segunda-feira, 31 de agosto de 2009

E no Topo da Lista da Estupidez Está...

Lá mais para a frente, quando estiver no final do tempo da gravidez, irei literalmente mijar-me a rir, pois, além do possível hemorroidal, a incontinência urinária provocada pela tosse, ou pelo riso, é uma das virtudes românticas da gestante de termo.
Mas como ainda vou a meio da coisa, consegui controlar a incontinência ontem ao ver uma notícia no telejornal que dava conta de uma fonte numa aldeia no interior do país, cuja água estava imprópria para consumo. Entre outras coisas apetitosas apresentava elevados níveis de bactérias fecais.
Entrevistaram um habitante local que ia de garrafão em punho, a rebentar de orgulho lusitano abastecer daquela aguinha cristalina.
- Eu cá num quero saber dessas coisas. Sempre me dei bem com esta iauga e num bai ser por causa disso que bou deixar de vevê-la. A minha mulher é que veve qualquer iauga, num quer saver nada daquilo que veve, agora eu não, num lebo qualquer coisa à boca. Só vevo desta!
E pronto. Eu sabia que já havia pessoas a sentarem-se debaixo de falésias em risco de derrocada depois do acidente em Albufeira. Agora beber merda, dizer que a pobre da mulher é que mete qualquer coisa à boca e ter orgulho na matéria fecal que enfia goela abaixo rebenta a escala da estupidez tuga.

domingo, 30 de agosto de 2009

Saber que Também me Lembram

Às vezes sinto que me lembro do mundo inteiro até aos dias em que boiava no útero materno.
Lembro-me nitidamente de estar ao colo do meu pai à beira mar e de me sentir segura.
Lembro-me do meu primeiro dia de escola, quando levei com um baloiço na cara e a morrer de vergonha não disse a ninguém como é que tinha ficado com o olho negro e inchado.
Lembro-me das bofetadas da minha professora primária quando errava a tabuada.
Lembro-me do pânico que senti no dia em que a minha mãe anunciou que voltaria para casa de mão dada com a minha professora primária para ter explicações de matemática.
Depois tenho as pessoas que me marcaram ao longo deste trilho de 34 anos e que não foram muitas. Pessoas de quem guardo as melhores memórias, ao lado de quem sorri, partilhei músicas, ideais, sonhos, paixões, tristezas, alegrias, piadas, sorrisos, choros.
Pessoas que apesar de se terem cruzado connosco brevemente, entraram de forma muito intensa na nossa vida, tornando-se impossíveis esquecer e por isso para sempre guardadas, lembradas. Ganhando vida ao som de uma música, na passagem por uma rua.
No meu intimo sempre pensei que não seria lembrada com a mesma nitidez com que lembro, pois eu lembro demais. Por isso é tão bom descobrir que também eu estou guardada dentro da memória de alguém, pois essa é para mim a melhor maneira de me perpetuar no mundo.

sexta-feira, 28 de agosto de 2009

Desabafos de Uma Gaja Nada Bomba Sexual

Podia dizer-vos que sou aquele tipo de gaja boazona que se bronzeia tão bem como um leitão da Bairrada no espeto, adquirindo aquele tom dourado e sensual que só dá vontade de trincar, mas não. Em vez dessa bomba sexual que deixa um cheiro a óleo de côco à sua passagem, sou aquela que se besunta de creme sem a menor arte para a coisa, deixando escapar um sem número de minúsculas superfícies que são inevitavelmente esturricadas ao nível do encarnado fluorescente sem dó nem piedade.
Este ano por exemplo, escaldei os nós dos dedos dos pés, o couro cabeludo, o osso do tornozelo esquerdo e as clavículas. Ou seja, estou mais sexy do que nos anos anteriores, onde a parte de trás do pescoço (pois uso sempre rabo de cavalo na praia) era a zona mais afectada pelos fogos do creme protector mal espalhado.
Estou que nem posso com os nós dos dedos dos pés e ninguém me entende. Que cruz a minha. Para quando inventarão uns duches de factor 50 em que uma pessoa se enfie na banheira e seja borrifada de jactos precisos em todos os centímetros de pele?

quarta-feira, 26 de agosto de 2009

E Assim São as Férias

Estou nas nuvens. O nosso apartamento fica a 20 segundos a pé da praia, a 10 segundos de uma piscina sobre a praia e tem tudo o que precisamos para nos sentirmos uma família relaxada, como acho que não nos sentiamos há demasiado tempo.
Muitas vezes refilo com o Hugo pela sua falta de paciência, mas vejo agora que apenas precisava de férias. Ele voltou a ser o maridão de sempre e o pai que faz as delícias da Alice, sempre com ela ao colo mar adentro, piscina adentro, areia fora. Ver os bracinhos dela em redor do pescoço do pai, cheios de uma confiança enternecedora, capaz de ir com ele até onde à linha do horizonte termina comove-me sempre.
É claro que férias não são feitas só de momentos idílicos. Hoje ao fim da tarde na piscina comprovei que também existem criancinhas monstruosas. Falo de uma menina dos seus 12 anos, bastante badocha, cujo entretém era correr à volta da piscina toda nua, atirando-se em seguida lá para dentro (quase esvaziando piscina). Ela gritava com o pai, dava-lhe pontapés, chorava porque não queria vestir o fato de banho e o queque senhor apenas lhe dizia em voz muito serena:
- Madalena a menina não pode continuar assim, venha pôr o fato de banho.
Ao que ela respondia com mais um mergulho de catrapilar na piscina.
Tapei os ouvidos e fechei os olhos para não ver mais aquele pesadelo ambulante e quando os descerro vejo-a sentada toda nua na cadeira da piscina a mamar num biberon.
Fosgra-se que cena, ainda estou a bater mal, espero que ela não esteja lá amanhã. Medoooooooo

