segunda-feira, 29 de abril de 2013

Post fashion

Como é que é, alguém tem, alguém já calçou, alguém já namorou, ou acomodou seu frágil chulet numa destas lindas alpargatas? Deixam transpirar, duram, são confortáveis, valem os euros?
Agora que já sou uma mulher adulta e não posso aparecer em eventos sociais internacionais com as minhas crocs, pondero a hipótese de evoluir para isto (eu e a minha filha, claro está :))

domingo, 28 de abril de 2013

datas

Tirando as datas de nascimento, adquiri o estranho hábito, ou o hábito adquiriu-me sem qualquer intervenção da minha parte, de não recordar datas praticamente nenhumas.
É que as datas não servem para nada, além de nos condicionarem o estado de espírito. Nenhuma data é mais importante do que o dia anterior, ou dia que se lhe seguiu.
Nenhuma data deveria ter o poder de nos deixar mais em baixo, pois é apenas mais um número num calendário e os números só têm a importância que lhes damos.

sexta-feira, 26 de abril de 2013

queria dizer-te

que sinto muitas saudades tuas.
Que toda essa coisa da paz e do fim do sofrimento é absolutamente verdade, sim, mas não me consola, porque o que eu queria mesmo era que nunca tivesses ficado doente. Ainda que isso implicasse nunca ter-te conhecido, ainda que isso implicasse ter ficado uma pessoa mais pobre com a tua ausência na minha vida, trocava tudo isso num ápice, para que pudesses ter continuado na vida de tantas outras pessoas.
Hoje estou fodida com o pouco sentido que tantas coisas fazem. Mas acho que querer tirar sentido de tudo, da vida, da morte e do meio de uma e de outra, muitas vezes é um exercício estéril. Não nos leva a respostas nenhumas.
Nascemos, vivemos e morremos, com a mais absoluta falta de critério, ao sabor do livre arbítrio de coisa nenhuma.
Hoje sinto-me tremendamente só de ti e se sei que isto tem dias melhores do que outros e que amanhã me focalizarei na parte da paz e no final do sofrimento, mas hoje não.

a minha pública indignação

Ao ver os fanáticos franciús-avec-cara-de-cú, formando violentas guerrilhas de rua, contra a aprovação do projecto lei que permite o casamento entre pessoas do mesmo sexo e a possibilidade de adopção, pelos mesmos, a réstia de pouca dúvida que existia em mim, acerca dos franceses dissipou-se.
O povo francês não produz em mim simpatia de qualquer espécie. Não querendo generalizar, mas generalizando, acho-os antipáticos, arrogantes, vaidosos, extremistas e xenófobos.
É esta a imagem que conseguem passar cá para fora. Que me desculpem os franceses decentes e simpáticos e nada xenófobos, que certamente são em maior número, mas a realidade é que eu vos descrimino pela minoria, sim, tal como fizeram aos emigrantes que espetaram para fora do país, eu ponho-vos para fora da minha lista de povos calorosos.
Acho aviltante que se recorra à violência para manifestar o desacordo em relação a uma lei que não coloca em risco os seus direitos fundamentais.
Ver a desproporcionalidade, o ódio, o sangue a ferver, o fanatismo, a raiva, a espuma a sair das beiças, por alguma coisa que não coloca em causa as suas vidas, (pois que só aí entendo a saída da razão), é coisa para me deixar com medo, muito medo e com muito pouca vontade de chamar a Paris a cidade do amor.

terça-feira, 23 de abril de 2013

dentro das fotografias

Nas fotografias tudo parece perfeito. A manta do piquenique, o cesto de verga, com frutos a adivinharem-se no seu interior. As crianças, com as suas roupas repletas de cor e estilo, brincando alegremente com uma bola estupidamente colorida e brilhante.
Um pai sereno, observando o cenário com uma pose descontraída e estilosa.
E eu pergunto, antes, ou depois do disparo da objectiva, o que é que se manteve assim?
Os outros pensam que aquela família passa os melhores momentos, muito acima dos seus próprios momentos com birras e trombas e silêncios.
As fotografias cristalizam a perfeição que se sonha. Escrevem as histórias como queremos vê-las e damos-lhe as legendas que achamos mais adequadas, mas muitas vezes, pelo menos essas fotografias de idílio familiar, mentem-nos descaradamente.
É preciso separar o segundo que se cristaliza, do dia que corre sem perfeições.
É claro que existem segundos cristalizados de pura felicidade, é claro que sim, mas a vida não é feita apenas deles.
Gostava de ver fotografias mais normais, que cristalizassem as birras na fila de uma diversão na Eurodisney, por exemplo :)

domingo, 21 de abril de 2013

coisas das quais sinto saudades profundas

De pensar:
"Não me apetece fazer um cú" e efectivamente não fazer um cú.

