quinta-feira, 30 de abril de 2009

Até à minha Volta!



Pois é amigos quem já me lê há algum tempo sabe que amanhã dia 1 vou de viagem. Sei que também conhecem as minhas aventuras aéreas.
Desta vez para ajudar o meu estado de espírito eis que surge no mundo a gripe suína, ou porcina para os espanhóis. Aposto até que surgiu só para me deixar mais nervosa. Aeroportos seriam o último lugar do planeta ao qual me dirigiria em circunstâncias de alerta pandémico. Mas aqui vou eu numa incubadora de micróbios com asas chamada avião, passear-me por uma gigantesca sala de contaminação chamada aeroporto.
Espero que a pandemia não galope nestes 5 dias de ausência, que fique em stand-by até eu regressar para perto da minha filha e de vocês.
Até à minha volta!

Em Busca da Felicidade

Porque é que a maioria das pessoas tem que perder para valorizar?
Porque é que a dor é sempre maior que o bem estar?
Porque é que as memórias más tomam sempre mais do nosso tempo do que as boas?
Porque é que o sofrimento ultrapassa quase sempre a alegria?
Porque é que teimamos em buscar o impossível, quando o possível está mesmo aqui ao nosso lado?
Porque é que desejamos sempre ver o que está do outro lado da paisagem, quando a paisagem que nos envolve nos enche já as medidas?
Porque é que o que temos nunca é perfeito e o que os outros têm é sempre mais genial?
Porque é que quando vamos devagar queremos sempre ir mais depressa. Em vez de saborearmos a vista à nossa volta, queremos apenas chegar ali ao fundo?
Porque é que temos sempre um vazio por preencher, um vácuo em constante sobressalto, uma dor que parece nunca ir embora de verdade?
Muitas vezes dou por mim a desacelerar o tempo interior. A tentar olhar a paisagem em volta e não apenas a meta lá ao fundo. Pois sei que a felicidade é feita de pequenos momentos e andei tanto tempo enganada a pensar que pessoa feliz o era sempre, constantemente. Andei tão ocupada na busca dessa felicidade plena que me esqueci de olhar em volta e recolher os bons momentos, um a um. Para no final da minha vida poder juntá-los e concluir que fui feliz.

quarta-feira, 29 de abril de 2009

Quando os Funcionários Sabem Menos do que Nós

- Estou, olhe queria fazer uma reclamação.
- Eu estou a falar com quem?
- Ana C.
- E em que posso ser útil?
- Eu tinha mudado da PT para a Netcabo, entretanto ligou-me um comercial da PT com uma oferta melhor e.........
Enfim desbobino a longa e interminável saga com detalhes, datas, recibos, telefonemas. No final do relatório verbal que cuspi cá para fora:
- Só um momento que vou passar a sua ligação.
Aguardo ao som da sinfonia Dá-me Música que eu Gosto.
- Eu estou a falar com quem?
Penso para mim hás-de ter muito com isso.
- Em que posso ser útil?
E eu repito a história já com alguns esquecimentos e nuances novas pelo meio. No final:
- Só um momento que vou passá-la para outro departamento...
Volto a repetir a história com uma grande vontade de inserir uns palavrões para colorir melhor a narrativa aparentemente sem solução.
Como é evidente o problema é que ninguém sabe como resolver o problema. Escrevemos cartas, mandamos faxes, vamos pessoalmente à PT, toda a gente diz que tudo bem, a reclamação foi atendida e que vai ser examinada e que isto e que aquilo. Nós esperamos. Esperamos o pior é claro.
Passados uns meses recebemos uma carta de uma advogada. A nossa dívida à PT iria para tribunal.
Conhecendo os meandros burocráticos deste país e sabendo de antemão que quem se lixa sempre é o mexilhão, por muita razão que tenha. Toca de ir à DECO.
Passado um mês carta da PT com um pedido de desculpas formal às nossas pessoas.
No meio de tudo isto a DECO funcionou bem. Mas e quem não conhece os seus direitos? Quem se deixa afogar nas exigências de cartas, faxes, reclamações por escrito, por telegrama, por pombo correio, com caneta cor de rosa nas três primeiras linhas, azul bebé nas duas últimas, papel timbrado. Quem se deixa enganar por aquelas pessoas geniais do outro lado do telefone que com a voz mais firme e segura deste mundo respondem sempre, mesmo quando não fazem ideia do que lhes estamos a perguntar. Ainda que não seja a resposta certa, o que importa é dizer qualquer alarvidade para sossegar o mexilhão. Mal por mal, se o cliente voltar a ligar nunca apanha o mesmo funcionário. Por isso, que mal pode acontecer em dar uma informaçãozita errada, ou duas?

Cabelinhos Playmobil



Mas o que é que se passa com os putos de hoje? Quem é que lançou a moda destes cabelos penteados de lado com a franja sobre um lado do rosto, tal e qual um capacete que eles vão moldando à força de secador.
Sou só eu que reparo que os miúdos estão cada vez mais vaidosos? E este estilo, meu Deus, isto agradará mesmo às raparigas? É que elas estão sujeitas a levar uma cabeçada violenta de cada vez que eles atiram a franja para trás como cavalos. Deve ser uma regra de código não poderem usar as mãos para afastar as melenas dos olhos.
Estes putos irritam-me tanto que de cada vez que um exemplar destes fica à minha frente numa fila tenho que me controlar para não lançar as mãos naqueles cabelos impecáveis e despenteá-los todos.
Eu sei onde é que surgiu a inspiração para este look, sem ofensa para os Playmobil, mas o sonho deles era mesmo arranjar um cabelinho duro que não mexesse, tal como o destes bonequinhos.

terça-feira, 28 de abril de 2009

Mais Odores

A propósito de odores. Nunca abriram uma daquelas latinhas de comida para cão?
Eu queria saber se é só a mim que me dá uma vontade descontrolada de ir buscar as bolachinhas de água e sal e barrá-las com aquilo que parece um paté Gourmet.

O Nariz Também Engana

Comprei um detergente para a roupa com cheiro a flor de camomila. Quando fui tirar a roupa da máquina só me apetecia beber a roupa....
Só falta inventarem um com cheiro a scones e tenho o lanche feito.

O Fetiche Napron


Ora aqui está outra coisa que nunca entendi. O fetiche pelo napron. O que é que um pedaço de pano rendado tem de tão mágico para ser distribuído pela casa com uma obsessão quase doentia.
Lembro-me de um episódio que me traumatizou para sempre no que diz respeito a esta arte da renda. Um episódio que até hoje povoa os meus pesadelos mais secretos:
Devia ter uns 11 anos e fui lanchar a casa de uma colega cuja mãe tinha um destes fetiches. Eles estavam distribuídos no encosto do sofá, provavelmente para absorverem o sebo capilar. Sobre a televisão com um orgulho desmedido, pois em cima do napron televisivo repousavam duas dezenas de pequenos bonecos de cristal todos ofuscantes de brilho. Será que alguém via de facto a programação televisiva com aqueles bonequinhos que pareciam prontos a saltar dali e dançar a qualquer instante?
Sobre as cadeiras que rodeavam a mesa de jantar jaziam frias e inertes umas almofadas com fronhas de napron. Sobre a mesa a suportar o peso de uma fruteira de cristal, ali estava ele, o típico napron sobre-mesa.
O próprio quarto da minha colega estava polvilhado de naprons e almofadinhas a condizer, já para não falar nas centenas de peluches, mas esse é já um outro fetiche...
Quando eu pensei que não podia piorar, que já tinha visto naprons que davam para uma vida inteira, decidi ir à casa de banho e horror dos horrores. Pesadelo dos pesadelos. A casa de banho era um napron. A mãe da minha colega tinha feito uma capa à medida para o tampo da sanita.Não contente tinha elaborado também uma cobertura para a caixa do autoclismo, deixando de fora apenas o manípulo. A envolver o papel higiénico uma capinha de renda maravilhosa. As toalhas eram finalizadas por uma renda de napron. Para dar o toque final, havia um daqueles tapetes que servem para absorver o pingo debaixo da sanita, rematado a napron.
A mulher devia andar a aprender aquela arte com uma velocidade furiosa, testemunhas disso eram as revistas de bordados e afins espojadas num cestinho da casa de banho. O que me levou a concluir que a maioria das suas ideias criativas surgiam no poleiro (e porque é que isso não me surpreendeu).
Por tudo isto tenho a mais firme certeza que se voltasse lá hoje, passados mais de 20anos, a própria casa estaria envolta numa gigante toalha de renda, com os buraquinhos para as janelas e a família dela envergaria apenas roupa a condizer.

segunda-feira, 27 de abril de 2009

Coração Apertado

Porque é que desde que fui mãe me preocupo muito mais com coisas como a gripe suína? Se me perguntassem se estava alarmada quando era só eu na equação das preocupações, soltaria uma gargalhada. Mas agora existe ela e tudo, mas mesmo tudo toma proporções que não estavam lá antes.
O mundo é um sítio melhor desde que a Alice nasceu, mas o coração aperta-se em proporção directa com o tamanho do amor que lhe tenho.