Ps: Não tenho grande tempo para responder aos vossos comentários, mas continuo a lê-los com a maior das atenções :)

terça-feira, 25 de agosto de 2009

Aqui Vou Eu

Sempre soube fazer uma mala em poucos minutos, enfiando no seu interior apenas o essencial.
Mas com as funções vitais ao mínimo, focalizadas apenas em chocar o ovo, o meu cérebro decidiu que fazer as valises não era uma tarefa essencial, vai daí decidiu abandonar-me, deixando-me sem a menor capacidade de síntese na tarefa inglória de preparar as nossas coisas para uma estadia de 10 dias.
Aterrorizada e sem capacidade de decisão pedi ao Hugo que fosse comprar um contentor, daqueles que viajam pelo mar. Só assim poderia levar o fundamental que passou a ser basicamente a casa inteira.
Após um redondo não como resposta e depois de ver a forma rápida e eficaz com que organizou o seu lado do malão sentei e chorei até a razão começar a despontar no meu minúsculo cérebro. Lentamente e com a esperança renascida lancei-me de novo na tarefa, com um brilho no olhar e cantando: Eu sou capaz!
Quando terminei tinha o armário da Alice vazio e o meu apenas com as roupas de inverno.
Como não quero andar muito em supermercados esvaziei a cozinha também, assei um lombo de porco, fiz sopa, organizei latas de salsichas e de atum, empacotei a Bimby, fiz um kit anti-gripe com toalhetes desinfectantes, spray desinfectante, sabonetes desinfectantes, pulverizadores industriais de pesticida para quem se aproximar de mim e já está! Prontinhos para a travessia no deserto.
Que orgulho que tenho em mim. Esperem só até o Hugo descer e ver a minha organização exemplar, até lhe vai parar o coração.

segunda-feira, 24 de agosto de 2009

Mãe Medrosa

Sim, eu já sei que a Gripe A é só uma gripe, mas o que é que querem, eu estou grávida e tenho uma filha pequena e por muito que queira descomprimir, a tendência é sempre a oposta e as notícias de segundo, a segundo não ajudam nem um bocadinho.
Vou amanhã para o Algarve e, apesar de não tencionar afastar-me do caminho entre a praia e o apartamento (que ficam a 20 metros de distância) e apesar de o Hugo adorar desdramatizar (talvez por não ser ele o gestante) vou apreensiva e não há nada que ninguém possa dizer, que me tire a porra da apreensão do pensamento.
Se estou num local com mais gente quase vejo as partículas virais a voarem na minha direcção, imagino a gosma invisível a escorrer de tudo quanto é superfície onde toco, cada pessoa que ousa tossir perto de mim leva com um olhar assassino e sinto-me literalmente a um passo da insanidade mental.
Se não fosse mãe efectiva e em vias de voltar a ser já me tinha ido infectar para uma qualquer urgência hospitalar só para tirar esta paranóia do sistema.
A maternidade tem muitas coisas bonitas sim senhora, mas torna-nos seres mil vezes mais medrosos por eles.

domingo, 23 de agosto de 2009

Sempre Sonhei


Sempre sonhei ter uma casa Victoriana, pequena com uma grande janela na sala, debaixo da qual pudesse pôr umas banquetas cheias de almofadas, enquanto olhava por cima das páginas de um livro e espreitava a tranquilidade da rua.
Sempre sonhei servir um café aos amigos que me vinham visitar e ter um pequeno jardim nas traseiras onde as crianças pudessem brincar, enquanto eu as olhava da janela da cozinha.
Sempre sonhei ter uma casa com alma. Nunca imaginei palacetes, nem grandes divisões, onde o frio do Inverno e da solidão se fizesse sentir com mais força.
A casa dos meus sonhos teria carácter, uma porta da rua colorida, um tapete que desse as boas vindas e um constante cheiro a bolo acabado de fazer.
Sonhar é das coisas melhores do mundo. Não custa rigorosamente nada. A única parte difícil é acordarmos :)

sábado, 22 de agosto de 2009

Alimentação Simultânea

Sempre me fez espécie ver aqueles casais de namorados nos restaurantes a alimentarem-se mutuamente. Enchem um garfinho de bife e espetam com ele na boca do querido. Enchem a colherzinha de sopa e dão-na a provar à cara metade, mesmo que esta coma uma sopa igualzinha e essa sopa até seja caldo verde, uma das iguarias menos românticas para se manjar no pico da paixão.
Chegada a hora da sobremesa, mesmo que seja uma mousse de chocolate pastosa, há que dividi-la com o mais que tudo entre sorrisos acastanhados pela mousse. Lambem as colheres e devolvem-nas à boca do parceiro, numa troca de fluídos quase erótica, não fosse tão tremendamente aborrecida. Já cheguei a pensar que é como o aclamado clímax simultâneo, mas em vez de se virem ao mesmo tempo, comem ao mesmo tempo.
Hoje durante o almoço no restaurante observava uns pombinhos assim enquanto cortava o peixe todo aos quadradinhos para a Alice comer. Pensei para mim: Quando começarem a gastar 80% do tempo no restaurante a providenciar para que os filhos engulam vão ver para onde é que foge a pachorra de alimentarem também o marido. Todos os segundos livres servem para se levar comida à nossa própria boca. Se alguém mais quiser provar do meu prato, sirva-se!

sexta-feira, 21 de agosto de 2009

A Prova


Para quem bem lá no fundo duvidou que isto fosse verdade. Aqui têm a prova que a minha filha não brinca em serviço, mesmo quando o serviço é fazer cocó.

