um bocadinho maior descansa sobre o meu ombro. Olho-vos cheia de gratidão por estarem aqui no meu presente e então sinto que tudo, o bom e o mau, me conduziu até vocês. E desculpo-me pelo que podia ter feito diferente.

segunda-feira, 1 de junho de 2009

Macho que é Macho ou as Vantagens do Celibato

Uma das coisas boas de ter ficado bastante tempo no celibato foi ter aprendido a não depender do sexo oposto para pregar um quadro, conseguir abrir uma porta de casa encravada, desenrascar-me com as avarias do carro e cultivar-me até aos ossos. Pois o amor, pelo menos nos primeiros tempos, retira-nos a vontade de nos enchermos com o que quer que seja para além de sensação de enamoramento.
E por aqui andava eu, toda independente e senhora de mim quando me aparece o Hugo. Foi bom ter encontrado alguém com quem dividir a minha vida, só que com ele chegou também a queda do meu parafuso bricoleiro e a inércia de deixar de pregar quadros, de resolver pequenos problemas domésticos, pasmem, até de mudar lâmpadas de tecto instalou-se! Com o amor veio uma espécie de preguiça suprema para tudo o que era supostamente tarefa de macho.
- Ó Hugo o que é que o computador tem?
- Já viste se está ligado?
- Ah bem pensado!
- Ó Hugo quando é que penduras o quadro?
- Tem que ser hoje?
- Dava jeito que fosse ainda neste século.
E assim ia a nossa vida de casal. Eu cada vez menos independente no que tocava a bricolage, ele cada vez mais preguiçoso no que tocava à bricolage.
Mas de todas as coisas que era suposto um macho fazer para proteger a sua fémea a que mais me custou ter que abrir mão aqui em casa foi a da caça ao bicho:
De cada vez que dou de caras com uma aranha grito esganiçada com todas as forças das minhas cordas vocais. Ele corre aflito:
- O que é que foi Ana? Queres-me matar de susto?!!
- Um monstro! Olha aquela aranha nojenta ali, vai buscar um sapato, um martelo, uma caçadeira, um lança granadas, qualquer coisa, mas dá cabo dela!
Quando olho para o lado, estranhando o silêncio, ele já fugiu...
Regra geral é a Alice que vem em meu socorro munida de um sapato. Pobre inocente, já a transformámos numa assassina de aranhas profissional. Ou numa mulher independente, consoante a perspectiva.