Sim. Não usamos burka e podemos andar semi-nuas no meio da rua, que a lei não nos penaliza.
Sim, na Constituição da República Portuguesa temos os mesmos direitos e oportunidades que os homens.
Sim, temos a possibilidade de alcançar as metas que eles alcançam. Mas não nos esqueçamos, por favor, que a casa da partida é totalmente diferente. Nós não partimos com vantagem. Partimos com o preconceito, com os pressupostos, com as cicatrizes de tudo aquilo que foi enraizado no nosso adn durante séculos e isso é fodido. Demasiado fodido.
Na maior parte das vezes, conseguimos a proeza de nos dividirmos, sem nunca deixarmos de ser inteiras. Dividimo-nos pelos filhos, pelo marido, pelo trabalho, pela casa, pelo stress. Dividimo-nos a cada instante e reestruturamo-nos no instante seguinte, porque é isso que é suposto. É assim que devemos ser e assim somos, sem perguntas, sem incómodos. E quando falhamos, sentimo-nos miseráveis, porque não é suposto falharmos. Nós temos que ser perfeitas.
Se uma mãe é vista no supermercado, a enfiar frutas num saco, com um puto agarrado às canelas aos gritos, outro embandeirado em arco a fazer birra de sono, é uma mãe como outra qualquer.
Já se é um gajo no supermercado, a passear-se entre as prateleiras da higiene pessoal, com os putos atrás, é um Deus. Uma ave rara, um pai exemplar. A eles basta-lhes fazerem umas macacadas com os putos, uns passeios e são tidos como os melhores pais do mundo. Uma mãe que faça tudo isso e mais tudo o resto que é suposto, é uma mãe banalíssima (sim, Melissa esta tem direitos de autor, mas é a mais pura das verdades). Uma mãe, nunca será uma mãe excepcional, pois ser mãe tem no seu cerne ser excepcional e, pelos vistos, ser pai não tem. Daí os elogios a um desempenho banal de um pai e a falta deles, quando uma mãe faz exactamente o mesmo.
Mas nós, as mulheres, as mães, não somos obsessivamente exigentes. Não queremos glória a cada instante que passa, nem elogios por passar o dia a limpar ranho e a ouvir chorar (se bem que até merecíamos). Queremos apenas que, de vez em quando, nos reconheçam o valor, sem termos que arrancar o reconhecimento à dentada. Desejamos ser notadas pelas pequenas coisas que não deixam a casa cair no final do dia. Que mantêm as vidas de pé e a funcionar o ano inteiro. Queremos apenas sentir que nos apreciam e que nos enxergam, digamos aí uma vez por ano. Pode ser?
11 comentários:
É isto tudo ...e é tanto! :-)
Não sou excepcional mas sou bastante boa, ai isso sou. E conheço várias assim. Não faço de conta que não ligo a homenagens tão importantes, ainda que com data marcada, como o Dia da Mãe. Também ajuda haver um pai que nos reconhece a qualidade de mãe :)
Olá,
Está a decorrer um passatempo no meu blog com OFERTA de um COLAR.
http://brilhosencantados.blogspot.pt/2012/05/passatempo.html
Participa,
Quem sabe se não podes ser uma das vencedoras ;)
isto tudo!
Sem tirar nem por!
E sabe mesmo bem, saber que não somos só nós a pensar assim :)
Foda-se, eu quero ser tratada como uma princesa pelo menos uma hora por dia. E quero ser rainha nos meus anos, no dia da mãe e noutros momentos pontuais. É o mínimo. Se eu fosse cinco partes, uma seria só Melissa e quatro seriam família. Mereço vénias, caneco. Nem que seja pela boa vontade.
Se é o que acontece? Tem dias.
Quer queiramos não mudamos nada com a nossa independencia, se é que não pioramos, e queremos ser equiparadas em trabalhos que antes eram só de homens,as diferenças entre homem e mulher são muitas, uma delas que a meu ver a natureza nos deu o dom de gerar a vida por algum proposito.
tudo certo, não diria mais nada!!!!
obrigada!
Na mouche, como sempre, Ana C.
Olha e este teu post fez-me lembrar o livro do Khaled Hosseini que recomendaste, e que eu, como boa ovelha obediente que sou, comprei e levei para ler nas férias. Gostei muito.
:)
Impossível ser mais verdade...
As vezes somos nós as culpadas, outras vezes são eles que acreditam demasiado nesses elogios alheios e acham mesmo que ter mudado uma fralda com cocó é digno de medalha olímpica!
Será que algum dia vai mesmo ser diferente?
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