coisas que aprendi contigo

As pessoas com cancro, por debaixo das cicatrizes e mazelas dos tratamentos inerentes, por debaixo dos medos e coragem demonstrada,são precisamente isso, pessoas.
Mas são também pessoas com cancro, pois às tantas há que aceitar que se vive com esse inquilino filho da puta, que ora se esconde, dando tréguas, ora reaparece, obrigando a mais uma batalha. Mas que estará sempre presente, umas vezes impelindo a que se fale nele, as vezes necessárias à expulsão de todos os anseios, outras tentando passar um dia inteiro sem falar sobre ele.
Pessoas com as suas histórias, passado, sonhos, expectativas, sensibilidades.
Pessoas dignas de serem conhecidas, reconhecidas, faladas, mexidas, amadas, apesar de e com a sua doença.
Pessoas que não são a doença, mas que também a são um bocadinho, pois não há como separar as duas coisas.
Ensinaste-me que não devemos fugir das pessoas, apenas porque carregam o estigma da palavra C e, por muito dolorosa que esteja a ser a tua ausência, não deixarei nunca que o sofrimento de não te saber já no meu mundo, seja superior ao privilégio que foi ter-te na minha vida.


Como dizes, "o sofrimento não é preciso para nada, mas existe e, como tal, não sei fingir que não está lá, nem varrê-lo para debaixo de um tapete imaginário, só para não encher os meus dias da poeira dos outros." E é por isto que gosto de aqui vir, e gosto ainda mais dos comentários que me deixas nos Episódios. Porque te aproximas, porque te deixas contaminar, porque não ficas à distância nem em silêncio. Tal como é preciso ter coragem para levantar a cabeça quando se sofre, também é preciso a mesma dose de coragem para não olhar para o lado na esperança de não ver esse mesmo sofrimento. Saber que há pessoas como tu, que me aceitam (a mim e ao meu sofrimento) é o que me inspira e me dá esperança que o sofrimento não é (em) vão, que mesmo do pior, piorzinho dos cenários, pode mesmo surgir qualquer coisa de bom.

*comentário deixado pela Silvina aqui no blogue.

sexta-feira, 19 de abril de 2013

paciência

É, sem dúvida, uma característica que se adquire com a sabedoria impressa pelos anos, com a experiência e com mais qualquer coisa que ainda me escapa.
Falta-me em quase todas as circunstâncias da vida que a requerem.
Falta-me.


quinta-feira, 18 de abril de 2013

cenas que adoro

Receber os créditos de tudo aquilo que os meus putos aprendem com a televisão.

quarta-feira, 17 de abril de 2013

comoéqueé?

Então o Diogo Morgado chorou na Oprah?
Não te ponhas a pau, não Daniel Oliveira. Eu sempre disse que a Oprah era uma perigosa adversária.
Ela fez com que Jesus chorasse.

...

Vãs as palavras de conforto que te dirigem.
Vãs as penas dos que choram contigo.
Vãos os pensamentos de suposta paz que te transmitem.
Vãs as mãos que te apertam o braço, lembrando o que não consegues sentir.
Vã a medida que julgam saber do que sentes, pois que nada entendem de ti neste momento, nem do que sentes agora.
Vão o mundo que continua a girar apesar de ti.
Vil o sol que te ofende por persistir no seu brilho e o céu por não estar cinzento e chuvoso, refletindo-te.
Penosa a primavera que te afronta, os sorrisos das crianças indiferentes, as vidas que prosseguem com a cadência necessária, para que tudo continue apesar de ti.
Um dia hás de agradecer por tudo isto que continuou, que persistiu, que te mostrou que nada fica imóvel em homenagem a ninguém.
A vida é a maior dádiva e a maior afronta, a maior fonte de respostas e abismos sem solução. A vida é isto de ficares aqui, sem tudo entendido, nem resolvido, mas teres que ficar, completando o ciclo do mundo que se movimenta apesar de ti.

