Sempre gostei de escrever, por isso, quando chegou a hora de decidir o que fazer, não tinha grandes alternativas. Ou enveredava por jornalismo, ou por um curso de letras que me daria apenas para ensinar, o que jamais em tempo algum conseguiria fazer.
Por isso optei por Direito.
Perguntam vocês, porquê? Pois, nem eu própria consigo responder. Pensei que com um curso de Direito teria bases para qualquer coisa na minha vida e assim foi.
Num país de afectados fui parar ao curso campeão de afectados.
Na minha turma do 1º ano tinha colegas que no primeiro dia de aulas foram com as suas pastinhas de pele, convencidos que já advogavam. À medida que o ano foi avançando era vê-los a aparecer de fato e gravata, pastas topo de gama, cheias de códigos lá dentro. E aqui a Ana com as suas eternas calças de ganga e caderno espiral na mão.
Sempre me senti terrivelmente deslocada, por isso, assim que consegui, mudei-me para a turma da noite. Aí sim, tinha colegas esforçados, sem peneiras. Que estavam ali para aprender e não para se exibirem. Ainda me lembro do Abner, que tinha vindo de Cabo Verde já com quase 60 anos tirar o curso. Muitas mães de família cheias de garra. Era um desfile de pessoas cheias de mérito.
Nunca tive um miligrama de espírito académico. Os bailaricos, as tunas, as praxes, o traje, a queima das fitas. Fugi disso tudo como o diabo da cruz. Só queria ir à Universidade para assistir às aulas e já era um tremendo sacrifício. Voltar lá para o convívio académico era pedir demais à minha pessoa.
Na faculdade onde andei não dispensávamos nunca das Orais. Eles entendiam que em Direito não podia haver abébias e assim perdi 10 anos de vida à conta dos nervos. Ficava doente e o esforço que implicava fazer orais a tudo era esgotante.
Quando fiz a última oral, Processo Civil II, saí da sala, sentei-me no primeiro banco que encontrei e chorei como se não houvesse amanhã. Foi o maior alívio da minha vida. Só fui buscar o diploma quase dois anos depois, tal era a minha vontade de voltar à faculdade.
Até aos dias de hoje, ainda acordo de noite com a sensação que afinal ainda me falta mais uma oral, que ainda não acabei o curso. Foi assim que fiquei, toda queimadinha da cabeça. E para quê? Para acabar a escrever novelas...
Mas sem sombra de dúvida que fiquei com uma ginástica mental que nenhum outro curso me poderia oferecer. Acho que posso até afirmar que o meu cérebro cresceu. Deve ser por isso que já nennhum chapéu me entra na cabeça.
Grandes diálogos: O Apartamento
Há 4 semanas
31 comentários:
Ora aí está um dos cursos que nunca na minha rica vidinha tiraria. Direito.Não conseguia juro que não, acho demasiado chato lol. Não percebo a fixação de muita gente pelo Direito...
Quanto à vida académica em si, eu gosto. São daqueles momentos da minha vida que nunca ninguem me vai tirar, onde até se aprende muito. Tenho a certeza que aqui criei amizades pra vida.
As orais é que dispenso perfeitamente.Mesmo, começo a tremer e a stressar e é uma desgraça. Só fiz uma até hoje
bjo***
Pois é Sílvia, as orais deram cabo de mim, traumatizaram-me até aos dias de hoje. Nunca escapava, mesmo que tivesse 20, o que é virtualmente impossível a Direito.
Mas vida académica com aqueles afectados NEM MORTA.
Eu andei dez anos na Universidade do Minho.
Tirei quase dois cursos - quase porque quando cheguei ao ano de estágio de Ensino de Inglês\Alemão entrei em pânico e decidi mudar para o curso que realmente queria e que entretanto abrira. Voltei para o 1º ano e nunca me arrependi disso.
Também ainda não fui buscar o diploma, mas não pela mesma razão que tu, Ana C... Eu ainda não fui lá porque me custa encarar a ideia de que posso não voltar.
Vamos ver se o mestrado em tradução abre...
Aí volto de certeza.
