domingo, 24 de abril de 2011

24 de Abril de 2011

É oficial. Não sinto nostalgia pela ditadura.
Não é por não ter vivido essa realidade que não me sinto nostálgica, pois muitas são as vezes que tenho saudades, ou nostalgia de alguma coisa que nunca vivi. E também muitas são as pessoas da minha idade que apregoam a Outra Senhora com voz rouca de emoção, sem nunca terem tido o "prazer" de se cruzarem com ela na vida.
Eu cá gosto pouco de ditaduras. Só o nome me chateia. Alguém que é duro e que dita. Não é para mim, que gosto de ajudar a fazer as regras que me regem, de as questionar, de as poder pensar em voz alta, ou em palavra escrita.
Também sei que a minha querida democracia tem passado muito no meu país, pois o povo desta terra, gosta de ser governado sem dores de cabeça. Gosta que mandem nele. Não está habituado a esta inovação de ter algum poder. A malta por aqui gosta de ter uma mãe tirana, que decida por eles, sem que tenham que pensar. Ir votar é trabalhoso. Desenhar uma cruz, um martírio. Fazer parte do destino de um país é sobre-humano.
Isto também vale para os que abusam deste bonito sistema e se valem dele, para ditarem os nossos destinos, para se encobrirem sob o seu suave manto, para manipularem debaixo do seu véu.
Mas ainda assim, não tenho nostalgia, nem suspiro por sistemas que são duros e que ditam.
A Democracia continua a ser o mais perfeito dos imperfeitos sistemas. Pena é que ainda não tenhamos percebido a melhor forma de o usar.

sexta-feira, 22 de abril de 2011

Dentro do Meu Coração

Dentro do meu coração, habitam filmes pequeninos. Filmes que nunca foram sucessos de bilheteira, que nunca foram sucessos ponto. Mas que nunca esqueci. Vá-se lá saber porquê, há duas mãos cheias de filmes pequeninos dentro da minha vida. Filmes que não sofreram a erosão do tempo na minha memória. Filmes que me fazem feliz por tê-los visto.




quarta-feira, 20 de abril de 2011

Porquê?



Ontem, num rápido e infrutífero zapping pela vasta gama de canais disponíveis, apercebi-me que a malta hoje em dia tem orgasmos com pessoal que grita, manda à merda, humilha e espezinha os outros.
São gordos achincalhados, aprendizes de cozinha escaldados verbalmente, concorrentes que julgam ter talento, atirados para uma poça de lama. Enfim, é só escolher. Há um humilhador presente em cada sucesso televisivo e vários humilhados que se oferecem com prazer, em troca de uns dólares.
E eu pergunto porquê?
Atenção, eu não digo que não sinto um certo deleite com este tipo de terrorismo, só não sei é porquê. Certamente que existem dezenas de psicólogos disponíveis para avançar com uma explicação. Mas até lá, vou refrear este instinto primário de parar a ver por uns minutos, um programa humilhante-depressivo, como os mirones que param para usufruir de um belo acidente de automóvel na estrada.

sábado, 16 de abril de 2011

Então é isto que temos?

Agora a sério, vocês estão a gozar comigo, não é? Vá, deixem-se desse humor sádico e venham de lá os candidatos para governarem esta choldra.
O quê? Esses não são só a primeira parte do número de circo? São mesmo esses biltres que é suposto governarem a coisa?
E aquele senhor que quer bater com o martelinho no trono da Assembleia da Ré-Pública, não é um figurante do Vítor Hugo Cardinalli-secção-palhaços-tristes? Ele existe mesmo?
Ãh, ãh. Não há assim uma espécie de FMI que traga uma ajuda? Uma equipa sueca, ou norueguesa de malta que nos queira endireitar e devolver-nos um sentido de esperança?
Ah, não há? Boa. E onde é que eu ponho a cruz, sem sentir que estou a espetar com uma cruz no meu próprio lombo?
Ok, vou continuar a dar ao neurónio, pode ser que entretanto, me sinta mais iluminada.
Até a luz chegar, acabaram-se as notícias. É que uma pessoa frágil, é bem capaz de chegar ao final do mês e premir um gatilho na têmpora, só pelo simples facto de assistir a um telejornal por dia.