segunda-feira, 15 de abril de 2013

As melhores palavras de sempre

Deste-me tu.
Acabei de ser operada. E o que mais me bateu hoje não foi o regresso ao hospital, nem o ritual de vestir a bata transparente, tirar as jóias, enfiar uns plásticos nos pés e uma touca na cabeça, nem sequer foi ouvir o médico dizer-me que se calhar o que tenho (tinha) no pescoço é mesmo um quisto e não um gânglio. O que mais me bateu hoje foi o facto de ter lido o teu livro antes e depois da cirurgia. Acompanhou-me nesta viagem, na mente, na pele, na maneira de me emocionar com o mundo -mesmo este meu mundo hospitalar. Transportou-me todo o dia, desde o momento em que o abri no metro até acabar de o ler na cafetaria do hospital, rodeada de batas brancas e verdes e pés com socas (acho que são Crocs), já com uma nova cicatriz e novas dores, e um sumo de laranja à frente. A satisfação de sentir algo enorme, maior do que eu, é mil vezes superior à de compreender um conceito metafísico importante ou de fazer uma fantástica descoberta racional. Raramente me tinha sentido assim tão inundada de emoções, e, sobretudo, nunca me lembro de ter gostado.
E devo isso tudo ao teu livro, que escreveste com 25 anos e que pela tua amizade me chegou às mãos na altura certa. E tenho a certeza de que também o li na altura certa. Hoje. Obrigada por estes momentos de profundo sentir, e pelas viagens por Paris, Veneza e Roma. Também as conheci por esta ordem. E no fim, o regresso a Paris e a vontade de regressar a Lisboa. Sinto-me estranhamente em casa.


Hei de reler-te as vezes necessárias para que se aplaque em mim o vazio imenso que sinto, ainda com tão pouco tempo de separação.
Dizem que não importa há quanto tempo sentimos, mas a intensidade com que o fazemos e eu sempre soube que eramos almas antigas, daquelas que se aproximam por pura intuição, sem as certezas tradicionais dos cautelosos. Tu tinhas que te cruzar no meu caminho, para que eu nele entrasse descaradamente, mesmo prevendo a possibilidade de perder-te.
Adoro-te e não o digo apenas agora, disse-o sempre que consegui encaixar a palavra.
Adoro-te.
Da tua amiga
Nicoleta Sparks ;)


sábado, 13 de abril de 2013

hoje

hoje não me apetece nada. nem sequer começar com letra maiúscula. sinto-me como se aguardasse um nascimento ao contrário, como se as dores de parto fossem para dizer adeus e não olá. sinto-me a pairar sobre coisa nenhuma, sobre uma certeza que encerre tudo de bom e de mau.
hoje quero acreditar que será melhor depois da contração final, que nenhuma outra dor se seguirá, que será calmo e sereno e cheio de tudo aquilo que leva a dor embora.
o final será como o começo. o final será um recomeço demasiado duro, porém necessário para tantos outros que permanecem. o final será apenas o inicio de qualquer coisa muito maior e é nisso que quero acreditar, com a firmeza dos que creem em coisas maiores do que o mundo que existe, com a firmeza dos que creem sem reticências, nem pontos de interrogação. com firmeza apenas. firmeza e solidez de espírito.
hoje quero saber-te amanhã em outros braços. hoje quero saber-te serena. hoje quero que nada se prolongue além de nada. hoje abraço-te e envolvo-te com tudo aquilo que possuo de bom e sussurro-te em pensamento que tudo ficará melhor.
nada leves, nada temas, nada deixes ficar. sê inteira sempre e em ti te encontrarás sempre em mim e em todos aqueles que te querem.
hoje voa para aquele lugar com o qual sempre sonhaste e repousa finalmente de tudo o que te magoou.
Mereces o maior e melhor lugar. Aquele bem dentro do meio da estrela que mais brilha e sei que o ocuparás sem reticências, nem hesitações, como só tu ocupas os lugares por onde passas.
obrigada por teres aumentado o volume do meu coração. Obrigada.