Episódios da Vida Familiar

A minha filha acabou de entrar aqui no escritório. Tem a cabeça envolta em quilómetros de papel higiénico que continua a desenrolar no caminho até aqui, pois esqueceu-se de o cortar depois de elaborar o que me parece ser um chapéu.
- O que é que é isso?!!!!! Pergunto eu fora de mim.
- É simples mãe.
- Simples?!!!! - Estou dividida entre o riso e o ataque de nervos.
- É para andar de mota.
O riso vence.

Mais um Trauma de Viagem

E com o aproximar da minha partida para Estocolmo regressam à minha memória todas as minhas aventuras, ou desventuras de aeroporto. Que é como quem diz, traumas de viagem.
Antes do trauma do avião da Air Alps. Um outro bem mais pesado povoa a minha caixa negra de memórias:
A minha família esteve a viver 3 anos em Virginia Beach, por isso todas as oportunidades que tinha de os ir visitar, lá estava eu a caminho. Mas pela primeira vez não ia sozinha, comigo iria o Hugo. Adepto das poupanças, tinha sugerido um voo bem mais barato pela Lufthansa. Lisboa/Frankfurt - Frankfurt/NY - NY/Norfolk. Entre escalas e esperas, passaríamos cerca de 20 horas em trânsito.
Saímos de casa às 6 da manhã e sou acometida por uma forte dor no abdómen (que termo belo). o Hugo pensa que são cólicas de nervos, mas eu sei que não são. Sei perfeitamente distinguir as dores de nervos e as dores de qualquer coisa pior. Nem consegui fazer o Check-In, assim que pouso o passaporte e os bilhetes no balcão corro para a casa de banho, o que passa a acontecer de 5 em 5 minutos. Eu só queria poder estender um saco cama no chão dos lavabos. Chegada lá com o que parece ser uma explosão de entranhas, nada, não faço nada. Só dores, dores absolutamente indescritíveis. Digo que já não quero ir, que não estou bem, que não sei como vou aguentar tantas horas enfiada em aviões naquele estado. Sou ignorada e arrastada para dentro do avião. São nervos diz-me o Hugo (onde é que já ouvi este ignorar das minhas súplicas?)
Só para terem uma ideia. Eu que só vou à casa de banho dos aviões quando estou mesmo a rebentar, pois tenho sempre a mania que o avião vai cair comigo naquela sanita ridícula. Passei a viagem de Lisboa para Frankfurt praticamente lá dentro. Naquele ponto de exaustão, o avião despenhar-se cá em baixo era considerado uma dádiva que poria fim ao meu sofrimento.
Quando chegámos finalmente a território americano devo ter saído do avião com menos 10 quilos. Até hoje estou convencida que tive uma apendicite agudíssima, vencida à custa de chá e pão duro. A única coisa que consegui engolir durante as 20 looooongas horas de viagem... E até hoje toda a gente me diz que foram nervos.

domingo, 26 de abril de 2009

Ódios de Estimação (desabafo nº7 )

Porque é que quando se dá um acidente na faixa de rodagem em sentido contrário da nossa se forma exactamente a mesma fila do que no lado em que o carro espatifado se encontra?
Pelo amor de Deus se há coisa que me enerva, mas mesmo a sério. Ao ponto de o meu carro sobreaquecer e tudo com o gasoso que me dá é descobrir que aquela fila infernal em que fiquei presa se deve única e exclusivamente ao facto dos mirones abrandarem para verem o acidente. Para indagarem se há mortos, feridos graves, pernas decepadas, com um bocadinho de sorte talvez consigam ver os miolos fumegantes no alcatrão. Aí sim terão ganho o dia. Depois metem prego a fundo e prosseguem nas suas barbaridades automobilísticas. Sim, porque terem visto o acidente em nada contribui para irem com um bocadinho mais de cuidado.

Não é Preciso Muito Para me Sentir Estupidamente Arrebatada

Este fim de semana não sei se andaste a ler os meus desabafos por estas bandas, ou se simplesmente decidiste ver o mundo um bocadinho mais cor-de-rosa, mas tens sido perfeito. Parece que nos conhecemos apenas há uns dias atrás e que ainda me queres conquistar.
Ontem quando disse que me apetecia sopa de tomate, fui dar contigo na cozinha a seguir a receita da Bimby. Hoje quando, com os olhos colados de sono gemi para ires fazer o pequeno-almoço para a nossa filha, não demoraste mais do que cinco minutos a descer e dez minutos a regressar ao quarto de tabuleiro em punho com o pequeno-almoço para três. Agora mesmo enquanto escrevo, estás na cozinha a arrumar as compras do supermercado. Mais do que uma vez dei contigo a olhares para mim daquela maneira que me faz sentir estupidamente única e sim, também olhei para ti dessa maneira.
O que quer que tenha acontecido, ainda que tenhas batido com a cabeça por acidente na mesinha-de-cabeceira por favor não pares. Estou a adorar...

Moderação de Comentários

Sei que vou falar "contra" quase todos os meus blogs de eleição. Mas eu tenho que vos fazer esta pergunta:
Porque é que moderam os comentários? É que só me faz lembrar a ida à censura.
Compreendo quando certos blogs começam a receber comentários anónimos e por uma questão de bom senso decidem filtrar os insultos. Agora os vossos queridos blogs, inofensivos, de um bairro tão pacato, onde ainda não se trancam as portas à noite? Porquê?
É um fenómeno que há muito tempo me deixa curiosa. Por isso vos peço a vocês queridos moderadores e companheiros de blogosfera, se assim o desejarem, que me esclareçam acerca desta minha dúvidazinha...

sábado, 25 de abril de 2009

O (Nosso) Moinho



Tinha prometido à Socas que mostrava aqui o nosso moinho português, em concorrência com os holandeses.
Foi comprado há mais de 20 anos pela minha tia Teresa e o meu tio Charles, tio que trouxe uma costela suíça à família e muito queijo.
Na altura em que foi comprado não passava de uma ruína, mas depois de 20 anos, sim ouviram bem, 20 anos de trabalho exaustivo, pedra a pedra, peça a peça, madeira a madeira, o meu tio com a precisão de um relógio suíço, transformou-o num local bem agradável para se passar um fim de semana romântico, ou aventureiro.
Tem tudo o que é preciso, desde cozinha, a casa de banho. Só não tem televisão, pois ele acha que naquele sítio, com vista até às Berlengas, não se vai para se ver televisão, mas sim para se ouvir o silêncio. Ou quanto a mim, o vento que há para dar e vender. Se não fosse assim, não estava lá um moinho de vento...

sexta-feira, 24 de abril de 2009

Acredita Sempre

Minha filha:
Queria que soubesses que, apesar da história do Príncipe Encantado, a tua mãe acredita no amor.
Não confundas as coisas. O amor existe sim, é feito de um material raro, daqueles que só se encontram nos confins da terra, depois de muitas buscas em vão, até o filão ser descoberto. Depois de o encontrares vais ter que acabar de o construir com a paciência dos que não desistem das coisas difíceis.
O amor é como um pedaço de pedra em bruto que espera pelo seu escultor. Pelas duas mãos que farão dela uma obra de arte. Para cada pedaço de pedra existem dois pares de mãos que a saberão esculpir. Tu serás a escultora de um amor que te aguarda algures neste pedaço de mundo, tenho a certeza disso.
Provavelmente falharás, andarás a tentar fazer obras de arte de um pedaço que não te cabe a ti esculpires. Mas será ao falhares que aprenderás a reconhecer o amor verdadeiro quando o encontrares e será ao olhares as cicatrizes que ficaram gravadas na pedra, que saberás que não voltarás ali.
Cada face que talhares, será como uma dor que vos obrigará a largarem pequenos pedacinhos. Se os pedaços que tiverem que ser preteridos forem demasiados grandes, dolorosos. Então esse amor não está certo. Porque ninguém que nos ame de verdade, quererá que sejamos diferentes do que somos.
Se os pedaços forem facilmente preteríveis. Se sentires que não ficarás menos tu. Que estarás apenas a largar coisas menos boas, como um bocadinho de egoísmo, ciúme, insegurança, para que surja a escultura final. Estarás ao lado de alguém que não te quer menos tu, quer-te sim, uma pessoa melhor. E aí terás descoberto o teu filão.
Não tentes esconder as cicatrizes que ficaram de amores falhados, pois elas estão ali para te mostrar que na vida se erra, mas que são esses erros que nos ensinam o caminho de volta.
Por tudo isto minha filha acredita que também tu escreverás um dia a tua história. Mas como todas as grandes histórias, não será repleta de facilidades. Envolverá muito do seu escritor, muito empenho, dedicação, luta e será isso que fará dessa história a tua obra de arte.

quinta-feira, 23 de abril de 2009

Ódios de Estimação (Desabafo número 6)

Homens que beliscam os tomates. Sim, ouviram bem, beliscam não coçam, não ajeitam, não confortam, não envolvem. Apenas beliscam rápida e, pensam eles, discretamente.
Acompanhados de um abrir de perna supersónico depois do beliscão.
Pensarão vocês que não vos topamos? Que não imaginamos logo uma fileira de carrapatos a subirem-vos pelas pernas acima até à meta?
Arranjem lá outra maneira de aliviar a micose, porque esta meus queridos ainda inflama mais, quanto mais não seja, os nossos olhos.