terça-feira, 12 de abril de 2011

Fetiches

Assim que fecho a última página de um livro de que tenha gostado, atiro-me para dentro da net e cusco tudo o que há para cuscar sobre o seu autor, locais descritos, personagens.
Se o escritor já morreu, planeio viagens aos locais onde viveu quando escreveu as suas obras, faço questão de visitar a campa, sonho em olhar o mesmo céu que ele olhou, encontrar a casa onde viveu.
É claro que na maior parte das vezes, nada disto se concretiza. Tirando as viagens pela net e pelo google. Mas sou assim, cuscuvilheira acerca dos meus ídolos.
Lembro-me de, há muitos anos atrás, ter lido uma biografia da Isadora Duncan e de ter ido a Paris nesse ano, arrastando as minhas amigas ao Cemitério Pére Lachaise, só para descortinar a campa dessa tipa de vida trágica. As minhas companheiras bufaram, protestaram, não entenderam. Para elas era a campa do Jim Morrison e pouco mais, mas para mim, aquele local de repouso eterno era um mar de potencial. Era a oportunidade de agarrar um bocadinho (ainda que o bocadinho mais mórbido) da vida dos inalcançáveis.
Queria descobrir todas as campas pouco concorridas e sentar-me ali, de conversa com os meus ídolos.
Visitar a casa onde nasceu e a casa onde viveu o Mozart. Imaginá-lo ali, a tocar as suas primeiras obras, a dormir, a respirar, foi do mais mágico que já me aconteceu.
Por tudo isto sei que um dia, quando tiver acumulado muitos milhões de dólares, organizarei a minha viagem de sonho, com passagem por todas as aldeolas, cidades, tascos, por onde já passaram os meus fetiches :)

domingo, 10 de abril de 2011

O Meu Novo Inspector Catanni



Enquanto via hoje o Tropa de Elite II e constatava que no Brasil se fazem filmes ao mesmo nível dos Estates, pensava nas semelhanças entre este Roberto Nascimento e o meu querido Corrado Catanni da série O Polvo.
O olhar entristecido por muita merda vista, a expressão insondável e dura, mas cheia de sentimentos, enfim, se já tinha gostado do I, este Tropa de Elite II encheu-me cada buraquinho das medidas.
Adorei o filme e adorei as representações de cada um dos actores.
Vou deixar aqui uma expressão que apanhei de um dos polícias corruptos FDP, para outro polícia corrupto FDP. Quem sabe um dia não a uso:
Se sê quer me foder, me beija cara.

sábado, 9 de abril de 2011

Saudades do Volume no Máximo

Tenho saudades de ouvir música.
Não como barulho de fundo, ou como acompanhante de uma qualquer tarefa, mas ouvi-la, com toda a atenção e dignidade que merece.
Tenho saudades do volume no máximo, sem vozes a pedirem-me que baixe o som, ou sonos imperturbáveis.
Tenho saudades de ouvir uma ópera e não me dedicar a mais nada, além de sentir o balanço de cada nota entoada no meu interior.
Tenho saudades de fingir que rejo uma orquestra com uma esferográfica, de fingir que canto alguma coisa de jeito, tentando acompanhar os meus heróis e heroínas vocais.
Tenho saudades de me comover com uma voz, com uma ária, com uma nota estudadamente deslocada.
Tenho saudades de prestar homenagem à música com um copo de vinho e um cigarro (hoje em dia, teria que ser imaginário).
Tenho saudades de quando era antes de tudo, do quanto era antes de o tempo ter passado e me ter roubado estes momentos.
Hoje em dia, o único sítio onde me dou ao luxo de ouvir música com o volume no máximo, é nas minhas raras viagens de carro sozinha. Mas não presto aí homenagem à música. Assim que chego ao meu destino, desligo abruptamente o carro, sem grandes cedências e aquilo faz-me mal. Cortar assim a voz de alguém porque cheguei ao supermercado, é fodido, ofensivo até.

E pronto, usei tudo isto, como uma maneira subtil de limpar a minha reputação. Não podia vangloriar-me acerca dos Roupa Nova, sem deixar escrito que também curto outro género de música. Chiça, que sou mesmo polivalente e perfeita

sexta-feira, 8 de abril de 2011

Mulherio nascido nos anos 70



Digam-me que também ouviam Roupa Nova, como se disso dependesse a vossa vida :)
O Youtube é de facto uma cena fascinante. Estou bem capaz de ficar a tarde inteira a entoar os refrões deste meu grupo de meninice.