As Ex

Pior, mil vezes pior do que as capas de revistas com os jogadores da bola, são as capas dessas mesmas revistas com as ex-mulheres daqueles.
Mas quem são elas, o que fizeram, em que é que contribuíram para a sociedade desportiva para serem notícia?
Bem sei que por detrás de um grande homem está sempre uma grande mulher. Mas o cromo da bola não é um grande homem e ela, bem, ela não conseguiu ficar sua mulher.
Os jogadores sempre atiram a bola uns aos outros, sempre fazem fintas e correm à brava com mais ou menos habilidade, sempre ganham milhões, sempre se pode falar disso. Mas as ex???
Acho que posso afirmar que estamos na presença de toda uma carreira em expansão, de todo um mercado por explorar.
- O que é que fazes Jucineida?
- Sou ex do cromito da bola vou colocar implantes e começar de novo, se liguem em mim.
Mas haverá mesmo alguém que se interesse pelo futuro da peida das Jucineidas?
Deve haver senão não continuavam a ser capa de revista...

quinta-feira, 20 de agosto de 2009

Falas Bem Que Se Farta

Se há coisa que me delicia é ouvir um membro das nossas forças policiais, mais concretamente um Geninho, a botar faladura. A linguagem profissional cola-se-lhes à pele, à garganta e à língua e eles simplesmente não conseguem pedir um maço de tabaco na papelaria sem introduzirem uma, ou duas palavras de escrivão.
- Podia proceder à venda de um SG Barra Ventil? Só posso efectuar o pagamento com uma nota de vinte.
Mas a verdadeira verborreia profissional tem lugar quando se dirigem ao jornalista que os entrevista em directo, pois aí gostam de brilhar, de mostrar que sabem juntar e unir palavras como ninguém, que são gente intelectualmente superior. Se não vejamos.
Jornalista: A que horas se deu o tiroteio?
Geninho: Aproximadamente às zero horas recepcionámos uma chamada de emergência e acorremos ao local, onde havia já duas pessoas cadáver e uma outra que veio a ficar cadáver no caminho até à instalação hospitalar. Não tivemos portanto tempo de autuar as vítimas por terem pisado um traço contínuo aquando da fuga dos perpetrantes. Trata-se de facto de um crime de monta, mas estamos a proceder a todas as diligências necessárias para que a ordem retome ao local.

Há coisa mais linda do que ouvir esta carícia linguística em forma de relatório escrito à máquina com dois indicadores?

quarta-feira, 19 de agosto de 2009

Duas Coisas Que Irritam um Santo dos Altares

Há duas coisas que me irritam solenemente no nosso país. Aliás, duas não, muitas mais. Mas hoje apetece-me ficar irritada com estas duas:
1 - As obras.
Porque raio é que as nossas obras têm sempre o aspecto de um cenário de guerra? Às vezes nem quero acreditar no que os meus olhos apreendem, quando vejo uma fila de pobres utilizadores da carreira (ah ah) à espera do autocarro em cima de uma poça de lama rodeada de calhaus, gruas, amontoados de lixo de obra numa paragem que de paragem só tem uma placa com os números dos autocarros. E eles ali, resignados, pacientes no meio daquele caos de terceiro mundo. Depois fazem, desfazem, voltam a refazer, abrem buracos que nunca mais são fechados, só para os voltarem a abrir dias mais tarde. E assim transformam um local aparentemente inofensivo, numa mixórdia desorganizada e revoltante, que só me lembra a Guerra das Trincheiras.
Nos Estados Unidos temos operários de camisa ao xadrez, óculos escuros, I-Pods nos ouvidos, tudo arrumadinho, aspecto limpo e organizado. Posso estar redondamente enganada, mas eles parecem saber o que estão a fazer.

2 - As esplanadas
com toldos, neons e mesas alusivas às marcas de café, sumol, frutol, laranjol, caracol, cagalhol. Há coisa mais feia numa cidade? Mas custava muito proibir estas alarvidades visuais? Meter os olhos noutras cidades europeias em que as esplanadas se integram na paisagem, com flores, estrados em madeira, mesas e cadeiras discretas?
Custava assim tanto? Pois bem me parecia que não...

Dinheiro Mal Gasto

Cada vez estou mais convencida que o dinheiro gasto em brinquedos é praticamente todo atirado à rua, pelo menos cá em casa.
Penso que há pais que compram para compensar a ausência, outros porque não sabem dizer que não, outros que não descolam da imagem de si próprios a brincar com os playmobil, ou legos, horas a fio (eu própria) e estão convencidas que com os filhos será o mesmo (estúpida ilusão).
A minha filha não tem muitos brinquedos, mas os poucos que tem não lhes dá grande importância.
Gosta de papel, lápis de côr, auto-colantes, filmes e pouco mais.
O grande fetiche dela é pôr o cesto da roupa suja à sua frente, fingir que é o balcão de uma loja e chamar-me:
- Ó Senhora, venha cá à loja! Senhora!
E lá vou eu sempre com a mesma deixa:
- Bom dia, o que é que tem hoje para me vender?
E ontem saiu-se com esta:
- Ora bem, tenho um bacalhau, um arroz, umas cuecas e uma bufa.
Mas onde é que ela foi desencantar estes artigos? Na loja do Chinês?????

terça-feira, 18 de agosto de 2009

Coitadinha

Porque é que certas pessoas (a minha avó incluída) gostam de acrescentar um "Coitadinha" a cada frase que proferem? Passo a exemplificar:
- Tão bonita que a Alice está coitadinha.
- E tu como é que estás Ana? Mal claro coitadinha.
- Não gostas da comida que fiz, pois não? Coitadinha, devia ter feito outra coisa.
- Está-se a rir, olha coitadinha tão querida.
- Coitadinha olha para ela, tão feliz...
Ou seja, mesmo quando vê alguém feliz foge-lhe a boca para o Coitadinha.
Será apenas um tique nervoso, ou simplesmente uma incapacidade crónica para ver ver o mundo sem uma desgraça qualquer inerente?
Gostava de entender a sério que sim...