O Príncipe Encantado


Ontem entrei numa livraria com a minha filha e fomos à secção infantil. Ela pegou num livro qualquer com princesas na capa e perguntou-me: Mãe este é giro?
Olhei o título do livro, incrédula e li-o duas vezes só para ter a certeza de que era mesmo um livro infantil e não um romance escaldante da Corin Tellado:
"Vou Casar Com o Meu Príncipe Amado". Não filha, ainda és muito pequena para este. Vamos ali ver os livros do Saramago que sempre são mais para a tua idade.
E assim se começa desde o berço a lavagem cerebral no sentido do príncipe encantado. Como é difícil criar uma filha longe dos cavaleiros andantes que aparecem para amar a sua donzela e são felizes para sempre, numa perfeição sem limites. Como é difícil não construir expectativas irreais no meio de tanta lavagem cerebral infanto-juvenil-adulta.
Se ao menos as histórias continuassem depois do Felizes Para Sempre. Elas veriam o príncipe desmazelado em casa, a dar arrotos depois do almoço, a coçar o umbigo, a deixar a roupa suja espalhada, mas não elas terminam bem ali, antes deles irem viver juntos.
Mas quando pensávamos que não podia piorar, eis que surge a verdadeira praga da lavagem cerebral (da qual confesso eu própria fui vítima): Toda a categoria de filmes no sentido de promover o príncipe. As conversas, as primeiras noites sempre fantásticas, cheias de gritos, arranhões e prazer desmedido.
As expectativas são tão, mas tão elevadas que só podem dar lugar ao divórcio, ou à infelicidade conjugal, ao exigir sempre do parceiro que seja como o Richard Gere e que nos veja como a Julia Roberts que de prostituta passou a mulher de sonho.
Alguém tem que dizer às nossas jovens que a primeira vez nunca é de gritos, é mais como um par de sapatos novos que na primeira caminhada nos lixam os pés todos, mas à medida que se vão fazendo ao pé, já não queremos outra coisa.
Alguém diz às nossas jovens que nenhum homem adivinha os mais íntimos desejos de uma mulher. Que muitas vezes temos que lhes dizer o que queremos com um cartaz à porta de casa, mas que isso não tem que ser uma coisa má.
Alguém diz às nossas jovens que não há homens perfeitos e que entre um tipo que nos oferece flores todos os dias com um sorriso colgate e um tipo íntegro que nos saiba ouvir e respeitar, o segundo é bem mais valioso que o primeiro.
E depois há uma coisa que sempre me fez uma certa espécie: Porque raio é que não há livros em que as princesas vão salvar os homens em apuros? Isto sim estaria bem mais próximo da realidade :)

quarta-feira, 22 de abril de 2009

Fio Dental ou Nem Por Isso

Eu sei que provavelmente vou deixar muitas pessoas indignadas. Mas mesmo assim vou ousar perguntar e atirem-me ovos se quiserem:
Como é que são capazes de usar cueca-fio-dental?
Eu já sei que não vincam, que não se notam, que são sexys que se farta, que são praticamente invisíveis. Esta última característica não é de estranhar, uma vez que estão escondidas onde o sol não brilha, mas todas essas vantagens superarão o desconforto de ter um fio com nome de apetrecho de higiene oral enfiado ali, logo ali? Não vos dá vontade de andarem sempre com a mão no traseiro a tentar retirar o dito fio para limparem os restos de azeitona que teimaram em permanecer na dentadura?
Mas o que me transcende a cem por cento, mil vezes mais do que a cueca rendada e quase invisível feminina, é o equivalente para homem. Já vi em mais do que uma loja essa coisa repugnante, com motivos de zebra e tigradas, em cetim, brilhantes e sei lá mais o quê.
Sinceramente homens deste Portugal, se eu visse um senhor naquilo fugia até ao sol posto e só parava quando a visão dos infernos se esfumasse dos meus olhos.
Vão por mim, não adiram à moda. Um boxer, será sempre um boxer (de preferência sem desenhos de ursinhos claro). É como a cor preta. Cai sempre bem.

Perguntinha de última hora: E como é que se dobram cuecas fio dental?

terça-feira, 21 de abril de 2009

Tiros na Escuridão

4 da manhã. Tínhamos mudado para esta casa há cerca de 2 meses. Dormíamos profundamente. De repente vindos da escuridão oiço não um, não dois, mas 3 tiros a trespassarem qualquer coisa de metal. Quase caio da cama e grito para o Hugo:
- Liga à polícia Já!
A primeira coisa que faço é correr para o quarto da Alice. Ela dorme sossegadamente.
Depois de acender as luzes todas para o exterior e de me afastar das janelas, quase a andar de gatas como nas trincheiras, regresso ao quarto e sem olhar para o Hugo:
- Já ligaste?
Não queria acreditar quando percebo que ele continua a dormir. Eu tremo por todos os lados, em pânico, a voz engasgada. Ele dorme.
- Acorda!!!! Não ouviste os tiros?????
- Deves ter sonhado. Vá, deita-te.
Pego no telefone para ligar para a polícia.
- Mas como é que sabes a que é soam tiros? Alguma vez ouviste algum?
Acho que pior do que os tiros é aquela reacção impávida.
- Porra eu ouvi tiros!!!!! Levanta-te faz qualquer coisa!!!!
- Não vês que deves ter sonhado? Volta para a cama, amanhã tenho que acordar cedo. Adoras delirar.
Eu continuo de rastos, a minha vontade é dormir no chão. O meu coração bate com tanta força que parece querer sair disparado pela boca.
- Volta para a cama, já me estás a assustar.
- Eu é que já te estou a assustar? Olha para mim, vou desmaiar. Eu ouvi tiros aqui no jardim. Ouvi, ouvi, ouvi!
Hugo vira-se para o outro lado e cai num sono profundo. Eu passo a noite inteira desperta, à espera de ouvir tiros na escuridão. Como nas trincheiras de um cenário de guerra.
Amanhece finalmente. Ele levanta-se para ir trabalhar.
- Quando saíres procura cartuchos no jardim e vestígios de balas.
Ele dá-me um beijo paternalista.
- Essa cabecinha sonhadora.
- Isto parece um daqueles filmes em que alguém tenta dizer uma coisa e ninguém acredita.
Ele sai para o trabalho. Deduzo que não tenha encontrado nada, pois teria voltado atrás para me dizer. Aqui a Ana sai mais tarde de carro com a Alice e quando está a fazer marcha-atrás para sair de casa e passa pelo portão de metal. Ali estão eles. 3 buracos de bala cravados no nosso portão. Meto primeira, enfio o carro na garagem e ligo para a polícia. Quando o Hugo chegou a casa tínhamos o CSI Lisboa no nosso jardim e dois inspectores da PJ.
Não eu não moro perto de nenhum bairro problemático. Moro em Cascais. E o meu marido nunca esteve tão perto de levar com o rolo da massa no meio da testa, como esteve nessa tarde em que regressou a casa.

segunda-feira, 20 de abril de 2009

Ódios de Estimação (desabafo número 5)

Etiquetas de roupa. Daquelas que parecem tratados. Ou melhor bíblias. Não melhor, livros de cozinha, daqueles bem extensos cheios de receitas que não interessam a ninguém.
Porque é que têm que anexar à roupa folhas, resmas de etiquetas que picam, incomodam, perturbam, arranham, irritam?
E depois quando se corta é pior, ficam as arestas que quase nos decepam. Tentamos limar as arestas e acabamos com a roupa esburacada.
Por favor senhores-que-inventaram-a-mega-etiqueta, não dá para meterem a informação toda num tamanho XS? Afinal de contas é só escrever Made In China.

Diamonds are a Girl´s Best Friend


Porque é que a letra desta música nunca me disse rigorosamente nada?
Talvez por eu ser um bocadinho atípica. Apesar de ser mulher, as jóias nunca me tiraram do sério. Seria incapaz de gastar milhares de euros numa jóia. Ou de ter uma jóia de milhares de euros e nunca a usar com medo que me lançassem mão ao gasganete para me roubarem a gargantilha de diamantes.
Entendo o valor sentimental que algumas peças têm. Aquelas que se herdam de um ente querido e das quais não conseguimos desfazer-nos. Mas mais do que isso não.
Passo na montra de uma joelharia com a mesma indiferença com que passo pela montra de uma drogaria.
Um bom relógio, daqueles que duram uma vida, mas que uso todos os dias talvez fosse capaz de me tentar.
Agora brincos, colares, pulseiras, tiaras que se atiram para dentro de um cofre como as jóias da coroa? Prefiro ir à Pedra Dura e comprar bijuteria de qualidade que sempre se poupa uns tostões e faz o mesmo efeito.
Mas isto sou eu claro sem o fascínio pelo brilho do diamante e bruta como as casas.

