Todas as mães têm um lado kodak (a sua alma descanse em paz), que insistem em mostrar a toda a gente, como se fosse apenas esse o lado da maternidade. E como se assim, se convencessem que é tudo idílico. Quando olham as fotos daqueles abraços e sorrisos, logo desfeitos numa birra, ou num grito, depois de o botão disparar, sentem que é perfeito, como ouviram dizer a todas as mães kodak, como tem que ser, como deve ser, como alguém escreveu em algum livro de regras sagrado. E escondem a mágoa, a frustração de não ser bem como todas dizem que é. Devem ser et's, vai daí não partilham o menos bom, não desmistificam, não normalizam a coisa. Acham-se más mães por se sentirem fartas de vez em quando, acham-se umas grandes vacas por darem tudo em troca de um fim de semana a dormir, sem tarefas, sem birras, sem obrigações, sem rotinas (confesso que esta faceta se torna mais evidente a partir do segundo filho) e não ousam partilhar aquilo que sentem. No entanto, vemos as veias a pulsarem nas suas testas e nas suas expressões aparentemente tranquilas e bem resolvidas.
Eu queria dizer às mães que atiram as queixas para dentro de um buraco solitário, que amo imensamente os meus filhos, mas que esse amor é tanto mais saudável, quanto eu puder partilhar as frustrações e cansaços com outras da minha espécie e sentir que não sou única, que não sou vaca, que não sou besta, nem uma mãe dos infernos, por gostar de desabafar.
É claro que nem todas as mães têm assim tantas queixas quanto isso, principalmente quando têm ajudas para descansar de vez em quando e é claro que há putos mais chatos do que outros (constato isso sempre que vou a um parque e fico a achar os meus babys uns santos na terra), mas menos perfeição é bom. A sério. É saudável e não é caro.
Outro dia apanhei uma fotografia tirada aos meus filhos, em que ele se desfazia em gritos e lágrimas, porque a irmã o esmigalhava num abraço para a fotografia e pensei nisto.
Aqui fica de novo este vídeo perfeito (este sim, perfeito:))