As Mamãs

Ontem lá fui eu a mais uma consulta, desta vez (e porque a minha médica em Agosto só atende lá) no British Hospital, que de British só tem o nome mesmo.
E enquanto o meu poiso habitual pulula de grávidas que acariciam o ventre em êxtase e sorriem face a qualquer mal estar, aqui esperavam a sua vez com os respectivos papás, grávidas determinadas, ferozes donas da verdade universal sobre todos os truques da maternidade. Pareciam conhecer-se umas às outras e olhavam-me de lado, como quem diz: Olha esta é nova! Olha vem sozinha, será mãe solteira?
E lá foi a Ana ouvindo as mamãs, quanto mais não fosse para se entreter na espera.
- Eu não vou dar chupeta ao meu, acho que depois é pior para pegar na mama.
- Achas? Eu ouvi dizer é que não se deve dar nunca biberon, que depois habituam-se a chupar na tetina e não querem a mama.
- Eu quero dar mama pelo menos até aos 7, 8 meses.
Além de me soar tudo um bocadinho a conversa de vaquinhas numa leitaria, sorri pela ingenuidade que ambas acalentavam no peito (literalmente). Tantas certezas, tantas verdades incontestáveis impingidas às pré-mães em cursos, livros da especialidade. Tanta segurança.
Enquanto as ouvia debitar só um pensamento me percorria por dentro: Que esteja tudo bem com ele, o resto trilharei com grande flexibilidade, sem leis universais, sem certezas programadas.
Sei que essas leis não estão compiladas num Código, obedecendo a artigos. Essas leis fazem-se no dia a dia, após cada noite em claro em que se fica a conhecer mais um bocadinho aquele minúsculo ser. Essas leis são diferentes para cada filho, para cada mãe, mas não necessariamente certas, ou erradas. São simplesmente as que melhor se encaixam.
Isto da maternidade não é senão um constante encaixe até se encontrar a melhor posição.

segunda-feira, 17 de agosto de 2009

Quantos Casamentos

Porquê a obsessão de convidar meio universo inter galáctico e arredores para o casamento?
Qual é a piada de partilhar um momento tão íntimo com uma cambada de pessoas que se conhece apenas à superfície?
Eu por mim dispenso, já não aguento nem mais uma boda em que mal conheço os noivos, em que tudo aquilo é puro frete, em que não sinto nada além da vontade de tirar os sapatos apertados e ir embora.
Depois para agravar o frete em si por um qualquer motivo obscuro que ainda estou para entender eu e o Hugo ultimamente éramos sempre colocados na mesa da terceira idade. Não que tenha nada contra essa faixa etária, muito pelo contrário. Mas quando estão literalmente a cair da tripeça, com as dentaduras sempre a descolarem-se de cada vez que falam é difícil manter-me acordada. Aliás é quase impossível sentir-me viva depois de três copos de vinho.
E os presentes? As listas de casamento pomposas em que não conseguimos escolher absolutamente nada para o nosso humilde bolso?
Acabamos por oferecer timidamente uma colher de café da Vista Alegre que rebenta com o nosso orçamento limitado para prendas de casório e nos faz sentir ridículos por darmos uma colher a um par de noivos, ainda que custe os olhos da cara.
Enfim, tradições não são de facto o meu forte e casamentos de quem mal conheço fujo deles a sete pés...

domingo, 16 de agosto de 2009

Top Gear


Andava eu acometida de um estranho vício televisivo como não experimentava há muito, quando apanho na revista do Público de hoje um texto sobre a minha mais recente adição e que serviu apenas para ficar ainda mais fixada na coisa.
Perguntam vocês: Como é que uma grávida chata, mãe, esposa maravilha e dona de casa incansável (ah ah) se vicia num programa sobre carros?
É simples, através do humor de quem o apresenta. Neste caso, apesar de existirem outros co-apresentadores igualmente hilariantes, o Jeremy Clarkson bate tudo o que se tem cruzado com a minha pessoa.
É o típico humor britânico politicamente-incorrecto transportado para o mundo automóvel. Ele desfaz qualquer marca que não goste da forma mais inteligente e hilariante possível. Por muito que doa aos fabricantes ouvir coisas do género:
"O Ar condicionado dos Lamborghini consistia num asmático sentado no painel de instrumentos soprando numa palhinha".
Ou: "Dizer num jantar que se conduz um Nissan Almera é o mesmo que dizer que estamos infectados com o vírus Ébola e vamos espirrar"
"Já vi feridas gangrenadas bem mais bonitas que este Porsche Cayenne"
Ver o Top Gear é já um prazer instituído aqui por casa (às Quintas feiras, por volta das 22 no Discovery Channel).
Por isso façam-me um favor e mesmo que não gostem de carros vejam pelo menos um episódio deste programinha a ver se não ficam apanhados.

A Importância de Sermos

Trago por dentro, do lado de tudo o que costuma esconder-se para não se lembrar, as memórias daqueles dias em que não sorria. Em que tudo parecia insuperável e a minha vida um enorme vazio à espera que o completassem.
Foram precisos muitos anos para entender que ninguém viria preencher esse espaço temido por mim e que também não poderia continuar cega, fingindo que nunca tinha existido.
Há coisas que simplesmente temos que empreender sozinhos. Não vale a pena tentarmos levar outros a entender-nos lá atrás, ou puxarmos constantemente os personagens à razão bem aqui no presente.
Reviver tudo isso e perdoar o que passou é uma viagem solitária, uma viagem até à vida adulta, no final da qual podemos dizer que crescemos e aí sim, depois de tudo arrumado, darmos a mão a alguém e continuarmos em frente.