sexta-feira, 12 de abril de 2013

As Dietas

Nada percebo delas. Queria muito perder a minha barriga, algures antes dos 40, mas sei que se continuar a comer a minha cerelac, ou Nestum, as probabilidades de isso vir a acontecer são bastante diminutas. Mas eu sei disso e aceito esta minha fraqueza, com promessas diárias de que deixarei a Nestlé na casa dos 30.
As únicas dietas que fiz na minha vida, tiveram que ver com abstinência de açúcar na gravidez. Por isso, tenho muito pouca moral para debater este assunto.
No entanto, existe uma coisa chamada bom senso, que sempre me impeliu a dizer àquela colega de faculdade, que transportava uma garrafinha com uma mistura de cor duvidosa, que andar a beber seiva, ou a comer sopa durante uma semana, não levaria rigorosamente a nada, além de um par de quilos perdidos em 8 dias, um persistente mau humor e uma vontade de comer alarvemente, finda a dieta, repondo os quilos à velocidade da luz.
Ela era estudante universitária, inteligente, com vários quilos a mais, mas tinha este lapso cerebral que a levava a acreditar no misticismo miraculoso da seiva, ou da sopa.
Aquilo que todos os que tentam emagrecer vários quilos à conta destas ideias radicais precisam de entender, é que a única merda que resolverá o problema será uma mudança para a vida. Um compromisso mais duradouro do que um contrato matrimonial.
Não me venham com tretas, ou mudam os seus hábitos alimentares de forma profunda, consciente e continuada, e por continuada eu quero dizer mais ou menos para sempre, ou voltarão aos quilos.
É como deixar de fumar. Não dá para conceder e fumar apenas um maço por semana. Ou se deixa de fumar, ou não se deixa de fumar.
E é esta a dura realidade. Toda a coisa do compromisso para a vida é assustadora, tira a força nas pernas e impele-nos ao suicídio gastronómico, afogando as mágoas na charcutaria, ou enfiando a cabeça na vitrina da pastelaria tentando um atalho menos doloroso e acreditando em milagres, mas é isto. Quase que posso jurar que sim.

quinta-feira, 11 de abril de 2013

MST

E hoje, passados não sei quantos anos sem o fazer, voltei a abrir a minha pequena pasta, onde guardo tudo aquilo que me marcou há tantos anos atrás. Crónicas, artigos de opinião, biografias, entrevistas e detenho-me num molho de páginas, rudemente rasgadas da origem e já desbotadas. Detenho-me, sabendo que não conseguirei parar até ter chegado ao final de cada uma delas.
Mais uma vez, ainda e acho que para sempre, sei que continuarei a perder-me nas palavras do Miguel Sousa Tavares:



(...)"Agora, porém, passou já um ano desde a minha última viagem e estou preso à terra e atento à chuva e à cor do rio. O meu Taj Mahal, que mandei construir para celebrar todos os regressos e encerrar todas as ausências, cresce devagar, tijolo a tijolo, como uma ampulheta medindo um tempo suspenso. No outro dia, subi até ao telhado ainda inacabado e de onde a vista alcança toda a minha vida, e sentei-me, encostado a uma chaminé. Caía uma chuva miudinha sobre a terra ressequida, um vento frio fazia abanar a copa das árvores e um céu cinzento carregado de nuvens prometia mais chuva ainda àquela terra sedenta de água e cansada de tanta luz. Um sinal de sorte e de desgraça"(...)

(...)"Queria então que alguém me explicasse que pesadelo é este que se abateu sobre nós. Que longa travessia cinzenta é esta, de dias sem luz e noites sem estrelas. Que senhor das trevas nos roubou a luz dos dias, que infinita tristeza terá apagado as estrelas do céu?
E sobre mim pousa então a mão da minha mãe. Vejo o azul intacto no seu olhar tão antigo e tão próximo, as suas mãos desenhando teatros de sombras na parede, como quando eu era pequeno, e um poema escrito para a minha impaciência:
As minhas mãos mantêm as estrelas
Seguro a minha alma para que não se quebre
A melodia que vai de flor em flor
Arranco o mar do mar e ponho-o em mim
E o bater do coração sustenta o ritmo das coisas

