Na nossa breve passagem pela zona da Mealhada, parámos num restaurante de beira de estrada, para satisfazer os estômagos roncantes das crianças e deparei-me com dantesco cenário.
As pessoas, no gigantesco complexo de ingestão de leitão, não falavam. Bigodes pingavam, línguas passeavam sobre as beiças, dedos agarravam pedaços suculentos de carne, pratos de batata frita eram passados de uma pessoa para a outra com sofreguidão. Ali parecia ingerir-se a própria vida. Era comer, ou morrer.
Eu sei que vem desde os primórdios dos tempos, esta cena com a comida. Este culto, esta obsessão, esta relação de profundo amor que muitos têm com o seu pedaço de entrecosto, o chouriço, a especiaria, as migas, a doçaria, até a própria salada gourmet.
Sei que eu própria padeço, de quando em quando, geralmente quando estou mais em baixo, desta paixão erótica pelo divino alimento, mas porquê?
Porque é que se perde tempo a fotografar o alimento, a acariciá-lo, a mimá-lo, a mostrá-lo, a falar sobre ele e a exibi-lo a outras gentes?
Há qualquer coisa errada aqui.
A comida deveria servir para matar a fome, ponto. O sexo, o amor e realizações de outros níveis, deveriam servir para matar outras carências.
Isto é a minha teoria.
Agora vou ali pôr a marinar numa cama de alecrim, com limão e azeite, o meu lombo.