Outro dia alguém me aconselhava uma livraria chamada
Pó dos Livros em Lisboa, ao mesmo tempo que proclamava fugir das Fnacs da vida, como o diabo da cruz.
Desde que me recordo de ser gente mais ou menos crescida, que abrir uma pequena livraria de bairro, intimista, com atendimento personalizado, faz parte da minha carteira de sonhos.
Mas como sou uma pessoa que abre os braços aos livros, venham eles e estejam eles onde estiverem, não desprezo a Fnac, de forma nenhuma. Não gosto de endeusar livros, nem música. Gosto que sejam coisas naturais e disponíveis na nossa vida. Gosto de os poder levar para a mesa do café (na Fnac) e folheá-los, ler as primeiras páginas e decidir se vale a pena comprá-los. Gosto do anonimato que um espaço assim nos proporciona. Gosto que não me liguem puto, se dou o biberon ao António com a mão direita, enquanto balanço a cadeirinha com o pé e seguro um exemplar de culinária na mão esquerda, adoro sentir-me no direito de o fazer ali.
Gosto da democratização da cultura. Sou uma grande facha em muitas coisas, mas nestas coisas de ler não.
Depois temos a parte das crianças, onde passava largas temporadas com a Alice em busca de um livro, folheando também, ganhando intimidade, aprendendo a tratar as letras e desenhos por tu, sem vocês.
Por tudo isto e por muito que adore o charme e atendimento personalizado de uma boa livraria, onde saibam por exemplo que ter todos os exemplares de Eça de Queiroz é condição sine qua non para se poder intitular livraria em Portugal, quero agradecer à Fnac, por ter evitado o meu divórcio com as letras, numa altura em que só de imaginar entrar numa pequena livraria com dois miúdos atrás, um deles numa cadeirinha, me provocava arrepios de cansaço.
* Na primeira imagem, a famosa livraria Barnes and Noble, que não temos cá. Um bocadinho mais charmosa do que a Fnac e, geralmente com um Starbucks da treta a fazer as vezes de café incógnito :)