Comigo nunca aconteceu como diziam as outras mães que acontecia.
Comigo não chegou de rompante bem na sala de partos, nem nos dias seguintes como uma luz, um fenómeno paranormal.
Comigo não foi tiro e queda como sempre ouvi dizer que era.
Comigo foi entrando de mansinho, em surdina, pé ante pé, com bastante timidez, até um dia acordar e perceber que estava tomada, irremediavalmente tomada de amor.
Tenho esta parte estranha no meu coração que nunca se deixa surpreender por nada, mas que já bateu e parou, acelerou e desacelerou vezes sem conta, principalmente por razões de amor, principalmente pelos meus filhos (e como ainda é estranho falar no plural).
Fui aprendendo mais de ti ao longo dos dias, uns atrás dos outros, sem pressa, como uma maré que enche cheia de vagas. Fui amando mais de ti a cada olhar, a cada toque, a cada som, a cada sorriso.
Fui amando mais de ti a cada choro, a cada banho, a cada passeio, a cada colo.
Fui amando mais de ti até saber que já és o ar que respiro, que já não sei chegar a casa e não te sentir, que já não concebo o meu quarto sem as tuas pequenas mãos que se agitam quando escutas a minha voz.
Fui amando mais de ti com uma única e absoluta certeza, a de que este amor não tem retorno possível, é o amor de uma vida inteira, enchendo até as páginas do meu passado, de todo o tempo antes de ti, que agora não faz o menor sentido.