terça-feira, 17 de março de 2009

Prender-nos Aqui Neste Momento



Adoro os nossos almoços na mesa apertada da cozinha. Tu ajudas-me a preparar as coisas sempre com um entusiasmo enternecedor. Como se ajudares-me a atirar os legumes para dentro da panela, ou ires-me roubando pedacinhos de cenoura crua para trincares entre risos, fosse a coisa mais entusiasmante do mundo.
Adoro ter a tua atenção por aquele espaço de tempo em que partilhamos a nossa refeição, ouvir a tua voz, sentir o toque da tua mão no meu braço quando me perguntas se temos morangos, tocar nos teus cabelos quando te digo que sim e ver o teu sorriso de pura felicidade, só porque comprei a tua fruta favorita.
Faço-te os meus pratos mais saudáveis que o teu pai não aprecia tanto, explico-te como certos alimentos fazem bem à saúde e outros nem por isso. Tu escutas-me como se conseguisses entender tudo aquilo que te digo e sei bem dentro de mim que ninguém nos pode roubar isto que já temos juntas.
Ao mesmo tempo sinto uma urgência quase cega de nos prender naquele momento para sempre, pois sei que um dia muito em breve, a tua satisfação passará por muito mais do que a fruta que vais partilhar comigo depois do nosso almoço...

24 comentários:

DeepGirl disse...

Somos crianças, somos adolesecentes, somos adultos, somos maduros (não gosto da palavra "velhice").
É estranho nos enquadrarmos numa destas fases, e compará-la com a nossa, ou pura e simplesmente, sermos influenciados pelo que lemos, ouvimos, vemos, e começar a imaginar o nosso futuro, mas também o dos que nos são mais próximos.
Pena... Estarmos prevenidos, e as coisas nunca correrem como planeámos.
Porquê?
Porque ficámos a assistir aos outros transitarem, e muitas vezes, nem nos damos conta de que também o estamos a fazer.
O medo de não agir correctamente e determinar "aquele" ou "outro" caminho de quem mais amámos, não está nas nossas mãos... Porque se bem te lembras, Ana C., tu também por lá já passaste :)

Take care of her, but let she be free!

DeepGirl disse...

Digo, "adolescentes" :)***

Ana C. disse...

DeepGirl, é precisamente por ter consciência que terei que a deixar ir, que me dá esta angústia antecipada...
Eu sei que jamais lhe poderei cortar as asas, mas vê-la sair do ninho há-de custar sempre.

Joanissima disse...

Amar com liberdade é das coisas mais dolorosas do mundo. Um dia vamos ter que as deixar ir e vamos sentir falta dos momentos em que agora só suspiramos por um bocadinho de silencio e de paz.

Anónimo disse...

É gozar todos esses momentos intensamente e nada de sofrer por antecipação! :-)

Izzie disse...

Percebo a tristeza dos papás quando os filhos já não dão valor à hora das refeições, quando já não gostam da tarde de domingo passado em casa ca mãe o co pai...
Percebo o apertozinho quando as crias se desprendem. Percebo e não sou mãe. nem perto disso. Se o que imagino é mau, nem quero imaginar como será mesmo na realidade...

Adoro ler-te quando o tema é a tua mais que tudo.

Beijinho

Banita disse...

Eu às vezes gostava que ela crescesse rapidamente para poder ter mais esses momentos! O de brincarmos juntas com brincadeiras que eu também goste ou de ela ajudar-me a fazer alguma coisa! Parece que não há meio de esse dia chegar! Ela é tão teimosa e desobediente que já me parece que entrou na fase do armário e ainda nem largou as fraldas! É tão cansativo...

JS disse...

Cumplicidade, é um prazer enorme ter essa cumplicidade...

Os pratos são lindos!

Ju. disse...

É sempre tão bonito ler aquilo que escreves da tua pequenina :)
Crescer implicará obrigatoriamente que a deixes partir, um dia, mas até lá, desfruta deste pequenos e ao mesmo tempo tão grandes momentos!

Bjs*

Irina A. disse...

Adoro o pratinho da tua filhota, tão canininho :)

Clementine Tangerina disse...

Que bom, realmente não deve haver nada melhor que aproveitar o tempo que temos com os filhos! bjinhos*

cArLos disse...

Ana C. depois de ler este texto, muito bonito, com a sensibilidade natural que só uma mãe consegue (ou talvez mais facilmente) transmitir, tenho de confessar-te que fiquei com o meu coração apertado... pois deixaste-me a pensar que o meu pequenote (como a tua menina) em breve também... (adoro o meu filho)

Mas é esta uma realidade que sabemos ser natural e que deve acontecer ... já o fizemos também certo?

Bom almoço para hoje :)

Cristina disse...

:) Já me estou a preparar para isso...

Cristina

Ana C. disse...

Joaníssima, foste mesmo ao fundo daquilo que quis dizer. Amar com liberdade. Como isso é a maior e a mais dificil prova de amor.

Ana C. disse...

Socas já ouviste falar em mães galinhas? Eu sou pior...

Ana C. disse...

Izzie, és muito madura e tens sensibilidade para coisas em que eu nem pensava quando tinha a tua idade :)

Ana C. disse...

banita, até agora esta é a idade que mais estou a curtir com a minha filha. Os 2,3 anos. Já podemos conversar, ela já entende tanto...

Ana C. disse...

JS, a cumplicidade com a minha filha é das melhores conquistas da minha vida. Eu tinha-te falado nos pratos a propósito do regionalismo ;)

Ana C. disse...

Ana, que bom teres aparecido. Muito obrigada pelas tuas palavras...

Ana C. disse...

Kitty, é o prato de sobremesa que ela usa como de refeição principal ;)

Ana C. disse...

Clementine, há certos momentos do dia que eu gostava de gravar para sempre na minha memória...

Ana C. disse...

Carlos, hoje fomos almoçar fora. É claro que temos que os deixar voar, mas ver como o tempo passa por eles de forma tão veloz, aperta-nos sempre um bocadinho o coração...

Ana C. disse...

Cristina, tu já tens duas para deixares voar...

Precis Almana disse...

"em breve"? Oh moça, não te preocupes por antecipação. Eu tenho 40 anos e telefono à minha mãe todo o santo dia...
Ou seja, claro que há outras satisfações; mas a de estarmos com a nossa mãe tem sempre um lugar especial. Digo eu que tenho uma mãe fantástica, que penso que é o que tu serás.