quarta-feira, 10 de abril de 2013

O nosso consumismo transposto para os filhos

Entendo o instinto desenfreado de desatar a comprar peças de roupa e cadeirinhas topo de gama e saquinhos para agregar às cadeirinhas, para o nosso primeiro filhote, mas é fixe termos em mente que tudo aquilo será para nós, para taparmos o nosso gigantesco buraco consumista e não para uso útil do bebé.
Tenho bem presentes as diferenças entre a minha pessoa na primeira gravidez e maternidade e a minha pessoa na segunda gravidez.
Talvez tivesse a compulsão do consumo mais atenuada, por ter verificado a quantidade de dinheiro que se atira pela janela, talvez tivesse percebido, com um estranho clarão de lucidez, que o meu puto se estaria a cagar se tinha babygrows da Laranjinha, da Petit Patapon, ou da Primark, desde que eu lhe desse amor.
Os putos precisam de amor e de tempo e não de cadeiras topo de gama, ou 230 peças de roupa, para mudar todos os dias. É claro que também podem ter a colecção inteira da Ralph Lauren e o amor dos pais, é claro que sim. Mas isto é apenas para que os pais que não podem comprar tudo do bom e do melhor, não se sintam na merda, pois que isso é a mais irrelevante das coisas nesta estranha equação de se ser mãe, ou pai.
Os putos precisam de lençóis frescos no verão e um edredão no Inverno. Não precisam realmente de 10 mantinhas de lã marinho, mais uma envolta bordada com caxemira, mais fraldas bordadas, mais uma bolsa para a primeira roupa e outras tantas para os restantes dias de maternidade. Eles não precisam de um enxoval do princípio do século passado. A sério.
É claro que não lhes faz mal nenhum, se os pais puderem e lhes der gozo, comprarem o que lhes der na real gana, mas é preciso ter sempre em mente que aquilo é mais para os pais, do que para os putos.
"Estou a comprar esta cadeira, pois que lhe acho imensa graça e o design é gracioso e eu preciso de tê-la, pois joga bem com os meus tapetes", não é a mesma coisa do que pensar: "O meu filho precisa mesmo disto para se alimentar".
A diferença está no escolhermos enganarmo-nos a nós próprios, ou não.



12 euros

190euros

terça-feira, 9 de abril de 2013

Muitas são as vezes

Em que me apetecia viver dentro de um filme do Woody Allen.

segunda-feira, 8 de abril de 2013

Amor de mãe não é só nas tatuagens

A sua pequena voz, acompanhada da estatura pouco dada às alturas, nunca foi proporcional a duas coisas que possui:
O número dos sapatos.
O tamanho do coração.
Aquele bebé, cujos pés sobressaíam das meias demasiado pequenas, quanto a vi pela primeira vez ao colo do pai.
Aquele bebé que retirava tanto de sono, quanto devolvia de amor, é agora uma menina.
Uma menina com os sentimentos de alguém que cresceu dentro das melhores palavras, dos melhores gestos, mesmo sem que isso tenha de facto acontecido totalmente. Ela é simplesmente assim, sem sementes de maior valor, sem grandes justificações exteriores.
Ela dá tudo o que o seu coração suporta dar, não tem medo de abraçar, nem de dizer que sentirá a falta de quem ama. Ela não teme entregar-se, mas teme que não a amem da mesma forma e pensa nisso com devotada angústia.
E eu espero e peço, a quem quer que me escute nestas coisas do futuro dos filhos que não nos pertence, mas no qual gostaríamos de ter uma palavra a dizer, que ela encontre, ao longo da vida, mais espelhos do seu amor do que sombras. Pois quem ama assim, sem reservas, merece um amor igual. Sempre.

sexta-feira, 5 de abril de 2013

A dar-vos seca desde 2008 e troca o passo

Um jovem com um blogue de entrevistas fez-me uma série de perguntas, em jeito de entrevista, que vos deixo aqui, num exercício de narcisismo sem precedentes :)


M.L: Quando surgiu o interesse pela escrita?
A.C: O meu interesse pela escrita nasceu do meu interesse por livros. Desde pequena que gosto de me perder num bom enredo, de me deixar levar pelas palavras dos outros. As palavras dos que fazem da escrita profissão, sempre foram uma espécie de alento na minha vida. A escrita surgiu como uma consequência natural do gosto pela leitura, sentia-me compelida a escrever. Tudo era um bom motivo para o fazer.