sábado, 15 de agosto de 2009

O Caminho da Maternidade

O que mais odeio neste meu estado de bomba hormonal em contagem decrescente é ter menos paciência para a Alice, pois ela é a que menos contribuiu para me deixar assim.
Sei que não sou perfeita, que tenho momentos melhores, outros piores e ela já aprendeu a conhecer-me também, mas quando decidi que ia enveredar por este caminho da maternidade, foi com plena consciência de que ia pôr no mundo alguém que não tinha pedido para existir.
Não foi um capricho, uma carência biológica, um ir na maré. Foi uma decisão com os dois pés na terra e o coração nas mãos. Uma decisão de peso que iria mudar o rumo dos meus passos para o resto da vida e eu sabia disso.
Com ela chegou tudo o que não sabia possível e uma capacidade quase infinita de me reinventar todos os dias. Em vez de um grunhido mal humorado às 7 da manhã quando a voz dela me acorda, sai-me um sorriso ensonado e forçado.
Em vez de um grito zangado quando quero simplesmente ficar sozinha, um pedido para que me deixe só mais cinco minutos antes de ir ter com ela.
Por tudo isto me tiro a mim própria do sério com este meu novo estado de impaciência crónica. Simplesmente porque ela não merece menos de mim, nem metade de mim.
Não merece uma mãe diferente só porque decidi empreender mais uma vez este caminho.
Sei que vai passar. Quando este calor infernal se for embora, também eu vou ficar mais leve. Mas até lá, apenas posso assegurar-lhe que a amo imensamente e que a culpa deste meu estado emocional não é dela... É do PAI!!!!!

sexta-feira, 14 de agosto de 2009

O Triângulo das Bermudas, ou Nas Bermudas


Venho aqui falar de um mal que acomete muitas mulheres por esses campos fora, um mal que decidi apelidar de Síndrome Triângulo das Bermudas, apesar de muitas vezes se dar nas próprias das bermudas.
Não é só a Dona Dolores que sofre do síndrome, ela apenas serve para ilustrar com detalhe aumentado esta, digamos, deficiência visual que toma conta das mulheres que saem à rua com o seu triângulo bem vincado pelas calças que envergam.
Será que não reparam mesmo que têm ali a sua coisa desenhada ao pormenor, ou simplesmente gostam de a vincar e a exibir aos olhares mais inocentes?
Não sou muito dada a falar de moda, de roupa, de fashion, de out-of fashion, mas definitivamente esta é uma coisa que me desagrada e muito. Só me apetece chegar perto delas e puxar-lhes as calças até aos sovacos, pois já que é para vincar que se vinque como deve ser.

quinta-feira, 13 de agosto de 2009

Estado de Graça só Para quem Pode

Hoje sinto-me a pessoa mais velha do mundo. Quem inventou a idílica ideia que a gravidez é um perpétuo estado de graça nunca viveu comigo durante os 9 meses graciosos.
Cheia de afrontamentos, suspiro por tudo e por nada, impaciento-me quando não me entendem à primeira, encolerizo-me quando não me entendem à segunda, tremo quando estou mais de três horas sem comer.
As calças com aquele elástico que não aperta caem-me pelo rabo abaixo, fazendo-me sentir a mulher menos sexy que alguma vez caminhou no passeio das estrelas (tirando a MFL). A frase "Ó Mããããããe" ocupa todo o espaço sonoro dos meus minutos e odeio não ter paciência para ela.
Já troquei 3 pares de sapatos que acho maravilhosos na sapataria, mas depois de andar 200 metros percebo que foram a décima quinta má compra do mês.
Sinto que não sou suficientemente mimada e que ninguém aqui em casa me trata de forma mais suave e tolerante por estar a gerar um minúsculo ser dentro de mim.
Ninguém tem paciência para me aturar, mas toda a gente se queixa da minha falta de paciência.
Enfim, podia continuar, mas sinto que há pessoas com problemas a sério que iriam achar uma afronta estas minhas queixas quotidianas, por isso sigo em frente, sempre à espera de amanhecer de bem com o universo, mas com a certeza interior que a gravidez, pelo menos para quem não tem criados, é um estado muito próximo da terceira idade.

quarta-feira, 12 de agosto de 2009

Beleza Desarmante


Em frente à bomba de gasolina onde costumo abastecer a viatura está o espaço reservado para os cartazes de campanha do PSD. Já repararam que cada partido parece ter o seu espacinho bem guardado?
Infelizmente a bomba tem bons preços e eu lá aguento estóicamente aquela senhora que me guarda enquanto enfio o pinchavelho do gasóleo na cavidade própria.
Mas ultimamente, desde que a Manela levou um not-so-extreme-makeover nas ventas, que aquilo me custa cada vez mais. Ao ponto de ter que abastecer de costas voltadas para o cartaz, aterrorizada, apavorada com aquela laca, aquele gloss labial, o blush, aquele colarzinho de pérolas sempre presente e aquela postura tão descontraída de quem está mesmo bem na sua própria pele, de quem se sente sexy, sensual e tudo o que uma mulher da política tem direito.
Não consigo evitar recordar aquela velhinha anedota de alentejanos em que o marido, ao ver a esposa arranjar-se com maquilhagem lhe pergunta:
- Ó melhere porque é que te estás pintando?
- Ó home p'ra ficar mais bonita.
- Ah, então porque é que não ficas?


Nota de Rodapé de extrema importância e vitalidade: Isto não quer dizer que seja, ou deixe de ser do PSD, pois sou uma verdadeira apartidária. Quer apenas dizer que tenho medo, muito medo da Manela e do seu carisma.

Ó Mããããe!!!!!


