Penso que não há nada mais importante do que a escolha da médica que nos ajudará a pôr os filhos no mundo. Importa a sua competência sim, mas não é menos importante a sua dose de humanidade, simpatia, sensibilidade.
As grávidas são seres complexos, cheios de camadas e níveis de sensibilidade, que precisam de ser apaziguadas a cada consulta. Eu sempre soube isto e sempre quis que fosse a minha médica de sempre a fazer o parto da Alice, mas como ela não fazia partos no hospital que eu queria, troquei-a por uma médica que o fizesse e todas as consultas foram distantes, apáticas, sem telefones trocados, sem nada além de dados de análises e datas agendadas. Nunca tive empatia com ela, mas lá aguentei até ao final, ouvindo-a falar do almoço que tomaria com o anestesista, durante o nascimento da minha primeira filha. Senti-me um número e não gostei, por esse mesmo motivo, quando me soube à espera do segundo filho, não caí na asneira de muitas mães que se fixam no mesmo médico para sempre, criando uma espécie de mito em redor de quem lhes mete os filhos no mundo, seja bom seja mau.
Fiquei com a Dra. Maria João Mendonça e com as suas gargalhadas, partilhas, olhares de cumplicidade. Fiquei com a médica que me tratava sempre pelo primeiro nome, me falava das próprias filhas e da sua vida e me dava dois beijinhos na entrada e na saída.
Fiquei com a médica que me fez festinhas durante a anestesia, que me sorriu assim que entrou na sala de cesarianas, que ligou para o Hugo antes de eu entrar, que me telefonou para o telemóvel assim que soube que eu estava com uma anemia, que disse que odiava ter que me provocar dores, mas que ia ter que sentir o útero, mesmo depois de já ter sido palpada por 234 enfermeiras e médicas que nem abriram a boca durante o palpanço. E, por incrível que pareça, saber que ela sabia que doía como tudo, atenuou a dor.
Eu fiquei com a médica humana e competente, pois quero acreditar que as duas coisas não são incompatíveis de forma alguma.
Mas também sei que há muita gente que não pensa assim, que ainda sofre daquele complexo de inferioridade, que acha que um médico para ser a sério tem que ser frio, não olhar nos olhos e passar a consulta inteira a escrever no processo. Quanto mais distante e inacessível, mais competente e estudioso deve ser.
Se me perguntarem o que prefiro, um médico humano e incompetente, ou um antipático, frio topo de gama, terei que responder: Porque raio tenho eu que escolher entre as duas? Porque não uma terceira alternativa que englobe as melhores características dos dois lados?
Quando é que os médicos vão aprender que um tratamento menos distante é meio caminho andado para que o paciente se sinta mais pessoa e menos algarismo?