Numa época de crise profunda e de miséria disfarçada em que vivemos, numa época de, mais do que justificadas, sensibilidades à flor da pele, é de senso comum que não se fale em público, quando de figuras públicas se trata, tudo aquilo que se pensa.
Aliás, esta regra aplica-se à vida em geral.
Eu posso pensar que somos todos uma cambada de preguiçosos, que se sobre-endivida e vive de aparências e choraminguices, mas, por uma questão de respeito à maioria que não o é e que sofre efectivamente na pele esta profunda crise. Uma maioria que se debate todos os dias com o esticar de um orçamento miserável, ou com a falta de orçamento, uma maioria que trabalha com afinco, apenas para ver o seu salário real, já de si miserável, diminuir dia após dia. Por respeito a essa maioria, calo o bico.
É evidente que a senhora Jonet tem um trabalho de voluntariado louvável, mas não menos louvável do que as famílias que, com graves dificuldades financeiras, arranjam sempre um extra, para contribuirem para o Banco Alimentar. Famílias, sem as quais, o Banco Alimentar nem sequer sobreviveria. Famílias essas que agradeciam que a senhora fizesse uma retratação.
Noutros moldes, diferentes, mas da mesma maneira ofensivos. Ofende-me o silêncio do Presidente da República. Ofende-me o Não Comento, Não é a altura apropriada, este não é o momento. Porque, afinal de contas, estamos a pagar-lhe um ordenado, para ele não fazer a ponta de um corno.
Também me ofendem os banqueiros que gritam para um microfone: "Ai aguenta, aguenta".
Enfim senhores, a cena é:
Há coisas que devemos guardar para a intimidade da mesa de jantar, em família.
Há outras que devemos falar, mesmo quando os nossos tomates estejam a sentir-se do tamanho de ervilhas.
É tudo uma questão de sensibilidade. Sensibilidade e bom senso.