Viver de Amor

Continuar a gostar da tua companhia mesmo quando a rotina se instala sem dó nem piedade.
Continuar a rir-me das tuas piadas, mesmo quando temos que rir mais baixinho porque ela está a dormir.
Continuar a não levar a mal ter que te repetir tudo dez vezes.
Continuar a desejar que te vás deitar quando eu vou, mesmo que não me importe que não vás.
Continuar a comover-me de cada vez que te vejo com a nossa filha, mesmo quando enchem a casa de barulho. É um barulho bom.
Continuar a achar que o melhor momento do dia é quando chegas a casa do trabalho, mesmo quando vens mais desanimado.
Continuar a sentir-me em casa quando estou contigo, mesmo que estejamos no meio de lugar nenhum.
Continuar a dar-te a mão quando passeamos na rua, mesmo quando está calor e as mãos parecem colar-se.
Continuar a querer proteger-te da dor, mesmo quando a única coisa que posso fazer é não dizer nada.
Continuar a sentir que fazemos sentido, mesmo quando parecemos não fazer sentido nenhum.
É tudo isso que me faz acreditar que o amor segura. Que o amor cola os pedaços que teimam em soltar-se de vez em quando.
O amor não sobrevive por si só, mas que ajuda, ajuda.

domingo, 19 de abril de 2009

À Beira da Falência de Valores

Por ano cerca de 80 crianças adoptadas são devolvidas à procedência durante o período experimental. Tal como uma peça de roupa que podemos ir trocar se chegarmos a casa e sentirmos que não nos cai tão bem como na loja, ou um carro que venha com defeito de fabrico, um fogão que não cozinhe tão bem como estava publicitado. Assim se devolvem crianças.
Chamem-me parva, mas para mim quem adopta tem que adoptar de coração aberto, disposto a aceitar a criança como um filho natural. Se não, por favor, deixem-se estar quietinhos, pois não têm espírito de adopção. Não inventem por favor.
De entre os motivos fúteis da lista de trocas, deparei-me com um que me deixou à beira da apoplexia. Um casal que devolveu a criança por esta não se dar bem com o cão que eles já tinham.
Para além de dispensar palavras, pois penso que todos vocês tenham sentido o mesmo que eu. Leva-me à questão dos animais, ou melhor, dos malucos dos animais, que os tratam como pessoas, de igual para igual.
Apesar de saber que há animais melhores do que certas pessoas. Há uma barreira que quando é atravessada, dá lugar aos fanatismos, à desumanização, ao distanciamento de valores que considero fundamentais para que não se caia num mundo sem alma.
Quando vejo gastar-se rios de dinheiro em acessórios para cães, roupas, ganchos, cabeleireiros, comida com caviar, hotéis com spa. Quando vejo pessoas conversarem com os animais melhor do que conversam com os outros penso sinceramente que o ser humano, enquanto indivíduo está à beira da falência. E fico triste.

sábado, 18 de abril de 2009

Quando Eles Vão às Compras com Elas...

Porquê mulheres de Portugal. Porque é que continuam a insistir em ir às compras com eles? É a minha pergunta do dia.
Quando elas se passeiam indiferentes ao olhar vermelho, quase enlouquecido do homem que empurra o carrinho do filho que grita eu volto a perguntar: Porquê?
Depois discutem, lançam ameaças, elevam a voz. O bebé continua transtornado pela música da loja, pelo ambiente de domingo no Centro Comercial. Os dois insultam-se a céu aberto. Ela com uma pilha de roupa sobre o braço, ele com vontade de a fazer engolir cada peça de vestuário, continuam a gritar, a olharem-se como duas feras numa luta pela vida. Quando vejo estes casais penso que é o fim da linha. Ali já só há ódio, desprezo, daqueles que não saem nem com uma esfregona. O ódio pelo bicho fémea e a pergunta inevitável: Porque é que um homem tem que estar com uma mulher quando seria bem mais feliz com outro homem?
O Hugo não é bem dos que ficam com olhar esgazeado, mas cola-se a mim como uma sombra. Dou um passo, ele dá um passo. Viro-me para trás, ele respira no meu pescoço. Estou até hoje para perceber se é uma manobra subtil para me cansar antes de tempo, ou se é apenas ele que gosta de estar perto de mim. Prefiro acreditar na última. Até porque eu não sou uma típica mulher de compras. Geralmente sei o que quero e odeio perder tempo a experimentar quilos de roupa. Ele tem muita sorte mesmo...

sexta-feira, 17 de abril de 2009

Um Segundo de Nós

Queria poder dizer-te que todas as fases pelas quais passaste foram igualmente mágicas e à sua maneira foram, é claro que foram. Mas a tua idade agora. Já sem as preocupações de bebé pequeno, nem os choros desesperantes, nem a minha falta de compreensão para os justificar. A tua idade agora é a idade que mais se imprimiu no meu coração. Tem sido a idade em que nos entendemos de uma forma para além das palavras.
Sei exactamente o que aquele teu olhar significa e tu sabes quando sorrio com os olhos, ou quando te repreendo com uma simples expressão do meu rosto.
Adoro as tuas perguntas sobre tudo o que te apoquenta e adoro poder sempre responder-te com a verdade pintada das cores que forem precisas para que melhor entendas.
Adoro quando interrompes o meu abraço com o teu pai e furas entre as nossas pernas, com os teus pequenos braços, querendo participar daquilo, dizendo: "Família, que felicidade".
Adoro a maneira como mexes no teu cabelo, num gesto já tão feminino. Adoro a maneira como tocas nos meus cabelos para os deixares escorregar entre os teus dedos.
Sinto-me tão tua e sinto-te tão minha que tento agarrar estes momentos com as duas mãos e colocá-los em lugar seguro, tento não perder um segundo de nós, pois sei que em breve te desprenderás mais um bocadinho de mim e eu tenho que te guardar bem aqui dentro, para me lembrar que já fomos assim...

Uma Pergunta...


E agora uma pergunta:
Alguém me sabe responder se é assim que MFL tenciona actuar na área da prevenção rodoviária? É assim que pensa contribuir para as estatísticas dos acidentes de automóvel? E logo em plena Operação Páscoa 2009????
Ia eu a conduzir placidamente o meu carro, a ouvir a minha ópera, com a minha filha na cadeirinha a mandar vir comigo quando me surge este Tiranossaurus-Rex no meio dos arbustos. Emboscado certamente para apanhar os condutores mais distraídos. Guinei o volante numa tentativa desesperada para fugir ao embuste, consegui evitar a colisão com um poste de electricidade, com uma árvore de pequeno porte, com um carro que vinha em sentido contrário e antes de retomar à minha via, com o coração acelerado, a vista toldada pela adrenalina, arranjo tempo para olhar para trás e ali estava ela, a fitar-me como uma predadora e com um meio sorriso sinistro...

quinta-feira, 16 de abril de 2009

Meet Bo Black


Eu sabia que éramos ridículos, mas nunca imaginei que o fossemos a este ponto. Ao ponto do ridículo daqueles que rebentam a escala.
Temos um português na Casa Branca! O melhor amigo do Obama é um português, ele corre com Obama, ele salta com Obama e com a sua família. Está mais próximo do homem mais poderoso do mundo do que os próprios guarda-costas, quem sabe não dorme aos pés do Obama! E assim se abrem noticiários, se fazem capas de jornais. Só que o português na Casa Branca é um cão.
Estamos desesperados a este ponto sim.
Imaginam vocês os alemães eufóricos a engasgarem-se com salsichas de Frankfurt se ele se tivesse decidido por um Pastor Alemão? Ou se a escolha dele tivesse recaído sobre um Setter Irlandês, já estou a ver os irlandeses a brindarem com cerveja preta e tudo a esse grande feito que é meter um cão na Sala Oval.
Mérito seja feito ao Obama. Ele tem um certo estilo a correr pelos jardins com o seu cão-de-água tuga. Já tentaram imaginar o nosso Aníbal com a Maria a saltarem pelos jardins de Belém com um cão pela trela? Não, pois não? Bem me parecia...

O Amor É...

