Parece que 17000 pessoas assinaram uma petição para salvar um cão que matou um bebé.
Parece que 17000 pessoas se deram ao trabalho de pensar no cão que matou um bebé, com profunda pena, arranjando desculpas, afirmando que talvez não tivesse sido bem assim e que a história está mal contada.
Parece que 17000 pessoas acham importante salvar um cão que matou uma criança, quando a criança ainda nem foi a enterrar.
Confesso que nem sequer pensei no cão. Um cão que ataque mortalmente alguém deve ser removido do convívio social e ponto final. Não há grandes raciocínios a fazer. Há riscos que não se correm por motivo algum.
Eu pensei nas pessoas. Nos adultos que permitiram o convívio de um bebé com um animal portador de mandíbulas de tubarão. Um animal que num minuto está bem e no outro se pode passar (afinal de contas, espantem-se, é um animal), porque o bebé o pisa, lhe grita, lhe enfia o dedo nos olhos (sim, as crianças tendem a fazer isso aos animais).
Eu pensei nos milhares de acéfalos por esse mundo fora (basta googlarem) que insistem em comprar animais com potencial assassino, sem terem mão neles, julgando ficar assim imbuídos de poder, ou fazerem uma espécie de tunning ao seu status.
Que características tem um pitbull, ou um dog argentino, ou um akita, ou um merdita, diferentes de outra raça de cão, que os torne assim tão apelativos e irresistíveis? O que é que os diferencia assim tanto, para a malta querer ter um? Cheira uma baixa de insulina num diabético melhor do que os outros, por exemplo? É excelente com idosos e deficientes? A única diferença é a fama que têm, uma fama merecida dizem as estatísticas, uma fama injusta, dizem os fanáticos.
Juro que gostava que me explicassem, porque é que, com centenas de raças de cães, a malta embica precisamente para aqueles e os passeia com descontração, muitas vezes arrastadas pelos bichos, sem açaime e sem mão, incomodando-me, assustando-me, não me deixando andar tranquila com os meus putos na rua?
Que direito têm eles de impor o seu cão na vida dos outros, sem se darem sequer ao trabalho de açaimá-los como manda a lei?
Que direito têm eles de colocar em risco a vida dos próprios filhos, porque acham piada a ter um cão daquele género?
Como é que se corre o risco, como? Se existe 10% de hipóteses que sejam, de o meu cão poder passar-se dos carretos e matar o meu filho, porque tem potencial físico e mental para o fazer, eu não vou correr esse risco jamais.
"Em nove anos, nunca fez mal a ninguém". Só me faz lembrar os jornalistas que vão à aldeia do assassino, ouvir os vizinhos dizerem: "Ele era amigo do seu amigo". Ou quando vou a uma loja reclamar de uma merda que avariou e oiço o funcionário: "mas nunca tivemos nenhuma reclamação".
O grande problema dos cães ditos potencialmente perigosos, é que são, regra geral, adquiridos por malta que diz coisas deste género e isto chateia-me, põe-me canina.