M.L: Quais são as suas influências, enquanto escritora?
A.C: Apesar de ter escritores que venero e aos quais presto vassalagem das mais diversas formas, não posso dizer que fui influenciada por algum escritor em particular, pois a minha maior influência é a vida. A minha vida, a vida daqueles que me rodeiam. Os afetos, meus e dos outros. Estou sempre alerta e atenta. A permeabilidade ao mundo, é uma das coisas que nunca quero perder, pois é ela o meu grande motor no que respeita à escrita.


M.L: Qual foi o trabalho que a marcou, durante o seu percurso como escritora?

A.C: O meu percurso é pequeno ainda. Espero ter muitas páginas pela frente, enquanto escritora, pois só agora começo a ver-me como merecedora dessa designação. Mas, tentando responder à tua pergunta, o que mais me marcou foi este último livro, “Todas as Palavras de Amor”. Foi através dele que aprendi a não desistir daquilo que mais gostava de fazer: Escrever. Foi através dele que senti que tudo, até aqui, tinha valido a pena.


M.L: Como escritora escreveu para literatura e para televisão. Qual destas áreas que lhe dá mais gosto de escrever?

A.C: Foi o meu primeiro romance que me levou aos guiões. O Manuel Arouca leu o manuscrito do “Vontade de Regresso” e chamou-me para trabalhar na sua equipa, apresentando-me a um mundo totalmente diferente, em termos de escrita. O tom coloquial e mais instantâneo é fundamental em guionismo e eu tive que me libertar de várias camadas, até atingir aquele ponto que se deseja nos diálogos mais fluídos. O guionismo sempre me desafiou em termos de criatividade, pois aqui as tuas ideias e a tua imaginação são constantemente postas à prova e é necessária uma agilidade mental, muitas vezes, desgastante. Estás sempre a jogar com uma certa dose de desconhecido, pois o que funciona para ti, pode não funcionar para quem vai ver e pode não funcionar para quem vai representar ou para os meios ao dispor da produção. São duas coisas totalmente distintas, mas que podem coexistir pacificamente, complementando-se, até. Confesso que o que mais me completa é a literatura e o que mais me desafia é o guionismo.


M.L: Gostava de experimentar outras áreas como, por exemplo, o cinema?

A.C: Se estamos no campo do sonho, aqui vai: Adorava experimentar cinema. Também adorava poder escrever disparates ou outra matéria igualmente relevante, para uma publicação jornalística e ser paga para isso.


M.L: Entre 2008 e 2009 escreveu juntamente com Manuel Arouca, Tomás Múrias e Melissa Lyra, a telenovela “Podia Acabar o Mundo” que foi exibida na SIC. Que recordações guarda desse trabalho?

A.C: Felizmente, guardo recordações boas de praticamente todos os meus trabalhos. “Podia Acabar o Mundo” foi a primeira novela que escrevemos para a SIC e, por esse motivo, um desafio maior.


M.L: Qual foi o momento que mais a marcou, durante o seu percurso como escritora?

A.C: Foi a primeira reunião que tive com o Manuel S. Fonseca, na editora Guerra e Paz. Ele ligou-me, depois de ler o meu manuscrito e quis encontrar-se comigo no dia seguinte. Quando ele me disse: “Nós estamos muito interessados em editar esta história”, eu senti que era o princípio de muitas coisas importantes na minha vida.


M.L: Como vê atualmente a Cultura em Portugal?

A.C: Acho que somos absolutamente extraordinários a desenrascarmos projetos com poucos meios. A arte de fazer bem, ou menos mal, com poucos recursos, é uma arte muito portuguesa e terá que se reinventar de novo, dada a negra conjuntura do país. Também sinto que os portugueses estão cada vez mais sedentos de cultura acessível e de qualidade. A cultura deveria ser acessível a todos. Deveria ser banalizada e vista como uma manifestação intrínseca de uma sociedade saudável. Em certas capitais europeias, não tão faustosas quanto isso, estás sempre a esbarrar na cultura, como parte da cidade e dos seus habitantes.


M.L: Gostava de fazer uma carreira internacional?

A.C: Se, por carreira internacional, te referes a ver o meu livro traduzido em dezenas de línguas, sim. Se te referes a um convite para adaptar o meu livro ao cinema francês, italiano, britânico, sonhemos em grande, americano, é claro que sim também, que eu não sou de fugir a sonhos bons…


M.L: Como é que é a sua rotina, quando escreve?