Cometi o erro de emprestar o temporizador da cozinha (ou alarme inútil para a comida não se queimar) à minha filha. Não quer outra coisa. Regula o relógio e roda-o de volta até à campainha para me avisar que o que quer que está a fazer terminou.
Se estiver a ver o Winnie The Pooh na televisão, assim que termina o episódio roda aquilo e TRIIIIIIIIIIIIIIIIIIM "Ó Mãe, já acabou o Pooh!!!", "Ó mãe já está na hora de sairmos!!!!", "Ó Mãe olha já tenho fome!!!".
Mas ontem teve a ideia do milénio que foi levar aquilo para a casa de banho enquanto satisfazia as suas necessidades sólidas. Passados uns minutos oiço a campainha tocar e a sua voz que me gritava:
" Mãe já está prontinho!!!"

terça-feira, 11 de agosto de 2009

Em Agosto

Em Agosto não se pode encomendar um tecido para forrar o sofá, a fábrica está fechada.
Em Agosto não se pode marcar uma consulta, o médico está de férias.
Em Agosto não se pode parir, a nossa médica não está.
Em Agosto não se pode viver nos locais onde os outros estão de férias, por isso vai-se de férias para outro lugar qualquer.
Em Agosto a Quarteira e Armação de Pêra ficam ainda mais feias e o Algarve ainda mais parecido com um gigantesco dormitório sem infra-estruturas que o suportem.
Em Agosto não há ninguém que nos venha desentupir um cano, abrir-nos a porta quando nos esquecemos da chave dentro de casa.
Em Agosto a música que nos dão quando esperamos que nos atendam de um qualquer serviço telefónico prolonga-se ainda mais que o normal.
Em Agosto não se pode morrer, pois os serviços fúnebres estão a meio gás e não há homens suficientes para carregar o caixão.
Em Agosto há todo um ritmo inerente. Qualquer coisa que não se explica, que se aceita com um encolher de ombros resignado. Em Agosto há que parar faça chuva, sol, vento, trovoada, tufão, terramotos.
Confesso que a única coisa boa de Agosto é andar em Lisboa de carro.

Como Ganhar o Dia em 10 Minutos


Ontem enquanto fazia o almoço cheia de pressa deixei cair o pacote de arroz no chão e milhares de grãos barulhentos espalharam-se por tudo quanto era sítio, frincha, abertura, debaixo da máquina da loiça, no meu cérebro. Um verdadeiro pesadelo. Enquanto vociferava furiosa comigo própria e com a minha estupidez, a Alice entrou na cozinha alarmada pelo meu pânico e ao ver aquele gigantesco tapete de cereal no chão da cozinha:
- Espera aí mãe, não te preocupes.
E correu para dentro, regressando com uma panelinha de brincar. Ajoelhou-se no chão e começou a apanhar grão, a grão, com uma dedicação enternecedora.
Sem grande consciência da tarefa utópica que acabara de iniciar, dedicava-se de corpo e alma a ajudar a mãe para lhe tirar a aflição do rosto.
Não precisei de rigorosamente mais nada para ganhar o dia.
E quando de aspirador em punho lhe mostrei como afinal de contas não era assim tão dramático, ela sorriu com a sua panelinha cheia de arroz nas mãos e disse:
- Estás a ver não era preciso gritares, és mesmo tonta sabes?
- Sei Alice, por acaso até sei.

segunda-feira, 10 de agosto de 2009

Cabelos ao Vento


Já vos disse que odeio praia no verão, mas aqui fica mais uma vez esta oração interior que rezo sempre no caminho para o areal:
Odeio Praia No Verão, odeio praia no verão.
Rezava eu esta oração sobre a espreguiçadeira naquela praia algarvia enquanto dividia uma Bola de Berlim com a Alice quando uma senhora de idade decide alugar a espreguiçadeira vizinha da nossa.
A esta altura estão vocês a dizer:
Ai que fina, na espreguiçadeira! Ai que tia!
Mas não meus queridos, eu sou é tremendamente comodista e sei que já não consigo aguentar com o lombinho no chão por muito tempo.
Continuando, a senhora de idade começa a sua lenta dança de strip-tease, deixando a nu toda a sua pele já um pouco encarquilhada debaixo de um ousado biquini e eis se não quando se agacha de traseiro na minha cara para compor a toalha. A bola de berlim pára a meio caminho, pois a minha boca paraliza-se de espanto ao ver que na minha direcção esvoaçam cabelos, mas não cabelos desses presos no escalpe. Cabelos das partes baixas, se é que me faço entender. Longos, muito longos, mais precisamente até ao joelho grisalhos, despudorados. Eles voam, voam e ela ali, a julgar-se a velhota mais sexy do planeta de rabo virado para mim. Só tenho tempo de proteger a Bola de Berlim de uma eventual largada de (perdoem-me) pintelheira sobre o bolo e virar-me para o lado cheia de vontade de vomitar as tripas.
O Hugo chega do mar e perante a minha expressão chocada na direcção da senhora bate os olhos na cabeleira púbica e exclama:
- Olha! Barbas de milho!

sábado, 8 de agosto de 2009

A Importância de Nos Sentirmos Assim

Acho que no fundo o que todos precisamos é de nos sentirmos importantes na vida de alguém. Pode ser na vida de um filho, de um marido, de uma mãe, de uma irmã, de um amigo, ou até de alguém que se cruza no nosso caminho por poucos minutos.
Porque quantificarmos aquilo que valemos vale mil vezes mais pelo olhar dos outros do que pelo nosso próprio olhar.
Posso até saber que faço bem o meu trabalho, mas um pequeno elogio do meu patrão é um incentivo melhor que gasolina.
Um médico pode sentir-se a pessoa mais competente do mundo, mas se alguém lhe agradece por lhe ter salvo a vida, ou até por algo mais pequeno, mas tão importante, como lhe ter aliviado a dor, tenho a certeza que se sentirá recompensado pelas horas de banco.
Uma mãe pode sentir que cumpre o seu dever, mas quando vê o sorriso nos lábios do filho, sente que valeu a pena.
Uma mulher pode até saber que é amada, mas se não ouvir de vez em quando que ainda importa, que ainda representa mais do que uma peça de mobília, acabará transformada nas suas próprias tarefas, perdendo-se.
Por isso enquanto importarmos para alguém vamos sempre amar-nos mais um bocadinho...