A Joaníssima deu um mote irresistível e senti-me quase impelida a continuar a frase: O AMOR É...
O amor é ter a tua mão dentro da minha para que te sintas protegida do mundo.
O amor é sentir os teus pés frios quando entras na nossa cama e estender-te os meus para que te aqueças.
O amor é adormeceres junto a mim e respirares sobre o meu rosto, fazendo-me acreditar que há momentos perfeitos.
O amor é ver-te quando não me vês e sorrir porque continuo a sentir o mesmo encantamento.
O amor é recuar quando a minha vontade é avançar, só para te dar espaço.
O amor é o calor que permanece na nossa cama quando te levantas.
O amor é a voz pequena e frágil que me cumprimenta todas as manhãs e me faz esquecer que é cedo demais para acordar.
O amor é sentir que me beijas todas as noites, mesmo quando eu já estou adormecida.
O amor é ter vontade de regressar para junto de ti quando o mundo desaba.
O amor é ter vontade de celebrar nos teus braços uma vitória.
O amor é sentir-me importante dentro da minha pouca importância.
O amor é dar valor ao que não valorizava, relativizar o que antes dramatizava.
O amor é o silêncio que não incomoda, ou as palavras que nunca nos cansam.
O amor é sentirmos que todo o caminho que trilhámos até agora faz finalmente sentido.
O amor é dar a vida por alguém sem que isso tenha nada de heróico, pois simplesmente não nos imaginamos num mundo onde esse alguém não habite.
O amor é tão mais do que isto, mas é assim que o sinto todos os dias...

quarta-feira, 15 de abril de 2009

Ódios de Estimação (desabafo número 4)

Perfumes enjoativos. Daqueles que as velhotas de 80 anos usam para se sentirem mais vivas. Daqueles que acordam um morto. Daqueles que passam por nós e nos deixam envoltos numa nuvem de enjoo durante horas. Daqueles que se nos apanham no metro, lado a lado, nos fazem cair inanimados uma vida inteira. Daqueles que ficam colados às nossas roupas só por passarem de raspão. Daqueles tão, mas tão intensos que parecem brotar do hálito da mulher que tomou banho nos seus borrifos.
Quando é assim só há uma solução possível. A única capaz de nos resgatar da náusea: Largar um peido.

Uma Mãe Será Sempre uma Mãe

Lá porque a minha mãe espreita o meu blog não é por isso que vou deixar de escrever sobre ela. Afinal de contas é uma personagem digna de nota, como todas as mães do mundo.
Esqueçam tudo o que pensam que sabem sobre freeks da limpeza. Porque tudo o que já possam ter lido, ou visto em algum lugar não chegará nunca ao patamar do que a minha mãe considera limpo.
Se estou sentada na cozinha lá de casa a beber um copo com água, basta-me pousar o copo por breves instantes, segundos apenas, que quando me viro para lhe voltar a pegar, o copo já desapareceu para dentro da máquina de forma silenciosa e misteriosa.
Ainda mal terminei a refeição, já o prato e tudo o que o rodeava foi varrido da superfície da terra a uma velocidade acima do cagajésimo de segundo. Nem tenho tempo de cruzar os talheres. Por vezes sinto que se não tiver cuidado, ela me envolve em papel aderente e armazena-me na prateleira dos frescos, mesmo ao lado das saladas no frigorífico.
Quando era pequena lembro-me do mistério que envolvia o desaparecimento dos meus brinquedos para um qualquer lugar de onde nunca mais regressavam. Só mais tarde percebi que esse lugar escuro e frio, longe de mim, mais não era do que o contentor do lixo, bem mais acolhedor para bonecos sujos e velhos.
À medida que os anos foram passando fui-me resignando ao facto de que a mania nunca iria passar, mas como já não vivíamos na mesma casa, tudo se tornou perfeitamente tolerável. Aceitei-a, tal como ela me aceitou a mim com todas as minhas casmurrices, maus humores e afins.
Até ao dia em que... Até me custa contar isto. Mas até ao dia em que descobri que o vestido de noiva que lhe pedira para mandar limpar e guardar em casa dela, tinha levado o mesmo destino que os brinquedos da minha infância.
Com o sorriso mais plácido do mundo e o ar mais natural que um rosto pode expressar respondeu-me, quando inquirida sobre o mesmo:
- Para que é que o querias guardar? Não tencionas voltar a casar, pois não?
Acho que pela primeira vez na minha vida fiquei sem resposta.

terça-feira, 14 de abril de 2009

A Arte

A propósito do meu último post, surgiu uma pequena troca de ideias que me pôs a pensar no conceito de arte. E cheguei à conclusão que ao longo dos anos se tem vindo a banalizar esta palavra.
Hoje em dia tudo pode ser chamado de arte e qualquer paspalho apelidado de artista. Com a frenética liberalização de tudo o que mexe, também se liberalizaram palavras.
Já sei que é um conceito profundamente subjectivo e o que é Arte para uns, não significa nada para outros.
Mas para mim, em toda a minha subjectividade/ignorância, a arte tem que me comover. Tem que me fazer pensar: Como é que este tipo conseguiu pintar isto? Como é que conseguiu dar a sensação de luz, de tristeza, de emoção, apenas com um pincel e tintas?
Arte para mim tem que me fazer dizer: Nem num milhão de anos seria capaz de fazer isto.
O mesmo se aplica à arquitectura. Se caminho numa rua entre edifícios que me fazem parar, apreciá-los, sentar-me simplesmente a olhar para toda a harmonia que transmitem. Sinto-me perante uma forma de arte.
Se pelo contrário, passo por um edifício que me dá vontade de vomitar/urinar para a sua fachada, sinto-me perante a forma mais vil de poluição visual e no entanto há quem apelide os seus criadores de artistas. E aqui deveria haver multas para certas aberrações que vejo por este país fora.
Depois temos as exposições temáticas, essas que só a elite entende. Como enfiar um cão a morrer à fome numa sala de exposição e chamar-lhe arte e depois chamar burros aos que não percebem a raíz da coisa, aos que não estão bem a ver o que o artista quis transmitir.
Eu ainda defendo que para ser artista é preciso fazer um bocadinho mais do que meia dúzia de pontos numa tela, ou enfiar um cagalhão no meio de uma sala e dar um tema à exposição em volta da defecação.
Chamem-me antiquada, mas isto sou apenas eu, bruta como as casas, a pensar alto...




Não é Uma Miragem


Não, não é uma miragem, nem um pesadelo. Não vale a pena esfregarem os olhos para se certificarem que estão realmente acordados. Houve mesmo alguém que se levantou um dia e pensou:
Ora deixa-me lá fazer de um dos maiores livros de todos os tempos, uma história de Zombies.
E como uma história de Zombies encaixa tão, mas tão bem no ambiente dos romances da Jane Austen. Não posso, não consigo basear-me noutro livro. Tem que ser este. Orgulho e Preconceito tem absolutamente tudo a ver com Mortos Vivos à procura de cérebros frescos para devorarem.
E a Elizabeth Bennet só pode ser a heroína que tenta salvar a pequena aldeia da ameaça dos Mortos Vivos.
Digam lá que não sou um génio? Como é que ninguém pensou nisto antes? É que tem tudo a ver, a ligação está lá. A sério que nunca tinham pensando nisto? Não acredito...

Mais do que triste fiquei absolutamente perplexa. Orgulho e Preconceito é um dos livros da minha vida. Até hoje suspiro pelo Mr. Darcy e pela Elizabeth. Todo o ambiente, mentalidade, emoção contida que os envolvem, fazem da Jane Austen uma verdadeira heroína da escrita.
Por isso quando o meu pai me ligou ontem a dar-me esta hilariante notícia fiquei com uma espécie de urticária pelo corpo inteiro, daquelas que não passam com nada. Será que mais uma vez o meu espírito demasiado conservador não me deixou ver a grandeza da coisa? Ou será que isto dá urticária a qualquer um que goste da Jane Austen?

*Provavelmente não estarei longe da verdade ao afirmar que a gravura na capa do livro é inspirada na Jane Austen a tentar saltar da campa para estrangular este escritor prodígio...

segunda-feira, 13 de abril de 2009

Quando tudo se torna simplesmente... Cansativo

Cansada de apanhar todas as pequenas coisas que vão ficando espalhadas pela casa ao longo do dia, cansada de sentir que depende apenas de mim manter a ordem do ambiente que nos rodeia, cansada de sentir o peso diário das responsabilidades domésticas, decidi fazer uma pequena experiência.
Aquela caixa do puzzle caída no chão, ali permaneceria. Ficaria então a saber de uma vez por todas se mais alguém a levantaria do chão.
Passaram-se dias e a caixa pouca alteração sofreu. A Alice voltou a mexer nela quando se lembrou do puzzle e movimentou-a para outra divisão, mas no chão ficou. Cheguei até a vê-los alçarem o pé e passarem sobre ela. Mas apanhá-la nunca.
Seria possível que imaginassem que aqui em casa havia uma espécie de fada esvoaçante que durante a noite tratava de tudo o que ficava caído? A Fada Doméstica silenciosa e amiga que punha ordem no desordenado como que por magia?
Seria possível que todos aqui em casa me tivessem tomado como garantida a esse ponto?
Às vezes sentir que nos assumem, que nos partem do princípio, que deixam de pensar que há alguém por detrás de tudo o que os rodeia, cansa.