A.C: Como tenho filhos pequenos, tenho que adaptar as minhas rotinas às rotinas deles. Já não tenho aquela liberdade total de escrever a qualquer hora do dia e da noite. Gosto sempre mais de começar a escrever de manhã muito cedo, com uma boa caneca de café e, geralmente, bandas sonoras de filmes a tocarem no Mp3.


M.L: Recentemente, a telenovela da SIC “Rosa Fogo”, da qual participou no arranque do projeto, foi nomeada para o Emmy Internacional na categoria de Telenovela. Como vê este reconhecimento internacional?

A.C: Como disseste bem, participei no arranque da novela, por isso não me envolvi do princípio ao fim do projeto. Mas fico sempre feliz, quando um projeto português passa a ser falado além-fronteiras.


M.L: Qual foi a pessoa que a marcou, durante o seu percurso como escritora?

A.C: Eu não consigo dissociar o meu “percurso” como escritora, do meu percurso como pessoa. Por isso, haverá sempre quem/o que me inspire e me marque o suficiente para ter vontade de escrever sobre isso. Tenho que tentar manter sempre os olhos e o coração abertos.


M.L: Como vê o futuro da Cultura em geral nos próximos anos?

A.C: Um país que corta na educação e na saúde, é um país que não dará qualquer espécie de prioridade à cultura. Infelizmente é isto. O que não quer dizer que nos transformemos numa sociedade embrutecida, pois muitas vezes, é das situações mais adversas que nascem os grandes rasgos e que as pessoas mais se viram para o que lhes dá alento espiritual.


M.L: Qual o conselho que daria a alguém que queira ingressar numa carreira na escrita?

A.C: Rubem Fonseca responde a esta pergunta, de forma sublime, no seu livro “José”. Aqui fica a citação: “Gostar de ler e digitar palavras, seria suficiente para a pessoa se tornar um escritor? José sabia que o mais importante requisito era motivação, essa energia psicológica, essa tensão que põe em movimento o organismo humano, determinando um certo comportamento. José sabia que se o aspirante a escritor não tiver uma motivação forte, escreverá, quando muito alguns poemas de dor de cotovelo, alguns contos, talvez até um romance, mas logo desistirá. José estava certo de que na realidade, a motivação de cada escritor está essencialmente ligada à sua experiência, à sua vida, desejos, ambições, sonhos, pesadelos. Não interessa o tipo de motivação, apenas tem que ser suficientemente forte”. É precisamente isto que eu penso em relação a querer fazer da escrita, uma carreira. A escrita tem que te ser orgânica e tens que ser perseverante. Não podes desistir ao primeiro obstáculo, pois existirão, certamente, muitos obstáculos ao teu sonho.


M.L: Que balanço faz do percurso que tem feito até agora como escritora?

A.C: Gostava de responder a esta pergunta, daqui a um par de anos, quando já tivesse, pelo menos, mais uma história escrita.


M.L: Quais são os seus próximos projetos?

A.C: “Todas as Palavras de Amor” ainda é um recém-nascido, que me tolda um pouco a capacidade de fazer projetos. Mas já comecei a escrever outra história, que não quero deixar morrer…


M.L: Qual é a coisa que gostava de fazer e não tenha feito ainda?

A.C: Sou imensamente privilegiada nesse sentido. As coisas que mais amo, já alcancei. Tenho uma família que me completa e dedico-me à escrita. O resto será sempre um upgrade ao que já tenho. Como viajar mais, ver mais mundo, ver mais histórias que escrevi arrumadas entre uma capa e contracapa.


M.L: O que é que gostava que mudasse nesta altura da sua vida?

A.C: Gostava de ter mais tempo. Tempo para as coisas mais supérfluas, que também são fundamentais para temperar as nossas vidas.ML

quarta-feira, 3 de abril de 2013

mim

Gosto muito de pensar que me conheço bem.
A vantagem de empilhar dias, uns sobre os outros, na minha vida é precisamente aprender a conhecer-me melhor do que ninguém.
Conhecer os meus limites, o que me frustra, o que me completa, o que posso, ou não exigir de mim mesma. Até onde posso ir, o que esperar da minha pessoa em determinadas circunstâncias.
Conhecer os medos que me paralisam e saber que consigo passar pelo meio deles, muitas vezes de olhos fechados e coração a doer, mas passando a fronteira até ao outro lado, quando o outro lado vale a pena.
Tendo isto bem alicerçado é muito mais difícil deixar que sejam os outros a definir-me.
É que, muitas vezes, as definições que os outros têm a nosso respeito, ou nos surpreendem pelo excessivo optimismo, ou nos enfraquecem pelo exagerado pessimismo.
É difícil sermos sinceros connosco próprios e bem mais fácil acreditarmos no que nos dizem, mas continuo a defender que não há nada como ouvirmos a nossa própria voz interior, sem negações. Respondendo-lhe com o mesmo nível de sinceridade que ela nos proporciona.