sexta-feira, 7 de agosto de 2009

Ouvir Para Lembrar



Água salgada, risos, areia da praia nos sapatos, praia à luz do luar, mais risos, cabelos ao vento, cheiro a mota nos cabelos, mais risos. Noites sem vento, imperiais, histórias iventadas ao sabor das horas sem pressa, beijos sonhados, mão dentro da mão, inocência, sonhos, Seagul, News, entrar em casa tarde em silêncio, risos, dores de cabeça na manhã seguinte.
Sempre que oiço o Don Henley a cantar Boys Of Summer sinto tudo isto em poucos minutos e sorrio sempre, sempre.
É definitivamente uma música que está bem marcada dentro de mim.

As minhas Aventuras em Duas Rodas

Existe um complot algures escondido na camada de ozono contra a minha pessoa, tenho a certeza disso, pois sempre, repito, sempre que estou atrasada para chegar a algum sítio, aterra à minha frente, vinda sabe-se lá de onde, uma cafeteira destas.

O seu condutor convencido que ninguém o apanha e que ninguém atrapalha com a sua velocidade absolutamente estonteante, fica bem no meio da estrada de curvas, onde é impossível ultrapassar. Costas para a frente rasgando o vento, apesar de se encontrar dentro daquela cápsula de lata, cotovelos levantados, qual homem bala e olhos semi-cerrados para que os golpes de vento provocados pelos 200Km hora não o ceguem.
Atrás dele lá sigo eu olhando o relógio de segundo a segundo e com uma vontade louca de encostar o meu carro à traseira daquela chaleira, dando-lhe um empurrãozinho.
E enquanto percorro os quilómetros que me separam do meu destino longínquo, lembro-me da minha primeira mota, uma Target e nas figuras tristes que também eu fazia sobre ela.
Quando atingia os 70 Km/hora, vento na cara, altamente convencida que ninguém me apanhava naquela bomba e subitamente olhava para trás e via a fila que se formara atrás de mim. Tolhida pela vergonha, encolhia-me toda à direita e reduzia-me à minha insignificância. Não, eu não tinha uma CBR 600 (tão na moda que estava), eu tinha uma Target 50. Lembro-me quando no meio de tanta vergonha não vi aquela curva cheia de areia e me espatifei numa longa derrapagem.
Recolhi a acelera riscada do chão de alcatrão e toda dorida segui para as aulas. Não entendendo de todo a cara de espanto dos meus colegas quando entrei na sala.
- Então Ana o que é que aconteceu?
- Nada, porquê? (jamais admitiria o espeta estúpido e nada heróico)
- Já viste as tuas calças?
E olhando para trás percebi que no lugar dos bolsos traseiros estavam agora dois buracos. Pena não darem para me esconder dentro deles...

quinta-feira, 6 de agosto de 2009

Acende o Meu Fogo, ou Já Acabavas Não?

Não vos acontece estarem a ouvir uma música que até gostam bastante e de repente uma má disposição tomar conta da vossa mente? Como um martelar de fundo, a princípio ténue, quase inaudível, depois agudo, enlouquecedor, gritante. Sentem cada prego a ser cravado na mona com a precisão de um bisturi e perguntam:
Mas o que é isto? Estava tão bem e agora... Agora só me apetece desatarrachar a cabeça!!!!!
Então dão-se conta que a gaja a cantar no rádio ainda não se calou, prolonga a música como um moribundo que quer viver por mais um instante. E geme, geme, geme, adiando o final, como se cada minuto extra lhe fosse valer um Grammy.
Aconteceu-me hoje com uma música da Nely Furtado no rádio do carro (Try).
E agora que penso a fundo na coisa, há centenas de músicas que podiam terminar mais cedo e que se arrastam por minutos que parecem dias, por dias que parecem anos.
Quem não conhece o Light My Fire dos Doors? Digam-me com toda a sinceridade. Sou só eu que acho que aqueles 8 minutos de órgão só se aguentam com uma grande dose de ácidos na caixa craniana?
Não acham que eles estavam tão, mas tão cheios de LSD quando compuseram aquela música que se não fosse um deles ter desmaiado durante as gravações aquela merda teria ficado com 24 horas de órgão?

quarta-feira, 5 de agosto de 2009

Gôdo e Fiél Escudeira


Tlim-Tlão Tlim-Tlão.
- Quem é?
- Correio!
Mais uma multa por carta registada, penso eu enquanto me encaminho para o portão.
- Bom dia!
- Gôdo Casaca e Fiél Escudeira Alice é aqui?
- WTF???? Hmmm, acho que sim.
Enquanto seguro o envelope na mão e vejo o remetente faz-se luz: "De Mel, Gabi e Hugo".
Melissa sua grande maluca! Foste responsável pela primeira carta de um feto!!!!
A Alice pulou de alegria enquanto abria o envelope e descobria um bâton da Hello Kitty, escusado será dizer que já se besuntou toda com ele, enquanto dizia:
- A Melissa é querida mãe!
E não é que é mesmo?
Obrigada Melissa, querida é pouco. Depois de uma manhã a aspirar era só isto que eu precisava. Melhor só se te tivesses lembrado da mãe do Gôdo e da Fiél Escudeira e em vez do carteiro me tivesse batido à porta uma empresa de limpezas:)

