Sem vontade de escrever, de caminhar, de sorrir, de ler, de ir dormir, de acordar.
A minha vida está pendente da coisa mais vil que Deus ao mundo deitou:
A tosse, neste caso, a tosse da Alice.
Ela sempre teve grandes episódios de tosse, mas este está a superar todos os outros. Dura há praticamente um mês e chega sempre na calada da noite, como uma ferroada que nos desperta, um som amargo que faz com que o meu sono fique a aguardar o recomeço a qualquer momento.
Quando pensamos que nessa noite vai ser diferente, não é.
Mudam-se almofadas, lavam-se edredons, desumidifica-se o quarto, humidifca-se o quarto, muda-se de quarto em busca da causa, do agente provocador. Tudo parece que é e nada é.
Hoje fomos a um alergologista e ela tirou sangue, foi radiografada, picada.
Ainda não temos resultados de nada e o meu corpo dói. Consigo ouvir cada batida do meu próprio coração e as vozes ao longe, distorcidas e sem importância, pois nada importa. Estou pendente dela.
Queria poder tossir eu, carregar os seus males na sua vez, mas nada posso, além de dar colo pela noite dentro, esquecendo que tenho sono, que tenho frio, que me tenho a mim, pois sou dela e apenas isso impera.
Que ela fique bem, é a única coisa que importa.
Grandes diálogos: O Apartamento
Há 1 mês