segunda-feira, 1 de abril de 2013

esclarecimento de suma importância blogosférica

Às vezes é cansativo gerir as alarvidades que escrevemos por aqui.
Se me ocorre escrever sobre uma treta qualquer de forma mais gozona, ou irónica, há sempre meia dúzia de pessoas que enfia uma carapuça imaginária e acabo a ferir susceptibilidades e sentimentos, quando não era essa a minha intenção.
Por isso, fica aqui um esclarecimento absolutamente parvinho e patético:
Jamais em tempo algum me ocorreria escrever ironicamente sobre alguém de quem gosto. Reservo isso para as pessoas que não me dizem muito. Pode não parecer, mas ainda tenho, bem no fundo de mim, uma réstia de princípios e meia mão cheia de neurónios.

E aquelas pessoas

que têm sempre uma dor de cabeça mais forte do que a vossa, que já passaram por situações semelhantes/piores do que aquela que vocês lhe confidenciam, que têm sempre uma história melhor do que a vossa para contar, a propósito da história que lhe contam, que sofrem de dores excruciantes na cervical, se lhes dizem que estão com um torcicolo, que já tiveram trigémeos pelas orelhas, enquanto faziam o pino, se ousam contar-lhes sobre a vossa experiência de parto, que sangraram das mamas, a ponto de terem que levar uma transfusão, quando lhes contam que sofreram com a amamentação, que já conhecem há anos a receita exótica e inovadora que vocês querem experimentar, que já sofreram às mãos dos nazis, se lhes contam que foram alvo de furto.
E aquelas pessoas que vos contam como foi a vida no útero da mãe, se vocês lhes perguntam como estão, ou que insistem em dar-vos a receita de um bolo complicadíssimo, com gramas, tempos, temperaturas e qualidade da farinha, apenas porque vocês são amáveis e dizem que aquilo está bom.
Pessoas que não deixam ninguém fazer um brilharete, sem as ofuscarem com o seu próprio brilho inventado, ou não.
Devia existir uma maquineta que pudéssemos usar no bolso e desferisse descargas elétricas nas pessoas chatas como o pénis, que adoram retirar-vos o brilho.

putos

Há quem diga que depois de se ter filhos, passa a achar-se menos graça às crianças dos outros.
Comigo foi o oposto, pois, apesar de já não ter tanta paciência, passei a achar-lhes o dobro da piada, entendendo-os muito melhor do que antigamente e, confesso, valorizando os meus próprios filhos.
Se é um bebé tímido, que se enterra no pescoço da mãe assim que entra numa sala cheia de gente, não o pressionem. A melhor coisa que podem fazer por ele é ignorarem-no, sem stress.
Ele há de sair da sua casca e quanto menos o massacrarmos, mais rapidamente o fará, ao seu próprio ritmo.
Pobres putos tímidos que têm que levar com centenas de perguntas, festinhas, cutxi cutxis e pobres mães de putos tímidos que têm que justificar-se a cada instante pela falta de interesse do filho em entabular relacionamentos profundos com desconhecidos.
Eu tenho uma tímida (agora muito melhor), que enfiava a cabeça no meu rabo, de cada vez que entrava numa sala cheia de gente e um simpático ser sociável, que diz "bom dia e obrigado" a todas as empregadas das lojas. Saíram os dois da mesma mistura genética, eduquei-os da mesma forma, por isso, nada disto é contornável. Há feitios diferentes e há que olhar para os putos como pessoas pequenas e não seres homogéneos, mais ou menos todos iguais. Não podemos dirigir-nos a todos da mesma maneira e isso não é necessariamente mau. Aproveitamos para treinar as nossas próprias competências sociais :)