Numa época em que tudo está errado na política . Em que ministros tiram cursos a domingos, ou com equivalências de experiência de vida.
Numa época em que tudo sobe, menos o emprego, os salários e os níveis de realização pessoal.
Numa época em que o sentido patriótico nos é exigido até à medula, mas em que bandeiras são hasteadas de cabeça para baixo com calma e descontração naturais,
ele chegou.
Sensual, de sorriso inteligente e poder de moderação sem igual, ele veio para nos fazer esquecer a miséria e a injustiça.
Ele não luta, foge. Ele não tem 1/5 de testículo de coragem, mas tem dois testículos mirrados.
Ele não comunica, usa o estranho, porém heróico, dever de reserva.
Apesar de não usar da sua capacidade vocal para transmitir serenidade ao povo, esbanja a visão da sua cavidade oral, para degustar alimentos.
Ele não suaviza corações destroçados com o seu carisma e beleza invejáveis, mas é pródigo em lições de economia de mercado, debitadas com distante sapiência.
Ele não suscita empatia, simpatia, proximidade, humildade, mas suscita uma espécie de vazio previsível e reconfortante, pois sabemos com o que contar: Dele não sairá nada.
No entanto, é isto que temos. É isto a quem pagamos o ordenado e um polícia à porta para toda a vida.
É isto.
E a mim, perante a visão deste super herói a discursar para a elite, a fugir do povo e a calar-se por dever, só me ocorre gritar:
VIVA O REI!
É o que eu digo sempre: O Cavaco vai conseguir lançar-me nos braços da monarquia.
E fica aqui o desejo interior e secreto de que tenha sido um monárquico a sabotar a posição da bandeira na festa privada do 5 de Outubro.