segunda-feira, 21 de abril de 2014

desabafo ligeiro-como-quem-não-quer-a-coisa

Andamos todos calados, conformados, desinquietados, medrosos, neuróticos.
Andamos todos agradecidos pelos tostões que recebemos, pois que enfim, não podemos queixar-nos por ter tostões, já que tantos não os têm.
Andamos todos em vénias por termos ainda trabalho, ainda que esse trabalho seja um profundo excremento, e deixamos de reivindicar coisa melhor, pois que o melhor é agora muito pouco, nesta baixa de expectativas que nos injectaram durante o profundo coma troikiano.
Andamos todos acorrentados uns aos outros, correndo em maratonas, como gado, mas sem o objectivo de encontrarmos pastagem melhor, e partilhando frases virtuais de incentivo, cuja autoria é sempre de origem dúbia.
Andamos todos tão atormentados com as dietas detox, glúten free, enriquecidas com magnésico, anti oxidantes e laxantes. Andamos todos tão compenetrados no que fazem todos, no que leem todos, no que comem todos, que toda a nossa vida se transforma numa gigantesca e absurda obstipação.
E pronto, agora voltarei para a minha caverna, onde me refugío do universo social lá fora, e vou continuar a trabalhar, enquanto sorvo avidamente o meu sumo de espinafre com cebola, mas quente e em modo sopa.

segunda-feira, 14 de abril de 2014

Rita

Somos muito mais do que a data em que nascemos e o dia em que deixámos de viver.
Somos muito mais do que os números que marcam o dia em que chegámos e o dia em que partimos. Por isso hoje,tal como no resto de todos os dias, não me lembrei que era uma data tua. Talvez por ser a mais triste de todas as datas,talvez por me recusar a acreditar que agora não és mais do que o princípio e o fim, ficando o meio inteiro entre eles tolhido pela tristeza dos aniversários que se choram.
Farei questão de imaginar-te ainda um futuro, longe destes calendários que dão o compasso para a nossa tristeza e de celebrar todos os outros dias em que exististe.