As Novelas da Minha Vida



Se me perguntarem o que é que faz uma novela inesquecível, não consigo responder. Pelo menos sem pensar um bom bocado sobre o assunto.
Sei que existem personagens que nunca esqueci, por muitos anos que tenham passado. Personagens interpretadas por actores pouco bonitos por fora e com um mundo inteiro por dentro.
Na altura em que as novelas me prendiam do primeiro ao último episódio, tudo era mágico. Eu conseguia passar o final de tarde feliz, porque à hora do jantar, teria aquela história à minha espera e os destinos daquelas pessoas, mais um bocadinho fechados a cada capítulo.
Os horários eram inalterados e respeitados, a história era contada magistralmente e tudo aquilo se revestia de uma grandiosidade que eu, do alto da minha pré-adolescência, venerava.
Não era preciso passar-se muito em cada episódio. Não havia a pressa, o consumo fácil, o zapping. Tudo era contado com tempo.
O Sinhozinho Malta, a Viúva Porcina, A Tieta, o Professor Astromar, a Perpétua, a Fedora, a Fernanda Montenegro (todas as personagens que interpretou), o Paulo Autran, ainda habitam no meu imaginário e ainda dou por mim a repetir em voz alta, certas frases.
Lembro os chavões, os tiques, os trejeitos, que cada actor decidiu puxar para o seu personagem e sorrio, cheia de uma estranha nostalgia.
Hoje em dia, com a banalização das novelas e a preferência dada à aparência física, em detrimento do talento, tudo perdeu a magia. Nada fica na memória, nada nos agarra com a determinação de antigamente e a novela que passou há uns meses atrás é facilmente trocada, ou confundida com as dez que passam durante um dia.
O que é que aconteceu para a magia ter fugido?
Provavelmente fui apenas eu que cresci. Mas qualquer coisa dentro de mim, me diz que não vai haver outro Lima Duarte, ou outra Fernanda Montenegro que imortalizem personagens da mesma forma e isso é triste, caraças.

quinta-feira, 7 de abril de 2011

Fecundação de uma Cidadã numa Manhã


Vamos tentar não falhar a árvore e centrar bem a coisa. Hmmmmm, é só alinhar as riscas com o tronco eh voilá!!! Uma obra prima da arte de escolher inteligentemente o local de uma passadeira.


A cadeirinha vermelha que se consegue ver, alberga o meu puto. Não tem tracção às quatro rodas, nem rodas de dimensões generosas e resistentes. É uma cadeirinha holandesa, feita para passeios de alcatrão, lisos e sem buracos. Ainda hei-de registar a patente de cadeiras para putos portugueses. Vão ser as Hummer dos bebés.
Mas eu ainda tenho força para superar obstáculos. Já as duas velhotas de braço dado que passaram por mim nesta aventura, estavam aterrorizadas, receosas pela própria vida. E não era para menos.

Atravessei este cenário de guerra, para chegar a outro cenário miserabilista, deprimente, suicídio-provocador. As instalações da Segurança Social, com mais bebés por milímetro, do que propriamente adultos. E quase posso jurar que vi um Nenuco embrulhado numa manta, nos braços de uma rapariga desesperada por atendimento prioritário.
As persianas quebradas, um calor de fazer nascer fungos, um cheiro a sovaco, a peido. Enfim, eu juro-vos, que como trabalhadora independente que sou, ter que me deslocar a estes antros para cumprir com uma qualquer obrigação, me deixa ensandecida, fecundada ao ponto da loucura.
Eu quero cumprir, mas tudo ali me leva a fugir, tudo me afasta, tudo me dificulta a vida, tudo, tudo, tudo.
É oficial. Só quem nunca viajou até um país civilizado, acha esta merda idílica.