Episódios da Vida Familiar


Esta sexta feira tivemos visitas, daquelas que aparecem com a seguinte deixa:
- Estou Hugo, queres ver-me? Sem esperar pela resposta: Estou aí daqui a 15 minutos.
Preparo o meu sorriso amarelo e abro a porta para os deixar entrar. Juntamente com eles vem uma outra prima da Alice. Não a terrorista, senão escondia-me debaixo da cama e fingia que não estava ninguém em casa.
Com o decorrer da tarde começo a reparar que a prima leva o dedo ao interior das fossas nasais cerca de 3 vezes por minuto.
Começo a stressar.
As duas vão para cima todas contentes e mortas por virar do avesso mais uma divisão da casa. Deixo-as ir, no fim vão arrumar o que desarrumaram.
Passados uns minutos subo para as espreitar. A prima de dedo enfiado até ao cérebro intertém-se a colar o produto do saque na colcha da Alice!!!!!!!!!!!
- M!!!! O que é que estás a fazer?
Ela olha para mim de dedo no nariz, como se fosse a coisa mais natural do mundo.
- Já que estás com tanta chatice dentro do nariz eu vou-te buscar um lenço de papel e tu vais colando tudo aqui e EM MAIS NENHUM SÍTIO!
Alice ri-se a bom rir. Eu estou verde de nojo e estendo-lhe o lenço, já com visões da minha casa cheia de "colagens" infantis.
Como calculam ela cedo se esqueceu que tinha que colar aquela nhanha verde no lenço e, completamente fora de controle entreteve-se a espalhar o batalhão de macacos que tinha no interior daquele pequeno espaço chamado nariz, pela minha casa toda.
Já em desespero penso na próxima estratégia. Vomito, ou digo-lhe que comer os próprios macacos é saudável? Adivinhem o que é que lhe disse?...

domingo, 12 de abril de 2009

A Verdadeira Coelha da Páscoa


Páscoa de 2002, a minha primeira ida a Nova Iorque. Apesar de tudo o que tinha visto nos filmes não estava preparada para tanta ficção ao vivo. Foi a viagem em que mais fotografias tirei, pois tudo, absolutamente tudo era diferente da nossa pequena realidade.
Esta simpática velhota oferecia ovos da Páscoa em pleno Rockefeler Center e não foi ela quem mais me espantou. Foi sim a indiferença de toda a gente que passava por esta sexy Lady. Como é que não estavam todos a tirar fotografias como a bimba da Ana?!
Aqui vos deixo uns ovinhos da Páscoa no mínimo originais...

sábado, 11 de abril de 2009

Numa Casa Portuguesa Com Certeza...

Português que é português queixa-se. Queixa-se que está frio, que está quente, que lhe dói as cruzes, o reumático, a desgraça dos filhos, a desgraça do vizinho, que o país vai de mal a pior, que a crise lhes leva tudo, que lhes leva pouco, que o estado rouba, que as lojas roubam, que não paga, que não leva, que está caro, que está barato, que desconfia, que não está bom, que não está maduro, que cheira mal, que cheira bem, que não é o que pediu, que a culpa não é dele, que o marido é um traste, que a mulher é um monstro. Concluindo, queixa-se como modo de vida. Estou desconfiada que no dia em que deixar de se queixar, deixa de ter uma razão para viver.
Mas o que distingue mesmo o português dos restantes povos deste lado do mundo é a dedicação quase religiosa à comida. Ele cheira, investiga, mede-lhe a estatura, apalpa a textura. Divaga horas e horas sobre o que é que falta naquele prato específico, se precisava de apurar, se coentros caíam bem, se ficou mal cozido, mal assado, se é vitela de leite, se é vitela crescida. Se costuma comprar a carne naquele sítio específico onde têm a única carne possível para aquele prato. Português como não pode verdadeiramente dizer que saiba mais alguma coisa, sabe da arte do prato. E divaga, analisa, disserta, faz uma verdadeira tese em redor daquilo que se come.
Nos homens é o futebol. Podem não saber falar de mais nada, mas sabem sempre as últimas contratações, se o árbitro roubou (rouba sempre quando e equipa em questão perde), se o jogador é coxo, se é cego, se a estratégia foi boa, se tinham feito diferente. Não vai votar em dia de eleições para o Governo, mas se é para votar numa nova presidência para o clube fica na fila um dia inteiro. Não saber falar de futebol é definitivamente uma grande gafe para um homem que se queira inserir numa qualquer franja social, pois falar da bola é a maneira mais rápida e eficaz de meter conversa com outra espécie do grupo.
E aqui têm um exemplar Tuga dissecado. Garanto-vos que pouco mais hão de encontrar se lhe abrirem a cabeça e investigarem os meandros pouco profundos do seu cérebro.

quinta-feira, 9 de abril de 2009

Um Dia Em Cheio

Ontem percebi que a minha filha absorve como que por osmose os comportamentos da prima mais velha. Fomos ao parque com ela e depois de correr, de jogar à bola, de empurrar baloiços, de erguer balancés com força braçal, de gritar para que não atirassem pedras do tamanho de rochedos ao lago, de as ajudar a apanhar bichos da conta, de repreender, barafustar quando a prima mais velha exercia poderes de sadismo sobre a Alice. Depois de estar à beira da falência cardíaca e psicológica heis que lhes surge a brilhante ideia de irmos comer pizza. Tudo bem, um derradeiro sacrifício, após o qual daria entrada nas urgências. Mas lá fui. A Alice pedia à prima que viesse dormir cá a casa e eu de sorriso amarelo a antever o pesadelo ia disfarçando. O almoço correu como poderia correr, a mais velha a picar a mais nova, a fazê-la chorar, aos pulos pelo restaurante, a mais nova a seguir-lhe o encalço.
Ora eu que tenho pavor de putos mal comportados nos restaurantes não relaxei nem por um segundo. Sentem-se, calem-se, pouco barulho. Mas a minha filha estava irreconhecível, levada pela maré de loucura agia como a prima, olhava-me com um olhar esgazeado e passou todo o santo dia transformada numa criança-monstrinho.
No final do dia levou uma brutal reprimenda (fiquei rouca) e acalmou-se. Voltou lentamente a si, o olhar de amúo deu lugar ao arrependimento e pediu-me desculpa.
Porra que pensei que a tinha perdido.
Idas ao Parque com a prima mais velha? Acho que só daqui a 6 meses. Ainda estou em recuperação.
Pergunta: Porque é que todos os parques infantis são feitos de forma a que os pais não possam simplesmente sentar-se a olhá-los de longe? Há perigos por todo o lado, nada é pensado ao pormenor. Os poucos espaços existentes, ou estão pejados de cagalhões de cão, com condições de segurança que deixam muito a desejar, ou estão tão atulhados que não temos espaço nem para espirrar. Haja pachorra!!!!

quarta-feira, 8 de abril de 2009

Uma Epidemia de Amor

Apesar de saber que a vontade é a força que conduz a nossa vida, gosto de acreditar que há uma parcela que não dominamos. Não sei em que mãos estará, ou que fios invisíveis regerão o caos que nos rodeia, mas sei que tudo tem uma percentagem de acaso, de sorte, de destino. Sei também que no dia em que deixar de acreditar nisto terei ficado um bocadinho mais vazia por dentro.
Há situações que me arrancam os pés do chão, que fazem com que o meu mundo pare para deixar entrar uma nova luz e eu tenho que saber render-me a elas e deixar-me iluminar por dentro.
Rendi-me às vossas histórias, umas simples, outras dolorosas, outras incríveis. Mas cada uma delas fez com que me reencontrasse de novo. Fez com que renovasse a minha esperança no amor.
A pessoa certa pode cruzar-se no nosso caminho por acaso, mas cabe-nos a nós agarrá-la com todas as forças. Cabe-nos a nós fazermos de tudo para que esse amor não se perca ao longo do caminho.
No amor há tanto de destino como de vontade.
O destino pode lançar-nos no encalço um do outro, mas é a nossa vontade que não deixa morrer esse amor, cuidando dele, alimentando-o, tratando-o como a dádiva preciosa que é.
Obrigada por me terem feito dar um valor suplementar à minha própria história através das vossas palavras.
Ainda estou a digerir os textos que li e acreditem que nenhum deles me deixou indiferente....

Por favor vão ler as histórias dos meus desafiados e outra história incrível de alguém que não foi desafiado (Xanuca).
Mariinha, Melissa, joaníssima, Ana., Miguel C., Socas, Xanuca, Rainha Mãe., JS

terça-feira, 7 de abril de 2009

A Minha História de Amor

Decidi puxar para aqui um post antigo em que conto a minha história de amor e inventar um novo desafio no qual falarei no final...