Em Limpeza

Depois de mais uma noite de porrada com a minha almofada. Acordei e decidi que estava na altura de aspirar a casa. Afinal de contas a rapariga de nacionalidade ucraniana que vem uma manhã por semana, decidiu algarviar, deixando-me na mão por alguns dias e eu tenho que provar a mim própria que sou capaz de domar o bicho chamado tarefa doméstica tão bem como uma ucraniana boazona qualquer.
Por isso aqui a grávida que tudo faz mesmo estando grávida, pegou no aspirador e aspirou. Como fazer mais do que uma tarefa no mesmo dia é missão utópica para os meus ossos preguiçosos decidi ASPIRAR no sentido lato do termo.
Aspirei a mesa de jantar, a mesinha de centro, a secretária, o teclado do computador, as capas dos livros, as portas, acidentalmente os pés da Alice. Chiça que me saí mesmo bem. Só não sei como não me aspirei para dentro do saco.
Sou tão esperta que até dói.
Agora só tenho que arranjar um método de limpar as casas de banho neste esquema. Pensei pegar numa esfregona e arrumar o assunto desde as sanitas às banheiras.
A propósito de limpezas, já repararam na quantidade de merda que se esconde no teclado de um computador? Acho que aspirei um bife lá de dentro.

terça-feira, 4 de agosto de 2009

A Almofada Perfeita

Ando num estado tal de irritação sonolenta que ofereço um prémio a quem me trouxer a almofada perfeita, qual sapatinho de cristal que servirá na minha carola.
Já tive Tempur, de penas, de micro-fibra, de polyiester, da colunex, da molaflex, da merdex, altas, baixas, médias, arredondadas, quadradas, rectangulares, circulares.
Acreditem já tive de tudo na cama e nenhuma, repito, nenhuma me satisfaz.
Quando me viro de barriga para cima prefiro sem almofada, para o lado esquerdo apetece-me uma certa textura, quando me viro para o lado direito, uma mais cheiinha convinha-me mais.
Eu dou pancadinhas, ajeitando melhor a forma, dobro-a em dois para um croquete mais a jeito, espalmo-a para não me dobrar tanto o pescoço, atiro-a para o chão quando simplesmente me apetece deixar o gasganete estalar de exaustão, enfio o braço dobrado debaixo da bochecha, abraço-me a mim própria buscando consolo e no meio de tudo isto acordo partida, de pescoço dorido e a gemer de sono.
Já implico com o colchão, com o Hugo, com a cabeceira da cama, com a própria cama, com o quarto. Acho que temos que mudar tudo, a culpa é do contexto.
Ai o meu pescoço!!!!!!!!!!!!!
Por isso fica aqui a promessa, quem conseguir a almofada que me sirva em todas as posições recebe um prémio: Todas as minhas almofadas antigas e olhem que dá para abastecer dois hotéis de 12 andares com 1200 quartos cada um.

segunda-feira, 3 de agosto de 2009

A Tua Mão Na Minha

Tudo parece parar à minha volta quando seguro a tua mão na minha, quando te tenho presa por essa sensação passageira de segurança.
Tudo parece deixar de importar quando os teus cinco pequenos dedos se esticam na palma da minha mão pedindo-me que não os solte enquanto o medo não passar.
Nenhum outro gesto me faz sentir mais próxima do que dar-te a mão enquanto atravessamos aquela rua movimentada pela vida dos outros.
Nenhum outro gesto simboliza tão perfeitamente esta nossa união, a minha mão estará sempre aqui e a tua estará quando precisares de mim...

Como tu me Entendes Filha

- Mãe sabes que te adoro?
Bochechas vermelhas, olhar brilhante e convencido da mãe, neste caso eu.
- Eu também te adoro, um abraço vá.
E no meio do abraço o elogio continua:
- Sabes porquê?
- Porquê Alice?
- Porque tu és a minha criada.


*Não consegui rebater esta parte do elogio. É que tenho dias em que me sinto precisamente assim. Uma criada, mas sem a parte do trabalho remunerado...

domingo, 2 de agosto de 2009

Paneleirices Másculas

Porquê a paneleirice de tantos homens pelo seu carro? Será que é mesmo uma extensão da sua virilidade como dizem por aí?
Como, cruzes, como são eles capazes de enfrentar filas domingueiras intermináveis na estação de serviço só para lavarem o bólide nesse dia dedicado ao fato de treino listado de nylon e ao brilho do automóvel?
Porque carga de água me decoram a carripana com almofadas, naprons, folhas de eucalipto estonteantemente bem cheiroso, mais as árvores com essência enjoativa no retrovisor?
Porque é que o mais macho dos machos massacra a mulher de cada vez que lhe toca no membro, quer dizer, no carro e inspecciona a pintura, a pele do estofo, a manete das mudanças que ficou lassa depois da mão pouco delicada da esposa sobre ela ter trabalhado.
Porque é que o maior dos javardos dentro de casa é o maior do picuinhas no interior da sua viatura?
Alguém que me esclareça por favor, porque aqui em casa ninguém me soube explicar. Até porque o espécime masculino que por aqui habita tem papéis gordurosos de Cheeseburguer do ano passado dentro do porta luvas.

sábado, 1 de agosto de 2009

No Silêncio

E aqui estou eu. Sozinha num dos inúmeros recantos deste hotel à beira mar. A Alice na piscina interior com o pai, os hóspedes atarefados nos seus chinelos molhados e barulhentos, os empregados do restaurante a levantarem as mesas do pequeno-almoço e eu aqui, a desfrutar do meu silêncio no meio do ruído dos outros.
Cada vez mais estes momentos são uma benção para o meu corpo cansado da cabeça que por vezes pensa em demasia.
É como se me restabelecesse para o que passou e para o que aí vem.
Todos deveriamos ter estes momentos de puro silêncio, em que só nós importamos para depois tudo ser relativizado.
Nós mulheres, mães, provedoras de bem estar temos obrigação de nos sentarmos pelo menos 10 minutos por dia e não fazermos rigorosamente nada, além de ficarmos neste silêncio que nos enche.