Para mim, a melhor parte de vocês, não foi as fraldas e as cólicas e os biberons, os babetes e os aviões com a colher de sopa.
Para mim, a melhor parte, se é que há melhores partes deste todo de ser mãe, não foram os choros, os banhos, as botinhas de lã que nunca chegaram a usar, ou as noites mal dormidas e o ovo no carro.
Para mim, a parte mais incrível nisto de vos ter, é poder partilhar as minhas coisas de criança convosco e reviver tudo pelos vossos olhos. É como renascer.
Não sei explicar isto que sinto, quando vejo de novo o ET com a Alice, ou quando lhe explico os Goonies e o barco pirata desse filme da minha infância.
Não sei colocar para fora a emoção de vos sentir crescer para o meu mundo. De vos ver na minha vida lá atrás e agora, aqui à frente.
Querer que sejam felizes onde eu fui e felizes onde não fui.
A Alice perguntou-me quem era aquele homem que cantava no rádio do carro e eu respondi-lhe que era a Tracy Chapman, uma mulher com voz poderosa, que conseguia enfiar centenas de palavras num único refrão e que eu ouvia quando tinha 13 anos.
E ela quis ouvir, porque eu ouvia quando tinha 13 anos, como se pudesse imaginar-me mais pequena.
Quando, digam-me, quando no raio das nossas vidas, nos sentiremos mais protagonistas do que isto?
Bem sei que depois o pano cai e eles percebem que somos apenas pessoas banais e repletas de defeitos e inseguranças. Há quem nunca recupere da decepção, há quem aprenda a construir novos heróis, há quem veja os pais a vida inteira como heróis. Só sei que, enquanto depender de mim, hei-de aproveitar cada segundo deste protagonismo de me viverem, como se fosse a coisa mais incrível do mundo.
Aquele filme ali em cima, é um filme que quero muito ver com ela e depois com ele. Um filme lindo e, como não poderia deixar de ser, baseado num livro de John Irving.Também já comprei a 30 Diabos da Enid Blyton e ando a controlar-me para não comprar já os volumes todos da Condessa de Segur.