Porque não falar da nossa história? Porque não deixar escrito em algum lugar como é que conheci o teu pai?
Acreditas mesmo se te disser que nos conhecemos quando eu tinha 13 anos?
Quando penso no assunto, nem eu mesma acredito que nos conhecemos já há 20 anos!
Não, não foi um namoro daqueles que nunca mais acaba, simplesmente, éramos grandes amigos, os nossos prédios em Lisboa era colados um no outro e nós assim ficámos também.
O teu pai tinha uma frase que, mesmo depois de nos separarmos pela distância, ficou para sempre gravada na minha memória. Entre as gargalhadas com que polvilhava cada piada descarada, enfiava o que ficou conhecida como a sua frase clássica: Just Kiding. Podia dizer as maiores barbaridades, que logo de seguida se desculpava com estas duas palavras em inglês.
Não havia quem não ficasse contagiado com o seu bom humor e por esse motivo, um grupo de pessoas parecia sempre levitar à sua volta.
Aos 16 anos mudei-me para Cascais e fomos perdendo o contacto. Nunca, mas mesmo nunca esqueci o Just Kiding e muitas vezes dava por mim a dizer essa frase em voz alta, como se ao dizê-la os meus tempos loucos de Lisboa voltassem nesse mesmo instante e juntamente com eles, o teu pai e o nosso grupo de amigos.
Já menina bem comportada e estudante de Direito, há uma tarde em que decido faltar a uma aula e ir matar saudades com a D. para a Av. de Roma. Foi um impulso, completamente fora do normal, que nos levou ao baldanço culpabilizado. Mas lá fomos e, sentadas na esplanada da Gelataria Roma, vimos passar o teu tio Filipe, irmão do teu pai.
Não queria acreditar, chamei-o e foi como se o tempo não tivesse passado. Senti que por muito tempo que passasse, havia cumplicidades que teimavam em não se perder. Trocámos números de telefone.
Passado um tempo o teu pai mandou-me uma mensagem.
Não conhecia o número, perguntei quem era. A resposta foi simples e esclarecedora: Se te disser Just Kiding, lembras-te?
Daí para a frente uma amizade antiga transformou-se num novo amor e eu, que estava sozinha há tanto tempo, acreditei que tinha ficado assim na mais completa secura, só para poder valorizar um grande amor quando ele surgisse.
Não foi fácil entrar na vida do teu pai. Ele tinha saído magoado de uma relação e não se entregava com essa facilidade toda. Mas a amizade que tínhamos serviu para não nos deixarmos fugir um do outro.
Se algum dia te vierem com a história de que não existe essa coisa do destino. Lembra-te de mim e do teu pai. Conhecemo-nos em miúdos, separámo-nos jovens, reencontrámo-nos diferentes e tivemos-te a ti como prova de que tínhamos mesmo que acontecer.

Partilhada a minha história e como a vida é feita de encontros, desencontros, tentativas falhadas, sucedidas. Gostava muito que partilhassem a vossa história de amor. Mesmo que não tenha resultado, mesmo que vos tenha magoado, falem sobre ela, pois recordarmos é uma forma de nos mantermos vivos. Digam-nos como é que conheceram o vosso/a companheiro/a. O que pode parecer uma história banal, quando contada assume sempre um tom mais fundo e reacende uma luz bem dentro de nós. Eu vou desafiar algumas pessoas, mas sintam-se livres para escreverem com, ou sem desafio:
Socas, pois morro de curiosidade.
Ana., pois tenho a certeza de que vou gostar.
Miguel C., pois ele já deu provas de saber escrever sobre o amor.
Tasha, pois sei que me vou comover.
joaníssima, pois escreve bem sobre tudo e tem tanto de acutilante como de doce.
Melissa não penses que escapas, já me tinhas prometido a tua história há tempo demais...
Mariinha, pois quero muito ouvir a história de quem já está casada há tanto tempo...
JS, porque adoro quando ela fala acerca do coração.
Rainha Mãe, pois sinto que há ali amor de verdade :)

segunda-feira, 6 de abril de 2009

O Jardim da Alegria


Este foi o primeiro filme que fui ver com o Hugo ao cinema depois do nosso reencontro, passados dez anos sobre a época em que nos conhecemos (sim, nós fomos amigos de juventude que se separaram e voltaram a reencontrar-se 10 anos mais tarde). De alguma maneira é um tipo de filme que haveria de nos definir. Pois ambos adoramos uma boa gargalhada. Eu não me rio com facilidade no cinema, mas quando me rio é até as dores no rosto e no estômago darem cabo de mim.
Voltando ao filme e para quem nunca viu. Saving Grace, ou em português o Jardim da Alegria é a história de uma viúva de meia idade numa pacata aldeia em Inglaterra que após o suicídio do marido se vê a braços com as dívidas todas que ele deixou. E então para conseguir salvar-se da bancarrota decide, juntamente com o jardineiro fazer uma plantação de marijuana no jardim.
Penso que a série Erva (que adoro) foi beber alguma inspiração nesta história. É um deleite repleto de um humor como só os ingleses sabem fazer.
Se querem passar umas horas de pura descontracção, vejam por favor.

Famílias Perfeitas

Quando era pequena achava sempre as mães dos meus amigos mais permissivas, mais simpáticas, mais porreiras do que a minha.
Quando cresci mais um bocadinho fui-me apercebendo que não era bem assim. Que todas as mães tinham defeitos.
Na idade adulta assisti a dezenas de diálogos sobre como a suposta família era fantástica, cheia de virtudes, unida, inseparável e, palavra muito usada, um verdadeiro clã. E não deixava de ser divertido ver essa bolha de perfeita harmonia pelo lado de dentro.
Cada família tem as suas pancadas e assim que a vemos do avesso fica simplesmente uma família normal.
Nunca apregoei virtudes familiares a ninguém. Somos bastante disfuncionais, com alguns traumas inevitáveis, zangas esporádicas entre alguns. Mas com os anos coisas que me pareciam graves, agora não o são e vamos simplesmente percorrendo este caminho chamado vida ora dando as mãos, ora seguindo por caminhos diferentes. Mas encontrando-nos sempre ao longo da estrada quando alguma coisa falha.
Tenho sempre a estranha sensação de que quanto mais perfeitas aparentam ser por fora, mais tresloucadas essas famílias devem ser por dentro...

sábado, 4 de abril de 2009

A Vida Como ela É

- Hoje fazes o jantar?
- Porquê?
- Para variar.
- Pode ser.
Passam-se duas horas. Ele permanece sentado em frente ao computador.
- Então?
- Já vou.
- Quando?
- Porque é que és tão chata?
Suspiro muito profundo e chantagem emocional em acção:
- Deixa estar, eu faço.
Ele lá se levanta com bastante esforço e eu transmito a informação:
- O lombo de porco está no frigorífico, é só fazeres arroz e cozeres legumes.
- Está bem.
Subo para ir dar banho à Alice. Passados 15 minutos ouço os passos dele escada acima. Sei exactamente o que vou ouvir.
- O que é que disseste que era para fazer?
Respiro fundo. Isto é só um pequeno atrito doméstico, não é de todo o que o define. Ou é precisamente o que o define? Preparo-me para praguejar. Mas ele antecipa-se.
- Tu hoje estás muito rabujenta.
- Porque é que nunca ouves o que te digo?
- Sem dramas, diz lá o que é que me pediste para fazer?
Depois desço, oiço-o na cozinha. Fico ali na soleira da porta a ver sem ser vista. De meias, olhar ensonado, a fazer tudo no seu ritmo muito próprio, sem pressas. Esquece sempre alguma coisa e volta atrás, depois lembra-se de outra coisa qualquer e apressa-se. Sorrio e penso para mim: Não o trocava por nada deste mundo. E talvez não fosse má ideia dizer-lhe isto mais vezes.

sexta-feira, 3 de abril de 2009

Air Alps


Final da nossa Lua-De-Mel, abraçados dizemos adeus a Salzburgo. O pequeno aeroporto que serve a cidade é bastante romântico, tem um café sobre a pista, mas às 6 da manhã ainda está fechado. Percorremos aquele pequeno recinto de mãos dadas, tristes por aqueles dias terem passado a voar. Ainda tenho tempo para comprar uma caixa de chocolates do Mozart e uma pequena caixa com uma pintura de Klimt. Vamos apanhar um voo de ligação para Amesterdão e de lá seguiremos para Lisboa.
Sem a menor vontade de retomarmos à vida real dizemos adeus mentalmente a tudo aquilo que vimos na nossa primeira viagem depois de oficialmente casados.
Tenho os meus valiuns à mão, pois cerca de 10 minutos antes de embarcar para qualquer coisa que tenha asas, tomo um. Ajuda-me a pensar que vou sentir menos pânico. Peço uma garrafinha de água e lá engulo um daqueles pequenos auxiliares. Respiro fundo e percebo que a porta de embarque acabou de abrir, dou a mão ao Hugo e aperto-a até lhe cortar a circulação. Ele aperta a minha com mais força ainda, pois infelizmente também sofre de pânico de voo. Olho à procura da manga que nos conduzirá ao interior do avião, ou do autocarro que nos levará ao nosso destino, mas nada. Percebo que vamos a pé até ao avião e à medida que nos aproximamos do dito, penso que só pode ter havido um engano. Leio o nome escrito no pequeno caganito, Air Alps. Esperem lá, o nosso bilhete diz KLM!!!!! Deve ter havido um engano. Esta coisa tem duas hélices e é mais pequena do que o meu carro!!!! Quero virar costas e correr pela pista até à segurança do aeroporto, mas o Hugo não me deixa.
- Larga-me, deixa-me fugir! Vamos alugar um carro, vamos de comboio! eles deviam ter-nos avisado que esta merda não era da KLM!!! Air Alps? Isso é nome de estância de neve! Deixa-me ir, eu não quero morrer!!!
Mas ignorando-me por completo, agarra-me na mão e puxa-me na direcção daquela coisa. Oiço a voz dele a dizer-me:
- Tens mais Valiuns? Dá-me um.
- Tenho mais 4, mas são para mim!!! E começo a desembainhar valiuns como se não houvesse amanhã. Juro que os engoli com a força da saliva, apesar de ter a garganta completamente seca. Lá fico com pena do Hugo e passo-lhe meio comprimido. Entramos no avião e eu sinto-me a desmaiar. Então e o efeito da droga? Onde é que está o relaxamento muscular? Porra que a adrenalina do medo não deixa que aquilo surta efeito. Sentamo-nos, mãos suadas, olhos esgazeados. Aperto o cinto até ficar sem estômago. A descolagem foi a pior da minha vida. Com ventos fortes o pequeno aparelho parecia um papagaio de papel. Já lá em cima a coisa não melhorou.
Tentando buscar conforto nos profissionais do voo, olho os yupies de computador portátil que geralmente são a calma em pessoa, mas estes fecham os computadores e cravam as mãos nos assentos. A única hospedeira de bordo, vai-se sentar e aperta o cinto. Espero que o piloto da furgoneta nos diga que estamos a experimentar alguma turbulência, mas nada. A coisa só pode ser muito grave, esta merda está literalmente como um barco em alto mar. E os valiuns que não fazem nada. Olho o Hugo, ele fecha a janela para não ver as hélices que quanto a mim devem estar prestes a parar. A aterragem é feita ao som dos gritos dos passageiros e das minhas avé-marias interiores. Penso que vou morrer, mas aquela coisa aterra em Amesterdão com uma roda de cada vez. Quando saio daquele cilindro digo para o Hugo: Vamos ao centro da cidade, preciso de um charro.
*Poderão vocês pensar que sou uma grande drunfada e drogada. Mas juro que não. Só quando vou andar de avião.