;)
Acho que não deves generalizar. Não somos todos afectados a sério que não, nem bebemos até cair todos os dias (eu por exemplo nem sequer bebo) e muitas vezes acredita que uma saída, umas festa ou algo do género faz muito bem para aliviar a cabeça... E sim, trajo, praxei, fui praxada e acredita que valeu muito a pena =)
Mas são opiniões.
bjo***
Ana. 10 anos é obra!!!! Mas que coragem em voltares atrás. A diferença entre´nós é que tiraste um curso que gostavas, já eu...
Sílvia, eu odeio generalizações. Acho que não percebeste muito bem, os afectados são os estudantes de DIREITO...
Ainda para ti Sílvia, não tenho nada contra a vida académica e a boémia estudantil, muito pelo contrário. Mas eu era tão infeliz no meu curso que fugia literalmente da faculdade. Quando passava por lá de carro punha o pé no acelerador.
E eu pergunto-me: como é que uma ADVOGADA (a partir de agora só me dirijo a si por Sra. Doutora Ana, tenho a certaza que não te importas ;)) acaba a escrever novelas?
Acho que tens razão, o direito deu-te bases para tudo e mais alguma coisa!
Miguel, Dra. de fora por favor, essa história dava outro post. Mas basicamente o molho de folhas com uma história que tinha escrito chamada "A Vontade de Regresso" foi parar às mãos de um conhecido autor de novelas que me chamou para trabalhar com ele e até hoje faço parte da equipa dele. Ainda dizem que não há golpes do destino :)
Isto aconteceu eu ainda não tinha acabado o curso, por isso a primeira novela que escrevi ainda andava a queimar pestanas e a bater com a cabeça nas paredes...
Clementine, eu não me arrependo nem por um segundo do curso que tirei. Na realidade tens jornalistas, autores e sei lá mais quem formados em Direito.
Mas que foi lixado, foi :)
Oh pá, não andamos na mesma faculdade porque a minha não tinha orais obrigatórias. Mas temos um percurso semelhante. Também fui para a noite e foi completamente diferente. A diferença é que exerço sem muita dedicação a profissão. LOL Não sou uma A. típica!!! LOL
Cristina
Cristina, também és cá das minhas? Uma aluna-não-típica? É bom saber que não fui a única :)
Agora exerceres sem grande dedicação é que é chato...
tem piada que eu tenho um sonho recorrente em que me falta uma cadeira para acabar o curso (matemática, a única falha que tive)...e, pior ainda, no sonho sou sempre a única que o sabe!
traumas!
InêsN, ainda bem que não sou só eu a ter esse tipo de sonho/trauma. Já sonhei que me ligavam da secretaria da faculdade a avisarem-me que tinha havido um erro e que eu tinha que lá voltar.
Acordo e só passados alguns minutos percebo que não passou de um sonho, que terminei mesmo o raio do curso :)
Direito???
Pffff!!!! Essa gentalha... Era bater nessa gente toda!!!!!!!!!
Quanto às orais, entendo o teu trauma. Fiz mais de metade do curso por oral e era, sensivelmente, um maço de cigarros antes de cada uma... Sendo Joana era sempre no meio... dava para fumar muito!!!!
Joaníssima se eu não tivesse deixado de fumar naquela altura, não era um maço. Acho que fumava a relva dos jardins da faculdade e tudo!!!! Eu tinha um grupinho praticamente só de Anas (que nome mais vulgar também) e como sou apenas Ana, não sou Ana Catarina, Ana Belmira, Ana Rita, Ana Carina. O que contava era o meu apelido do meio, que começa por S.... Logo tinha muito que penar.
Olha já estou com as mãos suadas só de me lembrar BAHHHHHHHHHHH
Ai ai , Ana C., como eu te compreendo. A sério, percebo mesmo.
Estou no 5.º ano de Direito dessa bela faculdade que não dispensa as orais, nem dá notas superiores a 14.
Vida académica? Pfffffff!
ML só pode ser a mesma onde eu andei. Começa por L?
Como é que alguém ainda tem ânimo para a vida académica com a quantidade de marranço que é preciso empreender só para conseguirmos um mísero 12...
Não tenho saudades nenhumas :)
Acaba em L : FDL.
