Artur consumido por um misto de euforia e entorpecimento olha o seu filho Daniel, com a mesma t-shirt gasta e desbotada de todos os dias. Daniel está à porta, parado, como se tivesse medo de acreditar que é mesmo verdade. Os seus olhos enormes castanhos fitam a mãe, como se tentassem perceber se aquela mulher ali sentada é mesmo a mãe que ele recorda no seu coração.
- Entra filho, vem falar com a mãe. A voz de Artur está embargada.
Maria olha a janela, completamente abstraída.
Daniel movimenta-se devagar, como se não tivesse pressa de lá chegar. Finalmente consegue falar:
- Mãe?
Artur dá a mão a Daniel a aperta-a com força, transmitindo-lhe toda a energia que consegue pôr num aperto de mão.
Maria volta-se devagarinho e encara Daniel. Ele baixa-se ao nível da mãe e a única coisa que consegue fazer é abraçá-la, voltar a sentir o calor daquele corpo tão familiar. Que saudades que tinha de sentir os braços da mãe, o cheiro, ouvir a voz, sentir a presença dela pela casa.
- Mãe tive tantas saudades tuas, tantas...
Artur sente um nó na garganta impossível de desfazer e chora de pura comoção, de alívio, gratidão por ver o filho reunido com o seu porto seguro, a sua mãe. Porque ao longo deste tempo todo em que esteve sozinho com o filho, sabia no seu íntimo que não conseguira ampará-lo, protegê-lo, animá-lo como Maria faria se estivesse bem.
- Meu amor, meu filho. Daniel como é que tu estás? Tão crescido, a voz diferente... - Maria chora como se deitasse cá para fora tudo o que guardara nestes anos.
- Tu lembras-te de mim? O pai disse que não te lembravas de nada e eu pensei que...
- Como é que podia esquecer-me de ti.
Maria e Daniel não conseguem soltar-se, os dois choram, cheiram-se, olham-se. Como num reconhecimento mútuo.
Os médicos falam em amnésia parcial, que é um excelente sinal ela ter-se lembrado do filho. Que a pouco e pouco irá começar a recordar-se de tudo. Mas Artur ouve tudo muito ao longe, como um eco distante.
Daniel adormeceu perto de Maria e Artur está sentado numa cadeira perto deles, velando pelo seu sono. Ao vê-los assim, adormecidos e indefesos sabe que acabou de perder Alice para sempre. Pois jamais será capaz de os fazer sofrer de novo, seja porque motivo for.
Passaram 6 meses...
E agora o que é que aconteceu aos nossos fofinhos durante este tempo todo? Como está Alice? Como está o mundo, como está o planeta? Ah pois é Miguel fazes o favor de nos dizer?
Grandes diálogos: O Apartamento
Há 3 semanas
8 comentários:
EU SABIA!!!!! Tinha a certeza que não a ias deixar esquecer-se do filho!!! Sabes que li o teu livro e leio o teu blog. Tenho uma ideia de como pensas!!!!! Mas sabes... eu faria o mesmo. O amor de um filho é inesquecível. Além de que é muito conveniente para o espírito desta novela. Gostei, e ainda bem que avançaste 6 meses, a história precisava de ar fresco!!
Gostei! Beijo!
Ah Ah, ora ainda bem que já me conheces um bocadinho. É sinal que lês mesmo aquilo que escrevo e não te limitas a passar os olhos.
Escrevi o livro com 25 anos e agora tenho 33, mas a Ana continua basicamente muito igual.
Não há realmente amor igual àquele que sentimos por um filho e neste caso não houve mesmo amnésia que o travasse :) Diverte-te com os 6 meses depois. Não tarda temos que acabar este novelão.
Ana C. Isto esta muito bom. Viciante, como se quer numa novela... Sigo-a com emocao (mesmo!).
Tasha, ainda bem que conseguimos levar aí ao país dos insipidos, um bocadinho de sol noveleiro :) Continua fiel que não te vais arrepender.
LOL! 6 meses depois... Está óptimo Ana! Vá lá Miguel, escreve um episódio tão bom, como têm sido os anteriores!
Beijos aos blogonoveleiros com mais sucesso em toda a blogosfera!
Bem!
Adorei o golpe dos seis meses depois...
Makes you wonder...
Eu cá acho que a Maria enquanto estava em coma conseguia ouvir tudo e sabe muito bem o que vai no coração do Artur!
A ver vamos!
Bjs!
;)
banita obrigada, és muito simpática e exagerada :)
Ana. também pensei nisso, mas depois fica tipo filme de terror...
Enviar um comentário