quarta-feira, 6 de abril de 2011

Mãe e Alice

A tua mão direita pousa sobre o lado esquerdo da minha cara, enquanto dizes que vais ter saudades minhas e que vais pensar em mim ao longo do dia.
Olho o desenho que fizeste de manhã, enquanto esperavas que te fizesse o pequeno-almoço. No desenho leio: Mãe e Alice. Palavras que escreves já com a desenvoltura dos mais crescidos.
Olho vezes sem conta aquelas duas palavras e junto-as dentro do meio do meu coração, enquanto olho a pilha de desenhos que se amontoam na porta do frigorífico.
Sei que somos uma da outra para sempre. Não é sermos possessivamente uma da outra. Não é acharmos que nos pertencemos como donas. É pertencermo-nos dentro deste amor que sentimos e que mais ninguém sente. Porque mais ninguém sabe o que é ler Mãe e Alice naquele desenho na porta do frigorífico e sabermos que tudo até ali foi certo, apesar de muitos erros. Que tudo até ali foi a direito, apesar de tantas curvas. Tudo até ali foi para juntar estas duas palavras no meio do meu coração.
Mãe e Alice.

terça-feira, 5 de abril de 2011

Azares de Caca

Verdade seja dita, não são muitos nem graves. Mas moem.
Por exemplo, as caixas do supermecado. Faça eu o que fizer, vou sempre escolher as que empanam. Ou porque a senhora à minha frente decide pagar com tickets, ou vouchers, ou lá que merda é aquela. Ou porque o artigo do cliente à minha frente não tem preço e é preciso ir investigar, a 10 Km de distância e não há forma de o homem dizer que deixa ficar o produto.
Ora porque é mudança de caixa e é preciso retirar a gaveta com os trocos e fazer o aparatoso log-in do novo funcionário. Ora porque fui escolher o novato que não consegue passar nada no código de barras e tem que escrever tudo à la pata.
Enfim, juro-vos que não há dia no supermercado que não leve com um bloqueio assim.
Depois temos as famosas chaleiras azuis, motinhas Piaggio de caixa fechada, que continuam a preferir a dianteira do meu carro quando estou atrasada.
Quando vejo o par de sapatos que procurei uma vida inteira (ahahaha) nunca, mas nunca, nunca, nunca,nunca há o meu número.
Também nunca respondo à letra a ninguém no timming certo. A melhor, mais eloquente e brilhante resposta surge sempre no caminho de volta a casa, quando o diálogo perfeito se desenrola na minha cabeça e dou estalos a mim própria por não ter dito exactamente aquilo, daquela forma.
Enfim, podia passar a noite inteira nos azares de caca, que são muitos e pequenos, mas auto-enfadei-me. Uma capacidade que tenho desenvolvido a um ritmo alucinante nos ultimos tempos.

segunda-feira, 4 de abril de 2011

Adoptar

Podia gastar muitas linhas a falar do que sinto sobre isto.
Tanto me revolta, quando entendo que as crianças adoptadas, são entendidas como matéria descartável, que se pode devolver quando não agrada. Ou que são escolhidas em função da idade, cor de pele, ou de cabelo. Como me encanta, de cada vez que vejo uma criança ganhar uma nova vida e conhecer o significado da palavra família.
Sei que há pessoas capazes de distribuir amor a estes miúdos carentes, sei que há pessoas, heterossexuais, homossexuais, verdes, castanhas, amarelas, solteiras, casadas, amantizadas, capazes de serem excelentes pais e mães para estes meninos que nada conhecem do que é ter uma casa para onde regressar depois da escola. Um porto seguro e quente, onde os beijem antes de adormecerem e onde os façam sentir que importam e que são válidos.
Por isso me chateam os entraves a isto. As picuinhices, as merdices, as burocracias.
Por isso admiro tanto quem luta por uma criança sem ninguém e a faz um pouco sua, mostrando-lhe que é possível conhecer o lado de dentro do amor, criando laços que jamais existiram, construindo um passado do zero, de peito aberto.

domingo, 3 de abril de 2011

Berlusculhoni

Para quê senhores? Para quê investirem na realização de uma reportagem sobre o perfil de Berlusconi, quando tudo podia ter-se resumido à exibição desta clássica imagem?


Juntamente com a imagem, podiam ter-se lembrado de exibir em modo non-stop, as imagens de quando este senhor levou com uma miniatura da Catedral de Milão na fronha.
Eu cá teria agradecido.