Bom fim de semana :)
Tens tanta razão! Eu acho o Curso super giro e útil e que te dá exactamente essa bagagem de que falas para desenvolver raciocínio e entender uma data de outras coisas... As orais são inesquecíveis: aquele momento em que se o que ía antes de nós já entrou, o abrir da porta, o entrar, o falr dauilo, o sair e a espera pelas notas a seguir... froam anos de vida roubados, sim senhor! Felizmente, isso acabou!
Eu exerço... com algum gosto, é certo. Mas acho que, acima d etudo, por falta de coragem de mandar tudo pró ar e arriscar...
ML, mas a FDL (parecemos malucas a falar por siglas) também tem orais orbigatórias? No meu tempo não tinha...
C, já vi que também ficaste desgastada por anos de orais (salvo seja). A tua descrição deu-me calafrios, porque acabei de voltar a sentir tudo de novo. Devia haver uma organização para recuperar ex-alunos de Direito sem vocação...
Lol eu percebo. Acho que também faria isso se andasse em direito xD
bjo e bom fim de semana
Eu também tive chefes de família na minha turma que eram verdadeiros exemplos de esforço e dedicação para todos. Estudei sempre no horário diurno porque na Nova não havia (não sei se já há) outra possibilidade, por isso era vê-los a aproveitar todos os intervalos que tinham no trabalho, para irem às aulas absorver tudo o que podiam enquanto que nós, as crianças, andávamos por ali, com a maior leveza do Mundo a não dispensar exames em Setembro e, às vezes, até em Dezembro.
Lusíada? Sim, senhora! Não admira, na parte dos afectados, eh eh eh!
;-)
Eu fui para Engenharia em Coimbra (lá caí aos trambolhões e sem páraquedas) e adorei o convívio, a praxe, tudo! Já do curso não gostei tanto. :( Até rasganço fiz (lá estava eu num sábado de manhã, semi nua a correr feita doida atrás da minha capa! Os rapazes ficam em pêlo! LOL)
Foi inesquecível! Pela positiva!
Não tinha orais, tinha algumas apresentações de trabalhos que eram uma verdadeira tortura! Detesto falar em público... a não ser que vá contar anedotas! LOL
Direito, também era um curso que me via a tirar! (mas nas orais, tinha de mandar o meu clone, que o meu tique - taque não aguenta essas emoções!)
Quanto ao diploma... é capaz de estar pronto este ano e já me licenciei em 2002... (não sei porque demora esta eternidade...)
Socas, é verdade que os trabalhadores estudantes têm o triplo do valor sim. Lusíada sim senhora e tu Nova (rica). O que tinha de bom era estar perto dos pastéis de Belém :)
banita, devem-te estar a bordar o diploma a ouro e com renda, só pode. Não vou comentar a tua praxe, porque só confirma aquilo que já desconfiava, que és sim uma granda maluca!!!!!!
E ela a dar-lhe! LOL
Não, por acaso até é bem feiinho, o raio do diploma! Já vi o do Banito, ele queria emoldurá-lo, mas mudou de ideias (só para teres uma ideia da fealdade do bicho)... tem para lá um pingarelho de metal com umas fitas das cores do curso que formam um conjunto tão feio...
E era de prever que viesse escrito à mão (pelo menos justificava-se o atraso), mas é que nem isso!!
Uma das primeiras coisas que me disseram quando entrei na faculdade, era que os diplomas estavam a demorar cinco anos a serem entregues, ora se o curso é de cinco anos, bem podem começar a escrevê-lo logo quando somos caloiros! Não há pachorra para a calanzice!
Na minha universidade as orais também eram obrigatórias e eu ficava tão nervosa que até chegava a ficar com febre!!! Depois descobri Inderal, ficava mais calma que os professores que me estavam a fazer a oral. Mas na minha faculdade também havia direito e tens razão, alguns alunos eram bastante emproados...mas havia excepções claro!!! Poucas mesmo...
Bem, orais para já não tenho...
Mas exames praticos, com cadávers e "peças" frescas, é cá connosco!!
Acho que em termos de nervos é à volta do mesmo. Temos uma camoainha que toca de min a min e que sinaliza a passagem para a próxima pergunta! Ou seja, um min para responder a cada pergunta:). Temos a vida contada ao minutinho!!
Faculdade, dizem que são os melhores anos da noss vida. Estou para ver:)!
Um beijinho
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