quinta-feira, 2 de abril de 2009

Ódios de Estimação (desabafo número3)


Ir a um restaurante com alguém e depois de 10 minutos de estudo intensivo do Menú, assistir ao seguinte diálogo entre esse alguém e o empregado de mesa:
- Hmmmm. Estou tão indecisa. O que é que leva esta pizza?
- Está aí escrito. Cebola, carne picada, ananás...
- É mesmo ananás, ou abacaxi? É que se for abacaxi fica muito enjoativo. E carne picada, não sei...
Eu já fiz o meu melhor sorriso amarelo para o pobre empregado e digo:
- Dê-nos mais uns minutos.
Mas antes do empregado virar costas:
- Espere, não vá já! Esta massa tem orégãos? Não tem nada assim mais leve...
Coitado do empregado de mesa, mas ela pensa que está com o psicanalista da comida, tem mesmo que dissecar ao pormenor cada ítem da lista???!!!! Eu já começo a contorcer-me na cadeira.
- Costumamos pôr orégãos, mas se não gosta...
- E o bife da casa é como?
Já estou na fase de espasmos musculares.
- Vem com salada, batata frita...
- Pode vir com arroz?
- Claro. Então é uma pizza marguerita e um bife com arroz...
- O bife é da vazia, ou do lombo?´
F****-**!!!!!!! Penso eu. Deixa o homem ir-se embora!!!!!
Eu acho que podemos ver muito de uma pessoa pela forma como faz o seu pedido num restaurante.

Amigas ou Nem Por isso

Porque é que algumas mulheres são tão sacanas para com as outras? Porque é que em vez de serem solidárias, companheiras no feminino, cúmplices, pois tantas vezes partilham as mesmas angústias, as mesmas batalhas, fazem da convivência em comum uma espécie de competição muda?
Durante muito tempo trabalhei numa equipa em que eu era o único elemento feminino. Só neste último projecto entrou uma colega. Se me senti ameaçada, picada, invejosa? Nem por um segundo. Adorei ter mais um cérebro de mulher a trabalhar connosco. Fazia falta alguém com quem pudesse partilhar algumas angústias que nenhum homem entende.
A amizade no feminino é algo que prezo para além das palavras. Mas penso que amigas,
para o serem com todas as letras, têm que ficar genuinamente felizes pela nossa felicidade. Têm que querer partilhar as nossas vitórias , desejá-las para nós como as desejam para si, nem mais, nem menos.
Será fácil encontrarmos mulheres que sorriam na plateia da nossa vida?
E nós, sorriremos quando as virmos vencer?
Penso que os momentos luminosos são mais difíceis de partilhar do que os escuros. Talvez por aquela secreta, quase muda inveja que as mulheres têm na felicidade das outras mulheres.
Quero acreditar que comigo não é assim. Que aplaudo as vitórias, choro nas tristezas sem reservas, sem amarras, sem entraves.
Desejo apenas para elas aquilo que desejo para mim.
Quero estar à altura dessa palavra funda, cheia de tudo o que importa.
Quero ser amiga, irmã na alma e no espírito.
São os amigos que nos definem, é através dos olhos deles que tantas vezes nos vemos e revemos. Que tantas vezes vemos o que não queremos. Porque nada é mais sincero do que a amizade verdadeira.

quarta-feira, 1 de abril de 2009

Ódios de Estimação (desabafo número2)

Criancinhas a cantar em concursos. Não suporto vê-los armados em gente grande, vestidos como pequenos adultos e com aquela voz pouco natural à Joselito. Deprime-me.
Sei que não é uma coisa racional, por isso perdoem-me os fãs de concursos deste género, mas de cada vez que apanho uma destas pérolas televisivas mudo logo o canal.

Alucinações


Estava eu na sala de espera de uma clínica oftalmológica, mais precisamente ontem por volta das 8 da noite, que isto dos médicos é sempre a aviar a qualquer hora. Continuando, estava eu a preparar-me para uma bateria de exames que me iam dizer se estou apta para ser operada e ver-me livre da miopia, ou não. Confesso que um bocadinho nervosa, sozinha e à espera de uma voz que me dissesse: Foge agora enquanto é tempo. Quando ao desfolhar uma revista da cusquice me deparo com isto.
A princípio pensei que aqueles bafos estranhos que a máquina de exame me tinha atirado para dentro dos olhos, estavam a provocar-me um delírio óptico qualquer. Mas depois de abrir e fechar as pálpebras mais do que uma centena de vezes, confirmou-se. Ali estava ela naquela página de revista, como numa passerele, esbelta e confiante, envergando uma indumentária com o incontornável CR7 estampado.
Fiquei tão atónita que fotografei a página, enviei ao meu marido e perguntei se ele estava a ver o mesmo que eu.
A voz da assistente chamou-me para entrar para o consultório e eu ali petrificada a olhar este monstro da moda, colada à cadeira, o olhar vidrado cheia de medo que aquela mulher me tivesse ficado colada à retina e que isso de alguma maneira fosse baralhar os exames.
Passado o susto, vim com uma boa/assustadora notícia. Sou uma candidata de excepção para a cirurgia correctiva com lazer. É desta que largo os óculos. Deve ser a experiência mais próxima de um milagre que algum dia vou ter.
*ADVERTÊNCIA: Antes de clicarem na imagem para verem o detalhe da coisa, tenham à mão uma embalagem de Guronsan.

Não Perdermos a Fé em Nós

Sei que tenho muita sorte quando olho em volta e vejo pessoas tristes, desanimadas, sufocadas pela rotina daquilo que fazem. Não é preciso olhar muito longe, pois aqui em casa tenho alguém ao meu lado que queria mais da sua vida.
Tentam ver o lado menos escuro das suas tarefas, nadar em direcção à superfície até as forças os deixarem, mas apesar do esforço diário para relativizarem as coisas, o cansaço acaba por levar a melhor e no final de um dia de trabalho sentem que trabalharam por dois. Por eles e pela força que fugiu e que têm que resgatar a cada hora que passa.
Não é fácil trabalhar-se num país que não valoriza, que não oferece oportunidades, que não premeia os bons profissionais, que ignora os talentos, que não incentiva os jovens a quererem ficar por aqui.
Tal como também não é fácil arranjar a coragem para partir em busca de alguma coisa melhor. Aquele espírito que leva alguém a ir viver para um outro país sempre me fascinou. Dar um pontapé na mesa, virar a vida do avesso e refazê-la por inteiro não é definitivamente para todos.
Criamos a nossa família, prendemo-nos a compromissos financeiros e com tudo o que isso tem de bom, tem também muito de prisão, pois juntamente com esses compromissos surgem as barreiras que nos impedem de experimentar o outro lado.
A vida é feita de opções no escuro, de decisões sem garantias de qualquer espécie. Mas a partir do momento em que outras pessoas dependem de nós, esse escuro assusta-nos, impede-nos de nos movimentarmos. E fica cada vez mais difícil viver em harmonia connosco próprios.
As nossas escolhas de vida implicam uma fé absoluta em nós próprios. Conseguir que essa fé não se perca ao longo do caminho é alcançar a sabedoria.